sexta-feira, setembro 21, 2012

Lídia, a mulher triste, uma vez mais abdica de si própria


Música, por favor, para acompanhar Lídia



Da banda sonora de The Piano (um grande filme) - The scent of love de Michael Nyman


*

Enquanto Paulo continuava ocupado com a preparação da canja, Lídia, muito lentamente, em silêncio, agarrada às paredes, agarrada aos móveis, transpirando, muito tonta, conseguiu chegar à sala.

A tremer, ficou encolhida no sofá, toda ela medo, ansiedade, vergonha, cansaço.




A mãe estava imóvel em frente da televisão, olhando o vazio. Quando a sentiu chegar disse, não viste os gatos? Ainda agora aqui estavam, devem ter entrado pelo buraco do tecto. Lídia fechou os olhos.

Quando Paulo deu por falta de Lídia na cozinha foi espreitar à sala, ah, aqui estão as meninas…

Lídia disse-lhe, então, com esforço, como se o cansaço e a tremura quase a impedissem de falar, um fio de voz quase inaudível, obrigada pelo que tem feito por nós. Já tenho quem me venha ajudar, já não precisa de vir mais.

Paulo aproximou-se como se quisesse ouvir melhor. Esperou que ela dissesse mais qualquer coisa mas Lídia calou-se, tremia. Ele duvidou, sim? tem a certeza? veja lá, olhe que a mim não me custa nada vir até a senhora estar melhor, trabalho por turnos, tenho tempo. 

Lídia nada disse, apenas tremia. Paulo olhava-a, admirado, e com apreensão, está cheia de frio… Mas não está frio nenhum. Será que está com febre? Não é melhor ver se não apanhou para aí alguma?

Lídia disse, isto passa, pode ir tratar das suas coisas. Faça aí as contas ao dinheiro que gastou que eu passo um cheque. Paulo achava esta reacção inesperada e estranha. Mas qual é a pressa?, deixe lá isso, passa-me agora um cheque... logo me paga, ora essa…

Mas Lídia acrescentou, e a voz quase não se ouvia, não tenho dinheiro em casa, era para ter ido ao multibanco, não fui, mas passo um cheque, diga quanto é.

Paulo sentiu que ela estava impaciente, como se quisesse que ele saísse de imediato, mas ainda tentou fazer mais qualquer coisa, a canja está ao lume, não é melhor eu esperar que esteja pronta para desligar o gás, fico mais descansado?, e ajudo-a a dar  à sua mãe, não é melhor? veja lá...

Lídia falou de olhos fechados, não, eu trato disso, já estou melhor, pode ir-se já embora.

Paulo não percebeu. Olhou para ela: tremia, descorada, magra, encolhida, sem forças. Não está em condições de ficar sozinha, disse-lhe.

Lídia ficou calada, as mãos húmidas, trémula, tudo a andar à roda, sem conseguir encarar a luz do dia. Já vem alguém para me ajudar, pode ir já.

Paulo ficou calado, parado no meio da sala. Lídia de olhos fechados, exangue, inerte, a mãe ausente, de vez em quando dizendo palavras sem sentido. Duas mulheres perdidas na sua imensa solidão, tão grande o desamparo. Sentiu muita pena.




Depois aproximou-se da idosa, segurou-lhe nas mãos e disse, a menina porte-se bem, está a ouvir? Ela olhou para ele e disse não te esqueças de arranjar a fechadura do portão. Ele sorriu, já vou tratar disso, e quase se comoveu. Beijou-lhe as mãos e, muito devagar, pousou-as de novo. Depois fez-lhe uma festa no cabelo.

A seguir aproximou-se de Lídia, na bancada da cozinha está o meu número de telemóvel. Ligue-me se precisar de alguma coisa. Vou preocupado por deixá-las assim. Mas Lídia permaneceu imóvel, indiferente. Paulo continuou, não se esqueça de tratar da sua baixa. Olhe, daqui a meia hora já pode desligar o lume, veja lá, não se esqueça. Ia inclinar-se para lhe segurar nas mãos mas Lídia encolheu-se, como se estivesse com medo.

Paulo saíu. Ia incomodado sem perceber o que se tinha passado e muito pouco tranquilo com o estado em que as ia deixar ali sozinhas, ambas incapazes de tomarem conta de si próprias, quanto mais uma da outra.

Quando a porta de fechou, Lídia deixou-se escorregar no sofá, encolheu-se sobre si própria e era tanto o frio. Lembrou, não lhe paguei... e agora? E começou a chorar devagarinho, mas depois já era um choro compulsivo, silencioso, quase sem lágrimas. Quem me dera morrer, quem me dera que morrêssemos as duas.

Sempre sozinha, sempre entregue à sua imensa fragilidade. A vida inteira preocupada com os outros e com a opinião dos outros, esvaziada, nula, um nada, a vida a passar e ela sem a viver, a vida a esgotar-se e ela ali, perdida, doente,sozinha, triste, tão triste, sempre tão triste.

Como se sonhasse, pensamentos em fiapos, uma lamúria silenciosa, enquanto me viram sozinha, sem uma ajuda, a vida inteira trabalho-casa, sem amigos, sem uma diversão, ninguém se lembrou de pensar em mim, agora que apareceu uma pessoa para me ajudar, toda a gente veio logo criticar. Quero lá saber que seja ladrão, não tenho nada para ser roubado. Mas também que pouca sorte, logo havia de ser casado, para ficar mal vista, que pouca sorte, isso também não, que para trabalhos já chegam os que tenho, e chorava, infeliz, assustada, e agora aqui sozinha como é que faço? e como é que vou à rua?, não consigo, não consigo, mais valia que isto acabasse tudo, assim iam todos ficar cheios de pena, só têm pena do que já está remediado, o que é que faço da minha vida? e parecia boa pessoa, e ela também gostava dele, se calhar só queria ajudar. Agora aqui as duas, como é que a lavo? como é que lhe dou de comer? como é que a levanto? como é que vou às compras? valha-me deus, e o trabalho? e os papéis da baixa? porque é que não morremos já as duas? 

A mãe chamou, muito alto, oh mãe, mãe! anda cá, parece que está aqui uma menina a chorar, não sei se sou eu ou se é a outra. Mãe, mãe!

Lídia não se mexeu, não olhou para ela. Tapou os ouvidos, depois pegou numa almofada e tapou a cara. Passado um bocado adormeceu.

Algum tempo depois acordou com a campainha. Não foi capaz de se mexer. Outra vez outro toque. Cheirava a queimado. Lídia olhou vagamente em volta, não percebia que cheiro era aquele, não percebia que toque era aquele. Lembrou-se que tinha sonhado que tinha o cabelo muito curto, que parecia outra, o rosto quase se confundia com o de Paulo, e que dormia agarrada a um cão mas o cão estava frio, e ela tremia agarrada a um cão frio, talvez um cão morto.




Depois ouviu abrir a porta.

Era a D. Fátima com outra mulher. Toquei à campainha, como não vinha sozinha não quis abrir logo a porta. Mas que cheiro é este? 

Como Lídia não respondesse, foi a correr à cozinha e a outra foi atrás. Ouviu-a a dizer alto, Valha-me deus, isto é que está aqui uma desgraça. Olha para isto, se a gente não tem vindo, o que era disto? Ai que desgraça. Tudo queimado, daqui a nada pegava fogo à casa. Uma mulher ainda tão nova e já está nesta desgraça, na volta está já como a mãe, que desgraça.

Algum tempo depois apareceram de novo na sala, esta é a Nita, a pequena de que lhe falei. Trabalhava numa imobiliária que fechou. Ela diz que pode vir das quatro às seis da tarde, vá lá seis e meia. Lídia mal conseguia ver as duas mulheres. Tentou focar a vista. Depois, com esforço, a voz arrastada, e ficar de noite? A outra estava de pé à sua frente, só se for depois das dez e só até às cinco da manhã. Lídia olhou para ela sem perceber. A mulher explicou, é que tenho limpezas nuns escritórios das sete às dez da noite e pego logo outra vez às seis da manhã noutro escritório. Mas até me dá jeito dormir cá porque tive que entregar a casa ao banco, e ainda estou a pagar uma prestação, de repente a vida toda desgraçada, e estou a dormir de favor na casa da minha cunhada, agarro todos os trabalhos que posso, e a voz desta mulher também era cansada e triste. Lídia pensou há tanta gente com vidas tão difíceis. E perguntou-lhe, pode começar já hoje? A D. Fátima atalhou, mas então a senhora não combina quanto é que isso vai custar para ver se pode pagar? Lídia olhou-a, confundida, atordoada, pois é, ainda não pensei, mas a outra mulher disse, a senhora agora não se preocupe que a gente depois logo se entende. Lídia sentiu compaixão na voz de Nita.     

Depois percebeu que a D. Fátima andava a mostrar a casa à outra, e a seguir viu que estavam as duas a tratar da mãe. Ainda lhe disseram qualquer coisa antes de saírem mas não fixou. 

A mãe disse, sabes onde é que foi o meu marido? veio aí despedir-se, não sei a que horas é que ele volta.

Lídia enrolou-se, de olhos fechados, uma noite escura dentro dos seus olhos, e soluçava baixinho, toda a vida isto, a abdicar de tudo a troco de nada, e ele se calhar só queria ajudar, e soluçava baixinho e uma e outra vez, se calhar só queria ajudar, se calhar e soluçava, as lágrimas já secas.

**

Bom, meus amigos, antes de começar a escrever estava a pensar mudar o rumo à história mas não estou a conseguir ter mão nela, segue o seu próprio rumo e, como se vê, o caminho continua a ser o da solidão, o das recusas, o da dor silenciosa. É a vida real de tantas mulheres. A dor da gente não sai nos jornais.

As imagens são ainda de Lucian Freud e as mulheres que ele retrata são também mulheres reais, silenciosas.

Volto a referir que quem quiser ler esta história desde o início, poderá pesquisar aí do lado direito do écran , lá mais para baixo, a etiqueta 'Lídia - uma mulher muito triste'.

**

E o que vos quero desejar é que tenham um belo dia, que a cada momento saboreiem o lado bom da vida (por pequeno que ele seja)

14 comentários:

Olinda Melo disse...


Olá, UJM

Aqui estou eu a seguir a Lídia e a sua triste história, que a cada episódio, fica mais envolvente. Uma mulher que dá tudo de si, que é muito exigente consigo própria e como muito bem disse que faz o que 'deve', no maior dos sacrifícios.

Como o Paulo referiu, ali estão elas entregues a si próprias. Desejo que a mulher que entrou agora para ajudar as ajude mesmo, amparando-se também ao pé delas já que também passa por muitas dificuldades.

A mãe, ai a mãe faz-me tanta pena...faz-me lembrar alguém muito querido (aqui, não se trata do meu tio de que lhe falei atrás).
As coisas que ela diz desfasadas da realidade, confundindo tudo, falando de visitas, do marido...

Continue, minha amiga. Vou procurar não fazer batota e ler tudo direitinho. :)

Uma feliz noite.

Beijinhos

Olinda

Maria disse...

Amiga:
Quanta tristeza nesta história!
Nita, Lídia, a mãe de Lídia, mesmo a D. Fátima, são faces ou fases, da vida de uma mesma mulher, ou de várias mulheres.
A solidão a sós ou acompanhada, é comum.
A sombra do "parece mal", do "que vão os outros pensar" é uma constante na vida das mulheres. O que me irritam estas frases! Os prejuízos e amarguras que provocam, a quem já tem problemas!
A Lídia ganhou vida. Penso nela, como se existisse. E existe mesmo. Pode nem ser Lídia, pode ter milhares de nomes, pode ser tantas mulheres que cruzamos na rua e não vemos.
Levantei-me de noite, porque o sono não quer nada comigo.
Vim logo aqui, para ter notícias dela.
Abraço
Mary

Anónimo disse...

Torci por um outro final. O da ficção. Que acalenta. Este foi - é! - o meu. O real.

(sem coragem para a identificação. compreenderá(ão). bem haja(m).)

Bartolomeu disse...

A vida, nua e crua de cada vez mais pessoas nesta era viralmente conturbada, vazia de sentimentos, transbordante de medos, de inseguranças, de receio que os outros, mesmo os bem-intencionados, possam ser potenciais malfeitores.
Cada dia mais, os seres que constituem esta nossa socieade anónima sem responsabilidade, se tornam autómatos e se vêm confinados aos gêtos da solidão, espartilhados por dedos inclementes e invisiveis, porém prementes, que os tornam incapazes de sonhar de idealizar, de ressuscitar de uma morte antecipada.

MCP disse...

Amiga,
Atrás de Lídia vão surgindo outros personagens também com vidas complicadas.
Mais uma vez a realidade que nos cerca.
Problemas diferentes mas todos com difícil solução.
Tantas vezes sozinhos num mar de gente...
E como nos trás entusiasmados com este enredo!!!!
Desejo-lhe um óptimo fim de semana.
Beijinho
MCP




jrd disse...

É evidente que o Paulo saiu "sem fechar" a porta. Aguardemos pois.
bfs

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

De cada vez que escrevo sobre esta mulher, quando vejo que a coisa está de novo a dar para o torto, escrevo com uma certa angústia, pensando acabar de maneira que a coisa acabe logo ali, que esse seja o último capítulo.

Assim foi ontem, estava a escrever e a pensar ' isto não tem solução, é penar até ao fim'.

Mas hoje, uma vez mais, a Lídia andou junto a mim o tempo todo e dá-me imensa pena de a deixar assim caída.

Tomara que, quando voltar a pegar nela, as coisas não desaguem outra vez na maior das tristezas e desamparos.

Obrigada pelas suas palavras e pelo incentivo que elas são para mim (...e obrigada por ler pela ordem certa para não ser tão fácil apanhar-me a dizer uma coisa que antes 'pintado' de outra maneira. Acontecia isso muito à Agustina - entrar em contradições com os nomes, as datas, as descrições - e o marido, que relia os textos antes da publicação, ficava doido com ela e ela estava-se nas tintas, não se queria dar ao trabalho de corrigir...)

Um beijinho, Olinda1

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary,

Levantou-se cedo e veio logo ler uma coisa tão triste... Tenho que ver se arranjo maneira de dar outro rumo à vida da Lídia, não quero entristecer quem me lê...

Mas sabe, Mary, isto de que falo, desta vez, não é nada ficção. Esta é a vida de muitas, muitas mulheres. A senhora que começou a vir ajudar-me na limpeza da minha casa quando eu fui operada, trabalhava antes numa imobiliária e trabalha agora incansavelmente de casa em casa...

E quando chego mais cedo ao escritório, ainda lá apanho as empregadas da limpeza. A que horas se levantam, vindo de longe porque ali não há habitação de preços baixos, para saírem antes das 9 da manhã e, em alguns casos, antes das 8 da manhã? E num local onde estava antes de vir para aqui, a limpeza era feita ao fim do dia. Chegavam grandes grupos e saíam de lá às 10 da noite. No inverno, frio e chuva, lá iam aquelas mulheres apanhar autocarros, comboios ou barcos. A que horas chegariam a casa? Há um esforço muito grande e é um esforço oculto por parte de muitas mulheres. E tenho uma colega que há pouco tempo teve a mãe com um AVC no hospital e mandaram-na para casa sem se poder mexer. E a minha colega agora está 'no mato sem cachorro', teve que contratar uma mulher para ir tomar conta da mãe e a mãe tem uma reforma o mais baixa possível. Ora o custo dos medicamentos, fraldas, médicos, empregada, etc, deixa a minha colega num grande aperto, tanto mais que tem um ordenado médio e as filhas ainda não conseguiram arranjar emprego. Mas esta minha colega tem marido e filhas e portanto não tem o grande problema da solidão nem a sobrecarga de ser tudo em cima dela. mas e se em cima de todos os problemas, tivesse ainda o problema de ser sozinha?

Custa-me muito tudo isto e é uma realidade oculta. Esquecemo-nos destas vidas tão difíceis e esta mulher, a Lídia, parece que veio ter comigo para dar voz a estas situações.

Um abraço, Mary, e muito obrigada!

PS: Gostei imenso do seu poema, Mary, mas é também tão triste...

Um Jeito Manso disse...

Cara Anónima (ou Anónimo),

Não... ! Nem que fosse apenas pelo seu comentário, não vou deixar que a história acabe aqui.

Eu escrevo isto com a convicção (e o conhecimento) de que há muitos casos assim, casos dolorosos, casos de muita solidão, muito esforço, muito cansaço.

Mas há sempre uma forma de atenuar o 'peso'. Há. Tem que haver.

Por isso, a história ainda não acabou!

Não sei como vai evoluir porque a minha cabeça funciona de uma forma estranha, só me ocorre o que vou escrever quando ponho as mãos no teclado e começo a escrever. Mas uma coisa lhe posso garantir: a próxima vez que escreva (não sei se é hoje), vou esforçar-me por tirar a tristeza e a sobrecarga de cima de Lídia.

Por isso, embora sinta que desta vez o que escrevo não é ficção, quero arranjar soluções, soluções verídicas, possíveis. Gosto de fins felizes, vou esforçar-me por conseguir um, nem que seja por si.

Por isso, não desanime porque a sua história também ainda pode ter um seguimento feliz. Está bem?

Receba um abraço e sinta-o como uma prova de solidariedade!

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu,

É verdade, estamos de pé atrás, desconfiamos, dizemos mal, censuramos os outros, não suportamos a irreverência. Tornámo-nos cinzentos, amargos. É uma forma má de existir. Custa-me muito ver as pessoas a coagirem-se de fazer o que querem por causa dos outros, tanta gente que vive amedrontada com receio da censura dos outros. Temos que nos tornar tolerantes, generosos.

Prezo muito quem ouve, compreende e ajuda os outros.

É que há um nível de intervenção, que é o nível político, o da defesa de princípios, de rumos. Mas há também, depois, o nível pessoal, o da atenção para quem precisa de um olhar, de uma palavra.

Nos meios mais pequenos parece que as pessoas ainda são mais intolerantes. Quantas vidas não se realizam de acordo com os sonhos, por causa de pequenas renúncias? Por medo de despertar a censura alheia?

Gostei de ler as palavras sentidas do comentário, e também lamento os que são 'incapazes de sonhar de idealizar, de ressuscitar de uma morte antecipada'.

Obrigada por tão sentidas palavras.

Um bom sábado, Bartolomeu!

Um Jeito Manso disse...

Olá MCP,

Fico muito contente por saber que estas mulheres que aqui andam à minha volta (a Lídia, a mãe, a Nita, a D. Fátima) também vos fazem alguma companhia.

Sinto-as como se fossem mulheres muito de verdade. São mulheres com inseguranças, fragilidades mas também muita energia, muita robustez física e moral (embora, por vezes, com tanto esforço, se vão abaixo).

São mulheres que muitas vezes arcam com tanto trabalho e tantas responsabilidades sem uma palavra de queixa, e muitas vezes com sentimentos de culpa, achando que podiam fazer mais, ou com medo de abrandarem não apenas por amor àqueles que têm a seu cargo mas, também, com medo da opinião alheia.

Não temos nunca que censurar estas mulheres, temos é que as apoiar. Nestes assuntos nunca há soluções fáceis pelo que ninguém, que esteja de fora, se ponha a censurar. O sofrimento que vai dentro das pessoas já lhes basta. É também isto que gostava que as minhas palavras transmitissem.

Um beijinho, MCP e muito obrigada pelas suas palavras!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Gostei dessa sua certeza. mas será...? Depois de ser 'corrido' daquela maneira, sem uma explicação, vai ele ousar bater-lhe à porta? Não creio. Os homens têm pavor a ouvir um 'não'. Os homens têm a ter muito daquilo a que os brasileiros chamam 'orgulho besta'.

E a Lídia vive soterrada pela sua vida difícil e por medos. Está tão fragilizada que não conseguirá suportar um olhar de censura.

Além disso, quando se vive uma situação assim, são tantos os problemas que não sobra disponibilidade para o sentimento pessoal.

Mas de uma coisa tenha a certeza, jrd: estas suas palavras foram entendidas por mim como um desafio e se há coisa a que eu dificilmente resisto é a um bom desafio.

Por isso, 'me aguarde'...

Um bom fds também para si!

Isabel disse...

Pronto!Li tudo!
E aguardo a continuação...

Tenho gostado imenso das pinturas. Algumas fazem-me pensar nas de Paula Rego.
Vou tentar encontrar alguma coisa deste pintor, de que estou a gostar muito e que desconhecia.

Um beijinho e até amanhã

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

De facto, as pessoas de Lucian Freud não são retocadas para ficarem bonitas no retrato. Tal como Paula Rego pinta as mulheres com caras doloridas ou ansiosas ou abandonadas (mas também, por vezes, irónicas), também Lucian Freud pintou pessoas encolhidas, sofredoras, ausentes, descarnadas.

Pintou-se a ele próprio velho, peles descaídas, sem clemência. Se vai à procura da obra dele, repare nos auto-retratos. Repare em particular neste que me impressiona: http://4.bp.blogspot.com/-oRcainSrXG4/Tu_MdmANEpI/AAAAAAAABFo/ejhGt1g3-Ik/s640/Portrait+of+the+tyrant+as+an+old+man+.jpg

Pintou-se sem disfarces, sem atenuar os sinais da decadência física. É preciso coragem para isso.

Estou a acabar os últimos retoques no texto de hoje sobre a Lídia, a mulher triste, e por mil motivos, esforcei-me por dar um rumo ais esperançoso à história. E acho que consegui.

Um bom fim de semana, Isabel, e aproveite para descansar.

Um beijinho!