No post a seguir a este falo sobre a eventual homossexualidade do ministro. O ministro é gay? O lobby gay pôs mais um ministro no governo? - perguntas que as pessoas colocam. Mas isso é a seguir.
Aqui, agora, a conversa é outra.
A lua branca que me ilumina agora aqui, in heaven |
Há bocado fui à rua à procura de uma lua grande. Pensei que pudesse estar pousada sobre um muro, à minha espera no banco que está aqui à porta, talvez sobre as árvores. Pensei-a próxima, quase ao alcance da minha mão.
Afinal estava no céu, luminosa e branca, distante. Como sempre.
Fotografei-a mas o zoom recusou-se a funcionar nos limites. Ando pouco persistente, não gosto de forçar os objectos, não querem, não querem. Por isso, a definição da imagem não é extraordinária.
Ao olhá-la, reparo agora como os limites estão imprecisos, mas talvez seja mesmo assim este planeta: impreciso, macio, cinzas brancas, memórias.
Talvez os nossos espíritos nos observem de lá. Quem nos garante que somos só o que pensamos que somos? O que vemos ao espelho? Eu não sei. Admito como muito natural que uma parte de mim, aquela que costuma andar a sobrevoar-me, livre e imaterial, esteja por lá quando a olho. E, se não uma parte de mim, talvez, então, aqueles que se ausentaram da minha vida mas que vivem ainda no meu coração. Não sei.
Talvez os nossos espíritos nos observem de lá. Quem nos garante que somos só o que pensamos que somos? O que vemos ao espelho? Eu não sei. Admito como muito natural que uma parte de mim, aquela que costuma andar a sobrevoar-me, livre e imaterial, esteja por lá quando a olho. E, se não uma parte de mim, talvez, então, aqueles que se ausentaram da minha vida mas que vivem ainda no meu coração. Não sei.
Branca, com pequenos pontos de luz, quase prateada, lá estava a lua de sempre, nem muito grande, nem muito próxima. Mas se calhar só se aproxima quando não estamos a olhá-la. Eu podia ir agora lá fora, outra vez, ver se a apanhava desprevenida. Mas já estou aqui sozinha, o resto da casa dorme, tenho medo de ir à rua de madrugada, não sei se sobre as árvores não andarão pequenos seres lunares, transparentes, se no chão escuro não andarão gatos silenciosos, com olhos perfurantes. Não saberia como reagir se os visse.
Por isso, como não tinha imagens surpreendentes de uma lua gigante pousada à minha porta, andei pela casa a fotografar pequenos recantos. Não sei porquê. Talvez seja para que os pequenos seres que há pouco me olharam da lua quando eu tentava descobri-los, vejam como é a minha casa por dentro para que, se vierem daqui a nada, quando eu estiver a dormir, saibam que esta é a minha casa, que é aqui que estou.
Menina feita com sombras lunares |
Tenho meninas, santos, galos, candeeirinhos antigos que parecem de brincar. Aqui, na minha casa, as crianças gostam de estar, têm um mundo de coisas diferentes por descobrir. Estou sentada num sofá repleto de almofadas às cores, para onde olhe só vejo cor. Os pequenos seres transparentes que voem da lua para aqui vir brincar talvez queiram variar, vivem num mundo branco, sem peso, flutuam entre cinzas - aqui encontrarão muita cor, muitos seres coloridos e felizes.
Há algum tempo que não pinto, a ver se amanhã o faço, tenho saudades. E tenho sempre aquela vontade de tentar pintar com cores claras, suaves, brancas, lunares. A ver se amanhã o consigo, a ver se, quando der por mim, não estou a pintar encarnados, laranjas, amarelos quentes.
Um galo elegante que é um mealheiro, em cuja ranhura enfiei umas hastes de alfazema cheiroso Na mesa por baixo está um outro galo campestre e garboso mas quase não se vê na fotografia |
Hoje, quando cheguei, já a tarde ia avançada. Como sempre, andei a passear, a fazer o reconhecimento, a ver se os figos já estavam grandinhos, a ver se das figueiras já me chegava aquele perfume fresco e sensual de que tanto gosto. Ainda não, as folhas estão ainda muito jovens, os figos ainda rijos e pequenos. A sensualidade maior chega na idade madura.
Figo pingo-de-mel ainda não pronto para eu me atirar a ele - mas talvez já não falte muito |
Numa zona de mato compacto, absolutamente intransitável, imaginei um caminho, há muito tempo que o imaginava. No outro dia, nós dois desbravámos o tojo, abrimos espaço, fomos andando, cortando. Depois pedimos ajuda. Hoje já estava com jeito de caminho, já andei a caminhar por ele. Agradecida e feliz, até um pouco emocionada. Imaginei tanto isto quando, há uns anos, o terreno era apenas mato rasteiro e pedras. Lutei tanto para que os pinheiritos sobrevivessem, uma luta, por cada muitos plantados, lá sobrevivia, e a custo, um ou dois. Reguei-os a garrafões de água, como se estivesse a amamentar um raposinho selvagem.
O caminho faz-se caminhando |
Quando o verão aquecer, à tarde aqui vai sentir-se um dos melhores perfumes do mundo, um perfume de pinheiro misturado com alecrim, sálvia, esteva, orégãos.
Ao andar por aqui de vez em quando ouve-se uma agitação: é um coelho que foge à nossa frente. E ouvem-se os pássaros, os mais genuínos habitantes deste espaço. Cantam, brincam, voam. Por isso ando devagar, em silêncio, a ver se me reconhecem como igual. Quero aprender com eles a ser inocente e feliz; mas sei que não vai ser uma aprendizagem fácil. Fácil é aprender o que vem nos livros, fácil é saber coisas que não interessam para nada. Difícil é aprender a simplicidade da natureza.
Ao andar por aqui de vez em quando ouve-se uma agitação: é um coelho que foge à nossa frente. E ouvem-se os pássaros, os mais genuínos habitantes deste espaço. Cantam, brincam, voam. Por isso ando devagar, em silêncio, a ver se me reconhecem como igual. Quero aprender com eles a ser inocente e feliz; mas sei que não vai ser uma aprendizagem fácil. Fácil é aprender o que vem nos livros, fácil é saber coisas que não interessam para nada. Difícil é aprender a simplicidade da natureza.
A delicadeza das pequenas flores que nascem de entre o solo rochoso (Mas será delicadeza ou, de facto, uma bravura muito feminina? Se nascem e resistem no meio desta adversidade...) |
E agora vou deitar-me. Podia deixar a porta aberta mas, claro, não o faço. Em vez dos pequenos seres brancos, transparentes, que flutuam, talvez ainda com as suas asas macias cobertas de cinzas lunares sei lá se não entrariam os cavalos azuis de Franz Marc, os bailarinos de Matisse, o galo gigante de Chagall, gatos bravos, coelhos, pássaros gigantes?
LUA BRANCA (Chiquinha Gonzaga) - Cristina Motta
**
TODOS
falam da lua de ontem vinte e dois
maior, mais brilho, mais encanto
saudando o primeiro dia de Verão
deslumbrando deslumbrando...
POUCOS
sabem uma coisa comesinha
enquanto as princesas me cantavam
e eu fechava os olhos num desejo
e os risos ali me aconchegavam
silencioso o Tejo se apagava
e a lua enorme imensa era SÓ MINHA
['Vaidade', poema de Era uma Vez, num comentário aqui abaixo]
***
Permitam que relembre que sobre se temos ou não ministros gays no Governo de Passos Coelho falo no post a seguir a este (mas vou já avisando que a minha opinião é que a sexualidade dos ministros é o que menos interessa para a qualidade das nossas vidas).
***
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um domingo muito bom.
7 comentários:
Mesmo sendo a Lua grande, ainda são as pequenas coisas -nossas- que nos tornam "gigantes".
Bom Domingo
Vaidades
TODOS
falam da lua de ontem vinte e dois
maior, mais brilho, mais encanto
saudando o primeiro dia de Verão
deslumbrando deslumbrando...
POUCOS
sabem uma coisa comesinha
enquanto as princesas me cantavam
e eu fechava os olhos num desejo
e os risos ali me aconchegavam
silencioso o Tejo se apagava
e a lua enorme imensa era SÓ MINHA
Obrigada a todos.
Erinha: o seu poema já se encontra lá em cima junto à lua branca da Chiquinha.
Obrigada Jeitinho.
Esta" carangueja de primeiro dia" rodeou-se dos mais próximos e nesse momento tinha no pensamento os amigos de perto e de longe...Este ano, a LUA foi mesmo a cereja do meu bolo.
Uma resposta especial à aniversariante Erinha.
Ainda que atrasados, os meus Parabéns já estão lá bem à vista, como se fossem um cartão animado.
Uma vida longa e muito feliz!
Beijinhos!
Acabei de ler este seu post e achei-o lindo, não posso portanto ficar indiferente a tanta magia, criatividade e imaginação!
Adorei, adorei!
Obrigada UJM por estes momentos tão deliciosos, em que partilha connosco os seus espaços, interiores e exteriores ao seu in heaven com tanta graciosidade, intensidade e paixão.
Bem haja por ser quem é!
Um beijinho grande
O seu Heaven deve ser uma maravilha!
Coisas tão bonitas!
Um beijinho
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