Vinha no carro, já a noite tinha caído, vinha cansada, a precisar de descanso e eis que coloco a rádio na TSF. Tenho sempre esta preocupação: algum receio de que, quando me afasto, o mundo aproveite para dar dar uma volta para outro sítio. E até podia pensar que isso tinha acontecido se não soubesse que Portugal é neste momento um país fora do sítio.
Ouvi Passos Coelho, parece que de visita à associação dos Deficientes das Forças Armadas, a comparar esta crise - que ele tem ajudado a agudizar com convicção e energia - com a guerra do ultramar. E dizia que devíamos todos ser como se fossemos um soldado. Mas terá ido lá gozar com a cara das pessoas?! Só pode.
Passos Coelho diz que está em guerra (connosco) e faz um apelo às armas: que cada português encontre, dentro de si próprio, um soldado |
Como estava sozinha no carro, sem testemunhas, aproveitei para o mandar para sítios muito impróprios. Não adiantei nada porque as minhas palavras não têm poderes mágicos mas aliviei a minha tensão e pratiquei um pouco este linguajar que é capaz de ainda me vir a fazer falta.
E ouvi dizer que a dívida pública continua de vento em popa e que já ultrapassou os 120% do PIB. E ouvi dizer que o défice (não o do orçamento mas o aditivado) não está garantido. E ouvi dizer que as receitas fiscais voltaram a cair (apesar de nos estarem a levar o couro e o cabelo). E ouvi dizer que em cima do miserável OE 2013 e em cima do plano para cortar 4.000.000 € (que são para além do OE!), o Governo está já a preparar novas medidas para ir buscar mais uns oitocentos e tal milhões de euros, provavelmente cortando outra vez na função pública.
Ah grande Gaspar...! Sai ao chefe: inteligente. O drama é que não acertam uma e, drama ainda maior, as vítimas somos nós.
Passos Coelho: a carinha não engana. (Então não tem mesmo carinha de inteligente?) |
Ouvi ainda o inteligente Passos Coelho a marimbar-se para tudo isto e a dizer que estava tudo a correr lindamente e que os juros já estão abaixo dos 7% e gabava-se disso, o inteligente, como se fosse mérito dele. E o drama é que acho que ele acredita nisso: o sujeito não percebeu que isso se deve à intervenção do BCE (valha-nos, nisso, o Mario Graghi).
Ou seja, o inteligente Passos Coelho não apenas ignora a destruição que está a impor diariamente ao País, como a única coisa que está a melhorar não é da responsabilidade dele. Mas pode alguém, mesmo assim, rir-se daquela forma impúdica como ele se ri, por os juros estarem na ordem dos 7%?!?!?!
Há economia que se aguente com juros desta ordem?!
Que falta de paciência!
Agora espreitei a internet a ver se descobria alguma notícia que me animasse e só vejo é coisas deprimentes. Agora é que apareceu mais um buraco de mim milhões de euros na Segurança Social e que a PJ foi chamada a descobrir a que se deve. A Polícia Judiciária?! Mas então já estamos nisto? Os incompetentes deixam a coisa degradar-se desta maneira, não controlam a tempo de evitar buracos fenomenais desta ordem, pelos vistos não acompanham a gestão numa base regular, andam a dormir na forma e, quando dão pelo buraco, já ele é 'colossal' e irrecuperável - e, aí, chamam os detectives...?! Mas isto está tudo doido...?!
Depois vejo Passos Coelho, ar fingido, a dar um aperto de mão a Cavaco Silva que está com os nervos do pescoço todos eriçados, dá ideia que, se pudesse, dava uma cabeçada no outro, uma cabeçada ou a retribuição da canelada.
Passos Coelho e Passos Coelho: qual dos dois odeia mais o outro? |
Vou ver o que é aquilo. A fotografia ilustra a notícia que dá conta de que Passos Coelho foi apresentar os votos de boas festas a Cavaco Silva, aproveitando para lhe agradecer o cooperação institucional. E a gente olha a fotografia, sorrisinhos forçados, falsos, esgares retorcidos, e pensa: aqueles dois odeiam-se. E estão bem um para o outro.
E, como se as notícias não fossem já suficientemente más, acabo agora de ler que o jackpot de 101 milhões de euros saíu e não foi a mim. Até me apetece repetir os palavrões que disse no carro. Só não digo não vá dar-se o caso de vocês ouvirem e ficarem a achar que sou muito pouco recomendável.
*
E eu que hoje, à vinda para casa - cansada, atravessando o Alentejo profundo, um Alentejo lindo, depois de ter visto um pôr do sol fabuloso - vinha a pensar que ia escrever uma coisa muito zen, rasgos dourados no horizonte, carros deslizando suavemente, campos verdes, tranquilidade, muita paz. E, afinal, em vez disso, estou para aqui arreliada e a maçar-vos com esta conversa.
Mas, depois destes dissabores, vou falar-vos de quê?
Do monte de livros que tenho para aqui, completamente impróprios para consumo, em pilhas e pilhas, que vou ter que arrumar minimamente antes de segunda feira? Dos embrulhos de Natal que tenho para fazer? Das compras de géneros alimentares que vou ter que fazer e ainda sem saber bem o quê? De algumas coisas que vou ter que comprar este fim de semana para umas obras que vão começar na quarta feira às 8:30 da manhã aqui em casa?
Pois... isto não está fácil.
Bem, calo-me já para ver se não vos contagio.
*
Desejo-vos, meus Caros leitores, que estejam mais animados e mais nataleiros do que eu.
E se alguém aí me quiser oferecer alguma coisa, esteja à vontade.
Posso dizer o que gostava de ter? Uma boa notícia.
6 comentários:
Até o Vasquinho etílico percebe!
• Vasco Pulido Valente, Afinal, os velhos são mesmo trapos [hoje no Público]:
‘(..) Há muitas razões nesta particular matéria para condenar Pedro Passos Coelho, um primeiro-ministro incoerente, hesitante e com uma grande trapalhada na sua pobre e pequena cabeça. Há, antes de mais nada, uma razão moral: Passos Coelho escolheu a parte mais fraca e indefesa da sociedade para suportar os custos de uma política que iria fatalmente acabar mal, como toda a gente o preveniu. Abusar dos fracos não é com certeza o acto de um homem estimável.
Depois da brutalidade vem a hipocrisia. Porquê pedir "solidariedade" aos velhos, que mal se mexem, e a mais ninguém? (...) Ou devem os velhos pagar um tributo adicional aos novos só por serem velhos? Também a mentira de que a contribuição "extraordinária" agora sugada sem aviso não engana nenhum português maior e vacinado: a contribuição acabará por se tornar "ordinária" e ficará firme até à bancarrota final. O dr. Passos Coelho, ou quem manda nele, nem sequer pensou em arranjar uma linguagem menos jesuíta para retirar o conforto e a segurança à maioria dos velhos.
Domingo passado, o autor destas tropelias andou por Penela e pela RTP-Porto a justificar o injustificável. O argumento dele é - acreditem - o de que as "pensões" dos "queixosos" não correspondem "ao valor dos descontos que fizeram". Muito bem: admitamos, por hipótese, que o homem teve um sobressalto lúcido e, por uma vez, disse a verdade. Mas mesmo assim não se lembrou de dois pontos fundamentais. Por um lado, o de que os "fundos de pensões", sensatamente administrados, são como um grande banco de que se espera um contínuo crescimento do capital e dos rendimentos. Por outro, o de que uma considerável minoria não teve de facto uma "carreira contributiva", mas porque não existia na altura nem trabalho, nem um Estado social que lhe exigisse e aceitasse um "desconto". O dr. Passos Coelho precisava de uma certa dose de juízo.’
Raramente estou de acordo com o Vasquinho mas, desta vez admito que ele tem razão e não exagerou, como é habitual!
Um abraço
Olá Joaquim Castilho,
Bom artigo de Vasco Pulido Valente. Este assunto, como ontem explicou Bagão Félix é um assunto complexo não apenas porque estamos a falar de cálculos que não são simples, como de questões que envolvem contratos como, ainda e sobretudo, porque é um assunto que tem a ver com pessoas. E mais: com pessoas que, na sua maioria, não têm nem pode ter uma forma de rendimento alternativa se esta falhar.
Por tudo isso choca ouvir um leviano e pouco inteligente passos coelho (deliberadamente com minúsculas) a dizer o que diz.
Não sei como, mas grande parte do país deveria levantar-se e obrigá-lo e ai para casa fazer queijadas.
Obrigada por ter transcrito este artigo.
Um abraço, Joaquim Castilho.
Um bom artigo, esse do VPV. Nós chegámos, com este governo, a um ponto sem retorno. O governo dá-se “ao luxo” de não só se enganar, constantemente, mas de equacionar planos para “apagar os fogos”, que todavia alastram sem parar, ou seja, para circundar as trapalhadas fiscais, sociais, economicas e politicas que vão sucedendo. Mas, sem sucesso! Isto a um ritmo que começa a ser algo alucinante. A nossa economia resvala para um abismo de onde será muito difícil vir a recuperar nos tempos mais próximos.
A pandilha Passos/Gaspar, de algum modo como aqueles atiradores em escolas nos EUA, vai disparando a torto e a direito e de caminho leva inúmeras empresas à falência, famílias inteiras à bancarota, pensionstas à miséria, funcionários públicos a um estado de emergência, trabalhadores a correrem para o desmprego, etc, etc.
O país está a atingir uma situação de caos politico-economico-social muito grave. Mas, eles não percebem isso. São de um autismo político espantoso. Chocante! E, no meio disto tudo, Belém e Portas assistem impávidos. Consentindo!
Isto é mau de mais para ser verdade, ou é mesmo? Será que estou a meio de um pesadelo, enquanto durmo?
É estranho, mas nunca antes senti um ódio político tão grande , uma raiva surda tão grande para com um governo como sinto actualmente para com estes escroques!
Não têm o direito de fazer o que estão a fazer, sabem que estão errados, mas mesmo assim, continuam! É espantoso! Nunca vi tanta incompetência concentrada e em tão pouco tempo a fazer tanto mal ao país!
Enfim, a noite de Natal aproxima-se e nesse sentido reitero-lhe a si e toda a família uma noite e um dia (24/25) bem passados, em boa harmonia familiar!
P.Rufino
PS: a nós vale-nos o nosso netito que está um verdadeiro encanto, para apaziguar estas agruras!
Passos Coelho devia ser proibido de falar de improviso e os textos deveriam ser revistos várias vezes.
Cada vez que o oiço sinto-me pré explosão, fico com urticária na alma.
Essa sua viagem ao Portugal profundo,lembrou-me as Convenções anuais da empresa em que trabalhei nos ultimos 20 anos. Normalmente feitas em Janeiro, leváva-nos durante 2/3 dias a descobrir Pousadas e Quintas de Turismo de Habitação. Eram dias de trabalho, sim, mas tambem de incentivo a objectivos, de projectos, que nos davam elento para mais um ano.
Hoje já pouco sei como funcionam as empresas, mas pelo que oiço, muitas vão fechar. Com a carga fiscal e a lei de facturação que querem implementar, completamente impraticável e irracional, vamos ter um 2013 bem complicado.
Mas nós, ao invés destes incompetentes, temos a responsabilidade de transmitir segurança, alegria e força aos netos, pois os filhos já estão conscientes.
Os seus pequenitos ainda não se apercebem, e ainda bem, mas a minha já me faz perguntas de respostas dolorosas que tenho de evitar dar.
Por isso, querida Jeitinho falemos de sonhos e rabanadas, bacalhau, que ao gosto dos mais novos, deixou de ser com batatas e couves e passou a desfiado sem peles nem espinhas "em cama" de espinafres e "tapadinho"(?) com puré de batata, um doce de fruta e uma pinha de suspiro regada com doce de ovos e mirtilos. A menos que o vento/vontade mude, vai ser isto para a ceia.
Quando era pequena lembro-me que se dizia que a ceia de Natal era simples como o nascimento do Menino, só o almoço de dia 25 era de festa com o peru recheado e mais doces, hoje tudo é diferente.
Maos à obra! Somos a Mãe Natal e inercias não nos assentam bem.
Os preparativos já são festa. Valha-nos as nossas crianças como força motriz.
UM SANTO NATAL.
Que aqui, nos vamos encontrando.
Um Beijinho
Olá P. Rufino,
Ouviu no Expresso da Meia Noite, na SIC-N, aquele senhor da ONU? O do Observatório da pobreza nos países do sul. Não sabia algumas coisas que ele falou e, de facto, andamos todos a ser manipulados, roubados. E isto não é nenhuma teoria da conspiração, é mesmo a realidade.
E o drama é que, com gente tão incompetente, tão ignorante, tão incapaz, à frente do País, não temos quem nos defenda dos predadores.
Eu também fico passada, possessa, também acho que esta gente é má demais para isto ser verdade.
Quanto ao Cavaco nem sei. Dizem que ele já não está fisicamente a 100% mas não sei se isso é uma maneira de dizer, se são boatos, se quê. Ele nunca foi muito diferente disto pelo que acho que ele não tinha que estar a ficar demente para o vermos assim. Acho que não é defeito: é feitio.
O governo a fazer trapalhadas sucessivas, as finanças e a economia em derrapagem acelerada e não há quem ponha um travão. Um desespero.
Mas não falemos agora mais destes tretas.
Desejo-lhe, de novo, um bom Natal (e também véspera e dia) com a sua família. O seu pequenino deve estar uma gracinha, está naquela idade em que cada gesto é uma gracinha, uma ternura.
Os meus estão também uma alegria. O bebé vai a caminho dos cinco meses e é super bem disposto, ri e palra que dá gosto. Depois, a maninha dele, a bonequinha mais linda, está com 2 anos e quatro meses, e é muito bonita, muito feminina, mas muito voluntarista. Depois há os manos reguilas, o mais velhinho com 4 anos e 5 meses, já todo muito rapazinho, consciencioso, mas irrequieto, perguntador, bem disposto e, finalmente, o pior de todos, aquele a quem chamo o ex-bebé, que tem agora 20 meses e que sobe para cima de mesas, atira coisas ao chão, desafia toda a gente, morde a prima, atira coisas ao irmão. O meu marido chamava-lhe 'o célebre monstrinho' mas agora já se inclina que 'o puto é o típico juve-leo', 'uma bestinha'. É que é grande, forte, tem uma força que só visto. E é um bem disposto que só visto. Faz torpelias e desata-se a rir. Imagine o que é isto tudo junto... A casa fica virada do avesso em três tempos.
Mas isto é o mais importante: harmonia, alegria. E saúde.
Um bom Natal para vocês, P. Rufino!
Olá Pôr do Sol,
Tem toda a razão. No outro comentário já lhe dei conta das minhas andanças. O apetite dos jovens adultos e das crianças não se compadece com desânimos. Mas chegam vão logo o que há para comer.
Na minha casa o bacalhau ainda é à antiga. Este ano, por acaso, já recebi pedidos para o fazer assado no forno com louro, alho e azeite, e batatinha assada com as couves cozidas, servidas à parte.
O meu marido e o meu filho embirarm com bacalhaus desfiados e com puré de batata, dizem que gostam de sentir o bacalhau tal e qual e não disfarçado. Eu gosto do bacalhau como diz e a minha filha também mas os outros são tão renitentes que somos vencidas.
Quanto a doces ainda não sei até porque no dia de natal vamos de tarde para casa dos meus pais (dado que, por causa do meu pai, eles não podem vir a minha casa) e a minha mãe vai lá ter vários doces. mas claro que alguma coisa terei que ter. Não sei se compre feito se faça eu, essa pinha de suspiro deve ser boa. Se calhar dá para fazer com suspiros comprados e não ser muito trabalhosa.
Se não nos falarmos antes, desejo-lhe a si e à sua família um belo dia e véspera de natal.
Beijinhos para todos, Sol Nascente!
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