quarta-feira, abril 23, 2025

Não está a funcionar

 

Há muita gente que acreditou que Trump iria mostrar ao mundo como é bom um país governado por liberais, daquela gente que deixa os mercados agirem por si, por conservadores que não alinham no 'politicamente correcto', que estão a marimbar-se para essas 'mariquices' de ambiente, igualdade de género e coisa assim.

Por cá temos vários desses. 

Na nossa política, alguns, burros até à décima casa ou avençados ao serviço de quem quer destruir a democracia, continuam a defender Trump.

E, no entanto, o que se tem visto por lá é uma palhaçada, uma afronta, um disparate pegado, um atentado às mais elementares leis de um estado de direito. Podia ser um filme, poderia ser a versão humana do triunfo dos porcos. Mas não é um filme. É a realidade. Uma realidade distópica, surreal, absurda.

Seria bom que os ingénuos que acreditam ou acreditaram naquilo percebessem bem como as medidas de Trump -- medidas ruinosas, parvas, erradas, catastróficas, desumanas, estúpidas -- destroem a economia, destroem as poupanças, destroem a confiança, minam a estabilidade. Seria bom que, nas nossas próximas eleições legislativas, quem tem dois dedos de testa se afastasse dos partidos que ainda não descolaram abertamente de Trump.

It's Not Working


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Mas, optimista como sou, tenho alguma esperança. Há vozes que se levantam, que se sabem fazer ouvir, gente com carisma e ideais que apontam para o lado civilizado e bom da vida.

Como já aqui partilhei, nos States, o jovem Bernie Sanders e a carismática e sensata Alexandria Ocasio-Cortez têm juntado multidões para apelarem à revolta da população contra a indigência moral e intelectual de Trump. O vídeo abaixo mostra como, com frases curtas mas muito bem pensadas, muito eficazes, Ocasio-Cortez consegue mostrar as diferenças entre os dois lados.

A note for Fox News hosts. | Alexandria Ocasio-Cortez

When Social Security provides benefits for babies whose parents have passed away, that's not "waste."

That's called humanity.


Tomara que o lado bom da vida prevaleça

(nos States, na Rússia, em Israel, em todo o lado)

terça-feira, abril 22, 2025

Jorge Bergoglio aka Francisco

 

Se nunca estive ligada à Igreja a verdade é que, cada vez mais -- à medida que vou assistindo a histórias continuadas de abusos, encobrimentos e meias palavras --, me incomodam demais todos os luxos, rituais, ortodoxias, hipocrisias, manipulações a partir da psicologia de massas, alienação de consciências que todos os agentes da igreja perpetuam.

Não obstante, e apesar de também tenha achado que Francisco, o Papa, vacilou quando deveria ter sido firme ou compactuou quando nada tinha a perder e podia ter cortado a direito ou usou palavras elíticas quando se exigiam palavras inequívocas, a verdade é que simpatizava com Jorge Bergoglio e reconheço que foi melhor que os antecessores.

Mas, neste momento de comoção quase colectiva -- em que parece que não se fala de outra coisa senão nas memórias pessoais que cada um tem com ele ou das suas virtudes ou do que ele disse ou fez --, o que penso é no homem idoso, doente, de saúde débil, certamente muito limitado na sua autonomia, tendo que ser lavado, com fraldas, medicado até mais não poder, com dificuldades respiratórias, que, apesar de tudo, conseguiu arranjar forças para ir desejar boa Páscoa à multidão.

Quando o vi, ainda antes de ser internado com a pneumonia bilaterial, pensei: está tão inchado, provavelmente já a fazer retenção de líquidos, se calhar os rins já a começarem a falhar. Depois achei que não devia ser tão pessimista e pensei que talvez fosse apenas cortisona para tratar a bronquite. Pode parecer parvoíce mas depois de ter acompanhado a situação do meu pai e, mais recentemente, a da minha mãe, eu ainda não consegui desligar-me deste hábito de vigiar sintomas, de intuir (ou temer?) o significado do que vejo.

Quando o meu pai morreu, já está quase a fazer 5 anos, estávamos confinados, impossibilitados de circular, eu no campo, a trabalhar de manhã à noite em teletrabalho e sem poder meter-me à autoestrada para ir lá a casa (e, com receio de que, se fosse, pudesse contagiá-los, pois, aparentemente, isso tinha acontecido com o pai de uma pessoa que me era próxima). E, em simultâneo, eu inquietava-me diariamente, e não era pouco, com a situação do meu pai. Primeiro foi a minha mãe que, em pleno pico de covid, para não ferir a susceptibilidade de fisioterapeuta, continuou a recebê-la apesar de ser totalmente desaconselhado. Depois, tendo mesmo que receber a senhora que ia fazer a higiene ao meu pai e dar-lhe a comida através da sonda nasogástrica, não lhe pedia que se descalçasse e, até muito tarde, tinha vergonha de lhe pedir que usasse máscara. Eu passava-me com a minha mãe por continuar a achar que só acontecia aos outros e parecia preferir correr riscos para não melindrar as duas, não fossem elas levar a mal se ela e suspendesse os serviços de uma e pedisse à outra para andar de máscara e calçasse outra coisa quando entrasse lá em casa. Isto, no início, quando não se sabia como é que o vírus se propagava e as notícias nos traziam diariamente um número crescente de mortos e de ventilados.

Mas o pior foi quando começou a achar que o meu pai estava inchado. Nessa altura, já tinha passado para o polo oposto, já tinha terror de tudo. Telefona-me cheia de medos de tudo, chorava. Muito a medo ligou para o INEM, pois recava que eles próprios fossem fonte de contágio. Mas lá o fez e eles lá foram a casa. Disseram que o meu pai estava a fazer retenção de líquidos e teria que ir para o hospital. Mas como estava a oxigénio, teria que ir para a ala covid. E aí a minha mãe não quis. E então ligou-me outra vez, a chorar, aflita, a dizer que não queria, senão ele apanhava covid. Depois pôs-me a falar com os do INEM. Coitados, que poderiam dizer? Não poderiam isolá-lo pois o hospital, na ala covid, estava cheio. Faltavam os meios. E não poderiam levá-lo para o hospital contra a vontade da família. E a minha mãe chorava, não queria que ele fosse. Recomendaram, então, que se chamasse médico a casa pois certamente receitaria Lasix. Assim se fez. E o médico, mostrando que a situação o preocupava, foi o que receitou. E o meu pai melhorou.

Mas, ao fim de algum tempo, a minha mãe voltou a dizer que ia voltar a chamar o INEM pois o meu pai estava outra vez inchado. Chorava, chorava. Insisti para que confiasse que ele não ia apanhar covid e o deixasse ir para o hospital pois a situação poderia ser grave. Tive um mau pressentimento. Morreu poucas horas depois.

Com a minha mãe, que foi aquela situação de que aqui falei, uma situação rápida, complicada, em que tudo se agravou abuptamente, senti um aperto no peito quando vi como tinha um braço todo inchado, a mão toda inchada. A médica e as enfermeiras diziam que era do cateter, do soro, da mão imobilizada, sei lá. Mas aquele inchaço assustou-me como se fosse mais uma confirmação da sentença de morte. 

Até ao fim, a minha mãe parecia preocupar-se com pequenas coisas, como se quisesse ignorar o que era verdadeiramente preocupante. Por exemplo, queixava-se que tinha as unhas daquela mão grandes. Dizia-me que, antes de ter sido internada, tinha conseguido cortar as da outra mão mas não tinha conseguido cortar as da mão direita. Como aquilo parecesse afligi-la sobremaneira, pedi à enfermeira se poderiam fazer isso, mas disseram-me que não tinham serviço de manicura. No dia seguinte, levei corta-unhas. E foi para mim um momento muito angustiante. Por um lado, era a situação de diminuição da minha mãe, até tão pouco tempo antes tão autónoma e, naquele momento, a já não ser capaz de cortar as próprias unhas e a querer que eu lhas cortasse. Por outro, a situação anacrónica de estar em situação terminal e, no entanto, tão preocupada com as unhas. Mas, o pior de tudo foi que mal se conseguiam cortar pois a mão quase parecia um balão e não havia espaço entre a unha e a pele do dedo para eu poder encaixar o corta-unhas. Tentei que ela não percebesse a minha angústia. Fingi que estava a cortar sem dificuldade, disse-lhe que já estavam bem. Mas o meu coração estava apertado, apertado.

E depois já não era só aquele braço inchado. Era apenas o mais inchado. Eu vigiava, tentando fazer de conta que não via, mas o ânimo fugia. Um dia, estava ela no cadeirão, com as pernas sobre o sofá. Vi que as pernas também estavam inchadas. Senti um tremendo pavor. O coração dela quase não funcionava, a taxa de ejecção estava reduzida a quase nada, os rins também já não conseguiam funcionar bem. Isto já para não falar que, no peito, o tumor lhe crescia todos os dias. A morte a avançar diariamente, a invadir o seu corpo.

Jorge Bergoglio felizmente não tinha nenhum tumor a devorá-lo mas tinha também insuficiência cardíaca e respiratória. Chega a uma altura em que o corpo atinge o seu limite. Por mais que se tente, que se trate, por mais que se faça de tudo, o corpo já não consegue assegurar o seu cabal funcionamento. Nessas alturas, o sacrifício que o corpo faz para se manter vivo é inglório, já é apenas sofrimento.

Jorge Bergoglio morreu. O seu corpo humano não conseguiu mais mantê-lo vivo. 

Apesar de tudo, recordá-lo-ei com simpatia.

E só espero que o próximo Papa seja bondoso, corajoso, simpático, humanista, inclusivo, justo, aberto, valente. 

segunda-feira, abril 21, 2025

No rescaldo do feliz período pascal, uma brincadeira de reencarnação canina e vice-versa

 

Para que todos acomodassem os seus compromissos familiares, o dia de encontro cá em casa foi na sexta-feira da paixão pois o domingo de páscoa estava alocado aos outros lados da família. 

O dia foi muito bom. Não estávamos juntos desde antes da ida para os States e a troca de experiências e de impressões foi bastante interessante. E, de novo, a mais recorrente constatação: todos mais altos. O que esta gente está a crescer é surpreendente. E até a meteorologia se aliviou e, de tarde, até conseguimos estar ao sol. E calhou que a ementa foi toda na base das carnes e, por sinal, sem direito a pagamento ao padre da respectiva multa. 

Acontece que, por voltas e contravoltas das combinações, parte do pessoal afinal também veio cá almoçar e passar a tarde. Como não estava nos nossos planos, fomos comprar sushi e fiz salada e uma tortilha. Ou seja, na sexta comeu-se carne e, na páscoa, peixe. Sem ser de propósito trocámos as voltas à tradição. E, uma vez mais, a meteorologia adoçou-se e trouxe o sol e deu para passearmos e para apanharmos sol. 

E, no fim, mais uma boa surpresa: ao fim do dia, chegaram os demais e agora tenho os quartos todos ocupados. 

Claro está que o nosso ex-cãobeludo, agora cãotosquiado, que, desde que se viu reduzido a metade tem andado infeliz de todo, murcho, encolhido, uma dor de ver, e, até sem apetite, agora, com toda esta movimentação, tem andado numa euforia, super alegre, cheio de apetite, brincalhão e irrequieto. 

No outro dia li que, no capítulo das parvoíces, a nova trend é mostrar ao chatgpt uma fotografia do seu cão e pedir-lhe que imagine como seria o cão se fosse humano. Como me parece a ideia tão parva, tão parva, não resisti a experimentar. Como é sabido, tenho este meu lado bem parvo. Fazer o quê?

Achei curioso: um homem jovem com ar enérgico, brincalhão, com o cabelo desalinhado. Parece-me que, de facto, faz sentido. Sim, sim. Olho para ele e poderia ser a reincarnação do meu cãomaluco.

Mas depois pensei: e eu, se tivesse nascido um cão, como seria? Ou, se os átomos que de mim se libertam um dia se reorganizam e dão origem a um cão, como seria?

Não sei se, nas vossas interacções com o Chat, têm constatado que 'o tipo' é cheio de charme. Mas é. Ou melhor, tem aprendido a ser. Pois, depois de eu lhe ter mostrado uma fotografia minha (mas não disse que era eu), diz-me o seguinte: Posso criar uma imagem imaginando como seria uma versão canina inspirada na estética e nos traços gerais dessa mulher. Para isso, posso usar alguns elementos como: expressão serena e inteligente, olhos expressivos, pelagem que lembra o tom de pele e cabelo. Vou captar a vibe quente, elegante e clássica mas viva, talvez sonhadora ou curiosa.

Fiquei a pensar: este 'tipo' já tem a escola toda. Sabe-a toda. 

Mas o que saiu agradou-me. Sempre gostei de setters. Aliás, na fase em que eu dizia que não queria ter nenhum cão, pensava que, a ter, talvez um setter. Lembro-me de quando era pequena e ia à escola onde a minha mãe dava aulas. À tarde eu ia para um terraço onde estava o 'Senhor Director' que tinha um setter que brincava e atrás do qual eu corria, a brincar. Afinal vim a ter um boxer e agora um Serra de Aires (e não me arrependo porque adorei a minha doce boxer e agora adoro o meu fofo e truculento serra de aires).

Seja como for, crédito ao ChatGPT, esta aqui abaixo seria eu, um dia que encarne como cadela. E o pormenor de uma pena verde? Não é uma delícia? Na minha fotografia não tenho nada no cabelo. O que é que ele viu em mim para pôr a cadela com uma pena no meio do pêlo? Achei o máximo. E pôr-me num ambiente de natureza banhada por uma luz dourada? Uma maravilha.


Portanto, se um dia, num parque banhado por uma luz dourada, virem uma cadela assim, já sabem que sou eu. Não sei se é assim que me imaginavam mas eu olho para esta menina aqui em cima e, sim, revejo-me. Sou eu.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Be happy

domingo, abril 20, 2025

Também tendo a achar o mesmo que a jornalista que andou um ano inteiro a namorar tipos de extrema direita: são, antes de mais, uns seres inseguros, perturbados

 

Quando ouço alguns dos youtubers da moda ou quando ouço a conversa de fulanos de extrema direita geralmente penso o mesmo: deviam tratar-se. São incoerentes, inconsistentes, muitas vezes agressivos, mal educados, assumem posições extremadas, frequentemente de raiva ou ódio, demonstram zero empatia. Em contrapartida, viram-se do avesso, se necessário for, para agradarem, para que gostem deles. Claro que fico sempre incomodada e perplexa por alguém lhes dar ouvidos. E penso que, com sessões de terapia, individuais ou em grupo, talvez pudessem ser ajudados a tornarem-se bons seres humanos.

Esta coisa da manosfera de que só comecei a ouvir falar na sequência da série Adolescência (em que ainda não ganhei coragem para ir além do 1º episódio) -- grupos de homens intoxicados por teorias da conspiração, com sentimentos de rejeição recalcados, misóginos por má ou inexistente informação ou por traumas mal resolvidos -- parece que está a alastrar. E, ao ritmo viral que as redes sociais propiciam, está a 'apanhar' gente de todas as idades, em especial os que ainda têm a sua personalidade em fase de formação como os adolescentes.

Mesmo, no caso da nossa política nacional, se virmos bem, o Ventura é um caguinchas, diz uma coisa e o contrário, faz de tudo e o seu contrário, para que gostem dele, e, quando é apertado, parece que até faz beicinho. É daqueles que, numa situação de aflitos, ficaria a tremer que nem varas verdes e, quiçá, até não conseguisse controlar os esfíncteres. Um pobre coitado que, muito provavelmente, se seguisse um aturado programa de psicoterapia, talvez melhorasse. Assim, por aí anda, a dizer baboseiras, a incitar à divisão tribalista e imatura dos bons contra os maus, a ser seguido por outros tão perturbados quanto ele ou débeis das ideias. Veja-se também o Trump: narcisista, irracional, imaturo, infantilóide, inseguro, sempre a proclamar-se como o maior mas sempre com medo que gostem mais de outros mais fortes (Putin, por exemplo) do que dele. Lança atoardas ou grandes medidas e, quando vê que deu barracada, recua. E quando confrontado com as alarveiradas que diz, mostra-se surpreendido e diz que não disse. Claro que com esta aleatoriedade pegada e sendo uma mente desarranjada. Não se tratou pelo que, ao longo da vida, só tem feito o número dois (como agora se diz). Gente perturbada.

A investigação que uma jornalista levou a cabo confirma isto. 

Talvez se compreendermos bem como funciona a mente e a psique desta gente, talvez, talvez, talvez se consiga que continuem a ganhar influência e a fazer tantos estragos.

This woman dated only far-right men for a year: ‘They were so insecure’

The “manosphere” is made up of macho podcasters and influencers, a space where UFC fighters are among those that reign supreme, like Jake Shields. CNN’s Donie O’Sullivan sits down with Shields and also speaks with independent journalist Vera Papisova as part of "MisinfoNation: Extreme America," airing Sunday April 13 at 8pm ET/PT on "The Whole Story with Anderson Cooper." #CNN #News


Desejo-vos um belo dia de domingo

Renasçamos todos os dias.
Renasça a esperança.

sábado, abril 19, 2025

Conselhos?

 

Passo a vida a ver, em entrevistas ou em conferências ou em vídeos publicados nas redes sociais, pessoas que sabem dizer qual o melhor conselho que receberam. Ou, em alternativa, qual o conselho que dão aos mais novos. 

A forma desembaraçada como parece que toda a gente tem conselhos na ponta da língua deixam-me sempre a pensar que devo ser uma desnaturada.

Quando puxo pela cabeça e tento lembrar-me de algum conselho que tenha recebido e que me tenha marcado, não me ocorre um único. 

No entanto, lembro-me de milhares de conselhos que recebi. O que não foram foi marcantes. Não sei porquê, sempre tive muita gente a dar-me conselhos. Mas foram sempre conselhos para eu contrariar a minha natureza e que, portanto, geralmente não segui.

Por exemplo, a minha mãe. Toda a sua vida me aconselhou a propósito de tudo. Mas eram sempre ao lado. Geralmente tentava que eu me moderasse, que eu pensasse bem, tentava passar-me os seus receios. Desde sempre. Sobre cada namorado ou pretendente, sempre receou que fossem malucos, que fossem meninos da mamã, ou qualquer outra coisa. Em relação ao meu marido, antes de o conhecer, começou por recear que fosse um vilão, um doido. Mas ou porque, ao conhecê-lo, percebeu que não tinha razão ou porque percebeu que não valia a pena, em relação a ele nunca se meteu ou deu palpites. Quando resolvi deixar de dar aulas, para ela foi um choque. Tinha receio que eu não aguentasse uma vida de trabalho, querendo formar família e sem familiares por perto que me ajudassem. Em contrapartida, achava que, como professora, conseguiria acomodar tudo. Depois, sempre que se apercebia que eu andava com discordâncias e lutas no trabalho, tinha medo que houvesse consequências e aconselhava-me a não levantar ondas. Ou aconselhava-me, na rua, a não fazer ou não dizer isto ou aquilo com medo do que pudessem pensar ou dizer de mim. Ora sempre me estive bem nas tintas para o que os outros dizem ou pensam de mim.

No trabalho, os meus colegas e amigos também sempre me aconselharam mas, igualmente, sempre foi para me recomendarem prudência, que não me mostrasse desalinhada, que não enfrentasse poderes instituídos, que não falasse daquela forma ou que não tivesse razão antes de tempo. Nunca segui esses conselhos. Sempre travei lutas, sempre enfrentei quem eu achasse que deveria enfrentar. Tive dissabores, claro. Mas nunca os temi. Além disso, sempre comprovei que uma mulher que se mostra destemida, intimida os homens. 

O meu marido e os meus filhos também sempre me aconselharam e, de forma geral, também são conselhos no sentido da moderação: para escrever menos e mais ponderadamente, para pintar menos e mais apuradamente, para fazer menos comida, o meu marido agora diz para eu não fazer passadeira com tanta velocidade ou não fazer máquinas com tanto peso. Ou para me agasalhar mais quando saio. Ou para não me deitar tão tarde.

Geralmente são assim os conselhos que recebo. Desde sempre o foram.

Ou, se foram num outro sentido, por me parecerem naturais, também não os registei como decisivos.

Ao escrever isto estou, contudo, a lembrar-me de uma coisa que uma vez me disseram, quando trabalhava, que me soou lindamente e que me deu um oxigénio que me durou para o resto da vida. Muitas vezes eu recusei adoptar soluções ou seguir caminhos por me parecerem absurdos e antever que não iam dar em nada. E sempre tive problemas com isso pois as pessoas achavam que eu não podia rejeitar, à partida, opções recomendadas por gente que sabia tanto ou mais que eu só porque sim. Diziam-me que se devia tentar. E eu antevia que era perder tempo e gastar dinheiro para nada. Mas diziam-me que se deveria dar o benefício da dúvida e só no fim emitir opinião. E, por isso, testemunhei vários projectos falhados, alguns projectos empresariais de muitos milhões de euros. E, no entanto, desde o início eu dizia que estava na cara que iriam ser um flop. Diziam-me que não se podem tomar decisões com base na intuição. E quando, tempo depois, perante a evidência do fracasso, eu dizia que tantas lutas eu tinha travado para demonstrar que aquilo só podia correr mal, respondiam-me que ter razão antes de tempo era o mesmo que não ter razão.

E, no entanto, trabalhei durante algum tempo com uma pessoa muito diferente. Não apenas era o presidente da empresa em que eu trabalhava como era, em simultâneo, empresário, sendo accionista maioritário de um grupo de empresas criadas por si. Aliás, para poder acumular esses cargos, passou por inúmeros crivos e aprovações. Mas, sendo um gestor experimentadíssimo, hábil negociante, os accionistas da empresa em que eu trabalhava acharam que ele tinha o perfil certo para a fase em que se estava. Era um homem temido, implacável. Correu com alguns directores, apertou com outros, criou um clima de algum terror entre os meus colegas. Quando a secretária os chamava ao gabinete dele, iam a tremer. Alguns vinham de lá a tremer ainda mais. Curiosamente, nunca me senti intimidade por ele e sempre concordei com tudo o que ele fazia. E até concordei com a limpeza que ele fez. Admirei a sua perspicácia, a sua capacidade de cortar a direito. Era de uma frieza notável. Com poucas palavras e sem levantar o tom de voz, impunha um respeito que ninguém questionava. Acabei por acumular a responsabilidade por duas áreas durante esse período. Uma das áreas tinha a ver com comércio internacional e foi das fases mais estimulantes da minha vida profissional. Avancei para inúmeros mercados em que nunca tínhamos posto o pé, desbravei caminho em geografias longínquas e arriscadas. E exerci uma das coisas de que mais gosto: negociar. E aí fazia uma coisa que deixava toda a gente doente: levava as negociações até ao limite. Fazia bluff sabendo que o bluff, se corresse mal, poderia fazer a empresa perder milhões. Muitas vezes quase me imploravam que parasse pois já tinha conseguido condições fantásticas e puxar mais poderia levar a que a outra parte se retirasse, obrigando-me a ter que fazer negócio com outros menos vantajosos. Frequentemente, faziam-me sinais, escreviam-me recados em papel, reviravam os olhos, suavam, e eu, frequentemente, pediam que me deixassem sozinha para não me desconcentrarem, queria estar atenta aos mínimos sinais daqueles com quem estava a negociar, queria usar todas as armas, queria não ter ninguém a puxar-me pela saia. Esse presidente dizia que toda a gente o achava a ele muito frio mas que não era nada ao pé de mim, que eu o deixava nervoso ao levar, com tanta frieza, as coisas até ao limite.

Mas eu arriscava. E gostava de arriscar: fazia negócios de grande dimensão com quem não tinha as garantias que, por regra, exigíamos, fazia negócios em que lutava até ao último cêntimo (e, na minha cabeça, pensava assim: se eu conseguir mais isto, só este desconto adicional paga o meu ordenado e o de todos os que trabalham comigo durante um ano, e isso dava-me como que uma espécie de razão mais do que válida para me arriscar como me arriscava). Mas, claro, não o fazia sem ter o respaldo do presidente. Antes de cada ronda negocial, eu reunia-me com ele para o pôr ao corrente do ponto em que estava e de qual a minha ideia. E expunha-lhe os riscos. Ele dizia-me: por mim, já está mais que bom, por mim parava aí, mas o que é que a sua intuição lhe diz? E eu respondia: a minha intuição diz-me que é de confiar (quando os outros não conseguiam dar todas as garantias) ou diz-me que há ali ainda uma margem para eu forçar um bocado mais. E ele ficava a pensar e dizia: siga a sua intuição. E eu mostrava o meu receio: posso deitar tudo a perder. E ele respondia: arriscar faz parte da arte da gestão. E eu mostrava, com franqueza, que sabia bem que estava a andar no fio da navalha: pode dar uma valente bronca. E ele respondia: se a sua intuição lhe diz que é de avançar, avance. Em gestão, quando se arrisca, às vezes perde-se mas, quando se ganha, o gozo é a valer.

E esta coisa de alguém acreditar na minha intuição ou, mais genericamente, alguém achar que a intuição é coisa que se leve a sério, dava-me a confiança de que necessitava e uma alegria muito grande.

Depois dele trabalhei com pessoas muito competentes e com grandes totós. Os totós eram sempre mais acagaçados, mais apertadinhos, mais moralistas, mais conservadores. Os totós não acreditam na intuição dos outros (e creio que, eles mesmos, não a têm) e munem-se de pareceres de mil consultores pois temem o risco e, por isso, só avançam em cima dos sapatos dos outros. Mas, mesmo nesses períodos em que tive que me sujeitar a lidar com totós, com cromos, com palermas, quando tinha que me organizar e saber como lidar com as situações eu repetia, para mim: o que é que a tua intuição te diz?

Ainda hoje, perante algumas situações, quando tenho decisões para tomar, eu me interrogo: o que é a que a intuição me diz? 

Por vezes, eu própria não sei bem explicar, apenas sei que é aquilo. Ainda no outro dia, quando estava um temporal, o meu marido queria ir de carro a um sítio pois dizia que não fazia sentido irmos a pé. Teimei, não quis, achei que não devíamos ir de carro. Contrariado, ultra-contrariado, lá me fez a vontade e lá fomos debaixo de uma ventania e de chuva, ele só a mandar vir. Quando lá estávamos, passado um bocado, ouvimos um enorme estrondo, um som um bocado medonho. Saímos para ver o que era. Uma enorme árvore tinha caído em cima de dois carros, no lugar em que teríamos estacionado. 

Quando alguns colaboradores das minhas equipas por vezes me perguntavam que conselhos lhes daria para a sua vida futura, eu dizia-lhes: nenhum, não gosto de dar conselhos. E quando não acreditavam que não tivesse nenhum conselho a dar e insistiam, eu explicava que cada um sabe de si, o que funciona para uns não funciona para outros. Mas, a ter que aconselhar alguma coisa, pois que tentassem sempre ouvir a sua consciência e a sua intuição. E que fossem generosos e justos, para os outros e para eles próprios. 

E vem tudo isto a despropósito do vídeo abaixo em que Dorothy Wiggins, que faz 100 anos em Agosto, fala do seu percurso e de como chegou até esta idade com tanto gosto pela vida, e ainda tão bem. 

E uma palavra de apreço também para o jovem que conduz a conversa com tanta espontaneidade, tanta simpatia, tanta leveza.

This 99 Year Old's Life Advice Will Make You Rethink Everything...

I asked 99 year old Dorothy Wiggins, who has over 300,000 followers on Instagram (!!) about her best life lessons. Dorothy is incredibly unique, witty, and social. In fact, she went out to a jazz club immediately after I interviewed her. She has seen so much of the world, and for that reason, I can guarantee that Dorothy's advice and wisdom is easily some of the most interesting I've EVER heard. Please enjoy!


Um bom sábado!

sexta-feira, abril 18, 2025

Quando o fim do mundo chega cedo de mais

 

Hoje, quando vi no grupo de whatsapp uma mensagem em que uma amiga, ao lado do Nuno Guerreiro, ambos sorridentes, dizia que a fotografia tinha poucos dias, fiquei muito admirada. Ainda não tinha sabido da notícia. Fiquei triste.

E lembrei-me como, talvez há uns dois anos, andava eu a passear na cidade com a minha mãe, o vimos. Falámos da sua boa voz. A minha mãe disse que achava que ele era algarvio. Eu contrapus que achava que era setubalense ou que, pelo menos, vivia ou tinha vivido em Setúbal. Mas era indiferente. Falávamos por falar. Quando penso em momentos assim faz-me impressão. Lembro bem essa tarde. O sol estava dourada, a cidade estava florida. Passeávamos devagar. Parecia um dia tranquilo. E era. Não poderia adivinhar que tão pouco depois a vida da minha mãe teria chegado ao fim e a dele, tão mais novo e tão talentoso, hoje também já terminou.

Reajo assim, um bocado ilogicamente -- como se fosse suposto que uma pessoa tivesse estampado na testa o prazo de validade.

Sinto sempre uma certa perplexidade em torno destas coisas.

Fim do Mundo   --  Ala dos Namorados

quinta-feira, abril 17, 2025

Sobre a mais recente ingerência do Ministério Público numa campanha eleitoral não me apetece cansar a minha beleza.
O que é que move aquela malta: é um ódio rebarbado ao PS ou estão a soldo de alguma força que quer destruir a democracia? Ou é, simplesmente, gente perturbada?
Não sei e gostava que alguém bem informado nos explicasse esta grande pancada.
Entretanto, para não falar nisto, vou antes falar num outro maluco encartado.
Trump quer ficar mais uma carrada de anos mas, cá para mim, os americanos arranjarão maneira de se livrar dele mais dia menos dia

 

Ou os bilionários que lhe pagaram a campanha ou os tribunais que ainda funcionam ou os estudantes em peso ou a malta que deixe de conseguir pagar o básico ou os democratas que, vitaminados pelo jovem Bernie Sanders e pela carismática Alexandria Ocasio-Cortez, acordem para a vida e façam levantar a indignação ou todos juntos conseguirão afastar a besta que está à frente dos Estados Unidos.

Hoje, no ginásio, enquanto estava a fazer a passadeira, ia olhando para a televisão onde passava o estupor a dizer as maiores alarvidades -- e pensava que o mundo é mesmo um lugar deveras perigoso para que aconteça a irracionalidade de milhões de pessoas terem votado numa besta daquele calibre, apesar de tudo o que já se conhecia dele.

Mas, enfim, não consigo acreditar que a situação de caos que Trump criou se consiga manter por muito mais tempo. É que ainda por cima, irracional como um animal burro e desencabrestado, torna a ordem mundial completamente imprevisível. 

Entretanto, toda a gente que goze com ele é bem vinda, seja nos Estados Unidos seja no resto do mundo.

“Billionaires Are Actually Good” - Stephen Colbert feat. Alan Cumming

Stephen Colbert performs a special song for the richest people in the world, in the hopes of getting them out of our lives for good. Special thanks to Alan Cumming for hopping on the track!  

Fees, Fees, Fees, - A Randy Rainbow Song Parod


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Seja como for, recomendo a leitura de:

quarta-feira, abril 16, 2025

Conversa típica de pensionista. Ou de avó. Ou das duas coisas.

 

Bem. Hoje a ver se não me deito muito tarde pois a noite passada acordei algumas vezes, a ver as horas previsíveis de aterragem, a acompanhar o voo nos céus (de facto, a tecnologia é extraordinária), etc. 

O voo tinha partido com atraso e eles tinham dito que saíam mais tarde pois os sistemas não respondiam. Depois que estavam a testá-los, etc. Fiquei assim a modos que um pouco inquieta. Um voo de várias horas sobre o oceano não oferece muitas hipóteses de recuo numa situação de atrapalhação. 

E depois, ainda cedo, chegou uma mensagem. Não podiam ser eles. Assustei-me. Era uma daquelas notificações desnecessárias. Habitualmente tiro as notificações durante a noite pelo que, se chegam, não dou por elas. Mas, quando há viagens de noite, não tiro. E, portanto, sobressaltei-me e já quase não consegui voltar a dormir. 

Felizmente chegaram bem e até praticamente a horas. O piloto comeu o atraso. Deve ter apanhado ventos de feição. 

Mais de metade da turma tinha ido fazer férias grandes (11 dias) para os States. Nós, que ficámos, conseguimos acompanhar os passos dos turistas através das fotografias, vídeos e telefonemas que foram fazendo. No cômputo geral, a pé fizeram 135 km. Sendo que vários são crianças, dos 8 aos 16, é obra. Visitaram cidades, ruas, edifícios, parques naturais e de diversões, museus de todo o tipo, zoos, viram desfiles, jogos de basket e outro de que não me lembro o nome, e sei lá que mais. Uma alegria e umas férias memoráveis, embora, apesar de terem adorado a viagem, algumas das coisas que viram deixaram-nos digamos que algo desconfortáveis.

Entretanto, um dos meninos, imagine-se bem, foi 'assinar' por um outro clube que o 'caçou'. Aquela coisa dos olheiros é mesmo realidade. Portanto, agora vai jogar numa equipa da 1ª Divisão do Nacional (creio que é assim que se diz). Ou seja, mais treinos, mais preparação física, jogos em todo o País. Os pais cada vez mais 'presos' face a estas exigências e às deslocações que isto implica pois o estádio não é propriamente ao lado de casa. Claro que haveria sempre a possibilidade de dizer que não. Mas isto marcaria para sempre o menino que adora futebol, que é óptimo no que faz (era ele bem pequeno e já o meu marido comentava que o achava especialmente dotado para aquilo) e que está felicíssimo. E há o compromisso de não deixar que isto afecte  o desempenho escolar. Ou seja, um desafio para ele e para os pais.

Tirando isto tenho a dizer que fomos ao supermercado e que fizemos as compras mais caras de sempre, e isto apesar de não termos comprado nem extravagâncias nem nada em grande quantidade. Não há dúvida que os preços estão cada vez mais altos, alguns mesmo estupidamente altos. Vinha para o carro e a olhar para o talão na esperança de detectar algum engano. Mas não dei. Mesmo assim não deitei fora para poder voltar a conferir. Uma barbaridade. Dei por mim a equacionar o que é que, se tivesse menos dinheiro, cortaria ou trocaria. Deixaria de comprar chocolate preto, pois o chocolate está uma exorbitância. Deixaria de comprar cápsulas de café pois também estão caras. O meu marido teria que deixar de comprar cerveja ou teria que racionar. Deixaria de comprar carne de vaca (e já compro pouquíssima, não pelo preço mas porque evitamos muita carne vermelha). Deixaria de comprar corvina ou maruca, teria que escolher um peixe mais barato. Mas batatas, cebolas, azeite, laranjas, maçãs, iogurtes, coisas assim, teria que comprar. Só que, na realidade as coisas estão todas muito caras e quem ganhe pouco deve ver-se aflito para ter uma alimentação decente. 

Mas, pronto, hoje fico-me por aqui. Vou dormir. 

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Um dia feliz 

terça-feira, abril 15, 2025

Se calhar, deveria saber extrair uma moral para a história...
Mas não consigo...

 

Quando fui para o ginásio, por cima da tshirt, vesti apenas uma blusinha leve de manga comprida. O meu marido levou uma parka. Quando me viu, perguntou-me se eu achava que ia bem assim. Pergunta retórica, claro. Se me tinha vestido assim é porque achava que ia bem. Referiu que o céu estava cinzento e que a meteorologia anunciava chuva. Não me pareceu. Antes tinham caído uma pingas e admiti que fosse a isso que os meteorologistas se referissem.

Quando estávamos lá, já na recta final das máquinas, o meu marido perguntou se eu já tinha olhado lá para fora. Não tinha. Sou muito focada: se estou a puxar roldanas ou a remar para exercitar os músculos superiores ou a abrir e fechar pernas para exercitar os músculos de dentro e de os fora, é nisso que estou concentrada. Mas, porque ele disse isso, olhei. E engoli em seco. O dilúvio. Quase me apetece acrescentar: 'literalmente' o dilúvio. Uma carga de água... mas uma senhora carga.

Não me desmanchei. Pensei que, assim como assim, quando chegasse a casa, ia tomar banho. Chegar molhada seria apenas evitar uma fase, podia passar logo para a aplicação do gel de banho.

Mas, cavalheiro como é, quando saiu do balneário, tinha um casaco de capuz que levava por baixo da parka para me dar. Não queria aceitar a gentileza. Mas, tanta a insistência, aceitei.

Apesar de ter abrandado um pouco quando saímos, a verdade é que cheguei toda molhada.

E felizmente não tinha deixado roupa estendida. O que isto tem de bom é que desde há alguns meses, se calhar desde novembro, não sei bem, não é preciso ligar a rega. E está tudo verdinho que é um gosto. De vez em quando, com regador, rego os vasos que estão debaixo de telheiros e é só. 

As rosinhas já começaram a despontar e a nespereira está carregada. A chatice é que é uma árvore tão grande que os ramos estão todos muito altos, custa a chegar à fruta. Mas já apanhei umas quantas. Ainda não estão dulcíssimas mas, para mim que sou de boa boca, já estão boas.

Há ainda uma coisa que é um bocado triste e que até estou a hesitar trazer aqui. Trazer para quê, não é? Não gosto nada de trazer para aqui coisas que podem puxar ao sentimento. Mas, por outro lado, antes de começar a escrever, era nisto que estava a pensar. Falei na molha que apanhei para ver se me distraía e não falava no que estava a pensar.  Mas, aqui chegada, estou outra vez com esta em mente. Por isso, se calhar, mais vale falar e pronto. Aquela amiga que perdeu o marido a semana passada está muito abalada e muito triste e tanto mais, segundo ela, quando foi uma coisa quase inesperada. Faz-me muita impressão. Custam-me as palavras dela a dizer que está a viver tempos muito duros e que não consegue encontrar palavras para a dor que sente. Compreendo-a e imagino o vazio enorme que agora deve estar a invadir a vida dela. Uma pessoa que vive a vida inteira com outra, em que as vivências, tudo, resulta de uma convergência de hábitos, deve ficar a sentir-se completamente desamparada. Deve ser quase como se tivesse que reaprender a viver por si, alguém a quem se tiram as muletas, o andarilho, o oxigénio, a sonda, tudo, e que, sem sentir motivação para tal, tem que aprender a ser autónoma. Sozinha, cheia de saudades e tristeza, e por sua conta como quando nasceu e teve que aprender a virar-se. Depois fiquei a pensar: ela diz que lhe custa ainda mais por ter sido uma coisa quase inesperada mas, se ele tivesse sofrido, se tivesse sido uma daquelas mortes lentas em que a pessoa assiste ao seu próprio declínio, em que a pessoa vai perdendo autonomia, dignidade, não teria sido mais doloroso?

Pergunto isto e sei que a pergunta é estúpida. Dor é dor.

E agora lembrei-me de há uns meses, ao encontrar uma amiga de longa data que não via há séculos, pergunta-me ela se eu me lembrava de um que tinha sido nosso colega. Assim de repente, não me lembrava, mas ela mostrou-me a fotografia dele. Ah, perfeitamente, lembrava-me. Diz ela: 'Casámos, não sabias?'. Não, não sabia. Mas antes que eu me pusesse a festejar, ela atalhou: 'Morreu o ano passado.'. E aí fiquei sem jeito. Fiquei também sem palavras. A sorte é que ela depois mudou de assunto.

Mas, enfim, são situações que parece que tiram o chão às pessoas. O que vale é que, na maioria das vezes, não é o chão, é o tapete. E as pessoas reaprendem a andar porque o chão, mal ou bem, continua lá.

E com isto não concluo nada. Para dizer a verdade nem sei como acabar este post. 

Partilho, antes, um vídeo que, se calhar, até já tinha partilhado antes. Acho que não tem a ver com nada do que acima fui escrevendo. Mas é um vídeo curioso. Um bocado terrível. A mim, que padeço de vertigens, faz-me muita impressão. Até parece que sou eu que estou ali, à beira do abismo, a escorregar, os outros a empurrarem, e eu a tentar aguentar-me... depois a tentar ganhar coragem... e, depois, olha, lá vai disto, seja o que deus quiser...

Emperor penguin chicks jump off a 50-foot cliff in Antarctica NEVER-BEFORE-FILMED FOR TV | Nat Geo

National Geographic and BAFTA Award-winning cinematographer Bertie Gregory release unprecedented footage of Emperor penguin chicks leaping 50 feet off an Antarctic cliff. The never-before-filmed behavior was for the 2025 installment of National Geographic’s Emmy award-winning SECRETS OF franchise, SECRETS OF THE PENGUINS, premiering Earth Day 2025 on Nat Geo.


segunda-feira, abril 14, 2025

Deixem o Luís continuar a ser Mentenegro. Deixem o Luís continuar a gozar com o pagode. Deixem o Luís continuar a rir-se da malta

 

Quando vi referido que o hino da campanha da AD continha a expressão 'Deixem o Luís trabalhar' pensei que não era possível, que o hino devia ser uma piroseira tal que levava o pessoal a distorcer para gozar com o Luís. Mas não. Nestes estúpidos tempos, a realidade é sempre mais parva do que poderíamos supor. O hino contém mesmo aquela expressão. É estúpido de mais para ser verdade. Mas a estupidez, como se sabe, não tem limites.

Como muito bem diz o Der Terrorist, Deixem o Luís gozar com os portugueses


E continuo a tomar a liberdade de transcrever do Der Terrorist:

Luís Montenegro não tem contas escondidas do Tribunal Constitucional, Luís Montenegro, como qualquer português de bem, tem várias contas a roçarem o mínimo legal exigido para serem declaradas.

Não foi a gasolineira de Braga que doou/ financiou o PSD, foram vários familiares do dono da gasolineira.

Deixem o Luís gozar com os portugueses.

domingo, abril 13, 2025

Alô, alô Senhores da Comissão Nacional de Eleições! Isto é legítimo: "Governo pede aos “serviços de recursos humanos” do SNS para trabalharem no fim de semana e processarem aumentos salariais este mês"?

 

Montenegro é um manhoso. Não se pode confiar numa pessoa assim. Hoje, vinha no carro e ouvi-o a explicar-se sobre o facto de ser sido questionado pelo Ministério Público sobre o dinheiro espalhado por várias contas bancárias, supostamente para não ter que as declarar ao Tribunal Constitucional, e, como é seu hábito, encolheu-se para passar de fininho entre os pingos da chuva. Disse ele, com aquela sua vozinha de lampeiro, que sempre preencheu os documentos como lá é solicitado. Claro. Como, com o dinheiro dividido, fica com o saldo abaixo do que é preciso declarar, está tudo 'certo'. É assim que ele age, com espertezas, com habilidades, com meias palavras, meias verdades. E sempre a sorrir, com aquele sorrisinho que enjoa. 

Faz campanha eleitoral ilegítima à descarada -- mas sempre com um estratagema para se desculpar. Foi com o Governo em peso, ministros e secretários de estado, para o Bolhão. Diz o manhoso que foi fazer um conselho de ministros (e as minúsculas são deliberadas). Um conselho de ministros sem agenda e que nem sala teve para se reunir. Julga que somos parvos. E, a seguir, foi -- com a tropa fandanga em peso mais os que o PSD tinha arregimentado mais as câmaras de televisão e os pés de microfone  -- desfilar na Rua de Santa Catarina. 

Perante esta provocação à decência, a CNE não teve nada a dizer. 

Marcelo, essa criatura que cada vez está mais irrelevante e a quem, cada vez mais, a vergonha parece  escoar-se, perante estas indecências não diz nada ou, quando muito, diz, sonsamente, que o Montenegro aproveita para ir somando uns pontinhos. Quando as pessoas não se dão ao respeito até se esquecem de respeitar os outros.

Pontinhos. Muitos pontinhos. Hoje li no Expresso o que transcrevi no título: mais outra manhosice. 

As administrações das 39 unidades locais de saúde e dos três IPO receberam um e-mail do gabinete da secretária de Estado da Gestão da Saúde na tarde de sexta-feira para que as atualizações remuneratórias recentemente aprovadas sejam pagas ainda este mês. Gestores falam em “pressão inaceitável para que os pagamentos sejam feitos antes das eleições” (...)

Será que a CNE também acha isto normal? Vão continuar a andar com o manhoso -- e um descarado e reincidente vendedor de banha da cobra --  do Montenegro ao colo? Pergunto.

sábado, abril 12, 2025

Dos mais loucos paradoxos de que há memória

 

Andámos a cortar uma trepadeira que estava toda desconforme, saída dos eixos por via do Martinho, ensarilhada em tubos relacionados com painéis solares. O meu marido, naquela sua de Rambo que leva tudo à frente, queria cortar pela base. Eu, mais para Cinderela, amante dos desvalidos mesmo que os desvalidos sejam trepadeiras desaguisadas, quis preservar, encaminhar. E assim se fez, ele contrariado, eu insistente. Isto logo a seguir ao Martinho. Mas Cinderela que é Cinderela tem coração bondoso mas não é burra. Por isso, depois de ver que a coisa não levava jeito de todo, com o coração sofrendo, condescendi. Que se fizesse a sua vontade.

Assim, depois do ginásio, ele no escadote, eu tentando ainda salvar alguma coisa, lá fomos progredindo no entendimento. Eis senão quando desaba um violento aguaceiro. Não dei o braço a torcer e ele também não. Ali, debaixo de chuva, lá fomos andando, andando, corta daqui, corta dali, e mais daqui e mais dali. No fim, os dois ensopados, restou um pequeno pé de trepadeira que, com sorte, um dia voltará a rebentar e a dar as lindas florzinhas azuis que até há pouco embelezavam aquele pilar. 

Mas quando, desolada, deitei os olhos ao céu tive uma alegria. Há uns meses andou aqui um brasileiro cheio de agilidade e de graça que fez o que o meu marido queria: desbastar ao máximo uma árvore linda que já estava a ir para cima do telhado, a fazer sombra nos painéis solares e a fazer correr o risco de dar cabo das telhas ou não sei o quê. Desde há um ano ou dois que o meu marido andava com essa fisgada e eu a dar luta. Mas tive que me render: era um facto que os painéis já mal apanhavam sol e já havia folhas a mais no meio das telhas. Mas pedi contenção no corte: só o mínimo indispensável. Mas o brasileiro, todo ele rico em metáforas e sem tempo a perder, para ali arranjou uma conversa que era de cortar tudo, uma carecada das valente. De outra maneira a árvore ficaria desencontrada, desequilibrada, desengraçada. Cortando ente, daí por uns dois meses estava toda cheia de folhas, que eu depois logo lhe contava se era ou se não era. Claro que, quando a conversa é cortar, o meu marido decide rapidamente: corte!

Mas os dois meses passaram, os três meses passaram, já lá em seis meses. E nada. Estou sempre a dizer: filho da mãe que me deu cabo da árvore. O meu marido, ar apreensivo, já dizia: tem calma, se calhar ainda nasce. Mas nada.

Ora bem. Hoje, depois de termos dado cabo da trepadeira, ao olhar para o céu -- não para invocar os deuses mas para ver se a chuva já tinha parado de vez, pareceu-me ver, na ponta de alguns dos ramos amputados, umas little coisinhas verdes. Hão de ser folhinhas.  Fiquei feliz.

Mas, logo a seguir, tive a notícia de que tinha morrido o marido de uma conhecida e o irmão de uma outra. Fiquei assim naquela: caraças, logo dois de uma vez. É bem certo que isto da vida é uma brincadeira. Andamos por aqui sempre cheios de razões e opiniões e decisões e emoções e ilusões e esquecemo-nos que é tudo uma fantasia de curta duração. Não ficaremos cá para fazer o balanço nem para tirar teimas. Iremos também um dia. Só que a gente se esquece e, por isso, quando recebe estas notícias, fica assim a modos que meio desamparada. Lá transmiti os meus sentimentos e coisa e tal mas estava com vontade de dizer que não era nada demais, que a vida é mesmo efémera, que hoje foram eles, amanhã seremos nós. Mas não disse, não quis ser mal interpretada.

Portanto, coração ao alto.

Mas é bom dizer isso mas o pior é ser capaz de o pôr. É que entre debates e as cavaladas do Trump (e do Putin e do parvalhão de Israel e de todos esses malucos) uma pessoa mal consegue ter ar limpo para respirar.

Só que isto que está a passar-se nos States vai para além de tudo o que é razoável pois é pôr os destinos do mundo nas mãos de um ignorante, de um narcisista maluco, doido varrido.

Isto das tarifas seria de gargalhada se não fosse tão perigoso. Aquilo baseia-se numa fórmula matemática errada. Aplicando a fórmula correctamente, as tarifas seriam 4 vezes inferiores. Mas, independentemente da fórmula estar errada, é o próprio conceito e a própria 'jogada' que são erradas, anacrónicos, estúpidos.

Os vídeos abaixo são elucidativos. Acima de tudo, tudo o que ali se passa é estúpido pois é mau para os outros e mau para os americanos.

E depois há o parvo do Musk, que tantas tem feito, tantas, todas tão parvas, e que, no fim de tudo consegue ser dos maiores prejudicados em toda esta macacada. Se pegassem nos doidos mais varridos do Júlio de Matos e os pusessem à frente dos Estados Unidos não fariam tanta porcaria como a que o Trump e companhia andam a fazer.

Paradoxos que um dia alguém explicará. Paradoxos consentidos pela democracia o que, em si, é outro paradoxo. E dos valentes.

'Could not be more stupid': Scott Galloway on Trump's tariffs

NYU professor and podcaster Scott Galloway tells CNN’s Anderson Cooper why President Trump’s tariffs are worse than those imposed nearly 100 years ago


Economist says there's a math error in the formula used to calculate Trump's tariffs

Crawling   -    The Lincoln Project 

Elon Musk can't be trusted with rockets, drugs, video games, social media, or even his own children. He damn sure can't be trusted with your data.

The Lincoln Project is a leading pro-democracy organization in the United States — dedicated to the preservation, protection, and defense of democracy. Our fight against Trumpism is only beginning. We must combat these forces everywhere and at all times — our democracy depends on it. 


Desejo-vos um belo sábado

sexta-feira, abril 11, 2025

Um bom médico de família.
As virtudes do SNS

 

Num comentário ao post de ontem, o Leitor António refere que estranhou eu não formular o meu louvor em relação ao meu médico de família e aos serviços prestados pelo SNS, no caso, o Centro de Saúde a que vou.

Pensei que estava implícito mas, tem razão, António, o que é bom é para ser louvado, e louvado com todas as letras.

Por isso, aqui estou, voltando ao tema.

Durante toda a minha vida recorri à medicina privada. As empresas em que trabalhei tinham médico para os funcionários e, desde há bastante tempo, para além de médico nas instalações, disponibilizavam generosos seguros de família. E o mesmo sucedeu com o meu marido. Portanto, que me lembre, apenas recorria ao então chamado SAP, Serviço de Atendimento Permanente, quando os meus filhos eram pequenos e era preciso ir com eles ao médico fora de horas. E também, durante algum tempo, ia lá a Pediatria pois a a médica ('particular') que os acompanhava deixou de trabalhar e fiquei sem saber onde ir. E, nessa altura, gostei bastante da médica do Centro de Saúde. 

De resto, a realidade do SNS era algo que apenas conhecia pelas idas ao hospital com o meu pai e, depois, com a minha mãe (pois, para além de maioritariamente 'frequentar' hospitais privados, também foi várias vezes ao público, chegando a estar lá internada).

Quando eu e o meu marido nos reformámos, subscrevemos ambos um seguro de saúde que, apesar de ser razoável, fica a anos luz do que tínhamos nas empresas para as quais trabalhávamos. De qualquer forma, até por alguma influência de familiares médicos, resolvemos 'experimentar' o SNS. 

De início, confesso, estranhei muito. Mas estranhei a nível de organização, de eficiência a nível de marcações e da demora na obtenção de uma consulta. Mas gostei bastante do médico de família.

Habituada a médicos até de algum renome no privado, não achei que este jovem médico ficasse minimamente aquém. Aliás, com o meu espírito crítico, quando um médico não me inspira muita confiança, fico logo de pé atrás. E tem razão o Leitor que diz que é difícil arranjar um bom médico de Medicina Geral. É verdade: passei por alguns, e também por alguns de Medicina Interna, e com alguns nunca me sentia totalmente segura. Mas deste gostei: é perspicaz, ouve com atenção, explica bem, é persistente. A nível administrativo já se despistou algumas vezes (por exemplo, passou um medicamento sem código pelo que, na farmácia, era como se não tivesse prescrito e tive que pagar por inteiro, prescreveu um exame num formulário errado pelo que não o aceitaram, etc). Mas dou desconto. Provavelmente o sistema informático não é famoso, queixam-se sempre que é lento, se calhar estava cansado. De qualquer forma, no que é relevante, sempre foi muito certeiro.

Com o meu marido aconteceu a mesma coisa. A ser seguido há anos e anos por um médico no 'privado' e a seguir religiosamente uma medicação, concretamente para hipertensão, ao chegar lá, o médico, ao observá-lo, questionou e questionou e não ficou convencido, prescrevendo um outro exame. E esse exame veio a revelar que o meu marido tem uma outra questão que não era atendida pela medicação que seguia. Ou seja, havia que adicionar um outro medicamento. Não muito certo dessa reviravolta nas suas 'convicções', o meu marido foi ouvir uma segunda opinião que atestou totalmente a abordagem do médico de família. E a verdade é que desde então não voltou a ter alguns picos de tensão que, apesar da medicação, tinha. E tinha pois a medicação que tomava destinava-se apenas a uma parte do problema. 

Portanto, estou muito confortável com este médico, sinto-me confiante. 

E já precisei de uma receita e foi fácil pedir sem ter que lá ir e, quando agora queremos marcar consulta, ligamos e, quando não atendem, recebemos, ao fim do dia, uma chamada a perguntar o que queremos e marcam o que for preciso.

O que é mais difícil ainda é encontrar clínicas que façam exames tendo protocolo com o SNS. Poucas o têm. E o Centro de Saúde (ULS) não tem uma lista das clínicas protocoladas, o que também não ajuda. Estes pormenores de organização facilitariam.

Li agora uma notícia a confirmar que dado não serem actualizados os valores, há cada vez menos clínicas a fazerem exames para o SNS. E isso é uma limitação um bocado chata a que o SNS deveria atender. Esta ministra incompetente ter 'despachado' o competente e experiente Fernando Araújo foi uma machadada no SNS. Estou convencida que o SNS, com um bom gestor à frente, um gestor do calibre de Fernando Araújo, poderia ser bem melhor.

E penso que também daria jeito que houvesse uma camada intermédia de atendimento de especialidades que não tivesse que passar pelo hospital. Por exemplo, oftalmologia, saúde oral ou mesmo cardiologia, deveriam estar mais acessíveis. Para uma consulta de oftalmologia tem que se ir a uma consulta com o médico de família, ele tem que referenciar para o hospital e depois tem que se esperar (cerca de 1 ano) para o hospital chamar. Penso que seria interessante, eficiente e lógico que as ULS dispusessem desses serviços. 

Seja como for, apesar de durante anos não ter sido utente, sempre fui e sempre serei ferreamente defensora do SNS. E, por isso, luto para que seja gerido com eficiência, com cabeça, por quem sabe gerir. Por isso, fico indignada quando se põem grandes hospitais, que mexem com centenas de milhões de euros, com milhares de funcionários, unidades que requereriam gestores de mão cheia, na mão de gente inexperiente e que apenas é nomeada por ser do PSD.

Que há muitos profissionais muito competentes e dedicados no SNS, profissionais que dedicam toda a sua vida ao serviço público. Tenho vários amigos assim. Por isso, não é por falta de qualidade dos profissionais de saúde. Quando há problemas eles situam-se sempre (ou quase sempre) a nível de gestão, de organização. 

Mas, Caro António, não tenha dúvidas: estou muito contente com o meu médico de família e com o acompanhamento que tenho tido na minha ULS. 

quinta-feira, abril 10, 2025

A medicina está longe de ser uma ciência exacta. Eu que o diga...

 

Tenho o maior respeito por médicos. Neles depositamos a nossa vida. Tenho alguns na família e admiro a sua capacidade de processar informação, a sua memória, a sua resistência. É uma profissão nobre e, quando não é exercida por mercadores, é digna do nosso respeito.

Mas o tempo tem-me revelado que são falíveis e, quando falham, nós podemos passar de doentes a vítimas. 

Já aqui contei que, há uns anos, depois de muitos anos a carregar pedras gigantes, a fazer muros e murinhos, e de vários outros esforços do género, os meus joelhos ressentiram-se. O médico a que fui, conhecido por ser um especialista em joelhos, achou que a coisa só lá ia com artroscopia. Lembro-me bem que o meu pai na altura, já com o AVC, quando soube, ficou bem preocupado e recomendou fortemente que isso não acontecesse: 'Nos joelhos só se mexe em último caso', dizia ele. E um dos médicos da família torceu o nariz, não viu razões para isso, mostrou desconforto com essa opção. Nestas coisas levo tudo com tal leveza que chego a ser leviana. Por isso, pensei: 'não é ortopedista, muito menos especialista em joelho, pelo que, não deve saber tanto do assunto como o que diz que tem que ser.' E, maria descontraída como sou, lá fui para o Bloco, convencida que ia verificar-se o que o ortopedista me tinha dito, que ao fim de um ou dois dias, saía do hospital pelo meu pé.

De facto, foi uma estupidez: tendo intervencionado em simultâneo os dois joelhos, para andar tinha que sobrecarregar forçosamente ora um, ora outro. A recuperação foi péssima: longa, dolorosa, incapacitante.

Mas o pior veio depois. Intranquila com as conclusões do ortopedista-cirurgião (dizia que eu tinha ácido úrico, pois tinha encontrado muitos cristais) que eram desmentidas pelo médico de medicina interna (que dizia que aquilo não tinha literalmente nada a ver com ácido úrico) e tendo-me este segundo recomendado que procurasse uma terceira opinião, fui a um reumatologista de renome que, observando os exames anteriores às artroscopias, me perguntou porque as tinha feito. Concluiu peremptoriamente que não só não precisava como não devia, que tinham estragado mais do que tinham beneficiado. A mesma opinião foi mais tarde corroborada por um ortopedista muito conhecido na área desportiva e também especialista em joelho: categoricamente afirmou que o médico que me operou me deu cabo de coisas que antes não tinham problema nenhum. Disse, tal como anterior, que as indicações médicas para artroscopia eram zero.

Fiquei chocada. E escaldada. Mas o mal estava feito.

Mais recentemente aconteceu-me com o coração. Num episódio meio assustador, numa clínica privada, ao verem o ECG e ao repetirem-no e ao fazerem outros exames, concluíram que eu estava a ter um enfarte agudo de miocárdio, activaram o protocolo do INEM, fui levada de ambulância para um grande hospital público e lá passei a noite e a manhã, sendo depois encaminhada para cardiologia. Aparentemente não tinha sido um enfarte mas havia lesões e, para além de repouso, era preciso perceber urgentemente o que se passava.

Por facilidade e rapidez, fui a um cardiologista de renome num hospital privado. Receitou-me logo uma medicação que seria para o resto da vida. E foram desencadeados exames e mais exames, uma longa bateria que fui fazendo e repetindo regularmente. 

Já lá vão quase 4 anos. 

Quando, ao reformar-me, resolvi tornar-me utente do SNS, o médico de família quis saber o meu historial. Levei os últimos exames, descrevi o melhor que pude os meus antecedentes clínicos. Começou logo por ficar muito intrigado com a medicação que eu estava a tomar. Como admitiu que houvesse razões que eu não estava a saber transmitir, pediu para eu, quando fosse ao cardiologista, lhe pedir um relatório sobre a minha condição para ele poder compreender e poder acompanhar-me devidamente a nível de medicina geral.

Quando pedi o relatório ao cardiologista, ficou ofendido, não percebia o que é que um médico de família tinha que questionar o que ele, meu cardiologista há anos, me prescrevia. E, escamado de todo, disse que não ia passar relatório nenhum. E que se o médico de família tinha dúvidas, que lhe escrevesse a dizer o que pretendia.

Como seria de esperar, meses depois, quando voltei ao médico de família, este perguntou pelo relatório. Com diplomacia e sem referir o agastamento do cardiologista, disse apenas que este preferia que eu levasse um pedido dele por escrito. 

Naturalmente, mostrou algum incómodo mas lá escreveu o dito pedido.

Quando há cerca de um mês fui de novo ao cardiologista, entreguei-lhe o envelope. Ao ler, pelo semblante, vi que ficou furioso. Então pôs-se ao computador, viu e reviu exames, escreveu, voltou a ver exames e a escrever. Esteve ali bem mais de meia hora. Eu, calada, em frente. Depois imprimiu, meteu num envelope e, sem qualquer comentário, deu-me.

Eu tinha levado umas análises e um exame que ele tinha pedido e em cujos relatórios eu tinha visto que estava tudo bem. Mas, aliás, ao longo deste tempo, do que eu lia, parecia-me sempre que estava tudo bem com a excepção da dita condição que, se bem percebo, é coisa com a qual se pode viver sem problemas, desde que haja apenas alguns cuidados elementares e algum acompanhamento regular.

Nessa consulta, no fim, perguntei-lhe se continuava com a medicação. Disse-me que sim. Referi aquilo de que já antes me tinha queixado, que, com qualquer pancadinha, fico com nódoas negras. Por exemplo, o cão, para brincar, põe-se de pé, com as patas na minha barriga, para eu lhe fazer festas. Ando sempre com a barriga cheia de nódoas negras. E disse-lhe que receio que, se caio, tenha alguma hemorragia mais séria, em especial se for na cabeça. Respondeu-me que riscos há sempre, que esse risco existe, sim, mas que não vale a pena estarmos a pensar no que pode acontecer, pode acontecer tanta coisa, mas que intervalasse a medicação, por exemplo, dia sim, dia não. Depois rematou: até se quiser pode deixar de tomar, já que o exame mostra que está bem. Estava já de pé, a apertar-me a mão, a despachar-me. E eu, de tão perplexa, nem fui capaz de bater o pé: então mas isso é assim? eu é que decido se tomo ou não tomo o raio dos comprimidos?

Hoje fui ao médico de família e levei o relatório elaborado pelo cardiologista e os ditos últimos exames. À medida que ia lendo, vi logo, pela sua expressão, o que se passava. Parecia-lhe óbvio que não havia qualquer necessidade de eu tomar aqueles medicamentos, em especial o que envolve riscos de hemorragias. Mas, ainda assim, pela responsabilidade da situação, quis ir conferenciar com uma colega. Estiveram não sei quanto tempo. Depois falaram os dois comigo. Disseram-me que os médicos, às vezes, quando têm alguma dúvida, pelo sim, pelo não, agem por excesso. Que lhes parece ter sido o caso. Que na opinião deles, não há razão, ou seja, não há indicação médica, para eu tomar aqueles medicamentos. Que, em última análise, a decisão deve ser minha pois um médico, especialista, que me acompanha há cerca de 4 anos, os prescreve. Mas que, na opinião deles, não há justificação para tal. Concordei. Vou deixar de tomar.

De qualquer forma, prescreveram análises e um exame cardiológico para, lá mais para o fim do ano, se avaliar se continua tudo bem.

Mas vim de lá um bocado desconfortável. Ando há anos a tomar dois medicamentos, ambos com contraindicações e um deles que envolve riscos que podem ser severos... e, afinal, não são necessários?

Em quem é que a gente pode confiar? 

Caraças.

Escusado será dizer que descrevi tudo, o relatório do cardiologista, relatórios de exames e análises e questionei o ChatGPT. Foi categórico: não vê razão para tomar os medicamentos. De qualquer forma, politicamente correcto como é, aconselhou que eu fale com os médicos antes de suspender a medicação.

Hoje, quando os dois médicos falavam comigo, expondo-me o que o cardiologista pode ter temido, as eventuais razões que o levaram a medicar-me assim, e, ao mesmo tempo, a explicarem-me os exames que demonstram que essas razões, a terem sido essas, eram infundadas, e os riscos de um dos medicamentos, ocorreu-me dizer-lhes aquilo que tantas vezes digo: ao contrário do que gostamos de pensar, a medicina não é uma ciência exacta. Concordaram ambos. "Nada, nada mesmo, há tantas variáveis, há tantas interpretações, suposições, receios, cautelas. Perante a mesma situação, médicos diferentes podem tomar decisões diferentes. De facto, não é matemática.", disse o meu médico de família.

Tal e qual.

Mas, para nós, seres indefesos, não é muito tranquilizador...

quarta-feira, abril 09, 2025

Aplicações de engate

 

Nunca entrei no Tinder nem em qualquer outra aplicação de encontros (ou melhor, de dates). Nem sei dizer o nome das demais apps pois desconheço. Como não ando à procura de parceiro é coisa que nem entra no meu radar. Mas, mesmo se andasse, tenho sérias dúvidas de que me arriscasse. 

Imagina que encontrava alguém conhecido? Seria a modos que uma barraquinha das antigas, imagino. No meio da atrapalhação nem sei se teria cabeça para engendrar uma desculpa que não parecesse esfarrapada. "Ai, tu também por aqui? Na fotografia não deu para perceber que eras tu... E usaste outro nome... Mas eu estou aqui só porque estou a recolher informação para uma tese de mestrado. Não é para o que estás a pensar..." E ala moço que se faz tarde. 

Mas, pior que isso, uma pessoa vai encontrar-se com alguém que não sabe se é maluco, se é malcheiroso, se é um chato dos antigos? É que nem imagino o horror que deve ser uma pessoa expor-se, apresentar-se num encontro e depois dar de caras com alguém de quem tem vontade de fugir no instante seguinte. Como é que descalça a bota? Assume que não suporta e raspa-se imediatamente? Ou finge que está a gostar e aguenta o mais que pode até que consegue inventar uma desculpa? Ou, pior, muito pior, o risco que é se o fulano aparenta normalidade e, quando uma pessoa já está com as defesas em baixo, dá uma abébia e o fulano acaba por se mostrar um tarado da pior espécie...

Não. Nem pensar.

Para mim, para escolher alguém ou seria na base do amor à primeira vista -- mas aí teria que ter a sorte de o encontrar... e onde é que andam os homens desirmanados...? Não faço ideia... -- ou teria que ser uma coisa em que pudesse seleccionar, eles em exposição. E por exposição estou a referir-me a uma coisa como um programa de televisão que há -- há ou havia, pois há muito tempo que não me aparece -- em que põem uns quantos homens nus, um em cada cabine, e a mulher vai eliminando sucessivamente os candidatos deixando para o fim o mais convincente. 

Vendo o vídeo da Beatriz Gosta, percebo-a perfeitamente. Sou como ela: niquenta até à quinta casa. Não suporto maçadores, saloios armados em bons, azeiteiros, mal vestidos, demasiado bem vestidos, empedernidos, armados em engraçados, cheios de paranoias, armados em parvos, feios, aparadinhos demais, demasiado sonhadores, demasiado musculados, chonés de todo, mirradinhos e encarquilhados, cheios de teorias de cão de caça, parvalhões sem uma ideia na cabeça, narcisistas, mimados, frustrados, gordos que nem baleias e todos transpirados, a cheirarem a tabaco que tresandam, encharcados em perfumes rascas, etc. Etc. Etc. Mas ponham esmo muitos etcs nisso. 

Agora onde param os que se aproveitam e que estão disponíveis, isso eu estou como ela, também não faço ideia onde andam.

E, assim sendo, porque ainda não estou numa de comentar debates ou de cansar a minha beleza com as trapalhadas de alguns dos biltres desta praça, aqui está a Beatriz Gosta com quem sempre me divirto. Quando houver um debate que me inspire, aqui estarei para dizer de minha justiça.

Apps de engate - Beatriz Gosta

Desejo-vos uma bela quarta-feira

terça-feira, abril 08, 2025

A casa da Anitta

 

Como sabe quem por aqui me acompanha, gosto bastante de apreciar belas obras de arquitectura. Tenho tido a sorte de ter visto de perto o que a arte e o engenho dos (bons) arquitectos conseguem fazer. Não apenas sabem apreender o espírito do lugar como o sentir de quem para lá vai. De espaços pequenos, por vezes com 'morfologia' antiquada, conseguem criar espaços amplos, modernos. De espaços 'apáticos' e banais conseguem fazer nascer espaços únicos, marcantes. De espaços que pareciam sem vida e sem nada que os salvasse conseguem fazer lugares maravilhosos de lazer e convívio. E conseguem trazer a luz para dentro de casa em espaços acanhados e sombrios.

Temos a sorte de ter em Portugal grandes arquitectos e temos a possibilidade de poder admirar grandes obras de arquitectura quer a nível residencial ou empresarial quer a nível urbano.

A casa que aqui mostro não tem o tipo de decoração que mais aprecio pois, embora tenha a grande virtude de parecer de fácil manutenção, parece-me um pouco monocromática, um pouco monótona. Mas a arquitectura é qualquer coisa... E a implantação no terreno parece-me uma maravilha. Aliás, o exterior da casa parece extraordinário.

É da cantora Anitta, que não conheço de ver actuar mas apenas de nome. Parece-me humilde e simpática e gosto do painel de azulejos que está na entrada para  ilustrar a vida na favela, as crianças, os anjos que as protegem. E gostei de ver como ela descreve a interacção que teve com os arquitectos. Acomodar as suas pretensões e sugestões dela deve ter sido um desafio e tanto para eles.

A casa de Anitta na encosta da montanha do Rio de Janeiro

 | Open Door | Architectural Digest

segunda-feira, abril 07, 2025

No reino da beleza

 

Desde que frequento as agitadas paragens do Instagram deparo-me com milhares (quais milhares... certamente milhões, biliões, zetaliões) de coisas. Cada um mostra ali o melhor que sabe e pode, ou o que lhe apetece, ou sabe-se lá o quê. Mil obras de arte, mil arranjos florais, mil restauros de móveis, mil maneiras de parecer mais nova, mil maneiras de parecer bronzeada, mil maneiras de cortar o cabelo, mil exercícios e mil dietas para perder barriga, mil maneiras de fazer bolos sem ir ao forno, mil maneiras de fazer panquecas, mil livros, mil citações, mil gracinhas do cão, do gato, dos filhos, mil arco-íris, mil decorações de nails, mil, mil, mil de tudo e tudo elevado a um expoente que transforma os mil em muitos, muitos mil.

Apercebo-me, como se me pusessem uns óculos de realidade aumentada, excessivamente nítidos, quase insuportavelmente saturados, que há gostos para tudo, conceitos díspares a propósito de tudo, teorias para tudo. Não que não o intuísse, não que não o soubesse da minha vida real. Mas a amostra era curta: era apenas a realidade que eu conhecia. Agora a amostra é o mundo. Aparecem-me imagens e vídeos e palavras de todo o mundo.

E, no entanto, se, ao fim do dia, eu quiser dizer o que é que me ficou de tudo o que vi, vou ter a maior dificuldade. Talvez fiquem umas palavras límpidas ou uma pintura singela de alguém que já conhecia de outras paragens e que fui ali encontrar, talvez as imagens genuínas e as palavras espantosamente sinceras e simples da Gina, talvez uma forma engraçada de dobrar camisolas com capuz.

Mas aquilo é o mundo. Uma tremenda cacafonia em que parece que o que é mesmo relevante se esbate no meio de tanta exposição.

Fica-me, isso sim, a vontade de silêncio, de alguma reclusão, de regresso às origens, às flores, à terra molhada, ao canto dos pássaros, a vontade da amabilidade sincera, simples, autêntica, a saudade de palavras transparentes.

Debruço-me, então, e vou em busca de uma pedra, de um cogumelo, de um líquen, de uma gota de água a escorrer de uma folha, do reflexo de uma nuvem na água que fica sobre a terra.

E depois é isso. Só isso. O reino da beleza das coisas simples. E chega-me.



O rapaz-pássaro

 

Samuel Hendersen tem 11 anos e imita, na perfeição, o canto de 50 pássaros. É autista e tem síndrome de Tourette e, no recreio, isolava-se dos colegas para ensaiar o canto dos pássaros. Por isso, os outros meninos não conheciam as suas habilidades.

Quando se colocou a hipótese de o levar a um palco onde pudesse mostrar o seu talento, a mãe morreu de medo com medo que as outras crianças troçassem e o fizessem sofrer.

Mas o que aconteceu foi que, depois da estranheza, os colegas ficaram surpreendidos e rendidos. 

Samuel, o menino um pouco peculiar, é agora o mais conhecido da escola.

E eu comovo-me quando vejo crianças que, por serem um pouco diferentes, são olhados com estranheza fazendo com que os pais se sintam ainda mais angustiados.

Não sabia que um rapazinho desta idade poderia ter Síndrome de Tourette mas, pelos vistos, pode. Contudo, neste caso, os sons que emite são o canto de pássaros.

11-year-old boy who can imitate 50 birds wows at school talent show

domingo, abril 06, 2025

A tristeza de ver vidas interrompidas. E a beleza das flores, tão efémeras

 

Uma árvore gigante levantou-se do chão. Anos e anos e anos para ficar daquele tamanho e, num instante, o vento destruiu-a. Um desgosto muito grande.

Custa ver uma coisa assim. Na aparência ainda está viva. Aliás deve mesmo estar viva. Mas, infelizmente, não há possibilidade de a salvar. 

A terra está tão molhada, tão ensopada, que o vento não encontrou resistência.

Mais à frente uma outra, enorme, tombada, o canteiro todo partido. Não foi o único mas um bem pior e mais periclitante que o outro.

É a segunda vez que o vento faz grandes estragos por aqui, in heaven. E é sempre com o coração apertado que os vejo. Gostava que as minhas queridas árvores durassem para sempre. Sei que a vida leva algumas mais cedo e isso eu compreendo. De vez em quando, algum pinheiro seca. Fica de pé mas está sem vida. Isso não me custa tanto. O que me custa é ver árvores fortes, saudáveis, e, por um cruel golpe de vento, serem derrubadas.

Mas, pronto, é o que é. Agora é ver como resolvemos tudo isto. E bola para a frente.

A terra está coberta de musgos, de líquenes, de ervinhas, tudo verde. O ambiente húmido, frio, oxigénio puro, limpo, fresco, cheio do canto dos pássaros.

As videiras estão a rebentar, muitas folhinhas, tudo molhado e viçoso. Muita beleza. A natureza mostra-se pujante, fértil.

Até os troncos das árvores estão cobertos de líquenes. E há florzinhas de toda a espécie, cor e feitio. Maravilho-me. A simplicidade e a espontaneidade maravilham-me.


E depois há nuvens quase etéreas em verde. Creio que será funcho. Não sei se será comestível mas receio arriscar. Se calhar, numa salada com alface e coentros, ficaria muito bem. E estar a incluir na minha corrente sanguínea algumas destas plantas seria pura magia. Mas sou medricas. E se esta variedade é venenosa? Ou se me provoca alguma alergia?

Devia trazer cá algum ou alguma botânica... Mas não conheço nenhum/a.

Portanto, não os comendo, em contrapartida, fotografo -- de longe, de perto, de cima, de baixo. Parece-me tule, parece-me um vapor, parece-me quase irreal.


E depois os lírios. Uma beleza rara, exótica. Uma perfeição muito além do que é normal. Umas cores, uma delicadeza. Podia ficar horas a filmar (aliás filmei para o Instagram). Mas tem choviscado, nunca dá para estar muito tempo pois logo vem um aguaceirozito.

E, neste mês de águas mil, parece que este domingo também promete. As rochas escorrem, tudo escorre. Até a casa, quando chegámos, estava húmida, fria, incómoda. O que vale é que a salamandra e o ar condicionado já resolveram o assunto.

Mas já viram bem a incrível perfeição desta flor? O raiado, as subtis nuances, a intimidade resguardada, a fragilidade... 

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Desejo-vos um belo dia de domingo