quinta-feira, novembro 25, 2010

As Vidas dos Outros num livro de Pedro Mexia e A Vida dos Outros num grande filme

O mais recente livro de Pedro Mexia, um dos proeminentes ministros do Governo-Sombra de Carlos Vaz Marques, chama-se 'As vidas dos outros' e reúne crónicas publicadas no Púlico entre Agosto de 2007 e Setembro de 2010. Por isso, para quem as leu em seu devido tempo, não são novidade. Para mim são.

São pequenos apontamentos biográficos, comentados e interpretados com a inteligência e a delicadeza que se lhe conhecem. Tenho uma certa reserva mental em falar de erudição (e refiro-me ao termo usado por Rui Ramos no prefácio) em relação a alguém que nem 40 anos tem mas há, sem dúvida, investigação, estudo, inteligência e intuição; e fruição do gosto pela escrita.

Desde Paulo de Tarso, a Ticiano, a Darwin, a Sinatra, a Solnado, a Ives Klein, a Francis Bacon (que referirei em próximo texto), passando por Freud, Camus, Lady Di até a uma de que gostei especialmente, pelo sentido tributo de gratidão a João Bénard da Costa, são quase 60 crónicas que se lêem com gosto.

(Um dos montinhos em que os meus livros - quais coelhos...- se juntam quando se reproduzem. Juntei uma lupa, por graça, ao livro do Pedro Mexia)


O título do livro, muito bem escolhido, fez-me recordar um filme de 2006 que vi no cinema à altura da exibição e de que já tenho também o DVD. É um filme alemão e é seguramente um dos filmes de que mais gostei nos últimos anos. Recebeu o Oscar e o Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro.

Uma vez mais temos a ambiguidade das personagens com quem não devemos simpatizar mas em que, à medida que aquele homem - que, de início, merece viva repulsa - vai mudando, o nosso sentimento para com ele vai também mudando.

No início é uma figura que nos desperta desprezo, um agente da Stasi que faz escutas a um casal ligado à cultura, tentando obter pistas incriminatórias; mas, progressivamene, vamos assistindo à sua  lenta, quase insignificante transformação até que, no final, estamos perante um homem que nos emociona com um gesto desprendido de inesperada grandeza.

O actor principal - com uma brilhante e contidíssima interpretação - morreu no ano seguinte.

Recomendo vivamente este filme, tal como recomendo o livro do cinéfilo Pedro Mexia.


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