domingo, fevereiro 09, 2020

Pelosi versus Trump: rasgar ou não rasgar?


Numa das festas de aquários em que estes dias têm sido férteis, um dos presentes, pessoa de esquerda, anti-Trump convicto, dizia com ar pesaroso que tinha achado o gesto de Nancy Pelosi lamentável. Falava e abanava a cabeça, demonstrando quão profundamente aquele rasgar de discurso o tinha chocado. 'Não se faz', dizia ele.

Na sexta à noite, decidi ver o Governo Sombra enquanto aqui escrevia, por um lado por falta de melhor alternativa e, por outro, para confirmar a minha impressão de que não valia a pena. Convencida que ia espreitar durante um pouco e depois bye-bye, acabei por ir ficando, sobretudo pela surpresa da assertividade de Pedro Mexia contra a estupidez natural do João Miguel Tavares. E a dada altura vi a mesma expressão e a mesma censura nas palavras de Mexia, assumido homem de direita, que tinha visto dias antes numa pessoa que se situa no quadrante político oposto. Aliás, todos ali, no Governo Sombra, mostraram achar condenável aquele pausado rasgar de discurso.

Pois eu, lamento a dissonância, achei muito bem. Aliás acho que muita paciência anda toda a gente a ter com aquele biltre. E não vale a pena virem com lições de etiqueta, when they go low, we go high, e coisas do género. Querer agir com animais de baixa craveira como quando se age com gente respeitável é um erro. Trump merece ser desprezado publicamente, merece ser desrespeitado sem rebuço. Só sofrendo humilhações públicas ele abanará. Gente doentiamente narcisisista teme ser gozada, teme a chacota, teme ser objecto de acintoso desdém. Vêem-se a si próprios como os maiores e é essa a imagem que querem passar para os outros. Por isso, serem confrontados com a evidência de que são tratados como os basbaques e os palhaços que são mina-lhes os alicerces. Por isso, é justamente o que Nancy Pelosi fez que deve ser feito. Negar-lhe o aperto de mão, gozar na casa dele, mas gozar à cara podre, rasgar o discurso como lixo da pior espécie , à vista de toda a gente, virar-lhe as costas, não lhe prestar qualquer atenção enquanto fala -- é isso que o maior número de pessoas deve fazer, por todo o lado, a qualquer hora. E não será esperar muito tempo até que vejamos como se afogará na sua raiva, como mostrará aos tolos que ainda o apoiam o parvalhão que é.

4 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Desculpe, mas "gozar à cara podre" não é expressão que uma senhora de respeito use. Totalmente inadequado.

Anónimo disse...

Hoje num reuptado centro comercial de Lisboa, secava eu as mãos na casa de banho depoia de as lavar e uma senhora atrás de mim, à espera. Um outro secador ao lado, ninguém a usá-lo. Ninguém mais, sequer, na casa de banho. Estico o braço e digo: "Há aqui outro." Responde a senhora: "Ah, há ali outro..." Podia ser que a senhora, na cegueira de não querer a sua vida pertubada pela existência de outros seres humanos, que infelizmente também lavam e secam as mãos, podia ser que não tivesse, de facto, reparado no outro secador. Pois eu só podia estar em modo reles, em modo rasca mesmo. Não sei o que me dá nesse momento. E digo, enquanto sacudo as mãos e me encaminho para a porta, "Há outro, há. Estavas a fingir que não vias, caralho?" Isto sim, não é digno de senhora, muito menos de senhora de respeito. O pior é que valeu tanto a pena. Rasca mesmo, já o disse. O rasgão de Pelusi e o ato ou expressão de gozar à cara podre é coisa de gente respeitabilíssima.
Um abraço,
JV

Um Jeito Manso disse...

Ora viva, Lúcio,

Acha mesmo? Então o que diria se soubesse que eu, ao escrever, estava a dizer, mentalmente, 'à cara podre' tal como ouvi em Setúbal, naquele sotaque com os rr's carregados e arranhados. Uma graça.

E reforço: perante uma besta quadrada como o é o Trump, um perigo para o mundo, a única coisa a fazer é mandá-lo para onde a JV abaixo diz, rasgar-lhe os discursos na cara, virar-lhe a cara, gozar com ele, mostrar que cavalgaduras daquelas não podem ser tratadas como gente decente.

Uma boa semana.

Um Jeito Manso disse...

Olá brava JV,

Que lufada de ar fresco, que vendaval de energia e graça, quando aqui entra. Gracias.

O politicamente correcto e os bons modos têm limites, não é? Perante animais como o Trump há que usar o mesmo tratamento que se reserva para alimárias de baixa estirpe.

Uma belíssima semana para si, JV. E vai daqui um abraço.