sábado, setembro 11, 2021

Jorge Sampaio

 

Logicamente sempre votei no Jorge Sampaio. E não me refiro apenas às suas candidaturas a Presidente da República. A sua visão civilizada, humanista e moderna do mundo sempre me interessou e cativou. 

[Não gosto de obituários ou de palavras de circunstância, em especial em momentos em que há uma quase cacafonia e uma disputa entre os que querem ter a melhor memória, o mais picante episódio, o mais emotivo pensamento. 

Mas também não quero deixar passar a sua partida sem uma palavra de reconhecimento pelo tanto que acho que lhe devo. Por isso, falo. Mas sei que o que disser estará sempre aquém do que haveria a dizer.]

Sempre vi em Jorge Sampaio alguém que olhava a sociedade em geral, quer a nível nacional quer a nível internacional, segundo uma perspectiva ampla, culta, bem informada, inclusiva, disponível para acolher o desconhecido. Jorge Sampaio era um homem com mundo.

Não lhe vi, em toda a sua vida política, um gesto populista, uma palavra que revelasse tacanhez, um olhar sectário, um pensamento menos nobre. A todos ele tratava com respeito. Dava-se ao respeito. Toda a gente lhe tinha respeito. 

Jorge Sampaio dignificava o País. Ao contrário dos que lhe sucederam, muito em especial o que imediatamente lhe sucedeu, Jorge Sampaio nunca nos envergonhou. Sendo uma pessoa afável e próxima, era fácil reconhecer nele a indesmentível superioridade que as pessoas que fazem da elevação moral o fio condutor da sua vida nunca veem negada.

Fotografia proveniente do Expresso

E nas suas funções públicas, quando se fazia acompanhar pela mulher --  e era fácil perceber a estimulante e carinhosa relação que os unia -- algo o tornava ainda mais moderno a meus olhos. A inteligência e independência de espírito de Maria José Ritta dizem muito não apenas do que ela é mas também do que era Jorge Sampaio. Diz-me com quem antes, dir-te-ei quem és. O amor entre eles era uma relação virtuosa e um exemplo de independência e, uma vez mais, de modernidade. 

Havia um conjunto de políticos de grande envergadura intelectual, ética, moral e cultural que eram, em Portual, um garante da defesa dos mais profundos valores democráticos. Um a um têm estado a partir e, para meu desgosto e preocupação, não vejo que estejam a ser substituídos em igual número e, sobretudo, por quem tenha mérito e qualidades equivalentes. 

A cedência ao facilitismo mina os pilares da democracia e ajuda a propagar a mediocridade e, perante maus exemplos, são necessárias vozes que se elevem e denunciem o que for de denunciar. Jorge Sampaio era uma dessas vozes e a sua autenticidade e autoridade moral elevavam-se de forma soberana. 

Tenho pena que essa sua voz se tenha calado. Saibamos honrar a sua memória.


(... e a vida continua...)

1 comentário:

Maria Dolores Garrido disse...

Bom dia!
Inteiramente de acordo, UJM.
O país e o mundo precisa cada vez mais de referências de vida pública como as legadas por Jorge Sampaio.
Bem-haja!