quarta-feira, outubro 02, 2013

PSD: no Conselho Nacional os Ribaus Esteves, os Marco Antónios, e até os Aguiar Brancos e outros que tais vão correr com o António Capucho, com o Paulo Rangel, com o Rui Rio e com outros? É chegado o tempo dos cães com pulgas expulsarem os barões? (sem ofensa para os verdadeiros cães com pulgas, claro). 'Todos os animais são iguais - mas alguns são mais iguais que outros'? É esta a versão Passos Coelho da noite das facas longas? Não sei. Só pergunto que eu desta matéria não sei de nada. Eu cá sou mais coisinhas simples. Andar à noite nos cais, por exemplo.


E sobre o assunto em epígrafe pouco mais tenho a dizer. É tema que não me assiste. Confesso que gostava que se pegassem todos uns com os outros, que o Capucho, o Rui Rio, o Paulo Rangel e outros militantes decentes se deslocassem para a galeria enquanto a poeira não assenta e deixassem a maltosa (os acima citados mais o Seara, mais o Pedro Pinto, mais o Menezes, mais o Abreu Amorim e mais toda essa gente fina que por lá pulula) engalfinhar-se toda, uns nos outros.

O José Luís Arnaut já veio apontar o dedo ao Passos Coelho e avisar que se querem partir para a caça às bruxas devem pensar bem antes pois a culpa toda da hecatombe a que se assiste no PSD se deve à sua liderança e não a A, a B ou a C.. 

O PSD é uma boa amostra do que é o País: gente capaz e gente incapaz, videirinhos e gente decente.

O drama é que ultimamente o piorio alapou-se e a gente capaz quase tem que andar escondida.

Mas é coisa lá deles, não tenho nada a ver com isso.

No entanto, a bem do País, era bom que houvesse um golpe (palaciano ou de faca e alguidar, tanto se me dá) que afastasse o rebotalho e deixasse que a gente de bem voltasse a ter lugar nos órgãos dirigentes do partido.

Mas adiante que tenho mais que fazer que gastar prosa com o PSD.

*

Há pouco (ver post abaixo) contei-vos o castigo que foi vir a conduzir durante séculos, no pára-arranca, com uns sapatos novos, altíssimos, depois de um dia inteiro montada neles.

Pois bem. Mal cheguei a casa tive um prazer dos danados, quase uma coisa como aquela que a Adília Lopes, Irmã Barata, Irmã Batata, nunca experimentou: descalcei-os, mexi os dedinhos dos pés, tão bom, que alívio... Depois mudei de roupa, calcinha desportiva, pólo, impermeável fino, e, maravilha das maravilhas, uns ténis confortáveis, pés à larga, adequados à caminhada. 


E, agora, música, por favor




Noite cerrada, chuvinha miúda, e lá vai ela, direitinha à beira do rio.

Não uso sombrinha (excepto se chover a rodos), a franja retém a maior. Gosto de sentir a chuva na pele, sabe-me bem, lava-me a alma, refresca-me o espírito.

Àquela hora nem vivalma no cais. Apenas as cordas dos barcos rangem, lamentos profundos, quase um choro. O rio está negro, a cidade quase parece não existir, a neblina e a noite envolvem-na.

Um pouco mais à frente um vulto mesmo sobre as águas. Talvez pesque ou talvez apenas sinta o cheiro intenso que vem das águas. A água bate com força nas colunas do cais, cheira a mexilhões, a limos, a algas frescas, a maresia intensa, tão bom, tão bom.

Lembro-me de, quando era pequena, querer sempre que o meu pai me levasse com ele quando ia à pesca à noite. Ele não queria, era uma guerra, que não havia por lá nenhuma menina, que aquilo eram só homens, que não, que não. Por fim, vá, anda lá, mas é a última vez, não tem jeito nenhum.

Já crescidinha e ainda queria ir. Talvez até aos treze, catorze anos. Uma tentação. Depois o meu pai deixou de se interessar pela pesca, a minha mãe ficava um bocado aborrecida quando ele chegava com um balde cheio de robalos, horas e horas a amanhar peixe, tanto peixe; e agora vamos andar só a comer robalos?

Mas, enquanto ele foi, era à noite que eu mais gostava de o acompanhar. 

No cais havia uns buracos redondos no chão. Os pescadores apontavam uma luz para a água e enfiavam, por esses buracos, um artefacto com uns ganchos para apanhar lulas. Elas eram atraídas pela luz e ficavam presas. Era só puxar a corda e tirá-las para o balde.

Eu gostava de andar a cirandar pelo cais, escuro, apenas aqui e ali uma vaga luz amarela. Sombras muito longas, silêncio e o marulhar das ondas, e gostava de ir ver o que os outros pescadores apanhavam. O meu pai ficava furioso comigo, não me queria por ali no meio dos pescadores, sabe-se lá quem são, sabe-se lá o que pensam, não te quero por aí.

Mas, então, conseguia lá eu estar quieta...?

Ainda se eu fosse maria-rapaz. Mas não era. Sempre fui muito feminina. Cabelos compridos, soltos, ou, quando era mais miúda, em tranças para ser mais fácil manter-me com ar penteado. Roupas femininas. Modos femininos. Mas sempre a preferir os ambientes frequentados pelo sexo masculino. Mas não era por isso, é porque os homens, quando juntos, são mais pacíficos, as mulheres são mais quezilentas, gostam da intriga e eu não. Mas, então, o ambiente de cais à noite é mesmo à minha medida. Os pescadores são gente calada, pensativa. Gostam de olhar o mar, ou ficam sossegados a olhar a ponta da cana, a ver se 'pica'. 

E eu, quando era pequena, andava por ali a vê-os, a ver os peixes que já tinham apanhado e depois ia contar ao meu pai, aquele ali tem estado a pescar maçacotes, o outro lá à ponta apanhou uma sargueta das grandes. Depois o meu pai olhava o relógio, já é tarde, se eu tivesse vindo sozinho podia ficar... mas contigo... e logo agora que está a dar é que tenho que me ir embora. E eu dizia que não tinha sono, para ficarmos mais um bocado, para apanharmos mais uns quantos. Falava no plural, eu, era como se fosse trabalho de equipa, eu ia tirando o isco, ia à caixinha escolher outra chumbada porque uma tinha ficado presa no fundo, coisas assim.

E depois, quando chegávamos a casa, já a minha mãe estava a dormir e o meu pai ia com sentimento de culpa por ter condescendido a levar-me, não são horas para uma menina andar a pé, a chegar da pesca a uma hora destas, vês lá mais alguma? Mas o que eu gostava daquilo.

Agora, quando ando por aqui à noite, a cheirar-me a mar escuro carregado de peixes, lembro-me dessas outras noites. Parece que foi há tão pouco tempo. O meu pai muito jovem, cabelo liso, preto, com o vento a dar-lhe na franja muito lisa, todo ele com porte desportivo. Ainda tem o cabelo assim, liso, mas agora é um bocado grisalho. Só que já não pode ir para a beira do cais, mal consegue andar. Não lhe falo nisto porque receio que se sinta ainda mais triste.

*

Nem sei porque agora me deu para esta conversa tão pouco animada, deve ser ainda influência das dores nos pés. A música, que é linda, flauta feita com as mãos interpretada por Mitsuhiro Mori, foi-me enviada por um Leitor a quem muito agradeço. Gostei, sim senhor, acertou. Muito obrigada.

*

  • A imagem do Cacos Coelho provém do blogue We Have Kaos in the Garden.
  • Para perceberem a 'cena' das dores nos pés é descerem, por favor, até ao post a seguir a este.
  • Para o caso de quererem ver e ouvir mais um maravilhoso vídeo do Cine Povero, desta vez com o Mário Viegas a dizer Ruy Belo, convido-vos a virem até ao meu Ginjal e Lisboa, a love affair.

*

Resta-me desejar-vos, meus Caros leitores, uma bela quarta feira. Saúde e alegria. E sorte, que dá sempre jeito.

8 comentários:

jrd disse...

De como se pode escrever um poste muito interessante mesmo dando um certo destaque a essa figura sinuosa e sempre bem recompensada de nome Arnaut.

Anónimo disse...

E saber que essa idas à pesca podem ter sido de uma grande utilidade para a sua vida profissional.Principalmente numa grande empresa,"conheceu a empty box".No vídeo min 3.21 e 4.12.

https://www.youtube.com/watch?v=xxtUH_bHBxs

Anónimo disse...

e os Pais a ajudar os filhos a preparar uma refeição no SEC 21 - https://www.youtube.com/watch?v=QUUChL2cXes

Anónimo disse...

Game Of Thrones "Official" Show Open (HBO)- https://www.youtube.com/watch?v=s7L2PVdrb_8

e em guitarra acústica - https://www.youtube.com/watch?v=rfEwjvCJpfI

Anónimo disse...

e nada como os animais para colocar um sorriso no mais sério - https://www.youtube.com/watch?v=sYz11qXDXz0&list=UUaNYLHj8R_ozTZ7Myk2RU1A

Anónimo disse...

Aquilo é um saco de gatos! Imagino a cena: o Aguiar com um olho negro, a Rangel com a camisa rasgada, o A com um sapato na mão depois de ter agredido B, C rouco depois de tanta berraria, D com a (mini) saia rasgada, E despenteada e fula da vida, F no chão depois de uma joelhada bem dada, G com as faces vermelhas depois de dois estalos bem aplicados, H a chorar, I a consolá-la (com segunda intenções), J com o nariz a sangrar, L escondido por detrás de um reposteiro, M com o traseiro numa lástima depois de lhe terem arreado umas boas palmadas, N a inspeccionar o dito traseiro, O a fazer oh, oh, nocaute, P a vomitar injúrias sobre tudo e todos, num estado de total confusão espírito, R aflito para ir ao WC, que estava ocupado por Q, S a filmar tudo, T a segredar aos jornalistas toda aquela confusão, U com um sobrolho deitado abaixo, V assistido de urgência pelos para-médicos, X a tentar falar, sem conseguir, Z a dormir de cansaço e finalmente W, Y e k, estrangeiros, ali a convite, sem perceberem nada do que se disse e do que se passou. E o no extremo da sala, o Massamá a telefonar á mulher: “olha, vem cá buscar-me que isto correu mal, houve aqui uma espécie de motim e como não tenho mão nisto, o melhor é pigar-me antes que sobre para mim!” – “Sim amor, calma, vou já ter contigo, não te assustes, bjs, Laurinha!”
P.Rufino

Anónimo disse...

com a internet temos acesso a outras histórias de vida,o que faz (no meu caso), relativizar problemas - https://www.youtube.com/watch?v=VumaWumENEk

O Puma disse...

Um dia talvez falemos apenas

de coisas sérias
por agora acanalha anda à solta