No post abaixo falei de coisas sérias (FMI, Blanchard), coisas ridículas (Marco António Costa), coisas recorrentes (Standard and Poor’s), falo na triste sina deste pobre país de gente desatenta e manipulável. Mas isso é a seguir.
Aqui, agora, vou falar de outra coisa. Não quero acabar o meu dia com conversas aborrecidas.
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Me and Bobby Mcgee
- muito dancei eu ao som desta música -
(Não podendo ter aqui a Janis Joplin, tenho a Pink)
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Me and Bobby Mcgee
- muito dancei eu ao som desta música -
(Não podendo ter aqui a Janis Joplin, tenho a Pink)
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Faz este dia 19 de Setembro muitos anos que dei um passo que viria a marcar a minha vida. Já falei algumas vezes nisto mas gosto de o recordar.
Eu namorava há quase três anos um poeta cantor, que me enchia de carinhos, de sonhos, que me colocava num altar, num pedestal. Eu era aquela com quem ele viver para o resto da vida, a única e definitiva mulher da sua vida. A sua deusa, a sua musa.
Mas eu nunca fui santa, quanto mais deusa.
Tinha visto, já várias vezes, de relance, um outro, esse sim com cara de cristo, corpo de atleta, jeito de guerrilheiro. Mesmo o meu género.
(Chamo-lhe cristo e a minha filha, quando depois lê isto, discorda, como se fosse um exagero meu: ó mãe, um cristo...? Não me admiro. Mas ela havia de o ter visto naquela altura)
Ele olhava-se com olhares longos e gulosos e eu talvez fingisse algum pudor mas tinha o cuidado de tentar que ele percebesse que era um falso pudor.
Não gosto de situações pouco claras e, por isso, sem medir bem as consequências, um dia disse ao meu namorado que tinha conhecido o homem da minha vida (e que não era ele). Como é bom de imaginar, ele quase caíu fulminado. Sosseguei-o: eu não sabia quem era esse tal, não sabia se o voltaria a ver.
Mas, de vez em quando, via-o. Uma vez vi-o rodeado de meninas, algumas sentadas ao seu colo, cheias de peninha, e que lhe faziam desenhos e dedicatórias no braço engessado. Soube depois: era desportista mesmo e o desporto nem sempre dá muita saúde, tinha partido mais um osso.
Outra vez, uma ex-colega de liceu contou-me, enlevada, que tinha um namorado fabuloso, só qualidades, giro, giro que só visto, e carinhoso, e culto, que ia lá ter com ela ao apartamento onde ela estava a viver, que ela lhe fazia jantarinhos. Tantos os elogios que pressenti que fosse o cristo guerreiro. Perguntei-lhe o nome dele. A partir daí quando pensava nele associava-lhe esse nome. Achava estranho que um gato daqueles estivesse a namorar uma rapariga tão desengraçada que se armava em mulherzinha. Ele disse-me depois, quando eu mostrei o meu espanto, que ela tinha um corpo e tanto. Disse isso e ponto final como se fosse razão suficiente. Até hoje ainda estou para perceber mas ele nunca foi além dessa explicação e, de resto, nunca gostou de falar das namoradas que teve. Lembro-me que, além disso, ela tinha sempre as mãos geladas, que desagradável devia ser. Mas, enfim, o corpo bem feito deveria compensar também esse pormenor.
Podiam passar-se meses sem eu o ver. Mas, se o via, aquela atracção reacendia-se. Nem me lembrava se ele ainda namoraria a outra ou não. Eu namorava o meu poeta-cantor que, tendo começado a dar aulas, queria marcar casamento comigo para daí por uns meses, coisa que não me deixava muito entusiasmada.
Uma vez eu ia com umas amigas e cruzámo-nos com o cristo de olhos cor de mel. Elas depois disseram-me 'credo, parecia que te queria comer com os olhos'. E eu respondi 'e eu a ele'. Ficaram alarmadas. 'Mas tu namoras!' Ri-me 'e então?'. Avisaram-me, 'não sejas açambarcadora'. Ri-me. Intuía que guardado estava o bocado para quem o havia de comer.
Até que um dia de temperatura suave como seda, ao fim da tarde, um dia 19 de Setembro, calhou, por uma daquelas coincidências, que fossemos ambos assistir a um concerto, ainda tenho essa música no ouvido. Coloquei-me mesmo atrás dele para o deixar nervoso. Todo o tempo ele esteve numa agitação a querer olhar para trás sem dar muita bandeira. E eu a vê-lo. Ele a querer perceber se eu ainda ali estaria e eu a controlar-lhe os movimentos. Estava com uma amiga e ele com um amigo. A minha amiga percebia que alguma coisa se estava ali a passar. Eu, como ela estava solteira, ainda tentei, 'era bom era para ti' e ela disse 'pois era, mas ele é que nem olha para mim'.
Mas, enquanto dizia isso, eu estava cheia de vontade que ele se virasse descaradamente para trás, que metesse conversa comigo, que passasse aos actos e se deixasse de olhares. Mas os homens são uns atados.
Aquilo acabou, saímos ao mesmo tempo, ele só a olhar para perceber para onde é que eu ia e eu a ver que, logo por coincidência, íamos para o mesmo sítio. Ele ia sozinho e eu com a minha amiga. Ele sempre a olhar e a minha amiga a dizer 'ele não tira os olhos de ti' e eu a rir.
Depois a minha amiga despediu-se e ele ficou numa paragem do Largo do Rato e eu tinha que atravessar a rua para ir para casa. Mas nisto umas senhoras vieram perguntar-me como é que se ia para um sítio qualquer. Nem pensei duas vezes. Fui ter com ele e perguntei-lhe se ele sabia. Não faço ideia do que ele disse. Só sei que, depois de despacharmos as senhoras,ele me perguntou para onde é que eu ia e se podia ir comigo. Eu disse-lhe que a rua era livre. Ele foi. Quando nos despedimos à porta de casa, combinámos encontrarmo-nos no dia seguinte. Nesse dia seguinte, eu disse-lhe que namorava. Respondeu-me que não tinha ciúmes. E acrescentou que nem os casamentos são de pedra e cal, quanto mais os namoros. Achei que a argumentação fazia sentido. E, entendidos que estávamos, tornámo-nos inseparáveis.
Andei com os dois durante alguns meses. Mas eles eram uns picuinhas. O meu namorado oficial não aceitava que eu andasse sempre com outro e esse outro não aceitava que eu passasse os fins de semana e algumas partes de dia da semana com o meu namorado. Gerir a minha agenda de forma a que não se encontrassem passou a ser muito difícil. Uma vez cruzaram-se e o meu namorado queria andar à pancada com o outro. Um stress. Para ajudar à festa, as minhas amigas gostavam de me pregar partidas. Quando sabiam que eu estava à espera de um, diziam que vinha aí o outro. Assustava-me imenso, ficava com o coração a bater à força toda, com medo que a coisa acabasse mesmo em tareia. Elas riam-se.
Eles eram o oposto um do outro. O meu namorado amava-me muito, demonstrava-o a toda a hora, de todas as maneiras, jurava-me amor eterno. O outro dizia que não fazia ideia de se no dia seguinte ainda gostaria de mim, admitia que sim mas não garantia.
Isto tornava-me ainda mais difícil optar por um. Por um lado detestava sentir-me amarrada a planos alheios, por outro fazia-me impressão dar um salto no escuro, sem saber se não ficaria sozinha no dia seguinte. O ideal seria ficar com os dois: um todo idealismo, romantismo, belas palavras, muitos livros, muita música, uma identidade perfeita com esse meu lado, o outro todo corpo, poucas palavras, terra a terra.
O meu lado de mulher etrusca levava-me a tentar que não me pressionassem e se deixassem estar assim, eu a poder estar ora com um ora com outro. Mas não foi possível, embirravam o tempo todo, e aquilo até já me estava a tirar o sono.
Nunca mais nos largámos. Até hoje.
Nunca me prometeu amor eterno. Aliás, acho que nunca me prometeu nada. Para falar verdade, nem eu a ele. Mas está bem assim.
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Não sei, se depois disto, terão vontade de me ouvir falar do Blanchard, do FMI, do Marco António Costa e de assuntos igualmente pouco românticos mas, se tiverem, é já aqui a seguir.
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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma quinta feira cheia de peace and love.
10 comentários:
Malditas regras sociais e religiosas que impõem a monogamia. Mas porque carga de água; se todos sabemos que o ser é metafísico e que a atracção se divide entre o espaço dos sentidos e o calor dos corpos?!
Aposto que o poeta cantor deixou de compôr tão bem e passou a cantar pior... e se era um cantor de baladas intervencionistas, pior.
Agor quanto ao que perdurou... digo-te com franqueza, além do sucesso que teve contigo, podia ter feito uma excelente carreira política, usando o mesmo método de não prometer nada, para nada ter de cumprir; ao contrário destes maganões que se fartam de prometer e só cumprem o que prometem aos barões que lhes subsidiam as campanhas e lhes sopram ao ouvido que investimentos devem fazer nos BPN's, etc.
e eu a pensar que na capital havia fartura
"Outra vez, uma ex-colega de liceu contou-me, enlevada, que tinha um namorado fabuloso, só qualidades, giro, giro que só visto, e carinhoso, e culto", este estigma também afectava os bacanos,os giros eram muuu, parto do princípio que não era louro-)))
a dica de hoje.Peça ajuda ao seu Bacano-)).Tenho um computador na sala mas não tem impressora, com esta solução posso mandar imprimir no escritório, onde está a impressora.
1.º instala este programa (https://tools.google.com/dlpage/cloudprintservice) onde está a impressora. Depois de aceitar e instalar,clique no ícone canto superior direito do chrome, definições, avançadas, Google Cloud Print e instale a(s) impressora que tiver.O login quando o pedir é o seu email e password que usa no Google e regista a(s) impressora(s) no serviço.
2.ºPasso instale este programa (https://tools.google.com/dlpage/cloudprintdriver) no computador que não tem impressora, depois de instalado, em impressora vai ver que existe a google cloud print
Como o meu PC da sala tem o XP instale o XPS Essentials Pack (http://www.microsoft.com/en-us/download/details.aspx?id=11816), para windows 7 e 8 não precisa.
depois é fazer login nesta página (https://accounts.google.com/ServiceLogin?service=cloudprint&passive=1209600&continue=https://www.google.com/cloudprint/#jobs) com a sua conta do google, em imprimir , faz carregar ficheiro e escolhe a impressora para imprimir.
Pode estar na china e imprimir para o computador de casa (unica condição, o computador que tem a impressora tem que estar ligado á internet 24 horas), e de onde imprime tem que ter internet.
o serviço ainda é Beta, mas funciona (já o uso).Alguém tem que começar a testar e a Google agradece.
esta máquina na AR é que dava "jeito" - https://dl.dropboxusercontent.com/u/117669777/photostats.gif
Minha amiga, se o que está a fazer furor são os filmes com realidade e um pouco de sátira, porque não contar esta estória ao Rúben Alves porque a seguir à Gaiola Dourada ele realizava mais este e ia ter também certamente um grande exito.
Mas deixe-me dizer-lhe que a sua determinação e garra já vêm de longe como o Brandy Constantino e para ficar como o Toyota.
Que continue feliz e de bem com a vida junto desse seu cristo, com muita saúde e alegria, é mesmo o que mais me apetece desejar-lhe.
Muitos beijos e abraços
A monogamia é como um adicto em recuperação, um dia de cada vez - frase de alguém, já não me lembra quem
Faz-me lembrar um amigo que tinha três namoradas e para resolver o imbróglio, marcou um encontro com todas à mesma hora e no mesmo local.
Depois de as apresentar, afastou-se e deixou-as a falar sozinhas...
Sem querer irmanar a minha experiencia, recordo que, com o meu marido, nunca me foi pedido namoro, nunca houve projectos a longo prazo.
Esqueci o ideal sonhado desde menina.Romantico, bonito, apaixonado, sempre pronto a surpreender..
Tudo foi fluindo até ao dia em que "achámos giro" ir ver aqueles apartamentos, concluímos que podiamos pagar a renda e que Outubro seria uma boa altura para casarmos. Tudo parecia pré concebido.
O pior foi comunicar isso aos meus pais. As palavras não saíam, o jantar arrefecia, os silencios prolongavam-se até que o meu pai com o seu dom de palavra disse tudo. Respirámos de alivio.
E estão quase quarenta anos passados.
Suponho que para si passou mais um aniversário. Desejo que celebre muitos mais nessa complementaridade.
Felicidades e um beijinho de parabens.
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