Depois de vieiras salteadas sobre tártaro de manga e flor de sal, charutos de choco em tempura preta sobre folha de sishô, sashimi kisetsu e mais uns sushis de salmão e ovas e ervilhas não sei das quantas crocantes, eis que resolvemos arriscar e, para além dos convencionais chocolates em três texturas com amêndoa torrada, morango e isto, aquilo e o outro, resolvemos provar o carpaccio de abacaxi com gelado de gengibre e alfazema com sementes de qualquer coisa, rebentos de coentros e outra coisa qualquer.
Pois o que vos digo é que é do mais delicioso que já provei. Bom, bom, bom. A cor do gelado é lilás, lilás intenso, e sabe a alfazema, mesmo, mesmo a alfazema. Mas, oh céus, é tão bom, mas tão bom. E enrolando o gelado numa lâmina de abacaxi, com um rebento de coentro, oh senhores, que coisa tão boa. Só de me estar a lembrar já estou com vontade de lá voltar amanhã. Ai meu deus.
À socapa tirei esta fotografia com o telemóvel para vos mostrar. (Não sei se a receita é exclusiva daqui mas estas iguarias foram papadas no SeaMe) |
Antes tínhamos feito a nossa caminhada à beira Tejo (Descobertas, Torre de Belém) que por estes dias anda repleta, repleta de turistas (acho que não me lembro de ver tanto turista em Lisboa, especialmente nestas zonas mais turísticas). Tanta gente. Contudo, conhecedores que somos destes meandros, fugimos da multidão e, um pouco mais à frente, encontramos o sossego, o silêncio, a paz suave do entardecer.
À frente da Fundação Champalimaud quase não há ninguém, apenas uns dois ou três pescadores, dois ou três casais de namorados, um ou outro turista com ar curioso. Claro que a esplanada está cheia. Lá podem ver-se os apreciadores da natureza e da verdadeira qualidade de vida - mas a esplanada está num nível mais elevado. Quem lá está, está como se estivesse no convés de um paquete, lendo, contemplando, rezando talvez. De lá não vem um som.
Cá em baixo, rente ao rio, a serenidade é total.
Caminhar por aqui, em silêncio, ver um ou outro veleiro que desliza suavemente, ver uma ou outra gaivota que por aqui voa, bailarina cintilante que se move em toda a sua leveza, traz-me uma paz total. A maresia suave, a quietude, a beleza, são-me muito necessárias.
E andar até que a noite comece a cair - que bom que é. Depois de um dia de trabalho, nada como isto para descansar a cabeça, para fazer reset, para deixar o espírito leve, apaziguado.
Os dias ainda estão grandes. Daqui por pouco, caminharei até que a noite invada o rio. Mas hoje, quando nos viemos embora, ainda era apenas lusco-fusco.
A lua brilhava sobre os veleiros da marina. A luz a esta hora é muito bela, muito suave, dourada. E a temperatura a esta hora é agradável, temperada, a aragem que sobe do rio é muito fresca, perfumada.
Depois, de novo com outros sapatos (que a toilette é a mesma ao longo dia, o que mudam são os sapatos e os adereços), fomos até um dos bairros de Lisboa de que mais gostamos: o Chiado. Cheio. Turistas, turistas, turistas. Os restaurantes cheios. Dá ideia que, quem costumava ir para outras paragens (Egipto, Turquia, sítios assim), se desviou para Lisboa. Dá gosto a cidade assim, cheia de vida e alegria.
Um grupo dançava ao som de uma música animada, uma roda de gente à volta aplaudia. Ao pé da estátua do Chiado há sempre festa.
A Brasileira, a Bénard, cheias. Não há vez que lá passe que não esteja alguém a ser fotografado ao lado de Fernando Pessoa. Nunca ele teve tanta companhia.
O homem estátua que levita também lá estava, está sempre, começo a duvidar que seja sempre o mesmo. A fotografia deve ter sido tirada às dez e tal da noite mas se lá passar ao sábado à tarde ou, tenho a sensação de que a qualquer outra hora, lá está ele, naquele equilíbrio instável e imóvel.
Passear em Lisboa é sempre uma maravilha e é pena que os lisboetas (e portugueses em geral) não se habituem a vir passear, desfrutar a beleza da cidade, descobrir os seus recantos, as suas lojas. No entanto, progressivamente vou vendo mais gente (autóctone) na rua: é uma tendência que se vem notando.
E há cada vez mais lojas novas, diferentes. Continuam a resistir as clássicas (como, por exemplo, a Paris em Lisboa ou a Vista Alegre) mas, aparecem agora, lojas de design, ou temáticas, ou vintage. Toda essa mistura dá vida à cidade.
E foi então, ao regressarmos, dirigindo-nos para o parque de estacionamento, ao atravessar ali no início da rua da Misericórdia, do Chiado para o Camões, que, em vez de ir pela passagem de peões, para me desviar da multidão, fui um bocado ao lado - eu de salto alto, blusinha fresca, sem mangas, saia de tecido leve, pregueada, branca, colar e brinquinhos de pérolas, que é como quem diz a modos que light urban chic.
E, então, sem me aperceber, fui por cima de uma grelha que estava na estrada, e nisto, sem ter tempo de me prevenir, fiquei com a saia pelos ares, esvoaçando quase à altura da cintura. Soltei um pequeno grito e tentei com as mãos agarrar a saia mas só quando saí de cima da grelha é que consegui controlar a situação. Foram apenas segundos, ah pois foram, mas, deus meu, foi o suficiente para ficar todinha exposta, o underware todo à vista. Ao chegar ao lado de lá, no Largo Camões, uma jovem sentada num banco riu-se. Pois não, um espectáculo daqueles. Depois avancei de olhos baixos para não ver mais ninguém com ar de riso.
Era talvez a grelha de ventilação do metro, não sei. O que sei é era um vento quente que soprava lá de baixo com força, mas ó que força. A Marilyn já sabia o que lhe ia acontecer, agarrou a saia. Eu nem isso. Além disso, a minha saia é mais curta e de um tecido mais leve que a dela. Deve ter sido lindo.
(É que se o ventinho ainda fosse fresco...)
(É que se o ventinho ainda fosse fresco...)
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E agora: Lisboa de Fernando Pessoa,
um vídeo divulgado no YouTube por Margarida Correia
com o Fado Pessoano interpretado por Ana Moura
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Tinha pensado escrever sobre a nova lei orgânica do governo que parece que deixa Paulo Portas pendurado (mas alguém está à espera que Passos Coelho se torne naquilo que não é?) ou sobre as apostas a dinheiro sobre se o namoro da Marisa Cruz com o hoquista Pedro Moreira chega ou não ao fim do verão (assunto de supimpa importância, como é óbvio).
Mas, afinal, pus-me a escrever sobre a minha amada Lisboa e marimbei-me para aquelas silly coisas. Pode ser que amanhã me apeteça falar nisso. Logo se vê. Como devem andar a reparar, estou sem um mínimo de pachorra para o Passos Coelho e adjacências mas, enfim, algum dia tenho que me dispor a sujar as mãos escrevendo sobre ele. E sobre apostas a dinheiro em relação a namoros do jet setinho, então, nem sei bem o que dizer mas talvez, se puxar bem pela cabeça, me ocorra alguma coisa.
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Hoje fico-me por aqui.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira. Bons passeios.
Cheguei a casa tarde e más horas e, com isto, passagem de fotografias para o computador, redução da definição de algumas para não sobrecarregarem muito, senão tenho a impressão que o UJM levava muito tempo a abrir, escrever e tal e coisa, já são 2 da manhã e estou cheia de sono (eu sei que isto do sono é um déjà vu, peço-vos desculpa).
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira. Bons passeios.
(E para os que são bons a fazer doces, aqui deixo um desafio: e que tal descobrir como se faz o gelado de alfazema e gengibre?)
5 comentários:
Querida UJM
Isto é que é uma explosão de cores e sabores! Então, à mistura com a magia da sua escrita é a 'tempestade' perfeita :))
Vi-me transportada para a nossa amada Lisboa, em Belém e depois no Chiado, aquele bairro!, que tem sempre um encanto especial para mim, mais o Tejo, tudo ilustrado com as suas belas fotografias, que é um gosto.
Quanto ao gelado e aquelas preciosidades todas, fiquei com água na boca.Se alguém se aventurar a trazer para aqui a receita (do gelado) virei bisbilhotar. :)
Beijinhos
Olinda
Lisboa á noite, sobretudo nesta época, é muito agradável. E o Chiado e a zona circundante, uma pequena maravilha. Estivemos por lá recentemente. Que animação! Gente bem disposta, de todas as idades, nos restauarantes, ruas, bares, etc. Essa da sua saia (curta!) a esvoaçar, qual Marilyn, é patusquíssima!
P.Rufino
Lisboa á noite, sobretudo nesta época, é muito agradável. E o Chiado e a zona circundante, uma pequena maravilha. Estivemos por lá recentemente. Que animação! Gente bem disposta, de todas as idades, nos restauarantes, ruas, bares, etc. Essa da sua saia (curta!) a esvoaçar, qual Marilyn, é patusquíssima!
P.Rufino
Olá olinda,
Que bom vê-la de passeio por aqui! Espero que já esteja completamente bem. Se estas coisas pudessem acontecer por tele-transporte, encomendava um gelado destes e mandava entregar-lho...!
Beijinhos e muito obrigada pela visita e pelas palavras!
Olá P. Rufino,
Sabe que o meu filho e a minha nora leram isto e hoje, quando à noite falei com ele, estavam eles os dois a rir, no gozo comigo, que aquela saída de ar é um clássico no Chiado, que há quem se sente naqueles bancos à espera de ver as mulheres que ficam com as saias pelos ares...
Imagine só. E eu tanto que por ali passo nunca tinha dado por isso. É que geralmente passo na passadeira e ontem, como estava imensa gente, passei ao lado. Ou, se fosse da calças, também não me teria apercebido daquele efeito.
Enfim. Agora já estou vacinada...
Agora, só de pensar naquela 'cena' farto-me de rir...!
Uma boa noite para si!
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