Tenho, pois, estado nesta fase de hibernação. Eu sei que há uns abençoados a quem o corona deu de mansinho. A mim, pancada forte, com febre, dores e congestionamento foi coisa de curta duração. Mas o cansaço e o sono têm sido dose. E o que prova que isto tem a ver com a raça do corona e não com a vítima é que, apesar de o meu marido ser muito diferente de mim a todos os níveis, eu e ele temos os mesmos sintomas, sem tirar nem pôr. O cansaço e a falta de olfacto e de sabor são iguais.
Hoje calhou ele ter um assunto a tratar no Boulevard de Alvalade. Como também havia um assunto a tratar num banco e porque já estou que nem posso só de pensar que estou hibernada há dias, resolvi ir com ele.
Quando me vi ao espelho no carro achei-me estranhamente branca. O meu marido também me estranhou, tão branca e olheirenta. Como ele é muito moreno, nunca está branco e olheirento. Eu estou com aspecto de desenterrada.
Bom. Ele lá foi à sua vida.
Ao ver-me sozinha na rua, senti-me meio zonza, o ar muito branco, parado. E eu a levitar. A pairar.
Vi um supermercado e resolvi ir comprar bananas. Consumimos duas por dia (uma cada um) pelo que dava jeito reaprovisionar. Quando me vi na rua com um saco de plástico transparente com quilo e pouco de bananas não apenas achei que era pouco estético andar a laurear com um saco de bananas na mão como senti que me cansavam.
Voltei atrás, ao carro, para as depositar. Cheguei lá já cansada. Avaliei se teria energia para voltar ao passeio. Resolvi que sim. Devagar, devagarinho.
Resolvi entrar antes numa livraria e comprar dois livros de poesia que tinha em atraso.
Em situações normais, deslizaria pelas estantes, tentada por dúzias de livros. Hoje não. Peguei nos dois pequenos livros, paguei-os e saí, cansada e desidratada.
Depois vi uma loja de roupa e, na montra, uma blusinha clara em tons róseos e rebuçados. Resolvi entrar. Mas estava com calor, sem energia, abúlica. Pensei que nem pensar em prová-la. Queria era sentar-me e beber um litro de água.
Felizmente ligou-me o meu marido e senti-me como se estivesse a ser salva. Lá regressei ao carro.
Viemos para casa, cansados, cheios de sono. Os dois.
E lá me convenci a fazer um esforço adicional. Fomos os dois dar um pequeno passeio higiénico com o fofo dog de guarda. Coisa pouca, em câmara lenta.
Claro que, antes, tínhamos parado na Frutalmeidas para trazer os incontornáveis pastéis de massa tenra.
Em casa fizemos uma salada e comemo-la com pastéis. Mas estávamos de tal maneira que apenas comemos um, cada um.
E já mal abríamos os olhos. Cansados, perdidos de sono. Uma coisa inexplicável. Não é falta de fôlego, não é falta de ar. É apenas falta de energia. Total falta de energia.
Há bocado estava aqui a querer ler uma coisa. E outra vez só a deixar-me dormir. É de loucos.
Resolvi, então, virar-me para o YouTube. O mesmo castigo. Dou por mim de olhos fechados.
Pareço eu que fiz uma maratona e, portanto, que tenho razão para estar nisto. Mas qual quê...? Qual maratona? Isto deve é ser alguma variante do corona que nos come as pilhas todas. Só pode.
Não conseguindo, pois, fazer passeios por mim, passeio antes por aqui. Lugares fantásticos. A arte e a técnica humanas podem ser quase mágicas. No meio, um lugar português, a incrível Casa do Penedo. A boa arquitectura, mesmo quando popular, mesmo quando ancestral, e, em especial quando é ousada e desafiadora, é do melhor que há.
Bom passeio!
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