Há gente que gosta de complicar. Ou então, a complicação é a justificação de que precisam para a coisa não ter saido melhor.
Percebo quem gosta de fotografar, quem precisa de fotografar, se percebo. Parece que nem vejo bem as coisas se não as vir através da lente, e a Leibovitz que não me ouça não vá pensar que estou a tirar-lhe as palavras da boca.
E o que eu gosto de fotografar pessoas... Claro que também gosto de fotografar o tempo que passa nas paredes, um pássaro que hesita, um veleiro que passa ao longe, transparente. Mas prefiro fotografar pessoas. E prefiro fotografá-las à sorrelfa, fixar a espontaneidade dos gestos, a nudez das expressões genuínas, a elegância de quem vê uma paisagem, a aproximação que precede um beijo, a solidão de quem se senta sozinho.
Mas também circulo de máquina na mão nas reuniões familiares, quando ninguém dá por mim. Circulo silenciosa como uma gata, estão todos tão entretidos que nem dão por mim, apanho os sorrisos familiares durante as conversas, a atenção de quem escuta uma novidade, a intimidade de uma mãe combinando coisas com os filhos, coisas assim - e isto, claro, já para não falar nas crianças, cujo percurso acompanho de perto, através da lente, e nos meus braços, aconchegados bem perto do coração.
Nunca pensei em fazer produção à séria mas, se o fizesse, talvez gostasse de o fazer, talvez tivesse ideias com piada, talvez escolhesse uns décors com pinta (presunção e água benta...). Claro que me divertiria também a escolher toilettes, adereços. Mas será que uma pessoa normal se sujeitaria a tanta produção só para ter umas simples fotografias?
Por exemplo, se pensar em algumas pessoas que 'conheço' aqui da blogosfera, ponho-me logo a imaginar. A uma, que tem o olhar doce como o mel, arranjaria maneira de a apanhar na brincadeira ou no mimo com as suas patudas mas sem ela dar por isso, imagino-a em contraluz, carinhosa, o afecto espalhado pelo ar. A outra imagino-a no meio de crianças, debruçada sobre elas, muitos sorrisos em sintonia. A outra imagino-a na penumbra, olhar ausente, um pesado cortinado por detrás, trazendo ainda mais sombra à imagem - mas a luz haveria de iluminar, cirurgicamente, o seu olhar. A outra imagino-a sorridente, escolhendo pulseiras ou écharpes, as mãos mergulhadas em cor, coquette, sem idade. A uma outra imagino-a à beira mar, talvez no cais das suas memórias, como se aí procurasse um lugar que recorda da sua infância, e estaria de de mão dada com uma menina. E por aí fora. Mas não apenas fotografaria leitoras, não: também fotografaria homens. E a um eu imaginava-o sentado a uma secretária, livros nas mãos, debruçado sobre exames médicos, de noite, um candeeiro incidindo nos papéis; a outro imagino-o a passear, entre árvores, tentando simular um quadro de Magritte; a outro imaginaria passeando nas escarpas, o mar em fundo, um cão saltando ao seu lado; outro entre os ramos grisalhos do meu cedro, a sabedoria de ambos quase se confundindo; e mais, uma produção específica dedicada a cada um. Gostava de o poder fazer. Seria uma forma de agradecer aos que aqui me fazem companhia.
Fotografar uma modelo profissional já a mim me parece quase desprovido de interesse. E, no entanto, talvez que, para satisfazer encomendas, os fotógrafos montem projectos, produções que acabam por exigir criatividade - e daí nascerá, seguramente, a motivação. Acredito que sim. Claro que depois há uns outros que, talvez para disfarçar alguma inconsistência artística, inventam situações complicadas e, aí, o objecto de interesse deixa de ser a fotografia em si e passa a ser o acto de fotografar.
Shelby Carter by Allen Henson |
Allen Henson é um desses casos. Gosta de fotografar modelos com pouca roupa e em locais públicos.
Assim de repente lembro-me de um outro, Roy Stuart, cujas fotos se poderão considerar soft porn, que também gosta de ter as suas modelos na rua ou em situações públicas ou semi-públicas, mas o resultado parece-me talvez mais interessante do que o do Allen Henson que, do que vi, é tudo muito óbvio, muito b-a-ba.
by Roy Stuart |
Vem isto a propósito do vídeo que tem dado que falar, com Henson e a sua modelo meio descascada, Shelby Carter, numa sessão no meio de um restaurante em Nova Iorque. A coisa passa-se numa esplanada, ela entra em lingerie, toda a gente fica sem perceber o que se passa, e ela, para que o plano de festas fique ainda mais animado, tira o soutien e ali fica a posar - até que é expulsa do restaurante. Fim de história.
Este é o filme.
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Queriam que eu tivesse falado, antes, do Pontal...? Do bronze do Coelho? Ora. Era mesmo o que me faltava. Claro está que talvez pudesse ter dissertado um pouco mais sobre qualquer outra coisa. Mas sabem lá a canseira que foi o meu dia. Passa das duas e meia da manhã estou cheia de sono e de cansaço e, por isso, com as vossas desculpas, vou mesmo ficar-me por aqui.
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E tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado.
E já sabem: se quiserem que eu vos fotografe, é só dizerem. E se acham que até sim mas que agora estão com o cabelo muito sem jeito, relembro que também corto cabelos. A sério.
6 comentários:
a única coisa que crítico neste (e noutros do estilo) é a falta de gosto na escolha das modelos (parece que o único requisito é ter um bicho, bem ou mal passado).Made in Portugal ( e com muito bom gosto)-http://edeuscriouamulher.blogs.sapo.pt/
LOL!
Essa energia 'débordante' exaure-me...
Mas o resultado é extraordinário. Deveras.
Um dia gostei de posar, quem sabe um dia penso em retomar...
;)
Acho este tipo de atitudes um abuso. As "estrelinhas" acham-se no direito de fazer tudo o que lhes apetece, mas será que as pessoas que estão na esplanada estão com disposição de assistir a este espectáculo deprimentezinho?
É como a maior parte dos "apanhados" que se fazem por aí, em que o sentido de humor consiste na humilhação das pessoas que não pediram para ser incomodadas.
Há público para tudo. Os limites da moral. da decência e dos direitos dos outros, andam pelas ruas da amargura.
Isto não me choca nada, mas não concordo com este incomodar o sossego dos outros.
Quem quer ver este tipo de show sabe bem onde há-de procurá-lo, portanto cada coisa no seu lugar.
Um beijinho e bom fim-de-semana!
Não, não Querida Jeitinho, pelo contrario!
Aprecio muitissimo os intervalos que faz sobre a "classe" politiqueira.
Fiz algum esforço para não apanhar com as noticias do Pontal e os perdigotos de arrogancia disparados.Não me livrei de todos, mesmo assim.
Numca apanhei uma artistice destas numa esplanada, mas não me agradaria, assim como não gosto de ser importunada por tocadores de acordeão quando me disponho a gozar o silencio de uma esplanada à beira rio.Um destes dias responderam-me: -Se fosse em Paris já amavas- Pois é! Porque será?
Bom fim de semana. Afaste-se do Pontal, causa nauseas.
Pois eu, por muito que tal possa chocar terceiros, aprovo este tipo de iniciativas. Não só não me incomodam (podem pertubar o meu espantado espítito, mas nada mais do que isso) como me divertem. Ver uma mulher bonita e bem feita naqueles trajes só me revitaliza alma. Serei machista? Não, seguramente que não. Gosto, tão só, de “coisas” bonitas. E uma mulher bonita, sobretudo a aparecer-nos, assim, sem esperarmos, não me ofende nada. Anima-me, ou, como não estava lá (infelizmente!) animar-me-ia, o dia, a semana e o mês!
Ficaria muito mais mal disposto se me surgisse pela frente, no restaurante, a Maria Luis Albuquerque, o Passos Coelho, o Paulo Portas, o Gaspar, o Moedas, ou se sentassem na mesa ao lado da minha. Sinceramente, e digo-o com toda a frontalidade e sinceridade, se por um azar dos cabrais isso me suceder, peço de imediato ao “garçon”, para me mudar de mesa. E faço-lhes sentir (a essa gente) que não estou disposto a comer com eles por perto. Ali ao lado. Ou vão eles para longe de mim, ou eu para longe deles!
Aqui há uns 10 anos fui surpreendido, ao passar por um restaurante em Budapeste, por uma inesperada (para quem lá estava sentado, na esplanada) passagem de moda de lingerie, do mais sexy ao mais clássico. Raparigas bonitas, roupa interior ousada, etc. E lá fiquei a ver. Situações destas não acontecem todos os dias. E nem o Criador me chingou a cabeça mais tarde, nem muito menos a minha consciência.
Da vida deve-se aproveitar o que de agradável ela nos proporciona. No caso vertente, naturalmente como homem, veria a a cena que aqui nos descreve e de seguida retomaria a minha refeição. Pagaria a conta depois e seguiria caminho. Mas levaria comigo uma recordação muito agradável. A de ter visto uma bela rapariga naqueles “propósitos” e, no meu íntimo, desejar-lhe-ia as mairores felicidades para a sua vida futura!
Já se fosse com o Passos a desejar-lhe-ia uma data de maldades! A ele a aos outros figurões que atrás enumero.
Boa noite!
P.Rufino
Olá UJM,
Também acho que tudo tem o seu limite. Há fotógrafos e modelos que, na ânsia de serem originais, criativos e ousados ultrapassam os limites do bom senso e do bom gosto. Ninguém tem o direito de nos incomodar quando nos encontramos num restaurante a jantar com amigos, ou familiares, pois cada pessoa tem as suas susceptibilidades e se não estava previsto qualquer evento dessa natureza naquele local, o cliente não tem obrigação de suportar uma coisa que não aprecia e que lhe estão a querer impingir. O cliente até devia de responsabilizar o proprietário do restaurante pelo incómodo que lhe causou. Cada coisa no seu devido lugar!
Obrigada por este post diferente e um bom domingo.
Um beijinho
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