segunda-feira, outubro 11, 2021

O rabo da Madonna e a atrapalhação de Jimmy Fallon
[Os vídeos aqui estão para que possam formar a vossa própria opinião]

 



Devo dizer que gosto da Madonna. Lembro-me de o dizer ao princípio e de ouvir os entendidos a torcerem o nariz, como se eu estivesse a ceder ao facilitismo dos passos de dança, dos corpos de baile, dos espectáculos de luz. Diziam-me: pode ser muita coisa mas boa música não é. E diziam que cantava pouco, que aquilo era só fogo de vista. Não sei. Mesmo que Madonna fosse sobretudo uma performer, eu gostava das performances dela. Gosto do descaramento e da energia. Sempre houve nela vontade de virar a mesa, de partir a louça, de provocar.

Discos propriamente ditos sou capaz de ter só dois. Mas gostava dos espectáculos. Um fogo e uma irreverência que valem por muitos acordes afinados.

Mas das canções, tirando umas quatro ou cinco (assim de repente, acho que não me lembro de muitas mais), penso que são boas se a gente estiver a vê-la a dançar naqueles seus espectáculos mirabolantes.

E achava-a uma mulher interessante. Ainda é interessante mas modificou-se de uma maneira que é difícil prestar atenção ao que diz ou faz sem que a gente, mesmo sem querer, tente perceber se há algum ângulo em que a coisa pareça razoável. Confesso que acho que as plásticas não lhe têm feito bem à cara. Isto das plásticas é sempre uma questão. 

À medida que o tempo passa é impossível que não apareçam algumas rugas. Podem eliminar-se -- mas isso à custa de quê? De enchimentos que deixam as pessoas quase sem feições? Ou alguma flacidez. Combate-se a flacidez enchendo as maçãs do rosto? Se calhar sim. Mas não fica mais feio do que se tivesse rugas? Não fica um rosto insuflado, artificial?

Eu acho que sim mas, lá está, isto do gosto é muito discutível. Com todo o dinheiro que tem, ela pode pôr-se como quer e, no entanto, parece que é assim que se gosta de se ver.

E há ainda o cabelo. Longe vão os tempos em que o tingia por igual, ou toda de louro platinado, toda Marilyn, ou toda morena.  Agora não: o cabelo está comprido, amarelo, grandes raízes pretas. 

Bem sei que está na moda aparecer com as raízes por pintar. Mas só posso dizer que acho horrível, parece desmazelo. 

Comparando com a forma como se arranjava antes (por exemplo, aquando das fotos que se podem ver neste post que podem ter alguns apontamentos mais polémicos mas em que se via uma certa harmonia e cuidado estético), agora olho-a e nem sei o que me parece. Ou melhor, saber eu sei, não quero é dizer.

E depois está muito roliça. Claro que isso não tem nada de mais. As mulheres, em especial depois da menopausa, aumentam de volume. Parece que tudo aumenta: a largura das costas, o perímetro abdominal, o tamanho dos seios. Mesmo que se faça dieta e se fique bem, esse 'bem' já não é o 'bem' que era antes. Acho que, depois, a coisa regride. Lá para os setentas e muitos ou oitentas, a julgar pelo que vejo acontecer à minha mãe, volta-se a ficar com a dimensão (3d's falando) dos verdes anos.

Portanto, com sessenta e três anos, a Madonna está como estão muitas mulheres da idade dela: a transbordar dos soutiens, a transbordar dos vestidos. 

Só que eu, se me sinto a tender para a opulência, em especial em algumas partes do meu corpo, procuro alguma coisa que me vista com alguma discrição e um mínimo de elegância, tentando que nenhuma parte do meu corpo dispute a atenção às restantes partes. A Madonna não: sai-lhe tudo por fora e tudo ela exibe na maior insolência. Dir-se-ia que uma mulher quando chega àquela idade deveria adaptar o seu outfit às circunstâncias do seu corpo. Mas ela não, ela faz o contrário. Toda ela ao léu. E marimbando-se para a idade. Deitada em cima da secretária do pobre do Jimmy Fallon, depois a mostrar o rabo. Ou seduzindo-o à descarada, Madonna é aos 63 o que sempre foi: Madonna.

Já passou aquele patamar do decoro e das boas maneiras que se respeita até certa idade ou dentro de certos contextos, e, portanto, tal como tem os namorados que lhe apetecem, tal como tem as casas ou os cavalos que lhe apetecem, tal como tem as roupas e os cabelos lhe apetecem, assim pratica os actos ou tem as conversas que lhe apetecem, no tom mais provocador ou tentador que lhe apetece.


Nestas coisas há sempre aquela linha que não sei se é vermelha se é o quê: a que separa a saudável irreverência do mau gosto. É aquela linha em que quem sabe e gosta de provocar e por isso era admirado se torna, simplesmente, patético, uma caricatura do que foi, digno de comiseração. Tenho alguma esperança que a Madonna ainda não tenha saltado essa fronteira e que as pessoas, em geral, ainda olhem para ela como a mulher de fogo que quebra tabus e a que, nem a idade, coloca freios.

E depois, pensando bem, se é o que lhe apetece fazer, porque haveria de não o fazer? Só temos uma vida. Para quê desperdiçar um dia que seja a tentarmos ser quem não somos?


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Mas aqui estão os vídeos (recentes, quase a escaldar): de antologia

Madonna on Madame X and Getting Into Good Trouble  | 
 | The Tonight Show Starring Jimmy Fallon





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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

2 comentários:

Anónimo disse...

Madonna com o Jimmy Fallon - tenho que partilhar estes vídeos e o pior é que nem sei bem o que dizer


Não diga nada! A gaja é maluca.

Raquel Loio disse...

Em termos de música, e apesar de não ser bem o meu estilo, gostava muito mais das músicas iniciais da Madonna!