quinta-feira, dezembro 13, 2018

Oh pá, vejam lá este vídeo, está bem? É tão ternurento, tão querido...
[E o Natal sem amor é o quê...? Nada, né...?]




O meu marido já começou a alertar-me: já não falta muito, é preciso pensar qual o repasto, é preciso começar a pensar em comprar o que for preciso para não termos que andar no supermercado à última hora. Tem razão, claro. Mas, oh senhores, o que me custa engrenar no espírito antes de o espírito descer em mim... É certo que já tenho arvorezinhas e luzinhas, é certo que já comprei presentes (mas ainda não todos, credo...)... mas agora estar a pensar em bacalhau, batatas, couves, galos capões e sei lá que mais é que ainda não. Parece-me tudo ainda muito prematuro. 

No caminho para casa a minha mãe lastimou-se: quis comprar calças de ganga para os meninos e não encontrou o número, queria um casaquinho para uma das meninas e não encontrou, queria uma camisola quentinha e original e não encontrou. Conta-me as lojas onde foi, conta-me como já estava perdida de calor. E eu, cansada, de noite, no carro, concordei quando ela disse que isto é um disparate e que já começa a faltar-lhe a paciência para estas incursões consumistas que lhe estão a sair tão infrutíferas. Mas começo a pensar que, com almoços de natal, reuniões e compromissos, estou a ficar sem tempo para o que falta e, na verdade, sem grande disponibilidade física e mental para puxar pela cabeça para resolver quais os presentes em falta. 


Quando, à noite, me junto ao meu marido para irmos fazer a nossa breve caminhada, ele tem que puxar por mim para que eu não pare para ver um presépio amoroso e pequenino na loja dos indianos, as luzinhas a piscarem na loja chinesa. Diz-me aquilo que eu estou farta de saber: não precisamos de mais bugigangas. Não precisamos mesmo. Mas parece que o meu espírito vagabundo prefere prestar atenção a coisas simples e inocentes deste tipo (em que, para além disso, basta entrar, escolher e pagar) do que andar em centros comerciais a abarrotar, onde não há falta de estacionamento, onde as lojas estão cheias, com filas gigantes nas caixas, onde o tempo passa sem que a gente consiga despachar-se.

A época é natalícia mas tanto o trabalho e tão curtos os prazos para tudo que, no trabalho, o pessoal anda stressado, impaciente, embirrante. Eu ando zen. Quando vejo toda a gente ao rubro, a tranquilidade invade-me. Nem por fora, nem por dentro. Não me enervo. Posso ser um bocado rude se vejo que há coisas que devem ser endireitadas e que, com meiguices, a coisa não vai lá, posso ser particularmente exigente quando acho que o profissionalismo e o rigor devem ser reforçados -- mas estou calma. Não apenas o meu corpo é assim, sereno, quando se vê no meio de turbilhões, como a minha mente acredita piamente que não vale a pena a gente deixar-se ir abaixo. Mesmo que, do outro lado, haja gente exaltada que grite, chateie, até invente ou seja intelectualmente desonesta, eu mantenho-me na maior. Dizem-me que as minha reacções são surpreendentes. E até a mim me surpreendem. Mas é assim. E acho que ainda bem.


O que sei é que, durante o dia, no intervalo, nos breves instantes em que consigo dar um salto à copa ou à casa de banho ou encher um copo (de água) no corredor, ouço com toda a atenção e empatia uma queixar-se da mãe que é uma peste, outra a insurgir-se contra a sogra que é uma vadia, outro a falar do filho que não atina, outra que, por mais que coma, não consegue engordar, outro a falar de dívidas que contraíu e que lhe dão conta da qualidade de vida. Genuinamente, gosto de ouvir as pessoas. Gosto que as pessoas tenham isto de me contar as suas vidas e gostaria de acreditar que a minha atenção, as minhas palavras ou o meu sorriso as confortam. Genuinamente acho que o afecto é um dos mais potentes motores da nossa existência.

E isto é o que me ocorreu dizer agora. E, nem de propósito (ou a despropósito, sei lá...), apareceu-me este vídeo tão lindo. É muito recente, já deste mês. É um anúncio mas não interessa. É uma ternura. Vejam, está bem? 

What would Christmas be without love?



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As pinturas são de Marianne Stokes, Marc Chagall e Jean Fouquet.

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Até já. Acho que ainda cá volto pois quero partilhar uma coisa convosco.

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