O tempo está a ficar fresco, amanhece entre o sol que ainda teima em mostrar-se e as nuvens que já se afoitam a tapá-lo.
Quando me levanto gosto de começar o dia com a largueza do grande espaço que tenho à minha frente.
Nem sempre as gaivotas embelezam a minha paisagem matinal com o seu voo. Por vezes lá andam, mas distantes. Fico à espera que venham até aqui perto, gosto de as ver à minha altura, eu aqui no alto e elas a dançarem à minha frente. Mas, mesmo que não venham para junto de mim, só de vê-las já me dou por contente.
Hoje de manhã cedinho foi assim. Andava lá uma mas ao longe. O que ela voou, livre, ágil, cruzando o céu.
O céu estava quase escandaloso. Gostava de ter podido ficar aqui, encostada à janela, a olhar o assombro da cor do céu, as nuvens, o rio, a gaivota. Mas não foi possível. No entanto, fotografei o que vi para que, agora, possa estar aqui, a ver de novo. E a partilhar convosco. Vejam o que eu vi. Estejam aqui comigo.
O céu estava quase escandaloso. Gostava de ter podido ficar aqui, encostada à janela, a olhar o assombro da cor do céu, as nuvens, o rio, a gaivota. Mas não foi possível. No entanto, fotografei o que vi para que, agora, possa estar aqui, a ver de novo. E a partilhar convosco. Vejam o que eu vi. Estejam aqui comigo.
De tarde, o céu tem-se toldado aqui e ali, tem chovido de vez em quando, e depois anoitece cedo. Agora a minha caminhada de fim de dia já é feita toda de noite. A beira do rio está escura, deserta. Por vezes vê-se um vulto mesmo rente à água e não se percebe se pesca, se apenas se está a deixar estar submerso na escuridão ou se terá saído do fundo do mar.
Quando o tempo começa a ficar assim, apetece-me ir passear para o norte, procurar o frio mais frio, a névoa, o granito. Talvez dentro de dias.
Apetece-me fugir desta cidade que gosta de encurtar o tempo. Não gosto disso. As montras começam a aparecer com árvores de natal, renas, bolas. Não gosto. O Natal é no Natal ou, quanto muito, uns dias antes.
Nunca consigo comprar os presentes com antecedência. Não consigo ter esse tipo de eficiência burocrática. Quase só junto ao Natal sinto que estou no Natal. Para espanto dos meus amigos e colegas que, para evitarem enchentes ou confusões em lojas, começam com meses de antecedência a programar tudo, a fazer compras, embrulhos e sei lá que mais, eu só uns dias antes, quase de véspera, é que me apetece decorar a casa e só nessa altura sinto inspiração para comprar presentes.
Faz-me muita impressão as pessoas que compram a mesma coisa para a família inteira. Tenho uma pessoa na minha família que faz isso. Vai a uma loja e vê uns castiçais engraçados: compra um para cada membro da família e fica despachada. Nada que enganar. Diz que não lhe dá trabalho nenhum fazer compras de natal.
Eu sou o oposto. Compro coisas específicas para cada pessoa de acordo com o que me parece que é o seu gosto, e tento ser minimamente original. Por isso, não apenas deixo para as últimas como tenho que ir a muitas lojas, tenho que escolher; depois, como padeço de falta de tempo e Lisboa nessas alturas fica caótica, pelo menos nos sítios que frequento, trago as coisas sem embrulhar. E é na véspera, no chão da sala, junto à lareira, que me ponho a fazer embrulhos, a separar os presentes por destinatário. Gosto de oferecer. E, em particular, de oferecer livros. Gosto imenso de oferecer livros. Ou molduras bonitas ou fotografias tiradas por mim. Ou écharpes. E, claro, brinquedos e livros para as crianças.
Mas isso é no Natal. Não agora. Não gosto nada de antecipar o que quer que seja. Tal como não gosto de cultivar saudosismos. O tempo em que vivo é este, agora, neste preciso e efémero instante.
Filosofias à parte: agora já apetece vestir uma roupa mais quentinha, escolher uns tons mais saison. Começo a revisitar as minhas blusas e casaquinhos mais temperados porque quando regresso, ao fim do dia, já está frio.
Agora, depois de ter escrito a linha acima, resolvi ir fotografar o que vou vestir amanhã para vos mostrar.
Vou vestir umas calças pretas justinhas e uma blusa branca de manga curta.
Por cima vou vestir esta blusa preta de lã muito macia, quase aveludada.
É evasée e faz uma espécie de gomos, uns sem pêlo, outros com pêlo.
Tem umas mangas a meia altura, abertas, quase um poncho.
De dia fico só com a blusa branca mas de manhã e à noite vou pôr a camisolinha preta por cima.
E, para dar um toque de cor,
vou usar este colarzito comprido, bem colorido, que joga bem com a écharpe macia.
vou usar este colarzito comprido, bem colorido, que joga bem com a écharpe macia.
A carteira tem um tom quente que joga com tudo.
Os sapatos serão pretos, claro. Bem altos.
Os sapatos serão pretos, claro. Bem altos.
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E, para este post não ficar completamente fútil, coloquei ao pé da toilette três livros (que se vêem mal pois o flash deu um bocado cabo da fotografia), a saber:
- Principais poemas de Edgar Allan Poe, com introdução de Fernando Pessoa e traduções de Fernando Pessoa e Margarida Vale de Gato, com edição, prefácio e notas também de Margarida Vale de Gato
- Lettera amorosa, Iluminações e Sombras de Joana Lapa, com apresentação de Robert Bréchon e Maria João Fernandes - um livro sobre o qual tenho que me debruçar rapidamente porque me está a intrigar
- Quinto Livro de Crónicas de António Lobo Antunes
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Bom. Vou mas é deixar-me disto que eu não sou nenhuma especialista em moda. Nem sei, sequer, fotografar roupa. Parece fácil mas olhem que não é. Parece que fica tudo sem jeito. Por isso, se é de moda que estamos a falar, então que seja moda a sério. Chanel, claro. O que vestir neste outono e inverno do ano da graça de 2013.
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Vinha com uma ideia tão diferente quando cheguei aqui, nem sei porque é que divergi para isto. Queria falar sobre o anonimato, ou sobre os pseudónimos ou sobre os artistas incógnitos, qualquer coisa por aí. Vejam bem. A ver se amanhã escrevo sobre isso. Há uma pessoa que desperta o meu interesse e sobre a qual gostaria de falar. A ver se os malucos do governo não arranjam para aí nenhuma bronca para eu não me dispersar e conseguir escrever mesmo sobre isto. Também ainda tenho pendente uma coisa sobre infidelidades ou filhos que afinal se calhar não são filhos do pai. Acaba por se ir metendo isto e aquilo e, às tantas, já nem me lembro bem do que era.
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Li, agora, nas estatísticas do blogger, que a última entrada no Um Jeito Manso foi através das seguintes palavras 'varrendo a tristeza para bem longe'.
Li e fiquei emocionada, juro. Ainda estou. mesmo com lágrimas nos olhos. A sério.
Alguém, longe, não sei onde, agora mesmo, escreveu 'varrendo a tristeza para longe' e o google encaminhou-o até mim. Tomara que aqui tenha encontrado conforto, que a esta hora a sua tristeza já tenha sido varrida para bem longe.
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Bom mas agora vou deitar-me, tenho andado a dormir pouco. Pouco...? Pouco é sempre. O que quero dizer é que é menos que o habitual.
Mas antes deixem que vos convide para irem dar um alôzinho ali ao meu Ginjal e Lisboa. Hoje por lá estreia-se uma nova voz: Joana Lapa. Ainda não a conheço mas, como podem mais ou menos perceber na fotografia, o livro tem uma bela capa e a autora é bonita. Li um pouco da introdução e estou curiosa, ainda não percebi bem quem ela é. Seja como for, o poema que escolhi levou-me até uma imagem que ficou presa num certo espelho. Memórias. Segue-se-lhes mais um momento de jazz.
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E, por agora, mais nada.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.
E desejo-vos, sobretudo, saúde e disponibilidade para se sentirem felizes.
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