sexta-feira, setembro 10, 2021

No glorioso reino dos memes, dos bazares chineses e dos casais à beira de um ataque de nervos





Por acaso tive um dia muito eclético. Para começar, recebi um mail determinante para o meu futuro próximo. Poderia ter procrastinado na resposta, debatido alternativas, estudado hipóteses. Mas sou mais o oposto disso: se tenho alguma destas pela frente, quero atirar-me logo ao assunto não vá a coisa esfriar. Além disso, em regra acredito que a melhor solução é a mais imediata, a mais simples, a mais intuitiva. Por isso, antes que a cabeça comece a dar nós, vou em frente. 

Ou seja, parte da manhã foi a elaborar a resposta. Comecei a escrever com uma ideia e, depois, aconteceu o que aqui acontece tantas vezes: as ideias tomaram o seu próprio rumo. Refiz o início do mail para que a coisa parecesse coerente.

A seguir fomos para a praia: maré vazia, espaço amplo, um tempo agradável. Uma bela caminhada. Pensei que era bom que as férias estivessem a começar e não, estranhamente, já a acabar.

Depois veio o almoço e, logo a seguir, chegou novo mail: a resposta ao meu. Para que ficasse tudo bem claro, enviei novo mail. Gosto das coisas inequívocas.

Depois fomos até à cidade para tratarmos de uma série de expedientes. Quando regressámos, fui varrer o jardim. Parece que o Outono já chegou. Tantas folhas secas. Pelo meio fui apanhando ameixas. Gordas e doces. O meu marido chamou-me a atenção: não deveria comer mais do que três peças de fruta por dia por causa do açúcar e onde é que as três já lá iam. Respondi que não sei se uma ameixa conta como uma peça de fruta. O meu marido disse que sim. Perguntei se um bago de uva também conta como uma peça. Respondeu com uma pergunta: achas que só um abacaxi é que conta como uma peça de fruta? Portanto, ficámos por ali quanto à dose diária de frutas. 


Entretanto, ele estava cheio de afazeres profissionais: telefonemas de seguida, mails para fazer. Aproveitei para varrer melhor. Fui buscar o ancinho e fui fazendo montes que depois apanhei e levei para o monte da compostagem.

Já passava das sete quando saímos. Passámos por um restaurante para trazer jantar e pusemo-nos a caminho do campo. Ou melhor, para ser completamente sincera, houve uma outra coisa. Reparei que perto do restaurante havia um big chinese bazar. Como tínhamos que fazer tempo para a comida estar pronta, fui lá. Ele ficou no carro a fazer e a receber os seus telefonemas e a ranger os dentes. Diz que estas férias, por razões que o transcendem,  estão a ser passadas maioritariamente em lojas chinesas e isso chateia-o. Gosta de exagerar, como se sabe. Mas, implicações e preconceitos dele à parte, trouxe de lá duas caixas de plástico de arrumação, para colocar no móvel debaixo do lavatório da casa de banho grande. Agora os pacotes de lenços de papel ou coisas assim andam por lá um pouco ad hoc. 
No século passado, o móvel foi construído à medida e, na altura, preocupei-me com o design e com os acabamentos, deixando a funcionalidade para enésimo plano. Hoje, obviamente, tudo se passaria de maneira bem diferente. 
Agora, com estas duas caixas, tudo ficará devidamente acondicionado. Mas ao meu marido tudo isto lhe passa ao lado e embirra é com as lojas dos chineses. Mas, se não fosse aos chineses, onde é que ia comprar as caixas? Só se fosse ao Leroy mas ele também embirra com ir ao Leroy... Portanto, o melhor é não dar muita importância aos seus remoques.

Para esta sexta é que temos pela frente uma tarefa que temo que seja deveras hercúlea: retirar o guarda-fatos antigo do nosso quarto e levá-lo para a arrecadação das máquinas que é longíssimo do quarto, do lado de lá do estúdio. Ele diz que é impossível, diz que para o tirar daqui só partindo-o. Não posso aceitar isso pois preciso dele para arrumar telas e outras coisas que não sei onde pôr. E diz também que, para ele caber na arrecadação, só tirando de lá várias coisas que não se sabe onde pôr.   Aliás, deviam lá ficar só que não devem caber. Ou seja, segundo ele, por todos os motivos, uma equação impossível.

E depois está lá uma coisa mastronça que não faz lá falta nenhuma e que ocupa muito espaço mas que está cheia de coisas como lençóis bordados das tias. São lençóis que são estreitinhos, só mesmo em camas individuais. Mas alguma vez vou deitar os miúdos em camas com lençóis cheios de rendas e bordados...? Passavam-se. 
A coisa mastronça é uma arca enorme em madeira perfumada, creio que sândalo. Mais do que perfumada, a madeira é trabalhada, esculpida. Uma obra de arte. Comprámo-la, eu e a minha mãe, quando eu era jovem adolescente. Deve ter sido ideia da minha mãe eu precisar de uma arca para ir colocando o meu enxoval. Só ideias ultrapassadas e disparatadas. Ainda hoje tenho toalhas, jogos turcos e lençóis desse infinito espólio. Já na casa dos meus pais, aquilo ocupava um espaço precioso e o meu pai, então, embirrava fortemente com ela.
Não me lembro se ainda cheguei a levar a arca do tesouro para alguma das minhas casas mas sei que acabou em casa de uma das minhas avós. Queixava-se que ocupava muito espaço mas, enfim, acabou por receber a indesejável hóspede. 
Quando morreu, nem os meus tios nem os meus primos quiseram nada do que quer que fosse. Deram muita coisa, deitaram fora outro tanto e eu é que fiquei com algumas recordações. E, claro, com o raio da arca já que tinha começado por ser minha. Veio numa leva de mudanças e foi parar à casinha das máquinas. 
E eu só vejo que a solução para aquela casinha passa por tirar de lá a dita cuja. Poderíamos levá-la e colocá-la na cave da outra casa. Mas acho que não deve caber no carro. E é pesada que ninguém imagina. O meu marido fuzila-me quando falo nestas coisas. Mas para lá colocar o guarda-fatos, supondo que ele não o desfaz antes, acho que não há outra solução. 

Só tenho coisas que me ralem, é o que é.


Portanto, como se vê, esta sexta-feira avizinha-se problemática. Vai ser daqueles dias em que mais vale exprimir-me por gestos ou, melhor ainda, estar calada, talvez mesmo fazer-me de morta. A ver vamos, como diz o ceguinho, se chego ao fim do dia ainda casada. 

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Estou precisada é de ioga. 
A ver se, inspirada aqui pelo meu velho amigo Larry, no regresso ao trabalho tenho uma vida mais tranquila e se arranjo tempo e disposição para ir fazer ioga. 

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As imagens de sarcasmo clássico são da autoria de Adnan Cirak que tem uma página cheia delas
Roaring 20s - Panic! At the Disco com Therese Curatolo & Jabu Graybeal
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Desejo-vos uma happy friday cheia de coisas boas
Força aí

2 comentários:

Pôr do Sol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Não sabia que J.C. falava inglês!