Ao pesquisar uma coisa no google no meu telemóvel, aparecem-me notícias. Desta vez, a primeira, nem que de propósito, era que a Teresa Guilherme estava muito admirada por Lady Betty ter deixado uma dívida de 60.000€ na CUF.
Nem de propósito. Quando entrou, certamente, Lady Betty, ou alguém por ela, teve que pagar uma caução. Provavelmente qualquer coisa na ordem dos 2.500€. Portanto, dos 50.000€, na volta, a CUF apenas viu esses 2.500. Isto, a propósito do Caro Comentador Ccastanho ter dito, e eu percebi que estava escandalizado com isso, que, quando foi internado, solvo erro para uma cirurgia, teve logo que pagar uma caução. Pois.
Agora, segundo li, o filho da Senhora Dona Lady está a tentar negociar... Não sei o que é que há para negociar numa conta de hospital. Na volta quer pagar a prestações ou está a pedir desconto. E este é um dos problemas com que os hospitais (tais como muitas outras empresas) se debatem: os calotes.
Abri o vídeo que me aparecia mas, salvo erro, só consegui ouvir até um comentador, de nome Rui Figueiredo, falar pois não consegui ouvir mais. Tirando a Teresa Guilherme que conheço e a apresentadora Maya, não sei que dois são aqueles que ali estão. Qualquer gato-sapato é chamado à televisão para opinar. Assim se (de)forma a opinião pública. Mas, então, dizia o rapaz que não compreendia porque é que a CUF não tinha cobrado logo à saída ou a tinha deixado sair sem pagar. Falava como se quem fosse de censurar não fosse quem se prepara para deixar uma dívida mas, sim, quem vai ficar a arder.
Ora bem.
Em termos práticos. Verbas desta ordem (esteve internada mais de um mês, deve ter feito inúmeros exames, deve ter feito fisioterapia, foi acompanhada até aos Estados Unidos por um médico e por um enfermeiro, etc,, pelo que os gastos devem mesmo ter sido exorbitantes) frequentemente não se conseguem pagar via multibanco. Pode também acontecer que não se tenha toda essa verba à ordem e tenham que mobilizar depósitos a prazo ou outras aplicações. Claro que quem tem um familiar internado num hospital privado deve tratar de tudo isso antes que a pessoa tenha alta. Mas sabemos que este caso é atípico. De qualquer forma, com gente séria, é normal que mandem a factura para casa e que as pessoas as paguem. Mas há gente que não é séria.
Mas, voltando ao espanto, de terem deixado a senhora sair sem ela pagar... O que sugeriria o dito Rui Figueiredo? Que a CUF não lhe desse alta? Que a forçassem, se fosse preciso sob ameaça, a dar o código do multibanco... ? Que a forçassem a ficar internada? A fazer mais despesa...?
Claro que não. Quando a pessoa tem alta tem que se deixar sair até porque as camas fazem falta para outros doentes e, de resto, nestes casos, ficar mais tempo é incrementar a dívida.
Acho que desliguei quando ouvi alguém a interrogar-se porque é que a senhora não tinha um seguro. Mais uma vez, uns pseudo-comentadores demonstrando que não têm vida, mundo, conhecimentos do que quer que seja. Não sei se a Dona Betty tinha seguro, se não tinha. Mas um seguro de saúde tem um tecto para cada tipo de despesa. Para algumas, nem sequer há cobertura. Se ela tivesse seguro, poderia, por exemplo, não cobrir internamento. Ou poderia ter e o limite já ter sido excedido com internamentos anteriores. Ou poderia excluir internamentos por certas condições como, por exemplo, por violência doméstica. Além disso, os seguros são caríssimos para pessoas de idade e algumas seguradoras nem têm sequer seguros para pessoas com mas de 60 anos. Podem ter planos de saúde, que dão descontos em algumas coisas mas não cobrem internamentos.
Ou seja, sabendo que uma pessoa de idade tem algumas probabilidades de ter internamentos e cirurgias o que pode vir a traduzir-se em muita despesa, as seguradoras, que também são empresas que não querem ir à falência, também se cortam.
Ou seja, só o SNS não se previne contra calotes, contra despesas desmedidas. Na prática, é sempre a abrir. De cada vez que há pessoas a fazer cirurgias caras, a fazer tratamentos muito caros, a ter que estar internadas nos cuidados intensivos durante muito tempo, etc, etc, aparece sempre dinheiro para fazer face a qualquer despesa, aparece sempre dinheiro para aumentar médicos, para pagar horas extraordinárias, para pagar fortunas pelos contratos de manutenção dos equipamentos médicos em especial os mais caros como os de imagiologia, para pagar medicamentos, alguns dos quais caríssimos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o dinheiro não sai de um saco sem fundo. Os montantes de que o SNS dispõe para fazer face a todos os imponderáveis não são ilimitados. Parecem... mas não são.
Não será por acaso que uma das maiores fatias dos impostos cobrados vai para a Saúde: 22%
1 comentário:
Sucedeu comigo, ou melhor, com um familiar meu. Um hospital, se é que o era, de uma ordem religiosa. Chega a conta, que nem era assim tanto, eu perguntei como era: tudo fisioterapia. Ora se eles diziam o tempo todo que o meu familiar não podia fazer fisioterapia porque tinha febre...por iniciativa deles veio logo um desconto. Aceitei e paguei.
Porém, tirei uma lição: nunca, mas nunca, ir parar a um hospital católico. A medicina evoluiu, implica grandes investimentos financeiros em infraestruturas, e essas entidades não têm dinheiro. Em caso de emergência, é a minha ilação, pode ser mesmo um risco grave para a saúde.
E daqui parto para uma segunda ilação: os cheques cirurgia. Um hospital público fez isso com outro familiar meu. Fiquei com a ideia de que a coisa funciona assim: vai-se ao médico sns e fica-se na lista de espera do hospital público. Lista que, pelo menos naquele tempo, não era pública, não se sabendo em que lugar estava. Passado um tempo veio a proposta: cheque cirurgia numa clínica de província. Recusei duas vezes, o nome do meu familiar foi apagado da lista de espera. Fiquei com a ideia, não sei se errada, de que o médico angariava doentes no sns, punha-os na lista de espera, e depois operava-os por fora. Se fosse privado o doente provavelmente não teria dinheiro. Assim o Estado financiava a clínica. Diziam-me que o médico operava uma vez por semana no hospital público.
Terceira ilação: há um problema grave de transparência no sns.
A partir destas experiências só funcionei com a CUF. Foi lá que a cirurgia foi feita, foi lá que trataram da insuficiência cardíaca, foi lá que morreu passados uns anos.
Fica no entanto a pergunta: como é com cancros, transplantes, cirurgias cardiovasculares? Aqui não acredito no privado. Pura e simplesmente não há gente suficiente a pagar para fazer economia de escala. E devo dizer que ouço sempre os maiores elogios ao hospital de Santa Marta (coração). E quem paga os medicamentos? O seguro? Há medicamentos para os cancros que custam nais de cem mil euros.
Já agora, sobre as urgências nos privados: já se vê mais, mas os velhos são poucos. E não, não é igual ao público, fora o preço da consulta. Houve dias em que paguei quase mil euros. Este meu familiar entrava de manhã e só saía pela noite.
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