segunda-feira, abril 08, 2019

Shinrin-Yoku





Só por pretensiosismo é que eu, falando em público e a sério, poderia referir-me ao pedaço de terra a que chamo heaven como floresta. Mas, para mim, é como se fosse: é a minha floresta, é o meu bosque tão querido. 


Choveu todo o dia. Nada de mais mas o suficiente para a terra estar molhada, a vegetação estar lavada, enfeitada com gotas, a quietude ainda mais limpa, os pássaros ainda mais felizes.

Pus-me a filmar para aqui mostrar e fiz três vídeos. Mas porque estava a chover e eu a segurar no chapéu de chuva com uma mão e a máquina com a outra, a coisa ficou mais do que imperfeita. Além disso, esqueci-me que não posso movimentar a máquina depressa demais. Por vezes, ficou a parecer um carrocel. Portanto, não os vou aproveitar. Tentarei, para a próxima, que fiquem melhores. E depois a vozinha. Baixinha, rouca, pouco mais que um sussurro. Não me dá jeito andar por ali a falar alto, sozinha. Então, a falar baixo e com o som da chuva a bater na sombrinha, fica impraticável. O meu marido quis ver e até estava a ver com atenção mas volta e meia, porque não ouvia, pedia para eu pôr mais alto. Só que, de facto, não dá para pôr mais alto: é um sussurrar que quase se confunde com o sopro do vento nas ramagens.


Tenho que aprender a transmitir o bem que me sabe e o bem que sinto que me faz andar por ali, respirando um ar tão sereno, tão cheio de paz, sem radiações, sem ruído, sem intrigas ou pressas, um ar perfumado e atravessado pelo canto dos pássaros. Ao aspirá-lo penso que parte daquele maravilhoso ambiente está a entrar dentro de mim, a percorrer as minhas artérias, a irrigar a minha mente, a minha consciência, a minha alma.

Se me analisassem o sangue ou o batimento do coração, não sei se seria visível o bem que isso me faz. Ando devagar, os pés pisando a caruma sobre a terra macia, passando a mão pelo alecrim, pelo rosmaninho, espreitando a madressilva a quer despontar, deslumbrando-me com as ervinhas que crescem por entre o musgo, as pedrinhas cobertas de bocadinhos de tempo. Absorvo tudo através de todos os sentidos, fico melhor pessoa, fico ainda mais tranquila e feliz, sinto-me agradecida.

Se calhar estou a praticar Shinrin-Yoku, o banho de floresta, isso que os orientais acreditam que é uma forma de curar o corpo e a alma. Consiste em simplesmente estar na floresta.
Shinrin-Yoku is the practice of spending time in nature for the purpose of enhancing health, wellness, and happiness. It is a Japanese term that translates into “forest bathing” - taking in the forest atmosphere.

Não sou dada a medicinas alternativas -- sou a favor de rigor e de coisas que se podem comprovar. Não sou dada a religiões, não sou dada a crenças, a metafísicas, não frequento clubes ou seitas, não alimento correntes, não me ponho como seguidora seja do que for, não tenho grupos nem sequer do WhatsApp, não tenho gurus, não tenho rituais, não alimento superstições. Nada. Cultivo orgulhosamente a minha natureza de bicho.

Mas acredito na tranquilidade que vem da natureza, acredito no poder infinito que emana da terra, acredito na beleza, na imensa beleza das árvores, das flores, das pedras, dos animais, do sorriso no olhar daqueles que amamos, na beleza imaterial das palavras boas que transportam a harmonia e a música que atravessa os céus, acredito na paz que pode crescer dentro de nós -- acredito na tocante generosidade da natureza, acredito na felicidade que ela nos traz.


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Fotografias feitas in heaven este domingo

9 comentários:

Isabel disse...

Que post tão relaxante!
Pena que os videos não ficaram bons...

A UJM ainda é pior do que eu...Tenho o whatsapp ... E sigo muitos blogues. De resto também não tenho nem sigo mais nada, que me lembre...nem sou muito dada a superstições, mas tenho uma ou duas. E tenho religião.

Acho que não conheço mais ninguém que seja como a UJM!

Beijinhos e uma boa semana:))

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Eu fui criada como católica mas cedo me desliguei. Agora limito-me a adorar a natureza, a perfeição injustificável das coisas, a bondade, a alegria e a generosidade de algumas pessoas. Não há deuses abstractos e castigadores nesta minha 'religião': só há beleza, paz e coisas boas.

Não gosto de me sentir parte de nenhum rebanho, faz-me impressão, parece que uma pessoa fica com as ideias condicionadas. É aquilo que digo: sou meio bicho. Bicho do mato. Também podia ser do fundo do mar.

E não deixe secar as tintas, Isabel! Sabe: houve uma altura em que comprei um frasco de massa de modelagem e misturava-a com as tintas para os quadros ficarem com texturas. Quando falo nisto dá-me uma vontade. Mas já não sabia onde guardá-los...

Uma bela semana, cheia de bons momentos!

Isabel disse...

Também não gosto de me sentir parte de um rebanho, "Maria vai com as outras" (mas já me aconteceu...(:

Sempre fui um pouco diferente, não por ser provocadora, mas apenas porque não encaixava nas regras da maioria. Hoje, sinto-me muito bem assim. E a religião, o ser crente (nem sei bem em quê), mas acreditar que há algo para além da morte, acho que não é uma escolha: ou se tem ou não se tem. Não há meio-termo. Eu acredito em algo, mas o meu Deus é bom.
Enfim...

Já tenho esses materiais todos. Só falta mesmo começar.
Antigamente, não havia aqui quase nada desses materiais, e então quando começaram a aparecer desatei a comprar de tudo, com medo que esgotassem. Maluqueiras!

Uma bela semana também para a UJM:))

Anónimo disse...

Olá jeitinho,
Os banhos da Floresta, não são nada de transcendente, nem estranho, não tem nada de religioso e muito menos tem a ver com seitas.
Representam tão simplesmente, o voltarmos a viver em comunhão com a natureza, voltarmos a ter uma ligação com ela e mantermos a nossa mente focada no momento presente.Os Seres humanos perderam esta ligação ao mundo mais rural, mais natural e isso está a fazer-nos ficar doentes. Existem estudos que comprovam os benefícios de estarmos imersos na natureza, as essências que emanam das árvores e dos arbustos, são bastante benéficos para o nosso sistema imunitário, está provado cientificamente. No Japão os banhos da Floresta fazem parte do seu sistema Nacional de saúde e foram introduzidos para prevenir os suicídios.
Já fiz vários passeios destes e recomendo.
Mas pode passear-se num jardim ou numa praia para também ter benefícios para a saúde, desde logo baixar os níveis de stress, pois baixa os níveis de adrenalina e de cortisol.
Logo os seus passeios no seu heaven de certeza que lhe fazem muitíssimo bem e podem ser considerados banhos da Floresta.
Beijinhos Ana

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Choveu todo o dia?
Aqui por São Martinho tivemos mais sorte, deu para fazer a Procissão do Senhor dos Passos (das 16h30 às 19h15) sem um pingo.

Este seu amigo é mui Católico, mas obviamente crítico de tanta chalaça inventada pelos Homens para exercerem poder sobre os outros e anti qualquer conceito castrador. Tal como o Deus da Isabel, o meu também é bom e infinitamente amoroso.

Medicinas alternativas e cangalhadas afins, vade retro!

Uma rica semana para a riquíssima UJM.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Acabei de escrever um post onde poderá ler que fiz a mesma coisa: açambarquei o que pude com medo que as lojas com estes materiais desaparecessem da superfície da terra. E mostrei algumas das minhas fantásticas obras de arte. E, como poderá ver, o que é preciso é de ir em frente, sem medo. Claro que haverá quem pinte com arte. Mas eu não, eu é mesmo maluqueira e descaramento. Prazer puro de pintar sem objectivos de qualquer espécie.

Quanto a isso de acreditar ou não em deus, nisto de crenças acredito noutra coisa. A gente, ao longo da vida, vai perdendo átomos e outros vão renascendo. Os que perdemos ficam por aí. E também respiramos átomos alheios. Por isso, parte de mim é hoje asa de borboleta-pespineta, perninha de formiga-rabiga, biquinho de passarinho-lindinho. E eu tenho em mim, talvez dentro do coração, perlimpimpins de violeta, brilhinhos de arco-íris, perfumezinhos bons de alecrim e rosmaninho. E nessa permanente transformação eu acho que há em todos nós, de uma maneira ou de outra, a imortalidade. E isso é melhor do que morrermos e, quando damos por nós, estamos no céu, rodeados de gente muito bem conservada e comportada.

Beijinhos, Isabel.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Que engraçado isso das procissões. E o Francisco foi na procissão? Ou ficou só a ver?

Uma vez, quando era miúda, fui com uma prima da minha mãe a uma procissão. Guardo a memória de uma coisa vagarosa, acho que mal 'ensaiada'. Uns ficavam muito para trás. Eu corria ali pelo meio e a prima da minha mãe, que não tinha filhos, ficava aflita com medo que eu desaparecesse.

Há uns anos fui ver passar uma procissão para fotografar e gostei imenso. Mas o meu marido andou o tempo todo a puxar por mim, a dizer que era chato eu estar a fotografar as pessoas que iam ali tão a viver o momento.

Sobre crenças já dissertei um pouco sobre as minhas ali na resposta à Isabel pelo que aqui pouco mais tenho a acrescentar. Para além do que escrevi, também acredito na vida depois da morte: enquanto houver alguém que guarde a memória de quem partiu, é como se essa pessoa estivesse viva.

Abraço, Francisco.

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana, bela Fada da Floresta,

Gostei de ler sobre os benefícios de respirar o ar puro e a tranquilidade de estar no meio da natureza. É tão bom. Caminhar lentamente, estar entregue apenas ao prazer de aspirar o ar limpo -- só pode mesmo ser bom para a mente e para o corpo. E é inspirador e é uma fonte de serenidade. Sente isso, quando faz passeios pelo sbosques, não é Isabel?

E o canto dos passarinhos é tão alegre e inocente.

Gostei de vê-la por aqui, Ana. Obrigada pelas suas palavras.

Beijnhos, Ana.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Olá UJM,

Participei mesmo, literalmente segurei uma "vela" (na realidade era uma lamparina de cera líquida montada num "archote" alto) a fazer "escolta" à personagem da Verónica/Padeirinha que segundo reza a tradição enxugou o rosto de Cristo.
Em São Martinho as procissões são muito bonitas e bem organizadas, na 6f Santa à noite haverá o auto de descida da Cruz e Procissão do Enterro, que também é muito giro, vai tudo caracterizadinho à moda da época. E, sim, vou participar, normalmente faço de José de Arimateia.

Rico soninho.