sábado, setembro 15, 2018

Sorry, Sr. Presidente, não lhe segui o exemplo:
não fui capaz de mergulhar na Fróia*...


Só para desfazer já as ilusões: não foi por mais nada, foi mesmo só pelo bucho e pelos maranhos. Love, love, love. Ou seja, estando por ali, nem pensar em vir embora sem os ir manjar onde eles são de a gente se lamber e chorar por mais. 

Portanto, o percurso de volta passou pela Sertã e, de caminho, por Proença-a-Nova.




E, já que estávamos em Proença, nem pensar em passar por lá sem ir até à Fróia, essa bela praia fluvial.
* E, note-se, não sei se o Marcelo também por lá banhou o seu mundano corpo mas, dado como é a tirar a roupa em qualquer lugar, se esta praia fluvial lhe escapou foi por mero acaso e, de resto, nada nos garante que um belo dia não estejamos nós de mantinha sobre os joelhos a ver televisão e não nos entre ele, todo lampeiro, sala adentro, a mergulhar nas verdejantes águas da Fróia.
Adiante.

Pensámos: para lá chegarmos, deve haver indicação, placas, quelque chose. Mas perceber que quem não é do sítio precisa de ter placas de orientação é coisa que os nossos municípios, de maneira geral, ainda não perceberam. Podíamos ter tentado logo o gps mas resolvemos, antes, fazer as coisas à moda antiga. Ir até ao centro, dar um passeio, ir até ao Turismo.


E foi o que fizémos. Démos uma voltinha a pé, procurámos os Paços do Concelho e lá démos com o Turismo. Uma jovem simpatiquíssima deu-me um mapa, explicou-me.

Ao entrarmos no carro, lá transmiti as indicações mas o meu marido, achando que eu não estava a ser clara, insistia: há-de haver indicação de praia fluvial ou de aldeias de xisto, qualquer coisa. Sim, sim, era bom. Sendo pontos de atracção no concelho, era normal que estivessem devidamente assinalados. Nada. Acabei por tentar o gps e felizmente lá tinha a Fróia. Sorte. É que só mesmo junto ao sítio onde se vira é que tem uma placa. O costume.

Mas, chegando lá, a gente esquece a falta de visão dos autarcas e focamo-nos é no que a nossa própria visão nos dá a ver.

Uma maravilha. Já conhecíamos mas a lugares assim pode sempre voltar-se que nunca será de mais.

Verde que te quero verde. Um mundo tranquilo todo em verde. Lá em cima, na estrada fazia um calor abrasador mas cá em baixo, junto à água, no meio do arvoredo, estava um fresquinho verde de dar gosto.



Não sei que erro de paralaxe é este que, ao projectar-nos nas águas, me deixa redonda e  põe o meu marido barrigudo e mais pequeno que eu
Por estas e por outras é que não gosto de selfies: parece que desfavorecem uma pessoa, credo

Estava, pois, com vontade de seguir o conselho do nosso ubíquo Presidente-Nadador e mergulhar nas águas da praia fluvial. Mas, olhando para o fundo, não consegui. A água escura, na beira um fundo pedregoso e a meio nem se via o fundo. Não consegui. Não sei que monstros se escondem em águas assim, não sei se haverá piratas submarinos a puxar as pernas das ladies que se afoitam, não sei se há tubarões de água doce, polvos gigantes ou medusas enleantes e perigosas. Não. A mim não me apanham em águas que não sejam transparentes. Aliás, corrijo: a água até é capaz de ser transparente mas o fundo e as margens devem ser escuras e toldam a visão. Ou isso ou outra coisa qualquer que não deixa ver. Portanto: andei e passarinhei, fotografei mas não mergulhei.


Agora uma coisa tenho eu a dizer: ainda não sabemos valorizar o património riquíssimo que temos. Lugares paradisíacos como estes são ainda quase desconhecidos do mundo. E quando falo do mundo não preciso de ir longe. Num dia de calor (trinta e tal graus) e com muita gente ainda de férias (já para não falar nos que não trabalham como, por exemplo, os reformados) não estava lá mais do que uma dúzia de pessoas. 

Está certo que não é preciso que haja enchentes que estraguem ou descaracetrizem a beleza natural dos lugares mas o turismo de qualidade sabe conciliar o melhor dos mundos. Mais turismo traz mais riqueza aos lugares, mais emprego, mais oportunidades. 

Proença-a-Nova tem um potencial que, à vista desarmada, se vê que é enorme e, no entanto, do que conheço (e que, confesso, não é muito), não parece saber tirar partido disso.

Adiante. 

Dali rumámos à Sertã. Estava muito calor, mesmo muito. Demos um passeio no bonito e cuidado jardim e, de seguida, até porque estávamos quase no limite do horário, fomos então ao bucho e ao maranho. Bons, bons, bons.


E dali iniciámos o caminho de regresso. Já cá estou, in heaven. O bem que me sinto aqui, a alegria com que chego a casa, são difíceis de explicar. Já andei a varrer a caruma à volta da casa, já andei aos figos, já assei um cabrito no forno, com alecrim e mel. E aqui estou, sossegada, partilhando convosco estas minhas andanças.

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E, agora que já acabou o filme Eu, Daniel Blake que passou na rtp2, devo dizer que, se não viram, devem vê-lo. Penso que é imprescindível e urgente vê-lo. A situação de quem se vê numa situação de fragilidade, sem meios, sem ter a quem recorrer, à mercê de mecanismos e organismos frios, insensíveis, onde não há consideração pela dignidade humana nem compreensão para com a vulnerabilidade de quem nada tem, pode ser de total desespero. A história de Daniel e de Katie é de partir o coração. E é, acredito, o retrato realista do que se passa nessa parte do mundo real em que as pessoas são a parte menos importante, nesta Europa que, por vezes tratar assim os seus cidadão. E é isto que tem vindo a abrir a porta ao populismo, à xenofobia e a tudo o que de mais temível está à espreita. Tentem ver este filme, é o que vos recomendo.

4 comentários:

AV disse...

Há tantos sítios lindíssimos no interior por descobrir e valorizar.
Gostamos de dizer que vimos de um dos países mais antigos na Europa e no entanto negligenciamos muito esse património histórico e natural de que tanto nos orgulhamos.

Gina disse...

Olá UJM

Aceitei a sua sugestão e ontem vi este filme. Gostei, e muito. É realmente um filme diferente, longe de ser comercial, ademais: foca um assunto sério e existente e não se detém num final previsto. Obrigada pela partilha.

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Ainda no outro dia, num almoço dito executivo, uma roda de cavalheiros bem-falantes falava a bom falar sobre viagens fabulosas. Cada qual mais esperto que o outro. E eu estava a ouvi-los e a pensar que parecia que estavam a comparar pirilaus. E não resisti a dizer que o Museu de Foz Coa é que era.

Não aprendemos ainda a valorizar o nosso maravilhoso património (paisagístico, histórico, cultural, gastronómico, etc).

Portanto, Ana, 100% de acordo consigo.

Abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Gina,

Um filme que nos faz doer a alma, nos enternece, nos preocupa. Muito bom. Os políticos deveriam ter este filme sempre muito presente.

Nos antípodas, recomendo o filme que vi no domingo. Vá vê-lo com o seu motard preferido e vai ver que se vão divertir à grande. 'Do jeito que elas querem'.

Beijinho, Lady Geia