sábado, junho 07, 2025

O meu dolce fare niente, o meu pequeno almoço, a overdose biográfica de Herberto Helder servida por João Pedro George e etc.

 

A minha cabeça parece que entrou em férias. O corpo já tinha dado sinais que era o que queria mas a cabeça teimava em meter-se em trabalhos. Mas agora, para além de festejar a ausência de horários, apetece-me não ter maçadas de qualquer espécie. 

Claro que elas aparecem e não há como não enfrentá-las: uma coisa que se avaria e que custa a encontrar quem a arranje, um outro estore elétrico que não funciona, agora este problema da infecção na perna do nosso amicão, afazeres que aguardam que alguém se ocupe deles. Isso acontece independentemente da nossa vontade e, se não formos nós a resolvê-los, não haverá quem mais o faça. Mas depois havia aquilo em que eu sempre fui pródiga: arranjava sempre ocupações com objectivos apertados que me obrigavam a uma disciplina que se sobrepunha à minha vontade (ou necessidade) de descansar.

Agora não. Agora sabe-me bem, cada vez melhor, poder passar a tarde a ler, ao sol ou à sombra, a fotografar, a olhar para a copa das árvores. 

Claro que antes disso fiz uma máquina de roupa, estendi-a, fui ao ginásio, estive a varrer o terraço, a regar os vasos, fiz o almoço, recebi e estive à conversa com uma pessoa que cá veio a casa, etc. Mas, a seguir, por mim está feito! e deixo-me levar pelo prazer de estar na boa, sem mais nada que fazer. Claro também que a seguir aparece o meu marido a dizer que está na hora de irmos fazer a nossa caminhada da tarde e vou e sabe-me lindamente e, uma vez regressada, vou fazer o jantar e depois vamos fazer o tratamento ao nosso fofo, que reage mal e o meu marido tem que o agarrar com força para ele não se virar, e depois vamos todos fazer um passeio nocturno, passeio mais curto, coisa para não mais que meia-hora e que também me soube bem. 

Ou seja, não é que não faça nada. Faço. Mas, pelo meio, permito-me estar descansada sem sentir que estou a ser improdutiva. Quase desde que me conheço que tinha a pancada de fazer coisas que se vissem, que fossem úteis, que ficassem. Agora não. Estou uma ou duas ou três horas na boa e não me sinto mal por isso.

O meu marido também está muito diferente. Está um jardineiro exímio. Anda sempre com a máquina da relva ou com o corta-sebes ou com a roçadora. Antes não tinha o mínimo dos mínimos de apetência para a jardinagem. Zero, zero. Agora, nem tenho que lhe pedir. Pelo contrário, tenho é que pedir que não corte tanto. 

E, como se isso não bastasse, hoje, quando entrei em casa vinda de estar a ler, cheirou-me a bolo. Pasmei. Tinha feito um daqueles simples que se fazem numa tigela, no micro-ondas. Diz que pediu ao chatgpt a receita de um bolo saudável, rápido e simples, que se fizesse no microondas. Fez de alperce com iogurte grego, ovo, mel, uma colher de azeite e flocos de aveia. Estava bom mas com pouco sabor, talvez por estar pouco doce. Então pôs-lhe uma colher de compota por cima, levou-o mais uns segundos ao microondas. Ficou melhor. Depois fez um que improvisou, com cacau em pó, mas deixou-o cozer de mais, ficou rijo, uma bolacha dura. Mas sou de boa boca, como de tudo de bom gosto. Só que não quero alargar-me nos doces. Como nunca faço doces, a cozinha nunca cheira a bolos. Por isso, gostei imenso de sentir aquele cheirinho. O mais parecido que faço são papas de aveia . E ficam boas. O meu marido agora, ao pequeno-almoço, para além de comer uma banana, come uma taça dessas papas.

Já contei como faço mas agora introduzo uma pequena variante: num tachinho ponho água a ferver com uma pitada de sal, um pouco de canela, casca de laranja (ou de limão) e agora tenho juntado também umas três ou quatro tâmaras. E, claro, flocos finos de aveia. Vou mexendo. Quando começa a fazer bolhinhas, mexo bem e deixo estar ali em ebulição controlada durante uns dois ou três minutos. E já está. Solidifica com uma textura de que gostamos. A aveia é muito saudável. Não faço com leite nem ponho açúcar. 

Eu, ao pequeno almoço, como uma laranja e depois preparo um copo de kefir ao qual junto uma colher de sopa cheia dessas papas de aveia, um pouco de mistura de sementes e um pouco de pó de latte dourado que compro no Celeiro (curcuma, gengibre, pimenta, noz moscada). Mexo tudo bem. Adoro. Começo sempre o dia com o prazer de ter um pequeno almoço que me sabe mesmo bem. Remato com café expresso, longo, sem açúcar. O cheirinho bom do café e o prazer de o beber ajudam a que o dia seja inaugurado a preceito. Agora só bebo esse café por dia. 

Quanto à leitura: continuo (e continuarei, nem que seja intercaladamente) com a biografia do Herberto Helder. É daqueles que leio saltando frases de quando em quando. É uma overdose. É como se ele tivesse juntado referências, opiniões, recordações de outras pessoas, documentos, recortes de jornais relacionados, correlacionados e nem por isso e, no fim, tivesse vertido tudo para o livro, tudo, sem edição. Mas ouvi que, no original, era quase o dobro. Uma loucura, portanto. Mas, o que mais me chateia nem é isso: o que mais me incomoda é quando ele, o João Pedro George, volta e meia se pôe a inventar pensamentos para o Herberto Helder, admitindo que é provável que, naquelas circunstâncias, ele tenha pensado aquilo. Ora isso parece-me não apenas estulto como desnecessário, até descabido.

Bem. Isto está uma bela mescla de assuntos... É que estou a ver notícias enquanto escrevo. A macacada entre Trump e Musk é daquelas que há de dar filmes, séries, paródias, dramas, tratados de política, de psicologia, sei lá. Como só me dá para ligar o computador às quinhentas e me ponho a escrever às tantas, já perdida de sono, chego aqui e já me falta o pedal para desarrincar todo o muito que haveria a dizer. A ver se um dia destes tenho a pachorra suficiente para escrever o no blog a meio da tarde para me pronunciar sobre esta desconformidade. Entretanto, partilho um vídeo:

Donald And Elon Attend Couples Therapy


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Os meus limões andam a cair, estão pesados, maduros. Não apenas os aproveito para temperos e etc. como para servirem de modelos fotográficos. As rosas, já se sabe, estão sempre disponíveis para serem amadas, adoram pôr-se a jeito para uma sessão fotográfica
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Olhem, é isto.

Desejo-vos um belo sábado

sexta-feira, junho 06, 2025

Nem Montenegro, nem Trump nem Musk.
Hoje o tema é o meu cãobeludinho fofo que está com um problema aborrecido.

 

Volta e meia trocam-me as voltas. Pensava eu que esta quinta-feira, tirando um compromisso à tarde, teria um dia tranquilo. 

Estava eu ainda a digerir os alertas do Leitor a quem muito agradeço e cheia de receio pelos javalis, sapos, cobras e carraças quando constato que o nosso cãobeludo estava a lamber mais freneticamente do que antes uma qualquer coisa no quadril.

No domingo, tinha chegado da rua desencabrestado, como se tivesse que arrancar qualquer coisa ali naquele quadril. Não vi. O meu marido é que viu e pensou que ele tivesse alguma coisa ali presa no pêlo. Nessa manhã já tinha estado a puxar qualquer coisa de uma pata e tanto puxou e repuxou que acabou por tirar uma daquelas espigas maganas, ditas praganas. Pensámos que, fosse o que fosse, ele acabaria por também conseguir tirar. No domingo tivemos a maltinha toda cá em casa, uma animação, grande movimento e alta algazarra  -- por isso, não deu para lhe prestar grande atenção.

Na segunda-feira vimos que continuava a lamber-se ali. O meu marido disse que o pelo, naquele sítio, estava seco e duro, que, na volta, era outra vez resina. Esfrega-se em todo o lado e brinca com pinhas e, às vezes, fica com resina no pêlo. Demos-lhe banho. O meu marido disse que, se não saísse com o banho, tentava-se cortar ali o pelo. Mas, quando eu estava a lavá-lo, percebi que não era nada no pêlo. Tinha era um inchaço por debaixo. Ficámos intrigados. Pensámos que teria sido picado mas que, tal como acontece connosco, o inchaço acabaria por passar.

Entretanto, com as picardias com os cães do lado, andou sempre por fora, longe da casa, e admitimos que lhe tinha passado. 

Mas começou a comer menos. Nada de especial pois no verão tem sempre menos apetite. 

Só que hoje parecia mais murcho, mais por casa, pouco reguila, e sem tocar na comida.

De tarde, no jardim, o meu marido chamou-me para eu ver pois, com o pêlo molhado por continuar a  lamber-se ali naquele sítio, dava para perceber que havia ali um inchaço encarnado. 

Fui ver e não gostei do (pouco) que vi. Com o pêlo não dava para ver quase nada. Mas aquela pele encarnada e o inchaço causaram-me suspeitas. Fotografei. 

Mostrei a fotografia ao ChatGPT e descrevi o que se passava. Respondeu que poderia ser um abcesso, uma infecção, e que, dado que já estava assim há dias, deveríamos ir ao veterinário o quanto antes.

Claro que fomos. Mesmo que o ChatGPT não tivesse dito para irmos, iríamos pois estávamos a estranhar o sossego dele e não era normal aquele inchaço encarnado. 

Lá fomos. 

É sempre uma tourada. Temos que lhe pôr o açaime e o meu marido tem que o abraçar com toda a força para ele ficar imobilizado quando está na marquesa. Com a máquina, a médica tosquiou aquela parte. Quando vi o que estava por debaixo, fiquei mesmo incomodada. Inchado, já com pus, arroxeado, já com feridas de tanto lamber. Piedermite. Com o pêlo, não se via. Coitadinho. Como não haveria de estar incomodado...? Diz ela que deve ter sido qualquer coisa que o feriu ou picou e que de tanto lamber ali, certamente para se aliviar, a lesão infectou e espalhou a infecção. 

Desinfectou e tratou, deu-lhe uma injecção de antibiótico e outra de anti-inflamatório. E colocou o colar isabelino que ele, coitado, odeia. E agora, durante 7 dias, tem que tomar antibiótico e desinfectar e tratar duas vezes por dia. 

Um pesadelo. Vira-se, mostra os dentes, rosna, salta. Quando ponho o spray, que é frio (e, se calhar, lhe arde), fica possuído. Mesmo com a trela e com o colar, impõe respeito e dificulta muito o tratamento. 

Mas entre idas ao veterinário, à farmácia, tratamentos e outros afazeres, pouco consegui fazer daquilo que tinha pensado. Lá consegui ler o início do 'tijolo' que João Pedro George pariu sobre a vida de Herberto Helder. Provavelmente vai satisfazer alguma da nossa cusquice mas tomara que eu não sinta que estou a violar uma privacidade que o Poeta tanto se esforçou por preservar.

Fiz um vídeo que publiquei numa story lá no Instagram. Só que me distraí e o vídeo tem mais de 1 minuto. Ora ali, só se vê o que 'cabe' em 1 minuto. Por isso, não se ouve a parte em que eu dizia que, no capítulo dos últimos momentos do biografado, achava que o biógrafo inventou para ali umas cenas -- por exemplo, que ele, antes de morrer, olhou para as molduras e pensou nisto ou naquilo, o que, obviamente, é impossível saber -- se calhar para apelar ao sentimento. E isso desagradou-me. Também, no pouco que li, encontro carradas de referências desnecessárias, o que torna a leitura, nesses pontos, enfadonha. Mas estou no princípio. Por isso, não quero já fazer apreciações sobre a qualidade da obra. Até porque, assim como assim, quando acho que tanta conversa sobre a tia, a avó, a bisavó, a casa ou a loja é desnecessária, tenho bom remédio. Sigo adiante.

Mas, com isto, não vi tomada de posse nem coisa nenhuma. E, há pouco, ao ver o Eixo do Mal, deu-me a pancada e apenas fui vendo umas por outras. Por isso, não posso pronunciar-me sobre os temas da actualidade política.

Também não faz mal. Sabe-me bem, de quando em quando, dar-me algumas tréguas. Até porque tourada e da boa, à espanhola, é a que está a passar-se entre dois dos mais malucos de que há memória: Trump e Musk. Há pouco, estava a comentar com o meu marido, interrogando-me sobre como poderá um arranca-rabo destes acabar. Ele disse: 'Fazem as pazes.'. Talvez. Parece que meio mundo anda a voar sobre um ninho de cucos.

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Mais uma vez, as duas fotografias que ali acima coloquei foram feitas apenas com recurso à minha inteligência que de artificial tem muito pouco.

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Uma feliz sexta-feira

quinta-feira, junho 05, 2025

Marcelo a agarrar uma jovem pelo pescoço e a sujeitar-se a uma tremenda humilhação -- um fim patético para um Presidente que, de tanto querer ser amado e de tanto falar e de tanto fazer e desfazer, vai acabar desprezado.
Mas, se me permitem, vou antes falar de javalis in heaven -- o que, não sendo surpreendente, é a confirmação que faltava

 

Hoje o dia começou com o meu marido a dizer que tinha visto um javali. Contei-o numa story no Instagram. 

Há um sítio em que a vegetação é um pouco mais fechada, um lugar sempre à sombra, sempre fresco. Há um grande cedro, uma azinheira, diversas aroeiras, erva diversa. A terra aí é fofa, negra. E frequentemente está remexida. 

O nosso cão anda sempre intrigado por ali. Põe o nariz no chão e anda de um lado para o outro. É frequente ver ali pegadas de bicho grande, terra levantada. Sempre me admirei: que bichos por ali andam e o que procuram? Dá ideia que desenterram coisas. Já pensei muitas vezes: trufas? Não faço ideia.

Esse lugar é numa extrema do terreno vedado (há uma outra parte, separada por uma estrada, que não está vedada). Ali, naquele sítio em concreto, a vedação não está danificada. Ou seja, não é por ali que os bichos entram. O javali que o meu marido viu estava ali, ao lado da vedação e ficou a olhar para ele. O meu marido diz que, pelo tamanho, não era adulto. 

O nosso vizinho que mora na entrada da rua, uma vez que falámos da nossa desconfiança, disse que de vez em quando acordavam com um grande barulho na estrada, animais a trote. Então, passaram a estar atentos e uma noite fizeram uma espera e conseguiram ver uma grande vara de javalis a correr na estrada, na direcção do vale, passando pela nossa casa.

Um conhecido já avisou algumas vezes: é preciso o máximo cuidado com as mães javalis ou com bichos que se sentem ameaçados. Por isso, hoje, ao andar por ali sozinha com o cão sempre por perto, pensei que se me aparecesse um bicho pela frente haveria de ser um festival, o cão aos saltos e a ladrar furioso e o bicho, assustado...

Bem. Não foi surpresa a constatação de que, na verdade, há javalis in heaven mas foi surpresa estarem à vista, de dia, tão perto.

Não tenho falado mas, em contrapartida, dos gatos nem sinal. Desapareceram todos. E dos esquilos agora não tenho visto vestígios, nomeadamente aquela fartura de pinhas roídas em baixo. Estive a informar-me e, nesta altura, as pinhas não estão boas para roer. Por isso, podem continuar residentes mas andarem a alimentar-se com outros acepipes.

Tirando isso e o expediente comum (o meu marido a roçar mato, eu em arrumações e varridelas e etc.), continuo, como sempre, fascinada com o efeito da luz através das flores. 

Que cores, que perfeição, que harmonia. 

Quanta beleza.

Nestes dias não se vê televisão, não se procuram notícias. Ao fim do dia, no carro, por acaso apanhámos o fim do noticiário, qualquer coisa sobre os novos ministros. Desejamos que, a bem do País, corra bem. Contudo, algumas escolhas parecem estranhas.

Quando chegámos a casa, já jantados, ainda demos, bem de noite, um passeio com o cão. Confesso que senti algum receio. O meu marido disse que não havia razão para isso e, por isso, confiei.

Com isto, a verdade é que não consigo ter disposição para falar de política. 

Só quero dizer uma coisa: quando a minha nora enviou para o grupo da família um vídeo com a cena do Marcelo a fazer um tristíssimo papel com uma jovem na Feira do Livro, ao ver tive dúvidas de que fosse real. Depois vi que é. E fiquei perplexa. Mau, muito mau, mau de mais. Começou por parecer um totó de roda da jovem, a querer rebater, a querer interromper, a não saber pôr-se no seu lugar. Depois, no fim, a forma como a agarrou pelo pescoço, com força, foi de uma agressividade inqualificável. Todo aquele comportamento foi de uma inconveniência inusitada, uma menorização da função presidencial como nunca antes se tinha visto. A jovem, de que não sei o nome, pelo contrário, manteve um sangue frio, uma atitude fantástica. Deixou-o nitidamente aos bonés. Se Cavaco acabou mal e retratado com a boca cheia de bolo-rei, Marcelo acabará ainda pior e retratado a agarrar uma rapariga pelo pescoço, acabando com ela a instá-lo a largá-la e a virar-lhe as costas. Cena mais macaca. Marcelo não se enxerga. Que fim mais triste.

A ver se amanhã me regressa a vontade para falar de política para me pronunciar sobre os membros do Governo e o que é que as escolhas podem significar. Preferia, contudo, esperar pelos Secretários de Estado, para ver se são melhores dos que os anteriores. Logo vejo.

E agora vou descansar, é tardíssimo. 

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Dias felizes

quarta-feira, junho 04, 2025

Isto é sobre uma história de amor

 

Às vezes acredito em coincidências. Outras vezes acho que qual coincidências, qual carapuça, o que se passa é que ele há coisas

Se o Instagram e o Blogger estivessem associados a uma plataforma comum, poderia dizer que o algoritmo caçava coisas num lado para influenciar ou impressionar noutro. Mas não é o caso. O Instagram é Meta e o Blogger é Google. Não se contagiam. De resto, não é a primeira vez que ando com uma em mente, sem deixar pistas no google, e, ao abrir o YouTube, me aparecem vídeos justamente relacionados com isso. Parece que o caraças do algoritmo do youtube consegue captar-me os pensamentos.

Hoje, como tantas vezes acontece, andava imersa na natureza, a sentir-me feliz, em paz, parte integrante do lugar, não mais importante que os pássaros, não mais relevante que os bichos que por ali andam, aspirando o ar limpo e perfumado, sentindo que sou abençoada por me ser dado sentir tão benfazeja comunhão, sentindo-me humilde, efémera, um conjunto de partículas que o acaso mantém unidas até que um dia se dispersem e se agrupem com outras, quaisquer, talvez provenientes de flores, de borboletas, de raios de luz, de musgos. 

Fiz um vídeo que publiquei no feed do Instagram sobre o cedro que caiu e que ainda ali está, enorme, digno, verde, belo. E fiz um outro, que publiquei numa story, sobre uma flor que parece um pompom (esta aqui ao lado) e disse que não tarda que se desfaça e fique a pairar, podendo eu respirar partes dela, flores dançando dentro de mim. 

Sinto-me feliz ao andar por ali, por pensar e dizer coisas assim -- mas não me alieno a ponto de não perceber que o mais certo é que quem me ouve ache que tenho uma pancada, e das grandes, nesta minha cabeça. Mas, como isto é inócuo, não sinto necessidade de disfarçar. Sou muito autêntica no que escrevo e no que digo.

Por exemplo, ao aproximar-se da casa, de longe, vi um losango dourado, flutuante. Achei maravilhoso, uma aparição. Não percebia o que era, mas adorei. Sou míope. Por isso, de longe a minha visão é impressionista. Quando cheguei mais perto, percebi que era a luz a incidir no tronco de uma azinheira. Achei lindo. A natureza, a luz, a sombra, as mutações cromáticas, as texturas -- tudo me parece arte, tudo me parece beleza.

Depois pensei: mas a casa e a azinheira estão aqui desde sempre; como é possível que eu nunca tenha visto isto? A verdade é que não. Se calhar, a esta precisa hora, nesta altura do ano, nunca me aproximei da casa por este lado. Parece-me pouco provável mas nunca antes tinha visto esta figura geométrica de luz sobre o tronco da árvore. Ou, então, os nossos olhos nem sempre veem o que está disponível para ser visto -- e hoje eu estava disponível para ver a luz que se concentrava no tronco e se espraiava pelo chão, nessa direcção.

Pois bem. 

Andei nisto e, depois, ao cair do dia, andei nas minhas regas -- ando de mangueira, rego e rego e rego --, depois jantei, vi um bocado de televisão, e, ao ligar o computador, fui ver os mails e espreitar as notícias e, de seguida, abri o youtube. 

Logo à cabeça, o vídeo que aqui abaixo partilho. Ao vê-lo, pensei: caraças, até parece que tinha visto este vídeo antes de fazer os meus. Como é isto possível? Como é que, logo hoje, depois de ter publicado aqueles meus vídeos, me aparece isto aqui?

Mas, depois da surpresa, estupefacção mesmo, fiquei contente. 

Não tinha dúvidas, sabia que aquilo de que abaixo se fala é mesmo verdade, mas gostei de o ouvir dito por uma cientista, gostei de ouvir dito como ela o diz. 

O vídeo está legendado. E é um prazer. Espero que também gostem.

Nature Isn't a Place - It's Who You Are | Laurence Nachin | TEDxGöteborg

When was the last time you "visited" nature? What if that whole concept is based on an illusion? Laurence Nachin reveals why our separation from nature might be the biggest myth we've ever created.

Discover how breaking down the illusion of separation from nature could be the key to creating a more joyful and sustainable future for all. From microscopes to mindfulness, Laurence's journey from completing her PhD in microbiology and cell biology to becoming a nature-based facilitator offers a revolutionary perspective on our relationship with the natural world. She demonstrates how we're constantly connected to other living organisms, whether we're in a forest or a city office. As the founder of Sense in Nature, Laurence helps organizations make nature their business partner, showing how this connection boosts wellbeing, creativity, and pro-environmental behaviors. Her insights reveal how acknowledging our inherent connection to nature isn't just about environmental awareness - it's about becoming fully human again. 


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Dias felizes!

terça-feira, junho 03, 2025

A Inteligência Artificial vai atirar o desemprego para uns assustadores 20%? Já é caso para alarme?
Ou vamos esperar a ver no que dá e, até lá, que não nos doa a nós a cabeça...?

 


Quando comecei a trabalhar havia profissionais que, mais tarde, desapareceram. Por exemplo, havia codificadores. Mais tarde, as próprias pessoas escolhiam os códigos que, de entre a lista, melhor se adequavam. Na informática, que ocupava enormes 'salões', havia 'analistas' de diversos tipos, programadores e 'operadores de recolha'. Os diversos serviços enviavam diariamente montanhas de documentos que estes últimos 'recolhiam'. Aos poucos, a 'recolha' acabou pois os diversos serviços introduziam a informação directamente nos sistemas.

Dentro dos centros de informática propriamente ditos, espaços gigantescos, havia os preparadores que organizavam a sequência em que entravam os 'jobs' e, para a informação ser cozinhada, havia programas que 'corriam' de noite. E, de manhã, os estafetas distribuíam lençóis, 'pijamas', por todos os serviços - listagens enormes de papel às risquinhas com buraquinhos dos dois lados. Aos poucos isso foi saindo nas impressoras que estavam nos serviços e mais um conjunto de profissionais ficou sem trabalho.

Havia salas enormes com operadores de telex. Os serviços preparavam o que hoje seriam mails, os 'contínuos' levavam à sala dos telex's. 

E havia a enorme sala de dactilografia. Só senhoras. Eram elas que 'batiam à máquina' cartas, relatórios, contratos e o que houvesse a fazer em letra de forma. Algum tempo depois, essas salas desapareceram.

Outra das salas enormes, enormes mesmo, era a da Contabilidade. As facturas dos fornecedores chegavam lá, eram contabilizadas em máquinas de manivela, e eram registadas e arquivadas em mais do que uma via.

Já mais recentemente, as facturas chegavam, alguém abria os envelopes, organizava-as e passaram a ser digitalizadas à chegada e, a partir daí, todo o processo passou a ser automatizado, com sistemas que transformam imagem em dígitos, com workflows para que circulassem por quem as aprovava, e, daí até entrarem directamente no sistema, eram um ai. Vários profissionais foram dispensados, claro. Posteriormente, a mudança foi ainda maior com os fornecedores a registarem directamente as facturas no portal que a empresa disponibilizava. E mais redução de pessoal, claro.

Fazer o orçamento da empresa e fazer o acompanhamento mensal, quando entrei, ocupava muita gente e era um trabalho terrível. Tinha que se recolher informação manual de todas as áreas e fazer infindáveis cálculos manuais. Fazer uma alteração implicava, frequentemente refazer todo o processo. O produto do orçamento era um dossier enorme, cheio de folhas datilografadas, que era distribuído pelas direcções. Mensalmente eram produzidos, em papel, relatórios com os desvios e as suas explicações bem como uma projecção dos impactos no resultado anual. Uma trabalheira que hoje dificilmente se imagina.

Aos poucos, os escritórios foram encolhendo. O que antes requeria edifícios gigantes com muitas centenas de funcionários ficou reduzido a um andar em que a maioria das pessoas já estava afecta a áreas mais 'nobres' como planeamento, investigação, inovação, qualidade, gestão de talento e coisas assim.

Fora dos escritórios a revolução foi também brutal. Os armazéns, por exemplo, antes fervilhavam de gente: uns recebiam o material, outros codificavam, outros inseriam as guias de entrada em dossiers e em folhas de registo para serem 'recolhidas' ou, mais tarde, directamente no sistema, isto depois dos codificadores catalogarem tudo. Depois havia os que arrumavam os artigos, outros que faziam inventários, outros que atendiam quem lá ia levantar artigos e, aí, faziam os movimentos inversos. Hoje poucas pessoas lá trabalham. Tudo está informatizado, automatizado.

E podia continuar mas o panorama seria sempre o mesmo.

Em cada um destes movimentos houve sempre alguém que foi sacrificado mas, vendo a posteriori, nada disto foi globalmente dramático pois as pessoas iam sendo 'reconvertidas', outras saíam com indemnização e arranjavam lugar noutras actividades. E isto era um processo gradual.

O que aconteceu nas empresas em que trabalhei, aconteceu em todo o mundo.

Mas não sei se a revolução que a inteligência artificial não vai ser mais disruptiva. Não a vejo como um interruptor -- hoje funciona assim e amanhã já é de outra maneira e, de um dia para o outro, saltam pessoas aos milhares -- pois as organizações levam tempo a assimilar as mudanças e a adaptar-se. Mas, assim que se inicie a migração para processos que incorporem a inteligência artificial, o movimento será irreversível e rápido.

Hoje ainda não sabemos dizer ao certo todas as áreas em que a IA vai mexer mas é só questão de começar. Onde ela entre, o movimento será imparável.

A nível caseiro, já a uso a toda a hora -- e já sinto que há um antes e um depois do ChatGPT. Dou um exemplo: contei no outro dia que a rega não tinha arrancado. Herdámos o sistema de rega com a compra da casa. Tem sido sempre uma aventura atinar com o seu funcionamento pois não ficou nenhum manual e, quando tínhamos jardineiros, cada um mexia à sua maneira, dizendo que tinha reprogramado. E havia noites em que regava em permanência, outras vezes arrancava de dia, em horas impróprias, outras vezes funcionava dia sim, dia não. Quando resolvemos que estávamos melhor sem jardineiros, esse imbróglio passou para nós. O incrível mundo das electroválvulas e das estações e dos programas passou para nós. O mal das coisas complexas e sofisticadas -- que dão para adaptar a tudo e mais alguma coisa e que permitem combinações de tudo com tudo -- é que descortinar o que está programado e o que se pode fazer sem fazer perigar todo aquele equilíbrio instável é um desafio. O meu marido é apologista da técnica de mexer o menos possível. Eu sou o contrário: eu sou de tentar perceber tudo e depois refazer tudo em consciência. Mas, antes, faltava-me o apoio técnico. 

Até que chegou o ChatGPT. Agora fotografo o programador e coloco dúvidas. Ele reconhece a marca e o modelo e começa a interpretar o que vê. E vou seguindo o que 'ele' diz. Claro que ele não me diz tudo às primeiras pois é sabido que a maior ignorância é a que desconhece a dimensão da sua ignorância. Portanto, não pergunto tudo o que há para perguntar e, portanto, vou recebendo respostas que são apenas uma parcela do que há a fazer. Uma luta. Tentativas infrutíferas umas atrás de outras. Mas não desisto. Faço, fotografo o que diz o monitor, volto ao ChatGPT, volto ao programador, e assim sucessivamente. Neste momento, já estou mais perto de dominar a coisa. Ainda não estou lá, mas já vi a luz ao fundo do túnel mais longe... Claro que ainda não cheguei à parte a que provavelmente nunca me atirarei: a do aspecto físico da coisa, o das electroválvulas, a sua associação às estações respectivas. Mas, se calhar, até para isso, 'ele' me ajudaria. O que antes requereria um jardineiro especialista em sistemas de rega, agora está nas minhas mãos e nas do ChatGPT. 

E quem diz isto diz interpretar um balanço e uma demonstração de resultados, apontando pontos críticos, áreas a requerer atenção -- e isto através do 'upload' de um ficheiro ou de fotografias. Isso ou interpretar análises clínicas ou relatórios de exames médicos. Ou fazer o upload de um livro, ou de um contrato ou do que for, e pedir um resumo, uma apresentação ou o que for. E o trabalhinho aparece imediatamente feito.

O impacto disto nas empresas, nos escritórios de advogados, na Administração Pública, na Investigação, na análise das imagens de exames médicos, em todo o lado..., vai ser imenso.

Claro que haverá sempre muitas profissões que não desaparecerão. Muitas. E novas profissões surgirão. Muitas. 

Estudar o impacto, área a área, de tudo isto é imperioso: para programar a formação e as vagas por curso, para repensar a sociedade no seu todo. Se tudo for pensado e planeado, decorrerá sem sobressaltos de maior. Se nada se fizer, será um ver se te avias de crises, crises daquelas bem problemáticas.

A entrevista que o Anderson Cooper conduz com o CEO de uma empresas de Inteligência Artificial é interessante. Penso que é um tema que deveria ser trazido para a ribalta. Em vez de andarem mais do sete cães a um osso a ver quem diz mais mal do Gouveia e Melo mais valia que se antevisse o futuro. Com pés e cabeça. Com factos, com objectividade. Com gente que saiba e não com papagaios. Estou farta de papagaios.

AI company's CEO issues warning about mass unemployment

Anthropic CEO Dario Amodei tells CNN's Anderson Cooper that "we do need to raise the alarm" on the rise of AI and how it could cause mass unemployment.

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Imagens geradas, a meu pedido, pelo Sora (IA)
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Dias felizes

segunda-feira, junho 02, 2025

Grande entrevista na CNN. José Sócrates, um grande entrevistado. André Carvalho Ramos, um grande entrevistador.

 

Tive um dia preenchido e feliz, com a casa cheia e alta animação, e isto ao mesmo tempo que um joelho me doía, não sei se fruto de passadeira demasiado acelerada no ginásio, se fruto de muita lavagem esforçada de carpete, se fruto de outra coisa qualquer. Por isso, quando o pessoal se foi, sentei-me no sofá com a perna esticada e pus-me a ver as fotografias que entretanto recebi e a ver mensagens de amigos. E depois pus-me a ler. 

Até que calhou ver o comentário do Caro Leitor Ccastanho sobre a entrevista do Sócrates. Não tinha visto, nem sabia que tinha dado. Mas, entretanto, estava a dar uma coisa que o meu marido queria ver pelo que já passava da uma da manhã quando comecei a ver.

Com isto, eu que ia falar do meu dia em família e mostrar umas fotografias e etc., fiquei a pensar que deveria era falar daquilo a que tinha acabado de assistir. Só que é tarde e estou com sono... 

Mas, ainda assim, não consigo deixar de dizer que:

  • Sócrates continua a ser o mesmo animal político de sempre
  • Sócrates continua a mostrar que tem um estofo e uma estaleca e uma visão e determinação que são ímpares entre os políticos portugueses vivos
  • Sócrates continua a demonstrar que tem um ímpeto reformista com opções modernas e acertadas como a nenhum outro primeiro-ministro vi e voltei a ver
  • Sócrates continua a mostrar uma capacidade e a coragem de falar de frente, de pegar os bois pelos cornos, e a fazê-lo com honestidade intelectual e sem usar eufemismos ou indirectas
  • É pena que a porcaria do processo Marquês não se resolva de vez para que ele possa voltar a andar pela vida política, sem peias 
  • É pena que a história não se faça mais em tempo real para que a verdade sobre os benefícios para o País da sua governação possa ser conhecida e discutida com objectividade
  • Finalmente, é pena que o tema da sua vida pessoal (o apartamento de Paris, os empréstimos do amigo, as escutas, etc.) nunca tivesse sido devidamente esclarecida por ele próprio para que a suspeição que o envolveu e continua a envolver como uma nuvem negra deixasse de ser tema
[Sócrates disse muitas coisas relevantes sobre muitos temas e que aqui mereceriam destaque, mas tenho que me levantar cedo e já é tardíssimo. Contudo, quero aqui, pelo menos, louvar a forma como se referiu a Marcelo Rebelo de Sousa: um personagem inconsequente. Não poderia estar mais de acordo com tudo o que ele disse, na forma intriguista e ínvia como conduziu a sua actuação enquanto Presidente da República. O retrato que Sócrates fez do Presidente Marcelo é perfeito.]

Em síntese: gostava que o convidassem mais vezes para entrevistas como esta. 

E gostei muito, muito mesmo, da excelente entrevista que André Carvalho Ramos conduziu. Um trabalho incrível, uma atitude perfeita -- foi contido, educado, incisivo, inteligente. Entrevistar uma pessoa como Sócrates não é fácil pois é um interlocutor ágil, truculento, desafiador. Mas André Carvalho Ramos esteve completamente à altura. Está, uma vez mais, de parabéns. 

Um belo momento de televisão.

domingo, junho 01, 2025

Rui Rio foi à jugular do Marques Mendes (e à de Marcelo e, de certa forma, à do Montenegro).
Rui Rocha descurtiu e vai dar banho ao cão.
Eu, pela parte que me toca, prefiro defender as buganvílias e maravilhar-me com as efusivas rosinhas

 


Eu já tinha tapetes de Arraiolos antes de me dar a veneta de os fazer. Portanto, como desatei a produzi-los, fiquei com muitos. A minha mãe também os tinha com fartura. Ora, quando tive que tirar as coisas de casa dela, não era coisa de que me desfizesse. Trouxe-os. Portanto, agora até na cozinha tenho um tapete, ou melhor, uma carpete de Arraiolos pois cobre quase todo o chão. Por acaso até é confortável especialmente no inverno quando ando descalça e a pedra do chão está fria. 

Este sábado, dia de calor, foi dia dele ir à barrela. É uma coisa que gosto de fazer em dias em que secam bem: no terraço junto à cozinha, com agulheta no máximo, omo, vassoura forte, descalça, lavo-os e esfrego-os que é um mimo. 

No entanto, o tempo virou um bocado e não ajudou: pouco depois, o céu como que se encobriu e a temperatura baixou um pouco. Por isso, à noite ainda não estava bem seco. Espero que amanhã seque de vez pois tapetes de lã que não secam logo correm o risco de ficar a cheirar a mofo.

Também andei de mangueira a regar vasos de um lado e do outro da casa. Gosto de regar. Gosto de tudo o que mexa com águas.

Como sempre, pasmo com o que tudo cresce. 

As sardinheiras estão robustas, frondosas, cheias de flores. Umas suculentas crescem sem parar. A roseira que está junto a um dos portões tem crescido de uma forma inacreditável. Já vai no muro e já trepou para uma árvore que está perto. Agora já há rosinhas penduradas na cerejeira japonesa. E as buganvílias estão uma maravilha. O meu marido anda doido para avançar com o corta-sebes elétrico. Como não o deixo, faz chantagem, diz que o meu filho vai protestar, vai dizer que também tem que andar todo dobrado para não andar a levar com as flores na cabeça. Creio que é um falso problema, basta que se desviem. Uma delas, então, mais que todas, estão uma loucura, um cortinado de flores. 

O meu marido diz que qualquer dia não se consegue estar na mesa que lá está debaixo, que precisa mesmo de ser cortada. Explico que é um caramanchão, que é mesmo assim. Mas vejo, pela maneira como olha para ele, que qualquer não vai resistir. A única coisa que deve estar a travá-lo é que sabe que, se fizer isso, estará a pisar uma linha vermelha, linha essa fortemente minada.

Hoje, quando vínhamos da caminhada da tarde, reparámos que uma delas, do outro lado, já passou para o lado dos vizinhos e já está a enfeitar o telheiro deles. Também uma das glicínias, uma loucura de glicínia, uma avalanche de glicínia, já vai no muro que separa do vizinho e já enfeita o lado de lá. Claro que poderão cortá-la, se o quiserem, claro. Mas, pelos vistos, gostam.

Mas esta fartura de fertilidade tem um senão. Temos dois vasos, bem bonitos, que têm aloé veras. Mas os aloés estão estão grandes, reproduziram-se de tal maneira que as raízes já não cabem nos vasos, já estão a subir, e os aloés estão a querer definhar. Já falei com o meu marido que vamos ter que tomar uma resolução. Para tentar não destruir os vasos, não vejo outra maneira senão deitá-los de lado e puxar pelos aloés, tentando que se desprendam. E depois teremos que encontrar uns locais, fazer uns buracos grandes e plantar as plantas directamente na terra. O meu marido diz que não está a ver que seja tão simples assim e não lhe vejo qualquer vontade de se atirar à tarefa. Mas temos que tentar pois, se não fizermos nada, os aloés acabarão por ficar ressequidos. Neste momento são uma espécie de ilustração do Princípio de Peter. Cresceram, cresceram até atingirem o ponto em que se constata que, a partir daí, será para pior.

Com tanta flor e com as árvores também todas cobertas de folhagem, a passarada está sempre em festa, uma alegria de chilreios que é uma delícia. E há um perfume bom no ar. Estive lá fora a ler e a sentir-me feliz até já não haver luz. 

Entretanto, estou preocupada pois a rega não arrancou. Temos a rega programada para funcionar de noite e eu gosto de estar aqui a escrever e a ouvir os esguichos da água e a sentir o cheiro molhado da terra e das flores. E hoje não está a funcionar e não faço ideia porquê. Chatice. A minha vontade era ir lá fora ver o que se passa mas o meu marido já dorme e eu tenho um certo receio de andar lá fora sozinha a desoras. Além disso, o dog a esta hora dorme descansadamente e não quero sobressaltar toda a gente a abrir portas e a acender luzes.

Tirando isso, vi que houve mais um dano colateral do terramoto eleitoral: também o Rui Rocha saltou fora. Se vier a Mariana Leitão será bom pois há poucas mulheres na política. Claro que não deixará de ser curioso que, sendo tão poucas, logo sejam as duas Marianas. Mas acho que é mais genuína e mais atilada que a Mortágua. Pelo menos, parece-me. 

E, sem que nada o fizesse esperar, o Rui Rio foi à jugular do Marques Mendes, o que não deixa de ter piada. Imagino o Marcelo, o Marques Mendes e o Montenegro todos de cabeça à roda. Quanto ao inSeguro e ao desVitorino o melhor que têm a fazer é manterem-se na toca. Entretanto, fiquei a saber que um conhecido nosso está a pensar candidatar-se, parece que já anda a recolher assinaturas. Só visto.

E, pronto, é isto. Vou descansar que já vão sendo horas.

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As imagens foram feitas com recurso à minha inteligência natural

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, maio 31, 2025

Elon Musk, drogas e poder: uma combinação explosiva no coração da política norte-americana?

 

Quando o tema é o consumo de drogas vou com pés de lã. É mais que sabido que uma pessoa, quando ultrapassa a barreira do consumo terapêutico para passar a ingerir por vício, se torna dependente e, muitas vezes, fica incapaz de reagir normalmente. Um viciado é um doente. Não é, pois, caso para se falar com ligeireza. Um drogado estraga a sua própria vida e, na maior parte das vezes, contamina o ambiente entre os seus próximos, aflige os que o amam -- e não consegue evitá-lo. 

Elon Musk já tinha admitido que passa por períodos de depressão e que é medicado para isso. E já se falava que ele andava a abusar fortemente e já circulavam notícias de que os investidores andavam apreensivos com os seus comportamentos erráticos.

Mas a recente revelação de que Elon Musk pode estar a consumir até 20 comprimidos por dia, incluindo cetamina, Adderall, ecstasy e cogumelos psicadélicos, levantou sérias preocupações éticas e institucionais. Estas informações, reveladas por fontes que lhe são próximas e relatadas pelo The Guardian e outras publicações, apontam para um cenário alarmante: um dos homens mais influentes do mundo, com acesso a informações sensíveis e com influência direta na economia global e nas decisões políticas norte-americanas, pode estar a funcionar sob o efeito constante de drogas psicoactivas.

Perguntei ao ChatGPT para que servem os medicamentos que supostamente ele toma e quais os riscos. Eis as respostas:

  • Cetamina: originalmente um anestésico, tem uso off-label no tratamento da depressão resistente. Em doses moderadas, pode causar dissociação, alucinações e perda de coordenação. Em doses frequentes e altas, está associada a danos na bexiga, além de alterações cognitivas e dependência.
  • Adderall: medicamento composto por anfetaminas, usado para TDAH. Melhora foco e energia, mas o uso recreativo ou excessivo pode levar à insónia, ansiedade, agressividade, paranoia e psicoses induzidas por estimulantes.
  • MDMA (ecstasy): estimula uma intensa libertação de serotonina. Pode gerar euforia e empatia, mas também confusão, hipertermia e, a longo prazo, dano neurológico.
  • Cogumelos psicadélicos: causam alucinações visuais e auditivas, alterações na perceção do tempo e da realidade. O uso frequente pode desencadear episódios psicóticos, ansiedade severa e despersonalização.

Perguntei ainda qual o perigo das misturas. Eis a explicação:

A combinação destas substâncias, sobretudo em regime crónico, é particularmente preocupante. Misturar cetamina (um dissociativo), Adderall (um estimulante forte) e MDMA (um entactógeno) altera profundamente o funcionamento neuroquímico do cérebro. Pode comprometer:

  • Tomada de decisões
  • Capacidade de julgamento moral
  • Controle emocional
  • Lucidez e coordenação cognitiva

Em termos clínicos, uma pessoa sob este cocktail medicamentoso pode apresentar lucidez parcial, mas com graves prejuízos em áreas como a empatia, raciocínio crítico e autocontrolo.

O mais alarmante é que, durante este período, Musk terá desempenhado um papel activo na estratégia política de Donald Trump. Fontes referem que foi sob o efeito destas substâncias que Musk ajudou a articular ideias e decisões do chamado "gabinete Doge", um grupo informal de conselheiros com impacto na retórica e direção política da campanha republicana.

Ora é inegável que isto levanta questões profundas sobre:

  • A falta de supervisão institucional sobre figuras com acesso a tecnologia crítica e influência mediática;
  • A fragilidade dos mecanismos de verificação de aptidão em ambientes de liderança privada com impacto público;
  • O perigo da normalização do comportamento errático de figuras poderosas, sob a capa do “genial excêntrico”.

É legítimo questionar até que ponto alguém com este padrão de consumo tem capacidade para tomar decisões que afetam milhões. Mais do que um debate sobre saúde individual, trata-se de um alerta sobre a interseção entre poder, tecnologia, dependência e responsabilidade. A sociedade precisa de refletir sobre os limites éticos e institucionais que colocamos a quem lidera empresas com contratos governamentais e impacto social profundo ou a quem ocupa posições de poder em geral.

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‘Could explain something’: Nicolle Wallace on Elon Musk’s reportedly intense drug use

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As duas imagens lá acima, no meio do texto, foram geradas pelo Sora (IA)

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Um bom sábado

sexta-feira, maio 30, 2025

A matemática só serve para fazer contas ou pode ser um precioso auxiliar ao serviço da política...?

 

Ao ler que um grupo de trabalho europeu vai fazer um estudo em Barcelona para perceber o impacto do turismo de massas na crise da habitação, fiquei contente. É preciso estudar os assuntos antes de se desatar a alvitrar soluções aleatórias, coxas, precárias. A crise habitacional é transversal e profunda pois onde haja turistas alojados em casas que antes era de habitação e/ou onde haja muita imigração, faltam casas para morar e, logo, disparam os preços. Ou seja, uma franja considerável dos habitantes não arranja casa para viver.

Já não é a primeira vez que aqui falo do assunto pelo que peço que me desculpem pela repetição. 

Uma das vertentes da matemática é a de resolução de problemas em que há milhares de condicionantes, milhares de variáveis e em que se pretende atingir um objectivo.

Por exemplo, imagine que, por uma vez, alguém com poder de decisão decide ser rigoroso e quer saber, município a município, quantas casas para arrendamento habitacional deve haver (escalonando a resposta por tipologias de casa e por intervalos de renda) e quantas casas para arrendamento turístico são admissíveis. O objectivo, diria eu, seria misto: por um lado que não haja pessoas sem casas para viver (admitindo que a renda não deve ultrapassar x% do rendimento líquido do agregado), por outro que haja uma oferta turística razoável (ie, não excessiva) e, vendo na perspectiva dos proprietários da casa, que obtenham um rendimento justo e adequado, em linha com o que é obtido nos mercados em que o tema da habitação não é um problema. 

Dito assim, pode parecer abstracto, impossível de quantificar.

Mas, digo-vos eu, para quem saiba, é canja de galinha. Não é a primeira vez que aqui digo que há decisões que deveriam ser tomadas com base em modelos matemáticos precisos, inequívocos. 

Tomar decisões a olho, atirar bocas mortáguas para o ar ou dar palpites com base em achismos, isso a mim arrepia-me.

Precipitações como diabolizar os Airbnb são outro disparate. O turismo é óptimo para o país e, como se vê, os hotéis estão cheios pelo que, se se reduzirem os alojamentos locais, não haverá resposta suficiente por parte dos hotéis, ou seja, será dinheiro que não entra no País. Portanto, o que há é que equacionar e tomar decisões por forma a atender a todas as necessidades.

Acresce à realidade do desvio de casas do arrendamento habitacional para o turístico, a presença no País de mais de um milhão de imigrantes que precisa de casa.

Ou seja, há forçosamente um défice de casas. Ora, saber quantas, onde e de cada tipo é indispensável.

Para começar, o que há a fazer é um levantamento, por local, do número de famílias que carece de casa arrendada para viver, quantificando quantas pessoas por agregado e de que rendimento líquido dispõem.

Igualmente deve ser feito um levantamento de fogos potencialmente disponíveis que sejam do Estado (Administração Central, Local, Forças Armadas, etc).

Claro que, para além destes dois levantamentos, os mais complexos, há muito mais informação necessária -- mas nada de transcendente.

Há ainda aspectos paralelos a equacionar: não se pode pedir a um proprietário que, tendo a possibilidade de gerir um arrendamento local no qual aufere um rendimento mais interessante, abdique dele para fazer um arrendamento habitacional que está sujeito a muitos custos e a pesados impostos. 

Já aqui falei muitas vezes da pesada carga fiscal que reduz liquidez às pessoas que pagam impostos. Se os salários (ou pensões de reforma) já de si são baixos, se lhe raparmos uma grande fatia, pouco sobra. Se há uma grande camada da população que não paga IRS por auferir baixos rendimentos, a verdade é que há uma 'invisível' camada que não paga porque foge ao fisco. E foge de todas as maneiras que pode: os senhorios não passam recibo fiscal, e, todos os que podem, sejam senhorios, médicos, etc, criam empresas através das quais recebem 'ordenados' e às quais imputam toda a espécie de custos de forma a não pagarem IRC ou a pagarem pouco, ao mesmo tempo que pouco -- ou nada -- pagam de IRS.


Ora, no caso dos inquilinos, se as famílias (e aqui não me refiro apenas às pobres, muito pobres, mas às da classe média) dispuserem de mais rendimento líquido, já não ficarão com a corda na garganta ao pagarem rendas mais altas.

Ou seja, o tema da crise habitacional é um tema com alguma complexidade e que toca vários pontos a optimizar. Mas, sendo complexo, não é transcendental. Qualquer pessoa que perceba do assunto e que disponha de informação, equaciona o problema e resolve-o (e o que não faltam são ferramentas informáticas para isso), providenciando, aos decisores, informação concreta. 

Pensar que é um tema complexo e carpir em cima dele ou tomar decisões avulsas ou a olho (por exemplo, atirar para o ar a boca de que fazem falta 26.000 casas e logo a seguir vir alguém dizer que não é isso mas o dobro e logo depois vir uma dizer para pôr um tecto às rendas e vir outro dizer para usar quartéis e... por aí fora, cada um a atirar palpites para o ar e todos sem qualquer base sólida) é apenas deixar que o problema se agudize e se arraste.

Ainda não percebi que gente é que nos governa que não percebe que a matemática não se resume à aritmética banal. Saber quantos médicos, quantos enfermeiros, quantos centros de saúde e com que recursos, quantas creches, quantas escolas, quantas casas, etc, são necessárias para resolver os problemas da população é coisa que requer cálculos, que requer cabeça, que requer informação fundamentada, que requer uma correcta afectação de recursos financeiros. Os matemáticos não servem só para serem professores, servem para muito mais. Servem, por exemplo, para ajudar criaturas inteligentes a tomarem boas decisões. Claro que a decisão última deve ser sempre política mas, caraças, que se baseie em cálculos correctos, sujeitos a critérios bem explicados e bem intencionados.

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Imagens obtidas via Sora (IA)

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Dias felizes

quinta-feira, maio 29, 2025

Um frango esquecido e um biquini sem cuecas

 



Posso ter dado a ideia de que esta minha actual vidinha é um absoluto mar de rosas. Se dei, foi involuntário. É que, como em tudo na vida real (e reforço a 'vida real' porque na vida virtual tudo é possível, até a vida ser um imaculado mar de perfeições), não há bela sem senão.

E o senão é simples: quando ambos trabalhávamos, almoçávamos sempre em restaurantes. O jantar era muitas vezes leve, com alguma frequência comprado. Agora a coisa fia mais fino. 

Se calhar, se vivêssemos no centro da cidade, facilmente descíamos até à rua e, mesmo a pé, íamos até à próxima tasca ou poderíamos escolher um dia um restaurante, outro dia um de outro tipo. Morando afastados da urbe e, de vez em quando, imersos no campo mais campo que se possa imaginar, a oferta não está ao virar da esquina. Temos que nos meter no carro e ir. Depois há que estacionar. E depois, chegados ao restaurante, há que ter paciência para esperar. Ora, estamos comodistas. Não temos pachorra para o trânsito, para andar às voltas para descobrir lugar para o carro, para ficar à espera de ser atendidos. Muito menos temos pachorra para comida banal ou pior do que a que faço em casa.

Conclusão: salvo uma ou outra excepção, dia após dia temos que andar a puxar pela cabeça para saber o que se faz para o almoço, o que se faz para o jantar. Como queremos fazer uma alimentação saudável, tudo o que são frituras, refogados puxados, coisas gordas ou com molhos calóricos, estão fora dos cardápios diários. Ora, às vezes falta-me a imaginação.

Esta quarta-feira, para o almoço tinha feito um arroz de chambão com legumes. Para o jantar não sabia o que fazer. Queremos sempre coisas leves ao jantar mas estava sem pica nenhuma, incapaz de ter ideias. Como tinha que ir ao supermercado, pensei que podia comprar lá um frango assado, depois fazia um arroz e uma salada e estava feito. O meu marido achou bem.

Lá fomos. 

O meu marido ficou cá fora para aproveitar para dar a volta higiénica com o cão-fofo. 

Lá dentro, fui pondo no carrinho o que precisava: cebolas, cenouras, tomates, alface, pão, kéfir, iogurte grego natural, requeijão, chocolate preto. Trouxe também atum e salmão congelados. E mistura chinesa congelada. Resolvi também trazer, para experimentar os gelados de pistácio revestidos a chocolate pois o pessoal mostrou abertura para experimentar e, ao fim de semana, no verão, contam sempre que haja gelados no congelador. Depois, vi lá uma tshirt branca de um tecido que me pareceu interessante e a um preço baixo. Pareceu-me que estaria talvez grande demais mas, sendo branca, mais vale larguinha que justa. Trouxe. E vi um biquíni que me daria jeito pois, para aqui apanhar sol, só tenho um. E o preço também me pareceu bom. Trouxe.

Ao chegar à caixa, uma fila dos diabos, um tempo do caraças à espera. 

Quando cheguei ao carro... upssss... tinha-me esquecido do frango assado... E, com aquelas filas, impossível lá voltar.

O meu marido ficou desconcertado: 'E agora? Praticamente era esse o motivo da vinda ao supermercado... Pões-te a ver tretas e esqueces-te do fundamental.'. Respondi: 'Trouxe bife de atum... Posso fazer... ou salmão...'

Pela cara, vi que não estava muito para aí virado. Felizmente, tive uma ideia: como ele ia aproveitar a 'viagem' para ir a uma estação de serviço, pensei que talvez lá vendessem frango assado. 

E tive sorte. Mas só havia uma metade. Receei que fosse um despojo. Perguntei: 'É recente?' O rapaz olhou para mim muito admirado. Ocorreu-me que estava na dúvida se eu me estava a referir a ele próprio. Esclareci: 'Pergunto se o frango é recente...'. Mesmo assim não devo ter esclarecido bem, ou, então, não estava seguro do que responder. Disse-me com o que me pareceu fraca convicção: 'É...'

Chegados a casa, ao arrumar as compras, com um certo desconforto constatei que a embalagem do biquini afinal correspondia apenas ao soutien. Pelos vistos, vendem as peças separadas. Senti-me frustrada. É que, quando lá regressar, já não devo encontrar a parte de baixo à venda.

Mas, vejamos as coisas pelo lado positivo: com a mistura chinesa fiz um belo arrozinho e o frango afinal ainda estava quentinho e era bem saboroso.

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E, com esta conversa fiada, pela qual me penitencio, poupo-me a falar sobre os resultados dos votos dos emigrantes e sobre a confirmação de que o Chega é o 2º partido do meu País. Espero que façam a caridade de me compreender.

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Imagens obtidas via Sora (IA)

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Dias felizes

quarta-feira, maio 28, 2025

Tudo conspira, e muito, contra a inocência

 

Imagino a invejinha que quem ainda trabalha sente quando me lê a relatar o meu dolce fare niente. Espero é que seja daquela invejinha boa, inocente, não daquela que vem sob a forma de olho gordo. 

Lembro-me bem daquela ex-colega de quem toda a gente dizia que apenas se realizava através do trabalho e que um dia, uns meses depois de ter saído da empresa, apareceu lá a visitar-nos. Vinha remoçada, muito bem vestida e penteada. Quando lhe perguntámos como estava a adaptar-se à condição de 'desocupada', riu de gosto e disse: 'Penso muitas vezes que se as pessoas soubessem como não trabalhar é tão bom, ninguém queria trabalhar...'

E é mesmo. Não percebo como é que há tanta gente que faz de tudo para se manter a trabalhar até estar quase a cair da tripeça. Mas, enfim, cada um é como cada qual.

E o que eu ia dizer é que estava numa espreguiçadeira, à semi-sombra, completamente em paz comigo e com o mundo, a ler e a ouvir os passarinhos, e pensando que devia ter ali um lápis para ir assinalando algumas frases com piada. Nisto, reparei que o cãobeludo estava freneticamente a espreitar para uns vasos que estão num nível abaixo e que estão separados daquela zona por uma pequena rede. Entre a rede e os vasos costuma juntar-se farta caruma. E era para ali que ele olhava, saltava, agitado como se tivesse descoberto coisa. Tremo quando isso acontece pois antecipo que o passo seguinte seja o cometimento de um crime.

Chamei o meu marido. 

Nessa altura já ele (ele, o cão) tinha ido para essa zona rebaixada e já andava agitadamente em volta dos vasos. O meu marido pegou numa cadeira dobrada e colocou, na parte de baixo, junto aos vasos, tentando impedir que ele lá chegasse.

Em sobressalto, fui buscar a mangueira e abri a água para tentar evitar que o predador se atirasse ao que quer que fosse que ali estava. Então, do monte de caruma que ali estava, monte que mais parece um ninho, saiu um pássaro espavorido, a correr. Parecia um pássaro ainda criança, que ainda não sabia voar, mas de um porte grande, digamos que do tamanho de uma palma de mão aberta. Desatei a chamar o meu marido para impedir que houvesse um desastre e, ao mesmo tempo, a dar mangueiradas de água para afastar o cãomaluco. 

O aflito passarito foi a correr, ladeira abaixo, indo encostar-se a um canto do portão da garagem. 

O meu marido foi então com uma pá para tentar que ele se pusesse lá em cima para o pôr a salvo. Mas foi o bom e o bonito pois, apesar de estar a levar mangueiradas de água, o cão queria, à viva força, ir atirar-se ao frágil serzinho. E o meu marido gritava com ele para ele se ir embora. Só que, com tal reboliço, o passarito abalou a correr ladeira acima, atravessou o jardim e foi refugiar-se junto à sebe. Só que o cão foi mais rápido que o meu marido e que eu com a mangueira. Em menos de um segundo saltou, implacável. 

Quando o meu marido lá chegou, já o passarinho estava deitado de lado, sem se mexer. O meu marido deu um grito ao cão e eu apontei-lhe a mangueira. Mas, aí, ele deve ter percebido que tinha feito um mal irreparável pois afastou-se e ficou como se paralisado, sentado, a olhar para o pobre defunto. 

O meu marido foi resgatar a vítima. O cão-marado afastou-se, pesaroso.

Fiquei atordoada com tudo aquilo. E francamente arreliada por não termos conseguido evitar tão infeliz desfecho. 

Mas a vida na natureza tem destas coisas. 

Depois fui apanhar nêsperas e, como sempre, foram quase tantas as que comi, in loco, como as que coloquei na taça. É congénito: não desfazendo... mas estou mais para Rubens do que para Giacometti.

E agora estou aqui sossegadamente a ganhar coragem para ir à procura de algumas frases de que gostei.

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E, depois de ter feito uma rápida pesca à linha, aqui estão algumas frases transcritas do gostoso 'Uma última pergunta - Entrevistas com Mário Cesariny'

- Tudo conspira, e muito, contra a inocência, contra a linguagem verdadeira.

- O que eu sinto é que a partir dos 50, por exemplo, uma pessoa sabe demais, não era preciso saber tanto. E muito do que se aprende é triste.

Como define a poesia?  - A técnica mais proibida da mágica mais procurada 

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Imagens geradas pelo Sora (IA)

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Dias felizes

terça-feira, maio 27, 2025

Uma dor humanamente insuportável

 

Não sei nem quero saber nem sei se alguém sabe: a dor de perder um filho é igual à dor de perder nove filhos? Se calhar, a dor de perder um filho é tão ilimitada que não se distingue da dor de perder nove filhos. Se calhar há sempre um desespero, uma aflição, uma sensação de impotência, de injustiça, uma dor que esmaga e que é tudo tão infinito que não faz diferença ser um ou serem todos ou quase todos. Não sei. Não quero saber.

Não sei o que sente a Dr Alaa al-Najjar que diariamente saía de casa para ir cuidar de crianças e que, na sexta-feira, na sequência de mais um bombardeamento israelita, perdeu nove dos dez filhos, sendo os corpos ou o que sobrou de sete deles que chegaram ao hospital. Dois corpinhos ainda estão sob os escombros e o menino que se salvou e o marido estão mal, hospitalizados. 

Não sei como se sobrevive a uma perda destas. Não sei. Não sei como é que uma mãe a quem acontece uma desgraça destas consegue sobreviver.

E não sei como consegue Netanyahu dormir depois disto. Disto e de tudo o resto que tem feito. Não sei como tem ânimo para viver o homem responsável por tanta destruição, tanto sofrimento, tanta morte, tanta maldade.

Nem consigo dizer mais nada.


In one of the most heart wrenching moments since the start of the genocidal war on Gaza, Palestinian paediatrician Dr Alaa al Najjar received the bodies of her nine children at the hospital where she works. An Israeli occupation air strike hit her family home in the Qizan al Najjar area of Khan Younis while she was on duty at Nasser Medical Complex.

The children arrived at the hospital burned and in pieces. Her husband, Dr Hamdi al Najjar, and one of their children survived the initial blast but are in critical condition. Colleagues described how Dr al Najjar collapsed in agony as she realised the victims were her own children.

(...)

em: Palestinian doctor receives bodies of her nine children after Israeli occupation strike on Khan Younis home


segunda-feira, maio 26, 2025

Em dia de final da Taça, bolonhesa encarnada para os sportinguistas.
Isto depois de, na véspera, sandwiches de feijoada para os benfiquistas
[Receitas incluídas]

 


No sábado fiz feijoada para o almoço. Deve haver mil maneiras de a fazer mas eu faço uma versão soft. Assim: num tacho, refogo ao de leve uma mega cebola. Depois junto um repolho (será que o nome correcto é couve-lombarda?), uns dentes de sal, salsa e coentros, uma folha de louro, um pouco de água, um little bit de sal e deixo cozer. Quero que a couve fique bem cozinhada para ser bem digerida. Quando está macia, junto carne de porco e vaca picadas. Deixo cozinhar um pouco. Juntei uma rodela de chouriço de carne apenas para dar alguma graça. Juntei depois um frasco de feijão encarnado cozido, com o caldo, e deixei que cozinhasse tudo junto durante uns minutos. Ficou bem saborosa. Pelo menos, nós gostámos.

Depois, quando estava quase tudo pronto, lembrei-me que parece que costuma haver arroz a acompanhar. Fiz simples, juntando apenas um pouco de salsa e coentros e uma folha de louro. 

O pessoal tinha dito que não viriam no sábado mas, ao princípio da tarde, a ala benfiquista disse que passaria por cá daí a pouco. 

Quando os mais novos disseram que estavam com fome, à falta de um lanche previamente estruturado, servi bolinhas de Rio Maior com feijoada. Antes aqueci levemente o pão; depois coloquei umas colheradas de feijoada, que ainda estava morna, em cada bolinha. Gostaram. E eu fiquei contente por terem gostado.


Este domingo, a ala benfiquista foi assistir ao jogo no Jamor. Mas a ala sportinguista, tirando o menino mais crescido que ficou a ver o jogo com amigos, veio cá ver o futebol com o sportinguista-mor.

Fiz bolonhesa que é coisa que sempre agrada. Embora banal, como também há mil maneiras de a fazer, conto como eu faço a minha.

Numa frigideira grande, ponho azeite, muitos dentes de alho, folhas de louro, um ramo de alecrim, e quando os alhos estão alourados, junto a carne picada (do mesmo lote do lote que usei para a feijoada, isto é, carne de porco e carne de vaca que, no talho, peço para picarem e misturar) e um pouco de sal. Deixo estar sempre no máximo e vou mexendo e virando a carne para fritar, isto é, para não cozer. Depois desligo.

Antes disso, num tacho coloco azeite, duas cebolas grandes aos bocados. Depois de refogar um pouco, juntei quatro tomates chucha bem maduros, cinco cenouras grandes aos bocados, um bom ramo de salsa e um pouco de sal. Tapo e deixo cozinhar até a cenoura estar cozida. 
Depois, com a varinha mágica, trituro até ficar um molho de tomate bem macio. Não fica nada ácido pois a o doce da cenoura corta a acidez. Fica, isso sim, um shot de vitamínico.

Num tacho grande, coloco água a ferver com sal e massa fresca, agora não me lembro o nome, é daquelas fitas largas com ovo. Pouca gordura, pouco sal. Coze durante uns cinco a sete minutos. Desligo. Escorro a água. Uma parte da água, pouca, junto ao tacho do tomate. Uma parte, ainda menos, junto à carne. A água de cozer a massa engrossa os molhos, dá-lhes uma boa textura. O resto da água foi fora. Mas ainda ficou uma parte do tacho. Temperei com azeite e salpiquei com orégãos.

Volto, então, ao tacho do molho de tomate. Com a varinha mágica, trituro até ficar um molho de tomate bem macio. Não fica nada ácido pois a o doce da cenoura corta a acidez. Fica, isso sim, um shot de vitamínico.

Servimo-nos em separado: a massa, depois a carne e, por cima ou ao lado, conchas de molho de tomate. Há queijo ralado para polvilhar.


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À tarde, cá em casa, claro que os sportinguistas começaram por sofrer para, por fim, deliraram. No Jamor, claro que os benfiquistas se entusiasmaram e depois sofreram. 

Como é bom de ver, nos poucos minutos que aqui estive, como sempre não consegui concentrar-me e estava para ser penalti e eu nem isso percebi. Gosto de ver as emoções de quem vibra e consigo colocar-me no lugar deles. Mas mais do que isso só consigo mesmo quando são jogos da Selecção em campeonatos importantes, como no Europeu ou no Mundial.

O meu marido, com tudo isto, nem assimilou o que comeu. Depois de ter almoçado e jantado bem, há bocado, ao ver um anúncio às bolachas Oreo, disse que estava cheio de fome e que até bolachas oreo marchavam se as tivesse, que parece que lhe apetecia qualquer coisa doce. Ele que nunca come bolachas e que poucos doces come... Antes de ir para a cama, ouvi-o na cozinha. Deve ter ido comer qualquer coisa, não faço ideia de quê. Não há bolachas nem bolos. 

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Os painéis de azulejos não têm a ver com o texto. Têm apenas a ver com o meu gosto por azulejos.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira