Há pouco contei-vos da inteligência que se percebe no olhar dos animais e mostrei-vos o porte majestoso das aves de rapina de Mafra. Vi-as, altivas, nos claustros do Convento que, este sábado, estive a visitar.
Agora estou em casa do meu filho a tomar conta dos meus fofinhos lindos que já estão a dormir já que os pais foram jantar com amigos.
Antes estive em casa dos meus pais, o meu pai sempre impaciente, com pressa, pressa de jantar, pressa de se despachar, pressa de ir dormir, pressa que eu me vá embora, pressa de tudo, não se percebe porquê mas, enfim, sempre foi apressado e agora, apesar de não ter motivo para ter pressa, continua na mesma. Uma vez, não sei se aqui já o contei, disse à senhora que o lava, levanta e dá de comer: 'Vá despache-se, depressa, vá que eu hoje vou morrer'. Ela desatou a rir 'Oh senhor, então e está com pressa para ir morrer...? Duma destas é que nunca tinha ouvido falar...'. De vez em quando tem destas maluquices. Mas depois, outras vezes, aliás, a maior parte das vezes, tem boa memória e bom raciocínio. Hoje a senhora estava a conversar com a minha mãe e a dizer que a máquina de lavar roupa tinha dado o berro, que, mal a ligava, desatava a fazer barulho e não trabalhava. Pensavam que ele não estava a prestar atenção. Pois saíu-se com esta 'Isso deve ser a correia, ou soltou-se ou partiu-se'. É aleatório, tanto pode dizer coisas normais e estar bem como, sem motivo aparente, estar impaciente, enervado e a dizer palermices.
A minha mãe estava com dores nas costas mas sempre com os seus projectos, a ensaiar alternativas para fazer um poncho de crochet em linha crua para a neta, às voltas com o seu smartphone (ainda não lhe falei nisto aqui...) e sempre com ideias. Se lá apareço com o cabelo apanhado, não gosta, prefere ver-me com o cabelo solto. Ora eu, ao fim de semana, não me apetece ter nada a moer-me a paciência, nem sequer o cabelo a ir-me para a cara, especialmente se estiver vento. Mas hoje fiz-lhe a vontade, soltei o cabelo. Diz que rejuvenesço dez anos. No fundo, acho que ela se esquece da idade que tenho, gosta de me ver de uma maneira que a faz esquecer-se disso.
Antes de lá ir visitá-los e levar algumas compras mais pesadas, tínhamos estado a passear entre a Ericeira, a zona mais campestre de Sintra e Mafra. Ontem tinha-me lembrado de ir visitar a biblioteca do Convento de Mafra e aproveitámos para andar a passear pela região.
E ainda andei à procura dos antiquários que tinha ideia de serem em Odrinhas e que, afinal, parece que são em Sta Susana mas o meu marido, sabendo o programa de festas que tínhamos pela frente, não quis andar a perder tempo à procura -- fica para uma próxima.
[Entretanto, já estou em minha casa, já estive a cear (quatro morangos com kefir) e, como é costume, já estou cheia de sono. Por isso, terei que abreviar. Ou seja, vou poupar-vos.]
A primeira vez que visitei o Palácio Nacional de Mafra era pequena. Foi uma tortura, salas e salões, enormes, quase vazios, tectos lá muito em cima, uma coisa interminável. Os meus pais queriam ver a biblioteca e a biblioteca ficava lá no fim de tudo. Ao fim de tantos anos, essa primeira imagem ainda está nítida dentro de mim.
Contudo a nossa percepção das coisas vai-se alterando e desta vez o Convento, sendo mesmo muito grande, já me pareceu de uma escala mais comportável do que aquela que, até aqui, persistia em manter-se gravada na minha memória.
No entanto, tenho que confessar que há aqui, para mim, uma dimensão excessiva, uma certa aridez decorativa (se é que assim me posso expressar), parece que há uma desmesura naquelas dimensões que faz com que se torne um pouco inóspito. Falta-lhe aquela imagem de conforto dos espaços verdadeiramente habitados. Nunca o terá sido a ponto de haver cunho pessoal de forma vivida.
Gostei de ver, e já não me lembrava, a parte das enfermarias e a parte das celas. O edifício é extenso e uma pessoa retém aquilo a que, na altura é mais sensível. Não tinha ideia nenhuma de já ter visto estas partes.
O dinheiro do Brasil era muito e e a obra quis-se imponente, que ninguém se poupasse a esforços. Tivesse eu a cabeça mais fresca e escolheria para aqui uns excertos do Memorial do Convento que o ilustram mas já não dá, estou a precisar de acabar isto e ir dormir.
Por isso, mostro apenas algumas fotografias. Claro que escolhi algumas das partes de que mais gostei. Há tectos fantásticos, há salas bonitas, há corredores lindíssimos no belo lioz rosa e cinza, há quadros de grandes dimensões, há impressionantes candelabros, espelhos, e cortinados que tornam alguns espaços deveras acolhedores, em especial as zonas mais íntimas.
E a igreja imponente, bela, de uma dimensão impressionante.
As fotografias foram feitas, pois, a partir do exíguo espaço onde me pude movimentar. Mas a Biblioteca é linda, ampla, luminosa, aquelas cores suaves que resultam da pedra, dos livros, do pavimento, das entradas de luz.
É pena que não haja visitas guiadas ao longo dos corredores, varandins e estantes e que não haja leituras de excertos do Memorial do Convento ou música de câmara na sala de música. Mas, enfim, se há área em que está tudo, ou quase tudo, por fazer é na área da Cultura. Tomara que o País acorde para essa imperiosa necessidade.
Seja como for, obviamente gostei muito de revisitar este espaço.
Depois, deu-me a fome e fomos até a uma pastelaria logo ali em frente -- e, sem pestanejar, atirei-me a um fradinho. Retirei-lhe a envoltura e quando o tive despidinho nas minhas mãos, chamei-lhe um figo. Doces mas não muito, húmidos e bem apaladados, os fradinhos comem-se que é uma maravilha. Claro que, com o meu bom apetite e gulosa como sou, estava capaz de despachar meia dúzia de seguida. Mas, enfim, algum comedimento é necessário e, portanto, fiquei-me só por um. O meu marido, que gosta de me ver feliz, ainda sugeriu que os trouxesse eu para casa. Mas não, resisti. Tentações, sim, mas das que não causam grandes estragos. É que com seis fradinhos não sei não, capaz de passar para o tamanho XXL.
No fim ainda olhei para o alto, esperançada que os sinos tocassem. Mas não. Silenciosos. Pena.
Lá em cima, cantando, segundo leio no youtube é Myriam Madzalik num Concerto de música de Mozart na Basílica do Convento de Mafra.
A primeira vez que visitei o Palácio Nacional de Mafra era pequena. Foi uma tortura, salas e salões, enormes, quase vazios, tectos lá muito em cima, uma coisa interminável. Os meus pais queriam ver a biblioteca e a biblioteca ficava lá no fim de tudo. Ao fim de tantos anos, essa primeira imagem ainda está nítida dentro de mim.
É este e é o de Vila Viçosa. Aliás, na minha cabeça, é frequente misturá-los.Por isso, hoje tentei ver se já era possível fazer um atalho, ou seja, comprar bilhete só para a biblioteca; mas a senhora disse-me o óbvio: a biblioteca é no fim, para lá chegar tem que se passar por todo o convento. Ou seja, mantinha-se o que, para mim, seria um suplício.
Contudo a nossa percepção das coisas vai-se alterando e desta vez o Convento, sendo mesmo muito grande, já me pareceu de uma escala mais comportável do que aquela que, até aqui, persistia em manter-se gravada na minha memória.
No entanto, tenho que confessar que há aqui, para mim, uma dimensão excessiva, uma certa aridez decorativa (se é que assim me posso expressar), parece que há uma desmesura naquelas dimensões que faz com que se torne um pouco inóspito. Falta-lhe aquela imagem de conforto dos espaços verdadeiramente habitados. Nunca o terá sido a ponto de haver cunho pessoal de forma vivida.
Gostei de ver, e já não me lembrava, a parte das enfermarias e a parte das celas. O edifício é extenso e uma pessoa retém aquilo a que, na altura é mais sensível. Não tinha ideia nenhuma de já ter visto estas partes.
O dinheiro do Brasil era muito e e a obra quis-se imponente, que ninguém se poupasse a esforços. Tivesse eu a cabeça mais fresca e escolheria para aqui uns excertos do Memorial do Convento que o ilustram mas já não dá, estou a precisar de acabar isto e ir dormir.
Por isso, mostro apenas algumas fotografias. Claro que escolhi algumas das partes de que mais gostei. Há tectos fantásticos, há salas bonitas, há corredores lindíssimos no belo lioz rosa e cinza, há quadros de grandes dimensões, há impressionantes candelabros, espelhos, e cortinados que tornam alguns espaços deveras acolhedores, em especial as zonas mais íntimas.
Sala de Música |
Candeeiro da Sala de Caça |
E a igreja imponente, bela, de uma dimensão impressionante.
Devia ir haver um casamento porque vi estarem a chegar umas pessoas ultra aperaltadas e, não fora o não me poder dar a esses desfrutes dado ter os afazeres inadiáveis de que acima já falei, e teria lá ficado a fazer a reportagem.
Finalmente, então, a Biblioteca. Decepção: só podemos chegar um pouco para além da entrada. Eu queria circular, cirandar, espreitar as lombadas dos livros. Nada. Perguntei à senhora que lá estava a que se devia isso. Respondeu-me que têm falta de pessoal, que não podem deixar circular. Paciência.
As fotografias foram feitas, pois, a partir do exíguo espaço onde me pude movimentar. Mas a Biblioteca é linda, ampla, luminosa, aquelas cores suaves que resultam da pedra, dos livros, do pavimento, das entradas de luz.
É pena que não haja visitas guiadas ao longo dos corredores, varandins e estantes e que não haja leituras de excertos do Memorial do Convento ou música de câmara na sala de música. Mas, enfim, se há área em que está tudo, ou quase tudo, por fazer é na área da Cultura. Tomara que o País acorde para essa imperiosa necessidade.
Seja como for, obviamente gostei muito de revisitar este espaço.
Depois, deu-me a fome e fomos até a uma pastelaria logo ali em frente -- e, sem pestanejar, atirei-me a um fradinho. Retirei-lhe a envoltura e quando o tive despidinho nas minhas mãos, chamei-lhe um figo. Doces mas não muito, húmidos e bem apaladados, os fradinhos comem-se que é uma maravilha. Claro que, com o meu bom apetite e gulosa como sou, estava capaz de despachar meia dúzia de seguida. Mas, enfim, algum comedimento é necessário e, portanto, fiquei-me só por um. O meu marido, que gosta de me ver feliz, ainda sugeriu que os trouxesse eu para casa. Mas não, resisti. Tentações, sim, mas das que não causam grandes estragos. É que com seis fradinhos não sei não, capaz de passar para o tamanho XXL.
No fim ainda olhei para o alto, esperançada que os sinos tocassem. Mas não. Silenciosos. Pena.
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Lá em cima, cantando, segundo leio no youtube é Myriam Madzalik num Concerto de música de Mozart na Basílica do Convento de Mafra.
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Mas este post não ficaria completo sem qualquer coisa sobre o Memorial do Convento. Aqui está.
José Saramago - Memorial do Convento
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E queiram, por favor, descer até às aves de rapina (e a uma recordação minha, sempre tão sentida, da minha cadela mais querida).
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4 comentários:
Bom dia.
A foz do lisandro sofreu obras e ficou muito bem. É muito agradável por lá passar, poder ver o mar, beber um café ou qualquer outra bebida...simplesmente relaxar depois de um dia ou uma semana de trabalho.
Nem de propósito, UJM. Para quem acabou de ler ontem o "Memorial do Convento" este post vem mesmo a calhar.
Gostei bastante de ler esta sua “reportagem” sobre o Palácio / Convento de Mafra. Há muito tempo que não visito aquilo, embora faça planos, que entretanto, por razões várias, tenho vindo a adiar. Já combinei com minha mulher voltar lá um dia destes. Foi bastante útil esta informação que aqui nos dá. Pena essa situação relativa á Biblioteca. Quanto à região que aproveitou para visitar, como a Foz do Lisandro, etc, é muito agradável, com bonitas praias. Passei a conhecer essa zona, quando namorava, já lá vão uns anos, com minha mulher, isto porque a família dela tinha por ali uma simpática casa de Verão (que ainda hoje existe e muitas vezes nos encontramos todos). Logo ao lado da foz do Lisandro temos a praia de S. Julião, ali perto de Assafôra, também muito boa e onde, no topo, no café/esplanada que ali se situa, pode tomar-se uma bebida, enquanto se vê o mar (durante todo o ano) e até se pode comer uns saborosos pastéis de massa tenra! Nossos filhos gostam daquela zona, incluindo a Ericeira, pelo Surf, pelo bom peixinho e pela paisagem. Já ali por perto, na zona de Mafra, há aldeias muito agradáveis, sendo, talvez, a mais famosa a Aldeia da Mata Pequena, que aliás vem referida em vários “sites turísticos” e que merece ser visitada. Uma filha de um familiar nosso, tem lá um casa rústica de encantar, que ela e o marido compraram e arranjaram. Nós costumamos, de vez em quando, ir para esses lados, quer das praias pelas razões de família de minha mulher, quer da região de Mafra, pois tenho lá um primo com quem me dou muito bem e comprou por ali uma quinta e lá vamos passar umas tardes, antecedidas de um almoço. Quanto ao livro de Saramago, que li há já bastante tempo, pouco depois da sua publicação, houve uma passagem que sempre me ficou na memória, de tão patusca, que era a ida do Rei até ao quarto da Rainha, a fim de “a acometer”. A descrição de todos aqueles momentos é divertidíssima. Uma das passagens dizia: “...D.Maria Ana...que não pôde, depois de retirados El-Rei e os camaristas...levantar-se para as última orações...pois tinha de guardar o choco (o sémen real) por conselho dos médicos, contenta-se em murmurá-las, infinitamente...). A título de curiosidade, conta-se que D. João V uma vez informado da “módica” quantia que iria custar o famoso carrilhão, 400 mil réis, terá respondido: “não julguei que era tão barato, quero dois!” Caso para se dizer, que já vem de longe esta nossa “queda” de gastar o erário público. A. Herculano considerou o Convento de Mafra como “dispendioso, monumental e baldo de poesia”, simbolizando de algum modo o reinado (gastador) de D. João V. Desse Rei, ficam-me também as aventuras com as madres de Odivelas, sobretudo com Teresa Silva, mais conhecida por Sóror Paula.
P.Rufino
Ó Tazinha fui toda lampeira para ver a sua "cadela mais querida" mas clicando, passa de novo aos animais como nós.
Tudo o que diz é o que sinto com a minha gatinha. Imagine que quando pressente que vamos sair, fica com um ar muito triste e assim que fechamos a porta vai ao sítio onde tem os brinquedos dela e espalha-os todos pelo chão da casa.
Quando voltamos e lhe pegamos, encosta a cabeça dela ao nosso pescoço como fazem as crianças e fica ali até lhe apetecer.
Já tenho pensado no que será perder o nosso animal de estimação e tenho de mudar de pensamento imediatamente.
Um abraço
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