quarta-feira, setembro 16, 2020

Emocionar uma mulher





Como referi há pouco, ao responder à magna questão sobre vinco, sim ou não, nos punhos das camisas dos homens, outras palavras escritas nos motores de busca que remeteram para esta vossa humilde casa, despertaram a minha atenção: emocionar uma mulher.

Para começar, uma dúvida: quem escreve isto, quer satisfazer que tipo de curiosidade?
  • Quer encontrar poemas que emocionem uma mulher? 
  • Músicas emocionantes? 
  • Quer saber truques para, através da emoção, mais facilmente conquistar uma mulher? 
Ah, como eu gostava que quem aqui chegou pela via da emoção feminina viesse explicar-me o que pretendia. Como me ajudaria a tentar uma resposta condigna.

No entanto, não sabendo nada de nada, vou arriscar e dizer algumas coisas que emocionam uma mulher. Para não cair na abstração, terei que pensar em mim, claro. De todas as mulheres, supostamente sou a mulher que melhor conheço. Digo supostamente... porque não estou certa disso. Mas, enfim, arrisco de novo. Não será fácil mas vou apelar a todos os anjos e pensar no que me emociona.


Emociono-me quando vejo uma flor escandalosa, as pétalas como petulâncias desfolhadas em amarelo, cheias de sol, uma loucura de perfeição e luz

Emociono-me quando me sento ao sol, sob as buganvílias em flor, e vejo as finas hastes do chorão tombando, verdes, todas leveza, e ouço o canto dos pássaros e sinto o ar morno, dourado, sereno, a eternidade pousada ao de leve na minha pele

Emociono-me quando ouço algumas músicas que me fazem fechar os olhos e lembrar momentos raros, a paz envolvendo-me, a memória e os sonhos confluindo para receber a dádiva dos acordes que fazem vibrar todas as minhas cordas


Emociono-me quando ouço dizer um poema, a voz de quem diz entregue à toada, o fio de voz entregue à beleza das palavras, arrepio-me, entrego-me também ao prazer do mistério que a poesia sempre encerra

Emociono-me perante a força do mar, a quietude do rio, o verde do bosque, o inocente florido dos jardins, o desprendido e alegre cantar dos pássaros, a força telúrica das montanhas, o calor húmido da terra

Emociono-me com as crianças, com as brincadeiras inocentes e desbragadas das crianças, com a sua jovialidade, com a sua vida cheia de futuro, com a sua felicidade contagiante e, em especial, emociono-me, uma emoção reconhecida, agradecida, com a companhia e com a alegria das minhas queridas, queridas crianças

Emociono-me com a generosidade, com a bondade, com a simplicidade dos pequenos gestos, com a cumplicidade genuína que unem pessoas que se estimam

Emociono-me com os sorrisos que vêm do coração, com os sorrisos velados, com os sorrisos que me acariciam, com os sorrisos que me beijam, com os sorrisos que não vejo mas adivinho

Emociono-me quando alguém sabe adivinhar a ideia que derruba as minhas barreiras, que cria laços, que aproxima contrários, que inexplica o indecifrável, que abre portas e janelas e me mostra o outro lado do mundo

Emociono-me quando vejo dançar, o corpo feito ave, os braços feitos asas, o espaço feito música, o céu a envolver os movimentos soltos, livres, alados 

Emociono-me perante a pintura inexplicável, o sangue feito cor, a alma feita negrume ou alvorada limpa, virgem, o abraço feito azul, mil tons de azul, os beijos feitos de luz, os sentimentos tingidos, tecendo uma trama infinita, indefinida, imaterial e bela.

Emociono-me quando penso nos que amo, quando estou com os que amo. 

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E, se estivesse aqui até chegarem, murmurando, os lobos, aqueles lobos que descem da noite e caminham em silêncio junto a estas paredes, olhos brancos e bafo ardente, acrescentaria mais uns quantos pontos ao que me emociona. E se estivesse ainda um pouco mais, até à hora em que os pássaros acordam e o dia desperta, mais ainda haveria de acrescentar.

Mas fico-me por aqui. Não quero que os lobos ou os pássaros da manhã se surpreendam com a minha presença. A noite a e madrugada são-lhes devidos.

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Pinturas obviamente de Van Gogh 
com Jane Siberry & KD Lang a ajudarem-me no apelo aos anjos: Calling all angels

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E um dia feliz e com boas emoções, sejam elas pr'ó menino ou pr'á menina

6 comentários:

MARIPA disse...



Emociono-me consigo...com a maneira como escreve ora a desancar em quem acha que merece ora como hoje, mostrando as suas emoções e o seu muito amor pelos seus queridos. Sinto as suas andanças e mudanças...Não necessito conhecê-la pessoalmente porque penso que já a conheço um pouco...Bem haja pela companhia que me tem feito.

Ah! Também eu passo as camisas do meu velho sem vinco!

E emociono-me com os meus queridos, semeados cá dentro e lá fora, porque não os posso ver nem abraçar. E com tudo o que escreveu.

Tudo de bom,pra si e para todos a quem quer tão bem.

Anónimo disse...

As brincadeiras das crianças não são desbragadas. Desbragada é a senhora, muitas vezes. Todavia o seu blogue é engraçado, mas se não dá aqui um chega-para-lá nos comentadores isto torna-se fracote.

Um Jeito Manso disse...

Olá Maripa,

Fico contente por, de certa forma, se rever nas minhas palavras.

Desejo que arranjem rapidamente tratamento eficaz contra a covid para que rapidamente possamos andar aos abraços e beijinhos àqueles que amamos.

Saúde e alegria para si, Maripa-Menina-Bonita e para o 'seu velho' (que anda com as camisas passadas a preceito!)

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo,

Desbragado no sentido desenfreado e não desbocado ou indecoroso (vide"desbragado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/desbragado [consultado em 16-09-2020])

Por acaso, ao escrever, receei que fosse feita uma deturpada leitura mas, ainda assim, resolvi deixar pois não me ocorreu melhor maneira para me referir ao comportamento dos meus cinco netos quando se juntam: rindo, correndo, falando ao mesmo tempo -- um tropel.

Quanto aos meus comentadores, não vou dar qualquer chega-para-lá. Senão como poderia tê-lo aqui, não me diz?

E obrigada pela oportunidade para esclarecer a razão da escolha da palavra.

Anónimo disse...

Com certeza que também significa "desenfreado", mas terá de convir que foi uma péssima escolha de palavra. Aliás, escrever "crianças" e "desbragadas" na mesma frase já é de mau gosto. Quanto aos comentadores, percebo a ironia, mas maus comentadores não acrescentam nada ao blogue. Que interesse tem em ter os comentários da pessoa que escreve acima? Ou os do psicólogo que, ridiculamente, a trata por "minha riqueza"? Ou outros sem qualquer mérito? Já se percebeu que não aprecia críticas, mas penso que o blogue tem qualidades que caem por terra quando se vira a página e surgem estas pieguices rasteirinhas. Não precisa, obviamente, de publicar este comentário. Cumprimentos e muitas felicidades para a casa nova.

Um Jeito Manso disse...

Olá Comentador que-acrescenta-ao-blogue,

Obrigada pela sinceridade. Mas há uma coisa que tem que perceber: eu não formato nem condiciono o que os Comentadores escrevem. E lamento informá-lo mas tenho aprendido com várias dicas que aqui generosamente me são deixadas, sejam conselhos práticos, livros, músicas ou o que for.

Além do mais, a simpatia, quando é genuína e desinteressada, não será nunca sinónimo nem de pieguice nem de coisa rasteira. A vida faz-se de muitas coisas e a generosidade, a tolerância e a simpatia são fundamentais e tão ou mais importantes do que a escolha das palavra que se usam.

Obrigada pelos seus votos de felicidade. Para si também tudo de bom.

Volte sempre e volte com essa franqueza, mas, por favor, sem acinte para com os demais comentadores.