quarta-feira, novembro 16, 2011

O difícil mas indispensável equilíbrio e a liberdade consentida num casamento (ou numa qualquer relação amorosa) - e o CAM, o restaurante e os jardins da Gulbenkian


Este fim de semana éramos para ir ver a exposição das naturezas mortas na Gulbenkian mas não fomos, curiosamente havia uma inacreditável fila de gente. Desistimos, vamos mais tarde. Mas, de qualquer forma, almoçámos no restaurante do CAM onde almoçamos há mil anos, ainda as crianças eram pequenas.

Acho que já aqui louvei o local – a comida é exactamente a mesma desde o início dos tempos, os empregados os mesmos (simpatiquíssimos), a (óptima) frequência do local a mesma.

Para quem goste de se cruzar com gente das televisões, dos teatros, até da ala mais cultural da política, é o sítio indicado.


E as exposições, os jardins, tudo aquilo é garantia de uma tarde muito bem passada e é um local que está enraizado dentro de mim.


Mas agora lembrei-me disto porque na fila para o almoço (para quem não conhece, aquilo funciona como numa cantina: nós vamos seguindo com o tabuleiro e vamos escolhendo o que queremos) estava atrás de nós uma mulher de uns quarenta e picos anos com a filha, uma jovem adolescente. Sem querer, nós íamos ouvindo alguns bocados da conversa e estávamos até incomodados.


A mulher, bonita, com bom ar, era, no entanto, uma pessoa que cansava qualquer um ao ponto de ouvirmos a miúda, às tantas, dizer, com ar saturado, que tomara poder ser dona do seu próprio destino, poder ir onde lhe apetecesse. Outras vezes a miúda, com ar cansado, dizia, ‘mas oh mãe, porque é que não posso falar, quem é que aqui nos conhece para não podermos falar…?’.

Se a miúda dizia de um amigo qualquer que era um cromo, que não andava com ninguém, a mãe dizia, com um ar fatalista, que então também ela o devia ser porque também não andava com ninguém. Se a miúda falava de um outro amigo ou amiga, a mãe dramatizava: ‘a vossa relação não anda bem, pois não...?'. Depois dizia que tinha deixado de ir ali porque lhe fazia lembrar o tempo ‘em que vinha com o teu pai’ e, pelo teor da conversa, percebemos que estava divorciada.

E o estranho é que tinha um sorriso pregado ao rosto, como se quisesse mostrar que estava tudo bem com ela mas, coitada, de cada vez que abria a boca, tudo lhe saía com um tom perturbado.

O meu marido de vez em quando afastava-se um bocado, dizia que já não a podia ouvir.


No entanto, eu olhava para ela e era uma pessoa que, se conseguisse tirar a tonelada que carregava em cima, seria certamente uma mulher interessante. Assim era apenas uma mulher complicada. E uma mulher complicada repele qualquer alminha, especialmente qualquer alminha do sexo masculino.

Das mulheres divorciadas ou solteiras tardias que conheço e já aqui o disse, o que verifico é que tendem a achar-se vítimas, ou sentirem que são mais exigentes que as outras, ou menos afortunadas do que o comum dos mortais ou, então, quase que se sente que existe uma espécie de vergonha mal disfarçada, como se fosse um pouco por incompetência sua que estão assim, sem ninguém.

Uma familiar muito próxima, uma mulher muito bonita, elegante, cosmopolita, um cargo de direcção numa das organizações mais conhecidas do país, divorciou-se depois de muitos anos casada, depois de os filhos já serem adultos. Ele tinha-se apaixonado por uma colega, estava de cabeça perdida, um amor dos antigos. Ela não queria acreditar. Dizia que não era possível que numa altura em que deveriam começar a gozar a vida, sem os encargos de filhos pequenos e quando imaginou que iriam viajar, ‘gozar a vida’, ele a trocasse. E ‘a outra’ nem era mais nova, nem mais bonita, nem nada. Achou uma injustiça, maldisse a ’outra’, não descansou enquanto ele não lhe contou os pormenores (quem, há quanto tempo, quando, como), não descansou enquanto não arranjou maneira de ir ver a outra, fez coisas impensáveis, irracionais, e, perante o marido, implorou-lhe que não a deixasse, humilhou-se, sujeitou-se a tudo e mais alguma coisa - e ele, pura e simplesmente, não a queria mais. Depois de um drama impensável, lá se separaram. Ele apaixonado como um menino, ela desfeita.

Venderam a casa, cada um adquiriu sua casa. Ao fim de pouco tempo ele separou-se da sua namorada. Esta minha familiar de novo cheia de esperança, a vida toda em suspenso à espera que ele voltasse para ela. Mas ele nem aí. Ao fim de pouco tempo voltou a arranjar nova namorada e hoje vivem juntos, felizes, um casal.

Ela sozinha, triste, infeliz, abandonada, injustiçada, eternamente apaixonada por ele, lembrando os tempos felizes de casamento.

E, no entanto…

Nunca achei que aquele casamento fosse um casamento saudável, pelo menos tal como eu imagino um casamento saudável.

Havia uma dependência doentia. Quando ele chegava ao trabalho, ela queria que ele lhe ligasse. Quando ele saía, ela queria que ele lhe ligasse. Quando estávamos juntos, se ele atendia o telemóvel, logo ela queria saber quem tinha sido. Se estávamos ao sol, já ela se inquietava se não seria melhor ele ir buscar um boné. Se estava frio, já ela ia buscar um pullover para que ele não se constipasse. Se ele se estava a rir e a dizer disparates, já ela estava a repreendê-lo. Toda a atenção dela sempre esteve no marido. Era dedicada, atenta. Mas era também ciumenta e insegura.

No entanto, ela é giríssima enquanto ele é um homem normal (embora tenha aquele charme e humor que os homens com algum excesso de peso às vezes têm).

Desde que me lembro, ele sempre teve uma vontadinha irreprimível de pular a cerca e ela sempre, sempre a fazer marcação cerrada. E, quanto mais ela o tentava controlar, mais ele arranjava maneira de tentar pregar a partida.

Que me lembre (ou que eu saiba), durante os tempos radiosos de casamento feliz que ela recorda saudosa, teve ele dois casos. Nós sabíamos e ele sabia que nós sabíamos - era mais do que óbvio que ele andava de caso - mas ela nunca o soube porque nunca quis ver o óbvio. Durante esses períodos em que ele se andava a encontrar às escondidas (e nos intervalos dos telefonemas de controlo) com outra, andava ela desconfiada a querer saber onde é que ele tinha estado que ela tinha ligado e ele não tinha atendido ou que telefonema tinha sido aquele que ele tinha atendido na varanda. E, em simultâneo, andava também a arranjar programas, jantares, festas, de modo a tê-lo sempre ocupado, entretido.


Nunca, durante o longo e feliz casamento, eu vi esta bela mulher feliz, descontraída, segura, a gozar o casamento. Nunca. Andava sempre ou a tomar conta dele, ou a servir-lhe o prato, ou a perguntar-lhe se estava bom, se queria repetir, ou a ir buscar-lhe o casaco, ou a perguntar se ele queria alguma coisa, ou a desconfiar, ou ciumenta, ou a queixar-se que ele não lhe dava muita atenção, ou que se ria muito com as outras pessoas, mais que com ela. Sempre a censurá-lo, sempre a espiá-lo, sempre a controlá-lo, sempre a ajudá-lo.

Eu achava que era demais. Por mais que eu lhe dissesse para o deixar em paz, para não andar sempre na marcação, que o deixasse rir, telefonar, sair, nunca conseguiu dar-me ouvidos porque, quanto mais ele se queria escapulir, mais ela o queria agarrar. E, se ele se aborrecia e se zangava, ela entrava num sofrimento, chorava, dizia que ele já não gostava dela, ficava numa tristeza, lamentava-se, e ele lá lhe jurava amor, fidelidade, lá se rendia.

Quando ele resolveu deixá-la não me surpreendi. Tive imensa pena dela mas percebi que, com a maneira de ser dele (e dela), outra coisa não era de esperar.

Sendo eu muito amiga dela, percebia perfeitamente que, no casamento, era uma chata.

Num casamento, tal como numa qualquer relação, a liberdade é fundamental. Ninguém deve controlar ninguém, tal como ninguém deve sentir-se responsável por tomar conta do outro, ninguém deve estar na relação por obrigação, por dever. Em cada momento, deve-se estar sempre de espontânea vontade.

E deve respeitar-se os silêncios, os segredos dos outros. E, não se deve querer possuir o outro, ou a vida do outro.

Os ciúmes matam uma relação. A desconfiança mata uma relação. A vitimização ou a insegurança matam uma relação.


A cada momento, sem direitos adquiridos nesta matéria, estar um com o outro deve ser uma opção. Sem compromissos, sem promessas. Estar um com o outro deve ser bom, deve ser uma coisa leve, festiva, divertida.


E deve haver igualdade. Igualdade no investimento, na dedicação, na entrega. E deve haver interesse mútuo, partilha de interesses, carinho, tolerância, ajuda.


E, se a coisa correr mal, não se deve ficar a carpir, a sofrer: é lutar, discutir, ir à luta. E depois esquecer, sem mágoas, sem ressentimentos, sempre um recomeçar de novo, sem passivos, sem cobranças. Curtir. Ter prazer. Descobrir. Festejar.


E, claro, se a coisa der para o torto e uma das partes já não estiver nem aí, é ir cada um à sua, na boa, sem dramas. E recomeçar - que a vida se fez para ser vivida e não recordada ou imaginada. Para a frente é que é caminho e o que está para a frente é apenas futuro (e as coisas boas do passado, apenas as boas).



[Nota 1: Foi basicamente esta minha ideia do que é o casamento que eu 'preguei' no casamento da minha filha (com excepção do último parágrafo - que não ia estar no casamento da miúda a pôr a hipótese da separação, como é óbvio), quando mal consegui ler o que tinha escrito, ideia não muito canónica mas, enfim, é o que eu acho.

Nota 2: Fiz as fotografias no Centro de Arte Moderna (CAM) e nos jardins da Gulbenkian e, claro, não têm nada a ver com os casos referidos no texto.

Nota 3: Na Música no Ginjal hoje temos Yuja Wang a  interpretar Mendelssohn. Uma maravilha.]


10 comentários:

packard disse...

La donna è mobile. E os homens? Ah!

Maria disse...

Dou-lhe toda a razão. O casamento não deve ser nunca, uma prisão. Cada um deve ter o seu espaço, a sua personalidade, a liberdade de fazer o que quer.
Quantos casamentos terminam assim?
Era bom que, algumas mulheres e homens, lessem o que escreveu. Talvez vendo-se ao espelho, fossem a tempo de mudar.
Texto excelente.
Beijo
Maria

Anónimo disse...

Que giro, desde sempre vou imensas vezes almoçar ao CAM ao Domingo; se chegarmos até às 13h00 a fila é suportável, um atraso, que é normalmente o meu caso e é a morte do artista. Na ‘cantina’ peço sempre o prato de 4 variedades, sendo os meus eleitos: o paté de atum, as bolas de esparregado, os ovos mexidos e a salada de agrião com laranja.
Relativamente ao casamento, é realmente mt mais divertido pedir aleatoriamente 4 variedades entra as 20 ou 30 que o self do CAM apresenta. Dar ao paladar o privilégio de poder cumprir a sua função, ao avaliar diferentes texturas, gostos, consistências, de modo a permitir-lhe a selecção do sabor perfeito ou da mistura fantástica dessa refeição, e será necessariamente a que deixa um travo delicioso na boca e a memória suficientemente viva para querer repetir noutro dia. Por outro lado, não há nada mas nada que pague a segurança, de um arrozinho de tomate malandro salpicado de salsa fresca acompanhado de carapauzinhos fritos ou um bom Senhor bacalhau espiritual. Ainda sobre o casamento, pois é preciso os dois quererem-no exactamente com a mesma intensidade e se assim for, deve ser muito bom.

A Matéria dos Livros disse...

Que certeira esta sua entrada!

Também sempre achei essas mulheres solícitas umas chatas; no entanto, sempre pensei que os homens gostavam de tais ajudas e adorações domésticas, procurando em "braços de poetisas fugazes" convívios mais aliciantes...

Um Jeito Manso disse...

Oh Packard, com este comentário minimalista é que você me deixou aqui a patinar... O que quer você dizer com isto?

Do meu texto deduz que defendo a mobilidade feminina (e não a masculina)? é isso?

Explique lá melhor.


Mas vou já adiantando que defendo que não haja uma vigilância cerrada de parte a parte porque isso é claustrofóbico, que não haja quase a supressão da própria auto-estima para viver totalmente em função e para o outro, defendo que deve haver reciprocidade de atitudes, defendo que nenhum dos dois se vitimize ou exerça quase chantagem emocional.

Mas gostava de ver um ponto de vista masculino.

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria,

Ainda bem que concorda. É o que eu acho. Todas as mulheres que conheço e que são carentes em demasia, ciumentas, inseguras, controladoras ou ciumentas acabam por prejudicar a qualidade do casamento ou acabar com ele. O mesmo se passa com homens.

Se houver entendimento e liberdade as coisas correrão bem.

Não é por eu poder conduzir às horas que quiser que vou fazê-lo. Não é por eu ter as chaves da porta que vou sair a meio da noite em vez de ir dormir. Mas o facto de eu saber que o posso fazer quando quiser já me tira o aliciante de sair. Se estivesse presa talvez tivesse vontade de me escapar à socapa.

Um beijinho, Maria.

Um Jeito Manso disse...

'Meu dia',

Então se lá esteve este domingo depois da 1 deve ter visto a senhora a tricotar que fotografei e coloquei no meu blogue de fotografia:

http://streetphotoandco.blogspot.com/2011/11/uma-arte-antiga-no-centro-de-arte.html

Eu também costumo escolher o prato de 4 variedades mas vario... No entanto, a bola de esparregado é, desde há séculos, um must.

Desta vez comi a dita bola, sardinhas de escabeche, peixinhos da horta e um panado. Depois um copo de sumo daquele que está no jarro e uma fatia de bolo.
O meu marido, que é de mais alimento, vai para o de 6 variedades e também escolhe consoante o que há. Mas andamos alinhados nas opções e geralmente partilhamos. Desta vez ele escolheu salada de frutas e comeu metade do meu bolo e eu metade da salada de frutas. Funciona bem assim.

Mas é o que diz: funciona se houver entendimento.

Se ele só gostar de ir a restaurantes chiques de cozinha francesa ou, então, só gostar de ir a tascas, e eu gostar apenas de ir ao self do CAM, se formos juntos a um dos sítios, um dos dois estará a violentar-se. Mas se alinharmos mais ou menos nas mesmas coisas, com paciência para alguns contratempos (por exemplo, o meu marido aborrece-se à brava na fila até porque eu aproveito para cirandar a tirar fotografias ou ver as exposições temporárias - mas não é grave e vai-se conformando), a coisa funciona.

Agora se cada um andar para seu lado ou se tiverem opções de vida, interesses, gostos, muito díspares (coisas ligeiras são aceitáveis), será um castigo e aí deverá ser avaliado se o castigo vale a pena.

Um Jeito Manso disse...

Leitora,

Eu acho que os homens nisso são como as mulheres.

Eu abominaria ter alguém sempre a ver se eu tenho frio ou calor, ou se quero mais comida ou se quero isto ou aquilo. Excesso de atenção cansa, é como ir a uma loja e andar uma empregada colada a nós (isso a mim dá-me vontade de dar meia volta e ir-me embora).

Talvez alguns homens gostem que a mulher seja o prolongamento da mãe, que os apaparique e proteja. No entanto, dos que conheço e de várias gerações, o que acho é que os homens querem uma companheira para todas as ocasiões. Meiga mas não 'cola', que os compreenda e com quem possam conversar, que os ajude no que for preciso (mas só quando for preciso), que os deixe à larga (sem que isso signifique desinteresse), que os respeite, que os admire (quando for caso disso) ou que os critique (de forma positiva).

Não vejo que um homem seja diferente de uma mulher no que pretende do outro.

A mim não me faria sentido ter um marido que se portasse como um paizinho protector e depois ter que arranjar um namorado para ter algum deleite. Se isso acontecesse, nitidamente o marido não estaria à altura dos requisitos mínimos. Por preguiça, comodismo ou outras circunstâncias poderia deixar-me ficar nessa relação mas seria uma canseira.

Penso que se passa o mesmo com os homens.

Pode é surgir uma outra situação que é um homem ou uma mulher, que estão bem no casamento, de repente darem de caras com um novo amor. Pode ser coisa passageira ou coisa a valer. Aí deverá ser avaliada a situação.

Mas, enfim, há tantas nuances que aqui não caberiam todas as situações possíveis.

Mas, para finalizar: os homens não são todos uns facínoras, uns trogloditas. Têm é que ser bem escolhidos...

Luisa disse...

Este Domingo não estive lá. Há um jarro de uma bebida que aprecio, o Cup de fruta, foi a minha primeira bebida alcoólica aos 14 anos, usava-se nos casamentos haver uma taça grande de Cup e com a ajuda de uma concha enchia-se a flute. Nesse casamento quando só tinha 14 anos, bebi muito Cup. Calcei pela primeira vez uns saltos altos pretos, meia de seda cor-de-pele e um vestido de malha azul chumbo, feito por uma senhora da Damaia que tinha uma máquina de fazer malhas. Por certo pareceria uma mulher, já não me recordo do meu rosto. Era elegante com o vestido delgado pelo corpo. Bebi muito Cup. Não tenho ido a casamentos nem me lembro do último a que fui, tenho no entanto estado numa série de velórios e funerais. Nem sou velha ainda, mas as pessoas da minha idade andam a morrer muito. Morre-se de coisas estranhas agora, mortes urbanas com doenças modernas e fatais.
É preciso gostar muito para se estar em permanência com alguém. Só se Está com alguém ao fim de uns anos, quando reconhecemos o barulho do soluço, da chave metida à porta, da exclamação ao atender o telefone. Certificamo-nos que gostamos de alguém ao fim de uns anos, quando percebemos que permanece em nós o sentimento de carinho ao ouvirmos os mesmos barulhos nas mesmas situações. É a rotina que mede o nosso mais profundo amor e não a excitação da novidade.
Contrariamente ao que diz, admiro a insegurança nas mulheres. É um dos factores energéticos que as move e que as faz ser generosas na ternura que anseiam dar. As mulheres inseguras tendem a ser chamadas de chatas pelas outras mulheres que se julgam seguras. Só somos seguros em terrenos explorados ou se soubermos da existência de rede que sustente a nossa queda. Também não acho que as decepções tenham que ser tratadas ‘na boa’. Há decepções que nos acompanham o resto da vida e são nosso património. Falar de uma decepção não é carpir mágoas, é falar de uma delicada jarra Limoges que nos calhou por herança. Uma mulher ou um homem só se tornam interessantes e ricos se tiveram experiências com o sofrimento. Ai de mim, se não tivesse sofrido uma grande decepção amorosa com vontade de matar por ela! Como chorei, como sofri, como tive esgares de ressabiada, como sobrevivi, como me tornei melhor pessoa, como voltei a amar, e como recordo ainda com doçura-ódio aquele maravilhoso-malvado amor. A vida vivida sempre com optimismo e felicidade é falsa, embora se torne mais cómoda aos olhos dos que nos rodeiam.

Um Jeito Manso disse...

Luísa,

É o cup de frutas, exactamente, aquela bebida rosada, com polpa de fruta, óptima.

Casamentos são festas bonitas, especialmente quando há muita alegria, animação genuína. Nos últimos tempos tenho ido a alguns, de entre os quais os dos meus filhos. Foram festas muito felizes, muito bonitos, os meus filhos estavam muito felizes, rodeados dos seus muitos amigos (e da família, claro), e isso encheu-me de uma alegria muito grande.

Quanto à visão que tem da vida a dois, difere da minha talvez porque temos experiências de vida diferente.

Sempre vivi rodeada de homens, o meu trabalho é um ambiente essencialmente masculino e por isso conheço bem o que pensam e como são. Não sei se se sentem assim tão atraídos por mulheres inseguras. Percebo o que diz quando acha que a insegurança feminina tem charme. Talvez. Mas, a mim, despertar esse tipo de interesse é coisa que nunca me interessou. Devo ter espírito de amazona.

Quanto aos grandes amores, os de longa duração, acontecem, e podem ser coisas fantásticas. Claro que pelo meio podem acontecer tormentas, agitações, percalços, etc, e a relação pode ser ainda melhor se houver paixão e destempero. Um sentimento de amor chão, sempre mão na mão, sempre sorrisinhos pregados nos cantos das boquinhas, isso não sei se existe. Pode parecer que existe, talvez entre casais muito beatos, muito simples de espírito, boa gente com algumas limitações, talvez - mas não sei se isso é amor ou se é uma vaga amizade fraternal.