sexta-feira, fevereiro 14, 2025

O Musk a reservar para Trump o papel de avôzinho? O Trump a engolir um sapalhão e a fingir que até gosta?
What?
E que reviravolta mundial é esta a que assistimos? Qual o papel da Europa no meio disto tudo?

 

Ando perplexa com o que está a passar-se. Há um lado pragmático em Trump que, por vezes, me parece que faz algum sentido. Mas, ao desprezar as leis, ao ignorar a história e a geografia, ao desprezar todos os que não são mais fortes que ele, ao demonstrar ser um narcisista intragável, é perigoso.

Em tempos trabalhei com equipas de outras nacionalidades. Já o contei: aqueles com quem mais gostei de trabalhar foi com alemães. Por vezes levavam-me ao desespero ao quererem planear tudo ao mais ínfimo detalhe, ao quererem ter planos de contingência para cada pequeno imprevisto, Antes de começarmos a pôr em prática o que quer que fosse, 'perdíamos' tempos infinitos a arquitectar soluções para tudo o que pudesse acontecer. Mas eram rigorosos simpáticos, leais, e, uma vez tudo equacionado, a execução era eficiente, sem espinhas. Não se trabalhava fora de horas. Tudo rodava sobre rodas.

Também gostei imenso de trabalhar com um holandês. Era divertido, brincalhão, viajado, incorporava histórias hilariantes nas conversas. E era inteligente, bon vivant. Também gostei bastante de trabalhar com ele.

Também trabalhei com espanhóis, franceses, israelitas, australianos, japoneses, italianos.

Mas agora quero falar de um americano. Fisicamente parecia um atleta. Devia medir dois metros, tinha um físico incrível, tinha um cabelo liso de um louro acinzentado, uns olhos azuis acinzentados claros. Andava sempre com uma mochila ao ombro mesmo quando isso ainda não era moda. Também se apresentava muitas vezes de ténis quando isso era heresia. Não gostei muito de trabalhar com ele. Havia qualquer coisa de excessivamente pragmático, de rudimentar, de muito básico. Era inteligente, muito, e desempenhava funções muito relevantes. Mas ignorava constrangimentos, ignorava a resistência humana às mudanças de fundo, ignorava os pequenos impedimentos. A ideia dele era atingir um objectivo e não queria saber de mais nada, Não lhe interessava conhecer o tema ao pormenor, muito menos queria perder tempo em levantamentos. E estava-se nas tintas para interagir com a malta que integrava as equipas. Eu era a interlocutora dele e isso para ele bastava. Temas que, para serem escalpelizados levariam horas, eram para ele coisa para um quarto de hora. Mais do que isso era estarmos a envolver-nos nos problemas em vez de nos focarmos nas soluções.

Eu ficava siderada. Claro que perante um problema há 3 alternativas. A 1ª é não fazermos nada, a 2ª é tentarmos resolvê-lo a bem, com o envolvimento e a compreensão de todos. A 3ª é à bruta.

A abordagem dele era a 3ª. Dizia que estávamos a deixar de ganhar o que devíamos por não termos implementado um conjunto de processos e tecnologias. E que, se quiséssemos resolver à 'moda portuguesa', seriam projectos para cerca de 3 anos. Segundo ele, deveríamos ter toda a mudança implementada no máximo em 6 meses. Se as pessoas estrebuchariam, se haveria despedimentos e chatices, desmotivações e coisas do género era para o lado em que ele dormiria melhor.

E nem tinha paciência para ouvir os meus argumentos. Pelo contrário, dizia que era nessas preocupações que os portugueses desperdiçavam a produtividade.

Repare-se que eu percebia a abordagem dele e, numa perspectiva meramente económica, reconhecia a razão dele. 

Só que a minha abordagem, a abordagem portuguesa (e europeia), incorpora preocupações humanistas, queremos o bem estar daqueles com quem trabalhamos ou com quem nos relacionamos, queremos ter a certeza que estamos a fazer a coisa certa e, por isso, fazemos levantamentos, fazemos estudos, avaliamos alternativas. Falamos com as pessoas, marcamos reuniões -- ou seja, segundo ele, perdemos tempo.

O que vejo no Trump e no Musk e nesta rapaziada é isto. É a cultura empresarial, pragmática, economicista. Indiferente ao resto.

E tal como o belo Mark nos aparecia naqueles escritórios forrados a madeira com belos sofás de veludo com jeans, ténis e mochila ao ombro, assim Musk de boné com o filho às cavalitas, enquanto Trump ali está a assistir ao que se passa na sua 'sala oval', sem piar.

Uma questão cultural? 

O fim dos tempos?

O que está a passar-se? 

Há um lado bom dentro de tudo o que está a passar-se? Ou isto é um filme de terror?

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Lawrence: In Oval Office, Elon Musk shows the world Trump ‘is not the boss of me’

Lawrence O’Donnell details the display of the presidential subservience to Elon Musk in the Oval Office as they made baseless claims of waste, fraud and abuse without any evidence and turned their backs on starving children in Sudan.



5 comentários:

Anónimo disse...

Talvez o americano tivesse razão. Já o marquês de Pombal dizia coisa semelhante.
Anos atrás li um comentário que me deixou a pensar: dizia a pessoa que valia a pena avaliar que papel tiveram as empresas multinacionais na mobilidade social por cá. Depreendi que seria significativa e vi o filme: é preciso contratar alguém. Fazem-se provas. De um lado está um rapazola com uma média alta, excelente cv. Do outro estão os filhos de A e de B. Estou mesmo a ver o Dr. A e o Eng. B a dizerem que as notas não são tudo e o Mark a insistir no parvónio sem padrinhos.

JA disse...

Então a senhora, depois de tudo o que escreveu durante estes anos sobre a guerra neste seu blogue, agora que a situação começa a aclarar-se não consegue perceber em que ponto estamos?! Quais são as suas dúvidas? É mau que haja uma ténue hipótese de acabar com a carnificina, que a diplomacia comece a funcionar?! Ora pense um bocadinho, sem baias, que a senhora revela boa capacidade de raciocínio e até escreve muito bem. Não poderá é ter preconceitos!

JA disse...

Quais são as suas dúvidas, minha senhora?! Não andou todos estes anos de guerra cheia de certezas ("Há muita gente que ainda não aprendeu que o primeiro milho é para os pardais...", escrevia a senhora - como se isto de enviar homens para a morte, ucranianos ou russos, tanto faz, é uma questão de fé, dispensadora de diplomacias, que a guerra pode continuar...)?! Ah, afinal, até lhe agrada um certo pragmatismo de Trump!!!

Anónimo disse...

Em bom rigor, e dando de barato alguns erros de morfologia gramatical e de sintaxe na construção de frases, diria mesmo que escreve excelentemente!

Lúcio Ferro disse...

"(...) ao ignorar a história e a geografia (...)" vindo de si só me suscita o seguinte comentário: Ahahah. Veja se muda mas é o template do blogue que está desatualizado.