Configuration du dernier rivage, Michel Houellebecq |
Andava a namorar o livro.
Passava por ali, pegava nele, sentia-o, lia-o.
Gosto de Michel Houellebecq, as suas Partículas Elementares não me deixaram indiferente. Mas não lhe conhecia a poesia. Aliás, nem sabia que também é poeta.
Então a curiosidade levava-me a folhear, tomar-lhe o pulso, ler um ou outro poema. Mas algumas palavras escapavam-me e, não sei, estar a ler um poema e interromper a respiração para perceber uma palavra não me parece boa ideia.
Mas, enfim, eu sou assim com as tentações: não consigo resistir-lhes.
Mas, enfim, eu sou assim com as tentações: não consigo resistir-lhes.
E, assim, aqui estou eu com ele em mãos. Uma aflição. Quase não há um poema em que perceba bem o sentido de todas as palavras.
Mas ler poemas com um dicionário ao lado...? No tradutor do google não confio para tarefa tão refinada.
Ai...Vou escrever tal e qual e vou arriscar-me a traduzir por mim, de cor, pois sei que há muita gente que ainda sabe menos francês que eu. Falo e escrevo razoavelmente francês mas é o francês coloquial ou profissional - o que está a milhas de me habilitar a uma coisa destas. Mas, enfim, vamos lá.
As minhas dificuldades começam logo neste primeiro. Como traduzir 'dissocia'? Dissociava não fica bem, acho eu... Escrevi dissipava, talvez respeite o sentido.
Disparu la croyance Desaparecida a crença
Qui permet d'édifier Que permite edificar
D'être et de sanctifier, Ser e santificar,
Nous habitons l'absence. Nós habitamos a ausência.
Puis la vue disparaît Depois a vista desaparece
des êtres les plus proches Dos seres mais próximos
.. & ..
Je n'ai plus d'interior, Já não tenho interior
De passion, de chaleur; Nem paixão, nem calor;
Bientôt je me résume Em breve vou resumir-me
À mon propre volume. Ao meu próprio volume
Vient toujours un moment où l'on rationalise, Vem sempre um momento em que se racionaliza,
Vient toujours un matin au futur aboli Vem sempre uma manhã de futuro abolido
Le chemin se résume à une étendue grise O caminho resume-se a um descampado cinzento
Sans saveur et sans joie, calmement démolie Sem sabor e sem alegria, calmamente demolido
[Está tudo um bocado desalinhado mas não consigo pôr isto direito. Quando estou a editar, aparece-me de uma maneira, quando publico, o texto desorienta-se e parece que fica inclinado. As minhas desculpas por não ter paciência para andar mais tempo aqui a dar espaços numa linha, a comer na outra... Já estou farta de tentar e fica sempre esta desarrumação]
Mas, apesar da minha dificuldade em perceber o sentido de uma ou outra palavra no contexto do poema, que bem me soa, que bem. Há em grande parte dos poemas qualquer coisa de insólito que me seduz.
Nota: Espero que os entendidos não se ofendam com a minha ousadia e se tiverem melhores propostas para as traduções, ficaremos todos agradecidos.
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Descobri um vídeo em que ele diz um poema seu mas a gravação é má. Por isso, coloco antes aqui este, que tem a vantagem de ter tradução (péssima, por sinal, mas, enfim, para quem não sabe francês, é melhor que nada) em que Michel Houellebecq fala das suas biografias imaginárias.
Transcrevo do que foi colocado no YouTube: Michel Houellebecq esclarece que sua matéria-prima não é a realidade vivida, mas a vida projetada. Sobre o que imagina de si mesmo, sobre o que esperava ou desejava, o escritor cria suas narrativas. Conferencista do Fronteiras do Pensamento 2007.
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Espero que gostem deste amuse bouche e muito gostaria que alguém traduzisse este livrinho inesperado.
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Acho que ainda cá volto hoje.
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