A seguir a isto podem ler a minha resposta a uma questão de ordem prática que alguém hoje colocou num motor de busca tendo sido encaminhada até aqui: as camisas dos homens devem ter vinco nas mangas?
Mas isso é mais abaixo, a seguir a isto. Aqui, agora, a conversa é outra. É outra e muito diferente.
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Licencinha.
Hoje vou dizer umas coisas. Não levem a mal. Tenho um testemunho para dar.
É certo que os meus amigos esperam, talvez, que eu diga coisas de outra natureza. Adivinho-vos. Esperam que eu me mostre indignada. Há casos para isso. Eu podia dizer que o nosso primeiro não sabe o que é a democracia, que não tem moral, que não tem amor à pátria. Podia e, se calhar, devia.
Digo então umas palavrinhas simples. E breves, que a seguir quero passar a palavra.
Se ele, o nosso primeiro, pudesse, suspendia mesmo a democracia, seis meses chegavam-lhe - como a manelinha uma vez disse, mas ela, afinal, ao pé dele, não era má pessoa. Se ele pudesse não mudava a constituição: acabava com ela. Ele não gosta de leis, se não lhe servem diz que as muda, e diz isso porque ainda lhe resta um resto de decoro e intui que lhe ficava mal dizer que acabava com elas. Mas, de facto, onde ele se sentiria bem seria numa terra sem leis. Ele é o verdadeiro fora-de-lei.
Agora que já todos lhe vimos os dentes, a forma raivosa como os range, sabemos que seis meses lhe chegavam para escaqueirar de vez o país, e, a seguir, vender os cacos a qualquer um. Os eleitores foram na conversa de barítono, na carinha sonsa com sorrisinho de pechisbeque. E ei-lo agora onde está. E de lá não sai. O pior é mesmo a rafeiragem, têm muitas defesas, resultam de muitos cruzamentos. Misture-se o ângelo com o miguel (o correia e o relvas, quero eu dizer), misture-se a mistura anterior com o zé luís e o dias (arnault e loureiro), e misture-se a pomada assim obtida com o marco e a rute (o antónio e a marlene), e a misturada anterior com a cristina e a maya (a ferreira e a do tarot), e, no fim, tudo com o tony e o jorge (o carreira e o jesus) e vai chegar-se a um híbrido que tem genes deles todos. É isto que foi escolhido para primeiro. Dali só se pode esperar o pior. E, como todos os rafeiros, tem uma resistência que só vista. Resiliência, é capaz ele de dizer.
Mas o País é o que é, basta a gente ver os cartazes destas eleições. Parece coisa do azerbeijão de há 50 anos. Gente que parece uma caricatura. Vestem-se como não dá para acreditar. Fazem poses para a fotografia como nem a fingir. Escolhem slogans que são de gargalhada. Fazem conferências de imprensa hilariantes. Em grande número não passam de anedotas. Supostamente isto será o que de melhor há em cada terriola, escolhidos para serem os representantes do povo.
É deste tipo de gente que nascem os nossos representantes. Nomeadamente, é gente assim que, de vez em quando, se junta para escolher o secretário geral dos partidos. E nós depois votamos nesses secretários gerais ou presidentes. O que é se poderá esperar? Porcaria. Só sai porcaria.
É este o povo que temos? Ou o povo é melhor e aqueles que aparecem nos cartazes são personagens de filmes cómicos?
Uma desgraça, de qualquer maneira.
Por isso, meus amigos, para não me estar sempre a repetir e a mostrar o desgostada que ando com tanta rafeirice, e enquanto não acontece por aí uma chuva ácida que derreta a porcaria que parece ter ungido os políticos deste país, passo a palavra a outros.
Um homem e uma mulher. Eles que digam qualquer coisa que não tenha nada a ver com isto. Um testemunho sobre coisa nenhuma.
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Licencinha, pois.
E desculpem qualquer bocadinho de prosa mais licenciosa. Não ando com paciência para me censurar a mim própria, quanto mais aos outros.
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O vasto mundo oferecia-lhe uma infinidade de destinos possíveis, mas ele sentia-se bem na sua pele de batoteiro, de tecelão de fumos. Com o presente negado e o futuro deserto, voltou a fechar os olhos e a recapitular a vida, todo entregue a um desses balanços que, segundo os psicólogos, precedem as metamorfoses ou os esticanços de pernil.
A prisão? Já conhecia. A guerra? Ia conhecê-la. O exílio? Também por lá tinha passado. Era, portanto, um homem. admirou-se largamente de si próprio e agradeceu, no seu foro íntimo, a ovação delirante de um público invisível.
Assaltou-o uma melancolia desconhecida, talvez fome, e pensou que - se a tivesse - não se importaria de trocar a pomba do Espírito Santo por uma galinha. Abandonada a pose de anjo, levantou-se e partiu.
Eu quero é o seio de Deus, quero encontrar Abraão e me insinuar junto dele, até ele perder o juízo e me fazer um filho que terá muitas terras e ovelhas.
Emancipada eu não quero ser, quero ser é amada, feminina, de lindas mãos e boca de fruta, quero um vestido longo, um vestido branco de rendas e um cabelo macio, quero um colchão de penas, duas escravas negras muito limpas e quatro amantes: um músico, um padre, um lavrador e um marido.
Pensavam que tinham um pequeno poder - os jornalistas -, e interpretando como sinais de deferência os restos de temor ainda inspirados pela sua função, a maioria deles não viam que já ninguém os respeitava.
Pior: tratavam-nos como animais de circo - maus e agressivos na medida do necessário, mas sempre à espera de festas no fim. As dentadas, os golpes das suas garras, eram efeitos para a galeria: visavam apenas a conservação do antigo prestígio. Gritos e risadas acolhiam por vezes essas facécias, mas no fundo os espectadores não se deixavam iludir: sabiam bem que havia domadores e que os rugidos das feras apenas denotavam uma domesticação extremamente conseguida. No público, só pouquíssima gente ainda não tinha dado pelo enredo: a missão dos jornalistas era fazer valer o pessoal político; os políticos, em troca, faziam viver os jornalistas, não sem os chamar à ordem de tempos a tempos, exigindo-lhes o mais elementar dos reconhecimentos...
Quero comer o mundo e ficar grávida, virar giganta com o nome de Frederica, pra se cutucar na minha barriga eu fredericar coisas e filhos cor amarela e roxa, fredericar frutas, água fresca, as pernas abertas, parindo. Por dentro faço mel como colmeias, põe tua língua no meu favo hexágono.
Contudo, o 'métier' do Palha d'Aço proporcionava-lhe de vez em quando algumas pequenas satisfações, já que as grandes nada tinham a ver com as ruas e as suas intrigas, mas com o sol na pele, o correr dos rios, o murmúrio do vento nas árvores, quando o mundo toma de súbito uma dimensão inesperada.
Não tens voto nem vintém e ris de um certo modo repetido, até hoje, menos que poucas vezes. Tocas violão como ninguém toca mal como você, mas fremes. As asas de teu nariz ficam vibrando quando você faz música. Por aí começo quando quero entender minha paixão. As bordas do teu nariz, pulsando como um radar. Teu paletó de veludo cobre teu braço peludo. Me abaixo para pôr no ouvido o teu relógio de pulso, o que bate é teu coração. Me abraça, José, me abraso. Ai, com você me caso.
No que ele pensava, enquanto mais um dia sem outro objectivo que o seu próprio suor, era em como realidade e plenitude são uma e a mesma coisa; o resto é sombras e esquizofrenia, a horrível inanidade da vida.
Naquela época, ainda não suspeitava que as coisas más haveriam de ser um dia coisas boas, nem que as matrizes chocas e os tomates podres da mocidade que via fornicar pelos cantos andavam a gerar uma raça de garotelhos desgraçados, de ridículos bonecos das Caldas mais feios e informes do que caracóis, de cornudos e putanas a quem um queijo da serra embasbacava! Atravessando o Rossio a caminho da Boa-Hora, não sonhava sequer que ainda teria de falar com lampreias ou que as enguias e os pargos capatões se tornariam pretensiosos ao ponto de o quererem abolir.
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A fala do homem, a itálico, sempre ao lado de fotografias (de modelos masculinos) de Mario Testino, é extraída de 'Feriados nacionais' de Ernesto Sampaio.
Sobre o escritor transcrevo da wikipedia: Ernesto Sampaio (Lisboa, 10 de Dezembro de 1935 – Lisboa, 5 de Dezembro de 2001), poeta, tradutor, bibliotecário, jornalista, actor e professor do ensino secundário, foi um dos grandes teóricos e exegetas do surrealismo.
Apesar de pouco conhecido dos leitores, é um nome indispensável para o conhecimento das margens da literatura portuguesa contemporânea, ao lado de Mário Cesariny, Herberto Helder ou António Maria Lisboa. Como jornalista trabalhou nas redacções do «Diário de Notícias» e, de 1980 até à sua extinção, no vespertino «Diário de Lisboa». Por altura da sua morte, colaborava no suplemento «Mil Folhas», do «Público», onde exercia a função de crítico teatral. Foi tradutor de Artaud, Éluard, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc.
Era marido da actriz Fernanda Alves, a quem sobreviveu apenas um ano e cuja morte lhe inspirou o seu último livro Fernanda.
A fala da mulher, sempre ao lado de fotografias (de modelos femininos) de Guy Bourdin, é extraída de 'Solte os cachorros' de Adélia Prado.
Sobre a escritora transcrevo um excerto da wikipedia: Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 19351 ) é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central.
Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.
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Alguns dos meus livros em curso de leitura ou a caminho disso [entre eles os dois acima referidos] |
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E, por hoje, por aqui me fico.
Desejo-vos, meus caros Leitores, uma terça feira muito boa.
2 comentários:
Também concordo com o fim da Constituição! Só dá chatices a tipa!
Jorge Bacelar Gouveia, Professor e Constitucionalista – e homem do PSD, portanto insuspeito para o caso, disse, a propósito das provocações do PM que a coisa era séria, que o PM não deveria atacar nunca um Orgão de Soberania e que o PR deveria actuar (ou seja, pôr travão naquelas provocações). Cito JBG, embora discorde dele – no plano político e só nalguns aspectos – porque o respeito, e muito, como Jurista e Constitucionalista.
Em boa verdade, aquilo a que se tem vindo assistir começa a ser bastante grave - não é só grave, mas bastante. Isto porque um PM e o seu Governo não devem elaborar Leis (como aquelas contidas nos 2 últimos O.E) que colidam com a Constituição. E se porventura tal sucede, que tenham a humildade de reconhecerm o erro. Passos (e Portas, que o apoia) não só o fazem, como persistem nessa atitude. Uma, duas, três vezes e por aí fora. O PM decidiu-se pelo confronto com o TC. Quer o seu derrube. Hoje o TC, amanhã os outros Orgão Judiciais, depois o Parlamento, as Liberdades, a Democracia, e tudo o mais que entender. Passos (e Portas, que o apoia) é um indíduo perigoso; um fascista, um tipo de fascismo mais adequado à realidade actual – ultra-liberal, anti Estado, anti-social, pró-capital financeiro, etc. Aquela dupla, Passos-Portas constitui hoje uma ameaça para a Democracia. Paulatinamente vão desintegrando o que resta do estado Social, empobrecendo a população, etc. Portas tem o Mota Soares para fazer o trabalho sujo por ele, Passos é mais valente e é ele quem dá a cara no ataque a orgãos de soberania como o TC (Portas é mais falso, por um lado tem o Mota a destruir o que resta do Estado Social e por outro, com aquela sua voz de falsete, vai propondo soluções para aquilo que o TC chumbou, como se não tivesse apoiado o que foi negado pelo TC). Em nenhum país da UE a que pertencemos, ou noutra Democracia, se assiste ao que aqui se passa: um governo e um PM a atacar o TC, a redigir legislação que eles sabem conter inconstitucionalidades, etc. Só aqui, neste país com um governo de extrema-direita (PSD/CDS- Passos-Portas). Ao que se chegou em portugal! Inacreditável!
P.Rufino
PS: e depois ainda há uns escribas, como o Henrique Raposo a escrever umas imundíces como a que li hoje, no Expresso-on-lin
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