domingo, setembro 08, 2013

Paulo Portas coloca poupanças num banco alemão. O que é que esta notícia significa: que o vice-primeiro ministro, para pôr o seu dinheiro, não confia na banca nacional? Ou que vale tudo para vender notícias? Isto para mim, na melhor das hipóteses, é o exemplo acabado da calhandrice jornalística - porque pode ser coisa bem pior.


Na sexta feira passada, dia de trabalho em reuniões com toda a equipa de gestão reunida, nos chamados coffee breaks, comentavam-se os fait divers que se tinham ouvido nos noticiários durante o trajecto ou que se tinham visto nos smartphones

Com ar de gozo, dizia-se: parece que o Portas já pôs o dinheiro lá fora





Ninguém sabia ao certo de que se tratava porque, nestas coisas, ficam os sound bites, os títulos das notícias - e porque, há que reconhecê-lo, as incongruências de Portas se prestam à piada fácil. 

Mas eu, nestas coisas (como noutras), cultivo o método da dúvida metódica pelo que ouço e não digo nada. Não gosto de alinhar só por alinhar. Por isso, não me ri nem parti daí para extrapolar conclusões à toa.

Nessa sexta feira, mal cheguei a casa vi-me absorvida por uma outra missão (como aqui vos dei conta), ontem tive outro dia cheio como um ovo e, portanto, não tive oportunidade de verificar de que se falava. Apenas hoje, um dia mais tranquilo, é que consegui ter tempo para espreitar as notícias. 

(E ainda tenho parte do Expresso para ler e, por isso, agora não posso alongar-me pois quero concluir a sua leitura antes de o levar para casa dos meus pais, onde irei mais daqui a nada.)

Mas, tendo lido o que se passava, concluo que a coisa nasceu no Correio da Manhã e foi replicada em jornais que tinha por decentes, o i Online e o Jornal de Negócios. 

O que vejo então? 

Transcrevo parte do artigo do Jornal de Negócios:

Foi depois desta alteração do estatuto jurídico do Deutsche Bank que Paulo Portas, então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, abriu uma conta solidária na instituição. Foram colocados, aí, 80 mil euros após Agosto de 2011, conforme conta esta sexta-feira o “Correio da Manhã”. Não se sabe se há alguma relação entre os dois acontecidos. O agora vice-primeiro-ministro não fez comentários ao jornal.


Na declaração de rendimentos que o governante entregou no Tribunal Constitucional nessa altura, quando deixou de ser deputado para passar a ser ministro, não constava o depósito no Deutsche Bank. Estava declarada uma conta superior a 159 mil euros no Banco Popular.


Leio isto e fico perplexa. Mas, afinal, a notícia é isto?! Mas que mal é que aquilo tem?

Uma autêntica conversa de vizinhas, é o que aquilo é.




Acaso se espera que um sujeito, pelo facto de ser ministro, deixe de ser um cidadão normal? E que mal há em abrir uma conta num banco alemão? Acaso há hoje bancos inteiramente nacionais, bacteriologicamente puros? Bancos angolanos, espanhóis, ingleses, franceses, de fundos sabe-se lá de onde, é o que há por cá. Já não seria notícia se ele tivesse o dinheiro no BES? Porquê? Eu respondo: por coisa nenhuma.

Os depósitos estão garantidos até € 100.000 por depositante e por conta e portanto, face às verbas em questão, e dado que são contas solidárias, aquele dinheiro estaria igualmente protegido em bancos 100% portugueses (se os houvesse).

Ou seja, não há nada de mais, nada, nada. Que ele ou qualquer outra pessoa ponha as suas poupanças onde são melhor remuneradas ou onde se pensa que estarão melhor guardadas, é o mais normal e legítimo que há.

Além disso, trata-se de uma conta solidária. Ou seja, a conta não é exclusivamente de Paulo Portas, pode ser, por exemplo, uma conta que tenha com a mãe. Normalíssimo. Também eu tenho com os meus pais. Os meus pais pediram-me isso por receio de que alguma coisa aconteça e que não possam movimentar a conta, e porque já têm idade avançada, trato eu de algumas coisas porque trato pela internet e eles não têm essa facilidade.

Imagine-se que eu ficava maluca e me dava para aceitar algum convite para algum cargo público que um outro maluco me fizesse. Estaria, portanto, sujeita a que as contas bancárias dos meus pais aparecessem expostas pela comunicação social. 

Isto é tão estúpido, tão, tão estúpido que até me dá ânsias. Estúpido, revoltante, nem sei.

Por estas e por outras é que muita gente não está para entrar na vida política. É que uma coisa é escrutinar o que tenha a ver com a actuação política dos governantes, outra é andar a vasculhar a sua vida privada, expondo-a nos escaparates sem cuidar de saber se, com isso, causam incómodos inúteis às pessoas em causa ou, pior ainda, à família.

Tenho aqui, no Um Jeito Manso, continuadamente criticado Paulo Portas. 


É inconsistente, embarca no facilitismo porque gosta de palco, com a maior cara de pau adapta a conversa à conjuntura, está a dar cobertura (e a alinhar activamente) com um Governo incompetente, ignorante, em que o Primeiro Ministro não sabe o que é democracia, economia, história, nada. É co-responsável por um retrocesso na vida de Portugal e dos Portugueses como não há memória e do qual tão cedo não recuperaremos.



Mas uma coisa é eu criticar a sua actuação enquanto político - e ser coerente: não votando nele - e outra é embarcar em coscuvilhices, calhandrices, invejas rasteiras. 

A comunicação social deste país - de onde emanam os principais fazedores de opinião - provam, com notícias destas, que é genericamente composta por papagaios, voyeurs, básicos, preguiçosos.



E ver notícias destas em jornais que tinha por sérios e competentes, como o Jornal de Negócios, deixa-me preocupada.


É que há ainda uma outra hipótese que me ocorre ao ler esta notícia rasteira: e se isto for, afinal, não uma mexeriquice vergonhosa mas um frete ao Deutsche Bank? Quantas pessoas, treslendo aquilo, não pensam: 'se ele acha que o dinheiro está melhor naquele banco, vamos mas é levantar o dinheiro e depositá-lo lá'...?


Grande parte da política alemã tem consistido, nos últimos tempos, em enfraquecer a economia e as finanças dos outros em proveito do engrandecimento do seu poderio que não pára de aumentar.

Não me admira, portanto, que esta notícia e outras como esta sejam, afinal, apenas mais uma jogada nesse sentido. 

Começo a constatar que, neste pasto fácil em que se está a tornar a sociedade portuguesa, o poder do dinheiro avança a grande velocidade, corrompendo ou tentando corromper o que encontra à sua passagem? 

Quantos dos jornalistas que divulgam notícias destes ou quantos bloggers que se fazem eco destas vacuidades e canalhices não são, afinal, moços de fretes (quiçá, até, pagos) ao serviço de interesses muito pouco transparentes?


Não sei, mas aqui deixo escrito o que penso, as dúvidas que me assaltam - e que cada um conclua por si.


***

Para limpar a vista de tão longa escrita, permito-me sugerir que desçam até ao post seguinte. Da beleza sensual e camaleónica de uma mulher transformada em arte e de um leilão que está a despertar curiosidade se fala.

***

Resta-me desejar-vos um bom resto de domingo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta nossa imprensa já há muito que vem perdendo qualidade. O sensasionalismo e a sobretudo a manipulação são hoje o pão-nosso-de-cada-dia.
Paulo Portas tem todo o direito de colocar o seu dinheiro onde bem entender. Bem como qualquer outro político. O que deveria ser de lamentar é, ao que vejo, não haver bancos portugueses a oferecer as mesmas facilidades que o tal banco alemão.
Devo dizer que me deu arrepios terem sido publicados os valores que Portas depositou e em que termos. Aliás, o facto de aquilo que Portas possuí, ou outro qualquer político, poder ser publicado, ou seja, ser passível de ser do conhecimento da imprensa e de todos nós é inacreditável!
Acusem-me de ingénuo, ou conservador, ou outra treta qualquer, estou-me nas tintas, mas sou de opinião de que nenhum cidadão deve ter acesso à fortuna, aos bens, ao dinheiro que um político possui. Deveria ser matéria da competência exclusiva do Tribunal Constitucional, da A.R, por exemplo, mas nunca deveria ser público.
O que é interessa ao Zéquinha, ou a mim próprio, ou ao meu primo Reboredo, ou a Tia Alice, ou ao Jaquim dos Anzóis, saber que Portas, ou Passos, ou outro qualquer tem tanto e tanto dinheiro, etc, etc? Nada!
Mas, é assim, hoje uma pessoa vai para a política e os seus bens patrimoniais são da devassa pública.
Não tenho vocação para político - Deus me livre! – mas se tivesse e o meu património fosse divulgado, ou onde eu colocava as minhas maçarocas e alguém me pedisse explicações, um jornalista por exemplo: “ouça, da parte da TV69, oh Sr. Fulano porque é você que depositou o seu dinheirinho no banco da China?” – resposta provavel minha: “porque é mais seguro do que deposita-lo no seu c...!” E ainda: “Sicrano você tem 3 carros, uma amante e 1 apartamento nas Selvagens! O que tem a dizer sobre isto, oh Sicrano?” – resposta provavel minha: “tenho a dizer que só tenho pena de não ter 4 carros, 7 amantes, uma para cada dia da semana, e 2 apartamentos, 1 nas Selvagens e outro nas Desertas! E vê se da próxima vez me tratas por Senhor, oh meu pacôncio!”
Isto há cada notícia que não lembra ao pirilau mais velho!
Tenha uma boa noite! Por aqui hoje temos ventania Antártica!
P.Rufino