Depois de, no post abaixo, ter falado na hipótese da Albuquerque ir para Comissária Europeia e de como isso pode ser a resposta do Passos às manobras que parecem desenhar-se no bas fond do PSD, e de, mais abaixo ainda, ter falado na dança dos bolinhas, ou seja no forma e desenforma partidos, manifestos e fóruns com que a esquerda ex-caviar se continua a entreter, aqui, agora, volto ao tema quente da actualidade financeira portuguesa: o escândalo em volta do Grupo Espírito Santo.
O homem que mandava nisto tudo deve ser hoje um homem acossado. Ouve-se que na família e nos círculos mais próximos já dizem que ele é um traidor, que os tramou bem tramados. O homem antes tão poderoso é agora, segundo se ouve dizer, odiado e amargamente rejeitado. De Deus passou a Diabo.
Ninguém quer estar ligado a ele. As demissões sucedem-se nas empresas do Grupo (à data a que escrevo, já vão em 23). A família é obrigada a vender apressadamente empresas que julgavam coutada privada, e são descritos na comunicação social portuguesa, e não só, como um exemplo do que é um grupo familiar mal gerido, com manias oligárquicas, habituados a situar-se acima da lei, usando tudo à sua volta em benefício próprio, uma fraude a punir de forma exemplar.
Pior. O que soava, começa a tomar corpo: começou o cerco judicial. De há muito as suspeitas faziam caminho. Por serem quem eram, pareciam estar imunes. As notícias apareciam mas logo caíam no esquecimento. Monte Branco, branqueamento de capitais, evasões fiscais, milhões em offshores, negócios mal explicados, influências. Mas a plebe condescendia. Aos quase deuses tudo se permite. O seu poder protegia-os. Mas a protecção parece estar a esvair-se porque a coisa transbordou do pequeno rectângulo onde reinavam. Luxemburgo, Estados Unidos, Angola, Panamá: a crise já aí está, com as autoridades em acção. Veremos nos outros países.
Hoje sabemos: já estão a ser objecto de buscas. Há um cerco sim, e é um cerco que se aperta.
Daí às detenções para averiguações é um pequeno passo.
Transcrevo do artigo de Cristina Ferreira no Público:
Ministério Público e regulador dos EUA fazem buscas a empresas do GES
O cerco começou esta semana a apertar-se à volta dos interesses do Grupo Espírito Santo (GES). O PÚBLICO apurou que os supervisores financeiros norte-americanos regressaram ao BES Miami, tudo indica para investigar operações com as subsidiárias do BES do Panamá e da Venezuela, enquanto o Ministério Público português fez buscas durante a tarde desta quarta-feira na sede do grupo, na Rua de São Bernardo, onde funciona o conselho superior que reúne os cinco ramos da família. Também visitou sociedades ligadas à família ou empresas que tiveram ou têm relações comerciais com o GES.
(...)
As autoridades nacionais deslocaram-se ainda a outras empresas não pertencentes à esfera do GES, mas que têm ou tiveram relações com veículos do grupo familiar e “visitaram” gestores com potencial conhecimento de movimentos financeiros envolvendo o grupo ou elementos da família.
Uma vergonha.
Bem pode, na Caras, Maria Ricciardi comentar o caso BES dizendo: "Não somos um banco, somos uma família".
Pois. A culpa não é dela. Mas o que aconteceu é que a família usou o dinheiro dos clientes para benefício da família, a família desrepeitou as regras, violou os regulamentos, não quis saber da lei.
Como sempre nestas ocasiões, ocorrem-me as mesmas perguntas: valeu a pena, Sr. Ricardo Salgado?
Imagino eu, quanta vergonha para a senhora D. Maria João, sua mulher... Sabia ela de tudo isto? E merece ela tudo isto?
E quanto ódio sobre si...
Nestes momentos - em que os seguranças privados que o rodeiam (israelitas, ouço dizer) talvez não consigam evitar o pior, com a eminência parda, o seu amigo e advogado de longa data, o das mãos tentaculares, o que ajudava na intermediação de mil negócios, a pôr toda a sua ardilosa inteligência ao serviço de uma estratégia de defesa - tem tempo para pensar naqueles a quem tão severamente prejudicou?
Pense bem: o que fez aos seus clientes? O que fez aos seus amigos? O que fez ao seu País?
Valeu a pena?
Permita que eu responda por si: não. Não valeu a pena. Não há riqueza no mundo que valha uma consciência limpa. E a sua, Senhor Ricardo Salgado, não deve estar nada limpa.
E a todos os que se vergaram às vontades do DDT, que o bajularam, que fecharam os olhos aos indícios, às irregularidades, que fingiram que não percebiam, todos os que usufruíram de grandes ordenados, grandes prémios, oferendas e prebendas, pergunto também: valeu a pena?
Não. Não valeu a pena. O medo que sentirão agora, o cerco que sentem aproximar-se, destroem o valor de todo o luxo a que julgavam que tinham direito por terem sido ungidos com a protecção quase divina do DDT.
Não vale a pena querer ser mais do que os outros.
Não vale a pena querer ser mais do que os outros.
Mas, enfim, isto sou eu a divagar. Sou uma alma inocente. Uma lírica.
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Relembro: sobre as tricas e as licas do PSD e sobre a dança dos bolinhas ex-BE e simpatizantes é descerem, por favor, até ao post já a seguir.
Só sei é que, com isto tudo, nem falei do meu namoradinho de adolescência. Mas paciência.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta feira.
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Só sei é que, com isto tudo, nem falei do meu namoradinho de adolescência. Mas paciência.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta feira.
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5 comentários:
O problema das elites é que começam a sentir que estão acima dos outros porque é essa a ordem natural das coisas e começam a desprezar tudo o que consideram estar abaixo de si. Acham que são "nobres". Não sabem eles o que isso é. O nobre é aquele que protege o mais fraco. Não aquele que se acha no direito de ter atitudes ignominiosas, vergonhosas, criminosas mesmo, que jamais admitiria que outros tivessem para consigo, porque está no seu direito de casta superior. É aquele que não admite que alguém tenha essas atitudes infames para com outrem mais fraco. Jamais teria ele essa atitude desonrosa. Se diz que aparece à hora x para assinar o contrato, aparece. Se há alguma coisa de que não gosta num objeto que está a negociar comprar, diz logo, em vez de dizer que está tudo bem e no momento de pagar o preço, dizer com ar de canalha que o objeto tem um probleminha, numa altura em que o negócio vai tão adiantado que a outra parte já conta receber o dinheiro, tão convicta está de que vai vender a coisa: pensa o canalha que o vendedor já não terá coragem de deitar tudo abaixo e aceitará baixar o preço.
Os franceses em Versalhes estavam convencidos de que ser nobre era ter regalias. Os burgueses pós-revolução francesa convenceram-se de que se conseguissem ter as regalias se tornavam nobres. Os Espírito Santo têm sido destes últimos já há tempo demais.
JV
Olá jeitinho,
No outro dia ouvi que o poder estimula a mesma parte do cérebro, que a droga e o álcool. E por isso cria habituação e o querer sempre mais.
Beijinhos Ana
Operação Monte Branco? Nada disso, o Ricardo continua a monte!
o BES visto pelos supervisores, reguladores ou o que for - http://novaziodaonda.files.wordpress.com/2014/07/banksy.jpg?w=600&h=397
Esta malta do GES/BES são um bando de criminosos, uma “Associaçao Criminosa”, na verdadeira definição do Código Penal. Acho curioso o MP só agora ir buscar o rafeiro do Salgado, para o interrogar no âmbito do caso “Monte Branco”. Acompanhado dos seus advogados, como aliás, manda a lei (Artº 64º do Código de Processo Penal). Os Proença. Judeus. Proença pai mandava o filho (não sei se este), de acordo com o filho de uns amigos nossos, para os Kibbutz, em Israel, todos (ou quase), anos. Vamos ver no esta porcaria obscena vai dar. Gostava de o ver a ele e à família (incluindo a feminina) por detrás das grades. Será que alguma vez os poderos politica e financeiramente vão para a cadeia? Tenho dúvidas. Mas, quem sabe! E, depois, coloca-se outra questão: quanto tempo vai demorar este caso a ser resolvido, investigado e julgado? Com apuramente de culpados? Nos EUA tudo isto demoraria um quinto do tempo da investigação em Portugal. Só da investigação! Já nem falo do resto.
E o Governo e Presidência em silêncio, sobretudo Cavaco, em vez de estar calado, ou então a falar de forma a criticar os actos praticados que descredibilizam a Banca e o enfraquecem o nosso sistema financeiro, vem a terreiro defender a estabilidade do BES!
Enfim, esta história, toda ela, mete-me náuseas. Um asco que só visto! Sempre tive uma profunda desconfiança da banca privada em geral, desde que a partir dos finais dos anos 60 e inícios de 70 do Séc. XX se transformou no polvo que hoje conhecemos, controlando tudo: governos, economias, bancos nacionais, grandes empresas, instituições supra-nacionais, manipulando mercados, etc. Transforando o sistema de economia de mercado, num sistema de economia financeira. Subvertendo todo o capitalismo, como o conhecíamos, com os seus defeitos e qualidades. Minando Democracias. Corrompendo governos, etc. A Banca, um dia, sem travão, tal como está hoje, vai ser a coveiro das Democracias. E das empresas. E, deste modo, do sistema de economia de mercado. Já não estarei, se calhar, cá para ver, mas quem sabe! Daqui a uns 40 anos.
P.Rufino
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