Pode parecer estranho, mas a dada altura agarramo-nos à dor como se ela fosse um heroísmo e pomo-nos a expor feridas como quem exibe condecorações.
O nosso desígnio, inconfessado, mas claríssimo, passa a ser atravessar a vida (e o que resta dela) com o estatuto de vítima.
A nossa cabeça de pessoas crescidas é complicada. Descobrimos que há um prazer em listar achaques e traições, e se a minha chaga puder ser maior que a tua tanto melhor, isso reforça o meu estatuto. A verdade é que, se não tomarmos atenção, a desgraça íntima torna-se um escanzelado pódio onde nos blindamos.
(...)
Tão facilmente ficamos atolados em becos cegos, em círculos sem saída, reféns de uma amargura que cada vez vai sendo mais pesada e contamina inexoravelmente a vida.
Muitas vezes aproveitamos a dor para nos instalarmos nela. (...). Parece que aquilo que aconteceu (e de mal, ainda por cima) nos saciou completamente.
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Não posso estar mais de acordo. A vida pode pregar-nos mil ratoeiras, aqueles que amamos podem trair-nos e desiludir-nos mil vezes, aqueles que deveriam velar por nós podem erguer à nossa frente mil obstáculos - mas nós temos que perdoar, ser corajosos, levantar-nos, levantar-nos de cada vez que caiamos, por mil vezes que isso aconteça, encontrar outros caminhos e seguir em frente.
E, no meio de tudo o que nos aconteça, temos que continuar a ficar deslumbrados com a vida, temos que viver, felizes por estarmos vivos - até ao último instante.
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1 comentário:
kkkkkkkkk. que dahora.
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