terça-feira, novembro 01, 2011

Maria Gabriela Llansol descrita por Maria Teresa Horta e lida por João Barrento - a intemporal força das palavras que vêm do fundo dos tempos



Maria Gabriela LLansol

Retiro ao acaso:

'Ofuscante.

De onde nasce a paixão? - Não nasce: arquitecta-se a si milimetricamente, medida-escrita, pesada e descrita, até se ver o osso e a paixão, portanto, se extingue em si mesma.

E se apaga.

Tal como o desejo - desejo nascido com o único fim de logo ser negado?

Extinto. - Pelo próprio corpo... da escrita.

Assim como a sexualidade que mais me parece um acto de laboratório de prazer.'

Maria Gabriela Llansol

Recomeço, agora pelo princípio:


 'É um livro de sabedoria: de uma androginia quase alquímica.

É um livro sem brandura, ferino e obscuro ao mesmo tempo. De um falso despojamento de escrita e de sexualidade, na mesma medida inventada. É um livro de um fingimento total, num jogo contido e tenso, naquilo que é cerne e raiva e não se sabe mesmo se crueldade.

É um livro labiríntico, de um egoísmo feroz. Egocêntrico e redondo, à volta de si mesmo.'

Maria Gabriela Llansol

O texto acima, que alterei face à ordem original, é parte de um texto escrito em 1987 por Maria Teresa Horta para a o suplemento Livros da publicação Mulheres sobre 'Contos do Mal Errante'.

Gostei de o ler tal como vou gostar de ler os outros textos agora publicados em 'Caderno de Leituras', da Mariposa Azul, 'selecção de artigos publicados na imprensa generalista portuguesa em torno de alguns livros de Maria Gabriela Llansol.', artigos escritos por Maria Lúcia Lepecki, António Guerreiro, Paula Mourão, Eduardo Prado Coelho, Francisco Vale, Regina Louro, Maria Alzira Seixo.

<««««»»»»>


Amo a escrita de Maria Gabriela - é um sopro que vem de dentro do corpo, de dentro da terra, é uma escrita indiferente às efémeras circunstâncias, é um roçar pelo vento, é um espreitar pela janela, um encostar à ombreira, um pôr a mesa, um fazer pão, um sorriso, uma descoberta da força das palavras, um sussurro, um afago, um corpo de mulher, um corpo que transita. Não sei dizer. É uma coisa sem tempo, sem ordem, sem preceito, é uma coisa que se deixa ficar (dentro de nós). Palavras que valem por si, independentemente do seu sentido.

<««««»»»>

E agora, à laia de lembrança para a Leitora Contemplativa que partilha este meu amor pela escrita de Maria Gabriela Llansol e tão bem a tem divulgado, aqui deixo este clip em que João Barrento lê alguns fragmentos dos cadernos inéditos de Maria Gabriela, fragmentos que, em meu entender, ligam muito bem com o texto da Maria Teresa Horta.




 

2 comentários:

A Matéria dos Livros disse...

Que emoção! Esta sua entrada de hoje é absolutamente linda!
Partilho o deslumbramento pela escrita de Maria Gabriela Llansol, a sua estranheza e o seu encantamento, o seu chamado (não sei que palavra escolher, sedução parece-me pouco, ainda que sejam textos sedutores e irresistíveis...) E as fotografias igualmente nos mostram uma mulher invulgar, entregue às coisa simples e densas, intensas...

Muito agradeço a lembrança do vídeo, vou levar.

Bom Dia de Todos os Santos!

Um Jeito Manso disse...

Leitora,

Ainda bem que gostou. É um prazer a escrita de Maria Gabriela e gostei também de ler oq ue a Maria Teresa Horta sobre ela escreveu. Apeteceu-me buscar estas fotografias, acho que mostram bem de onde vem a escrita dela.

E ouvir ler as suas palavras também é um prazer - pelo menos, eu acho.

Um bom dia também para si, Leitora.