terça-feira, abril 10, 2012

Eva numa noite de pesada inquietação, de dúvida, de procurada solidão


Música, por favor

Melody Gardot - Our love is easy


E então, muitos anos depois do primeiro dia e muitos anos depois do primeiro pedido, Eva vai finalmente casar-se.

Ambos souberam, desde a primeira vez que se viram, que poderiam as circunstâncias alterar-se mil vezes, poderiam vir a conhecer mil outras pessoas, mas que, amor como aquele, não voltaria a acontecer.

Pouco depois Miguel quis casar-se. Mas Eva é potro selvagem, galinha do mato, ave das escarpas, e nunca quis prender-se.

Mas começaram a viver juntos, tiveram filhos. E sempre Miguel a tentar que ela se rendesse. Os anos foram passando.

Miguel é médico, um bom médico, cirurgião, especializado em transplantes. Não tem horário, trabalha quando é preciso trabalhar, quando surge a possibilidade. Seja ao fim de semana, seja de madrugada, seja quando for. Por isso cedo optaram por dormir em quartos separados. Eva gosta de dormir tranquilamente e Miguel compreende que não deve perturbar-lhe o sono com telefonemas nocturnos ou com chegadas ou partidas a meio da noite. 

Eva foge de jantares de trabalho, reuniões que se prolonguem noite fora mas, se inevitabilidades dessas acontecem, também não quer perturbar o sono de Miguel, geralmente sempre tão mal dormido.

Amigo não empata amigo, costumam dizer. Tendo profissões tão diferentes, admiram-se, apoiam-se, são amigos e confidentes, cúmplices de todas as situações.

Eva é uma sedutora. Gosta de seduzir, gosta de ser seduzida. Miguel sabe-o. Ao princípio chocava-se, tiveram muitos atritos por causa disso. Mas Eva continuou a ser quem é e Miguel acabou por perceber que Eva também gosta de cozinhar e não é por isso que se tornou cozinheira. Aceita agora, com bonomia e compreensão. Mas Miguel também o é. Talvez por isso, aliás, a compreenda tão bem. Além disso, logisticamente falando, Miguel está em franca vantagem - como os médicos costumam dizer: os hospitais têm tantas camas…

Mas, podendo até qualquer petite chose acontecer, estão ambos certos que, de parte a parte, a substância do amor ao outro está reservada.

Desconfianças, aborrecimentos, ciúmes, é erosão que, de há muito, passou à história. Neste momento é sobretudo fruição, companheirismo e sexo.

Por isso, agora, com a pressão dos filhos que tanto gostavam de ir ao casamento dos pais, com a persistência de Miguel que tanto gostava de ser um homem casado, com o gosto que gostava de proporcionar aos seus próprios pais, Eva acabou por ceder.

A filha virá buscá-la, será a madrinha, irão juntas.

Miguel, como manda a tradição, não dormiu em casa nos últimos dias, está em casa do filho, sairão juntos para a cerimónia, o filho será o padrinho.

Eva está pois a pouco tempo de se tornar uma mulher casada.

E, no entanto, nesta última noite, Eva está inquieta. Desliza silenciosa pela casa vazia. Sem destino, sem tino, sem palavras, eis que esta mulher percorre os caminhos da sua casa e, sem saber porquê, se sente subitamente perdida.

A casa envolta em sombras e Eva avança, sem peso, pelos corredores, pelas salas, uma gata arisca que roça as paredes numa ansiedade desconhecida. E treme, toda ela treme e nem sabe se é frio, se é apenas esta estranha inquietação. 

Procura um livro sobre a obra de Paula Rego, procura uma certa imagem. Encontra-a e ali fica, imóvel, olhando.

Bride - Paula Rego (1994)

Uma expressão vazia no rosto indiferente de uma noiva. Um vestido branco, o brilho da seda, o véu também sedoso, e, no entanto, que vazio tão vazio à sua frente. A noiva olha Eva, interroga-a, uma noiva que já não é nova, como ela, Eva, já não o é. Imagina-se assim, virginal e ridícula, alguém que devia ter sonhos mas que já os não tem.

Abre, ao acaso, o último livro que trouxe para casa, e lê, em voz muito baixa não vá alguma sombra ouvi-la:

                            Muitas vezes me pergunto quando vem.
                            Não sei ao certo como será
                            nem como ou quem
                            anunciará
                            essa noite  essa luz   esse momento.
                            Chegará como chega o vento.


Eva tem vontade de chorar. De súbito uma solidão sem nome, um silêncio imenso que a esmaga. 

Vai até à varanda, debruça-se a ver o escuro lá ao fundo, o mar, a sombra das árvores, o grande espaço aberto, a imensa liberdade.



Já com pouca luz ainda consegue ler numa outra página, e é quase como se contasse um segredo ao ar frio que percorre o seu corpo:

                                    Eles não sabem do grande espaço aberto
                                    onde voam os patos e as narcejas
                                    nem procuram as sílabas perdidas
                                    que há muito outros cantaram e onde brilhavam
                                    as espadas   o sol    e a liberdade



Regressa lentamente ao interior do quarto, senta-se na cama.

Então o telemóvel toca. Não vê quem é, não quer falar com ninguém, não atende. Quer que a solidão mais absoluta a envolva, quer pensar. Mas não consegue.


«»

Relembro que se quiserem ler a história de Eva desde o início, poderão procurar nas etiquetas aí ao lado, mais para baixo, 'Eva - a mulher dos olhos verdes'.


Os poemas aqui apresentados chamam-se, respectivamente, 'Momento' e 'Liberdade', são de Manuel Alegre e pertencem ao último livro, 'Nada está escrito'.


A gravação da primeira música da Melody Gardot tem fraca qualidade mas foi a única versão que descobri disponível para o blogger e queria mesmo ter aqui esta canção.

Entretanto, é com todo o gosto que vos convido para o meu Ginjal e Lisboa hoje em dia de palavras em torno de um 'aquele que se perdeu' também de Manuel Alegre, hoje ao som de uma magnífica, magnífica Renée Fleming interpretando Berlioz.

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Tirando isso, por hoje só tenho a dizer-vos que vos desejo a todos uma bela terça feira e fiquem bem, já agora na companhia da sedutora Melody Gardot, com o recente The absence.

Melody Gardot - The absence


14 comentários:

patricio branco disse...

curioso, mas quando li os versos que a noiva leu, lembrei me de manuel alegre, doutros poemas dele onde existe ritmo semelhante, onde se usam algumas dessas palavras.
Não o identifiquei como autor dos 2extractos, ignorava de quem eram, apenas comecei a pensar na poesia dele. depois, um pouco mais abaixo, li que eram de m a e fiquei surpreendido.
sem duvida um grande poeta que combina como poucos temas politicos com eroticos, o amor com o combate, onde a liberdade é uma preocupação recorrente, mas tambem o ser português.
Um poeta a reler tal como o fez eva.

Maria disse...

Querida Jeitinho:
Até que enfim, um romance que acaba em casamento, ao contrário dos actuais, que começam em casamento e acabam em divórcio.
Quando me casei estava grávida. Casei-me, pelo civil, para fazer o jeito aos meus e dele, familiares. Foi uma coisa, que nunca pensei fazer. Para mim, contava e conta, o amor, o companheirismo, os filhos. O papel assinado, o sim, perante um padre e uma data de pessoas, eram uma coisa escusada. O que contava e conta, é o amor que sentimos um pelo outro, que ultrapassou todos os problemas, todas as dificuldades, todas as dores. Casámos, mais dois filhos nasceram, tenho dois netos. Hoje, velhos, cansados, doentes às vezes, continua o mesmo "Amor de perdição", uma ternura ainda maior, um companheirismo, que quase não nos deixa afastar um do outro.
Tivemos uma vida difícil, foi só ele a trabalhar, pois por opção,desisti de uma carreira, para ser mãe a tempo inteiro.
De nada me arrependo, nem mesmo de ter casado. Não era a minha vontade, mas também, não foi um sacrifício. Foi um contracto, que se revelou bom, para ambos.
A Eva foi mais longe. Não casou mesmo. Foi feliz, fez a vida que sonhou, teve filhos. Como eu a entendo!
Agora vai casar e sente, que qualquer coisa, vai mudar na vida dela. Talvez pense, que se vai trair. Por isso as lágrimas, o desassossego. Depois, verá que nada mudou.
Como já lhe disse, nunca trabalhei fora de casa. Nunca me senti dependente. Tenho as minhas ideias, a minha maneira de ser, não me sinto presa. A única coisa que me prende, continua a ser este amor, não o facto de ser casada.
Vai em frente Eva! Mulheres com a nossa personalidade, nunca são inteiramente de ninguém. Há sempre uma parte secreta, que nos pertence só a nós.
Gostei da música.
Pela primeira vez, achei graça, a um quadro da Paula.
Está melhor, amiga?
Mesmo meio engripada, vou hoje tratar do telemóvel. Faz-me mais falta do que pensava. Amanhã, adeus cigarro. Os ossos ainda me doem. Quem me mandou ser velha por fora?
Beijinhos e as melhoras, amiga
Maria

Anónimo disse...

Que música agradável! Tão suave! Um tipo de melodia para um fim de tarde, ou à noite. Excelente!
Desculpe-me, mais uma vez, mas, ao olhar o quadro da noiva de Paula Rego, até me deu arrrepios! Pergunto-me sempre como é possível tratar a Mulher tão mal (um avô meu, um sedutor e divertidíssimo cavalheiro, dizia-nos: “numa mulher nunca se bate...só com uma flor!”?) Concedo, sem problemas, que posso ter limitações várias na minha capacidade de avaliar e apreciar Pintura, mas as obras de Paula Rego perturbam-me. E, meio a sério, meio a brincar: quem quereria tal para noiva (como a do quadro)? Tudo ali é “anómalo”, ou quase: os pés (!), os braços, o pescoço, os braços, o rosto, o corpo e, sobretudo, a ausência de feminilidade. Uma mulher não precisa de ser bonita para ser feminina, ou é, ou não é, depende muito de si, quer-me parecer. Mas esta noiva, Estimada UJM, não a queria nem quando completar os 90 (é um dos meus objectivos, havendo saúde, a exemplo de outros antepassados)!
Um resto de bom dia de trabalho!
P.Rufino
PS: Já visitei, com vagar, a sua (Paula Rego) casa em Cascais, mas não saí convencido.

Isabel disse...

Gostei da pintura da Paula Rego.
Não sei bem o que me atrai na pintura dela. Talvez essa fealdade, seja mesmo o que está muitas vezes por trás de aparente beleza. Das pessoas e das situações.
Gostei de tudo.
Um abraço

Um Jeito Manso disse...

Olá Caro Patrício Branco,

E este livro do Manuel Alegre ainda está fresquinho (ou quentinho, conforme a perspectiva), já que é de fornada recentíssima.

Gosto do Manuel Alegre como poeta, é uma pessoa com poesia na alma. E diz poesia muito bem, sente muito bem e transmite a toada poética que quase dispensaria palavras para se manifestar.

É um poeta que se atira às palavras de peito feito e eu gosto disso.

Um Jeito Manso disse...

Mary,

Gosto imenso quando relata a sua vida, vê-se que é uma Mulher de paixões, de grandes amores e, sorte dele, toda essa emoção concentrou-se nesse seu grande amor.

Mas não diga que é velha, Mary, não gosto nada que diga isso. Os meus pais têm muito mais anos e eu ainda não consigo achar que eles são velhos (nem o meu pai, que tão debilitado está). Para mim, um velho é um velhinho já dependente, fraquinho, sem acção, sem poder de decisão, a babar-se, uma pessoa já num estado assim. Antes disso, está-se apenas mais experiente e, por vezes, cansado. Tirando isso, é a beleza da idade madura, beleza a todos os níveis.

Por isso, Mary, veja-se a si e ao seu Amor de Perdição como um casalinho de namorados, felizes e amigos (mesmo que às vezes tenham pequenos arrufos - como todos os namorados os têm).

Quanto à Eva vamos lá ver se hoje continuo com ela. Ouvi uns disparates tão grandes da parte do Passos Coelho que estou danadinha para falar disso. Mas também gosto muita de Eva, vou ter pena de a deixar de lado. Acho que podia continuar a inventar acontecimentos à volta dela mas não faria sentido.

Fiquei contente que tivesse gostado do quadro da Paula Rego. Ela é uma mulher que conhece as pancadas e as manhas das mulheres e gosta de as pôr em situações engraçadas. Também gosto desta noiva. Aqui há tempos passei num jardim e vi um casal de noivos a tirar fotografias e a noiva era mesmo deste género (e o noivo babadíssimo com ela).

Espero que já esteja contactável (porque, hoje, sem telemóvel uma pessoa fica como se estivesse isolada do mundo). No outro dia que quando um telemóvel cai na água se pode resolver o problema com arroz. Mas achei tão disparatado que só li o título...

Estou ainda com dor nas costas (que depois de andar a passear pelo corpo, voltou ao local de partida) mas já estou um bocado melhor e sem aqueles comprimidos... Agora só Ben-u-Ron. A ver se me aguento sem tomar mais nada.

Espero que esteja melhor da gripe e mentalizada para perder a vontade de fumar...

Beijinhos, Mary!

Um Jeito Manso disse...

Oh Caríssimo P. Rufino...

Mas o mundo não é apenas para as Heidi Klum ou Cate Blanchett desta vida. Uma mulher morena, de perna grossa, não pode ter direito a ser vista como uma mulher com charme...? Claro que pode. Mesmo que seja feia (e esta noiva não me parece feia), claro que em primeiro lugar tem que estar dentro dela achar-se bonita, engraçada, pois, se estiver, através do seu humor, da sua inteligência, o seu 'look' passará a ser um detalhe.

O que acontece é que se as mulheres acharem que não cumprem com os requisitos, se se sentir insegura, se se sentir rejeitada, perderá o viço, perderá o gosto e a alegria e, em consequência, perderá os atractivos associados é feminilidade.

É preciso olhar com benevolência e com atenção para descobrir o lado bom e belo de cada pessoa.

Posso sugerir-lhe que tente imaginar uma história para esta noiva de modo a olhar para ela de outra forma, vendo-a como uma mulher capaz de se tornar bastante sensual?

Quanto à Paula Rego penso que deveria ouvi-la ou vê-la nalgum documentário. Perceberá o género de pessoa que ela é e perceberá melhor a obra dela. Não é pessoa que se leve demasiado a sério. Por isso, tente ver a pintura dela como um fantástico exercício lúdico. Vai ver que a verá com outros olhos. Pelo menos, comigo aconteceu isso.

Boa noite P. Rufino, com um bom som.

Anónimo disse...

Cara UJM:
Eva, uma mulher de confiança absoluta em relação à vida, triunfadora nos negócios, sem medos nem inquietações de espécie alguma, está hoje adolescente perturbada chorando durante a noite na varanda da casa silenciosa, com dúvidas quanto à decisão tomada.
Mesmo sabendo Miguel o homem da sua vida. Culto, inteligente e sensível, o anjo que lhe dá serenidade, calma, e que na relva lhe declama poesia. Porquê este desassossego inquietante?
Será a liberdade ameaçada? A natureza transgressora? Ou simplesmente a complexidade e fragilidade femininas?
Busca a resposta na obra de Paula Rego, que considera tão incómoda e ao mesmo tempo fascinante, porque apresenta como nenhuma as dores e as manifestações mais íntimas da mulher.

Porquê pronunciar o sim? Felizes os que apenas amam!

Miguel não desiste e, perante o telefone silencioso, deixa mensagem:

Morrer de Amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

Maria Teresa Horta, in “Destino”

E tenha dias felizes com visíveis melhoras.
abraço da
Leanor formosa e segura

Um Jeito Manso disse...

Isabel,

Gostei da forma como descreveu o que acha da pintura da Paula Rego, das mulheres das suas pinturas. Também acho isso. São mulheres normais, de feições rudes, mulheres do povo, de pernas grossas, com mãos e pés não tratados - e mulheres assim devem ser respeitadas, admiradas. E quando se olha para elas desta forma, a gente habitua-se a não ficar chocada com isto.

Há que ver sempre o outro lado das coisas e gostar mesmo daquilo que é diferente.

(Sou muito condescendente...:-) - só não sou com governantes que fazem mal ao País...)

Um abraço, Isabel.

ERA UMA VEZ disse...

...ao ler Manuel Alegre chegam-lhe à memórias frases soltas de antigos poemas que se ouviam lá por casa quando era adolescente
"Pergunto ao tempo que passa"...

Depois em catadupa, uma outra frase de canção antiga " é só inquietação inquietação...

Passa os dedos da mão pelo rosto e descobre um leve suor, gelado, tímido, perturbador...e agora um sotaque do Brasil sussurra ao seu ouvido " libérdadege só posso esperar...

E o coração acelera e a pergunta vai tomando forma. Para quê? Porquê?
Desde quando é mulher de cedências?
Se Miguel é um achado na dimensão do universo, se encontraram sempre o caminho que os reunia, se venceram as rotinas e as adocicaram, se brincam aos clandestinos lendo poemas na relva que apimentam e sublimam a relação, porquê uma
cerimónia que nunca desejou???

Que diabo, se o Miguel faz questão...

Eva racionalmente concede que sim, afinal não custa nada...mas no fundo de si, lá num cofre onde guarda ciosamente a sua liberdade, há um relógio de cuco que vai repetindo repetindo qualquer coisa como
"Há sempre alguém que resiste/ há sempre alguém que diz não"...

Arrepiada, olha-se ao espelho e repara
Esta ruga não estava aqui! Ai não estava, não!

Um Jeito Manso disse...

Leanor, Formosa, Segura e com gostos poéticos muito parecidos com os meus,

Adoro esse poema da Mª Teresa Horta, até o tenho escrito num pequeno muro lá 'in heaven'.

Pois não sei porque está Eva neste estado. Coisas de mulheres. talvez que depois de anos de não se querer casar, lhe custe agora ir dar o braço a torcer, talvez que custe abdicar do estado simbólico de mulher livre (embora, no coração, o não seja), talvez odeie festas e coisas do género, não sei.

Mas, Leanor, haverá mulher por mais durona que seja, que não tenha os seus momentos de vulnerabilidade...? Só de for a Merkel...

Pois, se quer que lhe conte, ontem tinha ouvido uma música linda e isso inspirou-me a casar a bela Eva e estava preparada para acabar ali a história, com um casamento à maneira.

Mas, quando já me estava a preparar para os 'finalmente' a safada deu-lhe esta pancada, desatou a ficar assim e eu nem percebi bem o que foi que lhe deu. A ver se não vai dar o dito por não dito...

Fico contente que também entenda as mulheres fêmeas, mulheres do povo, mulheres sofridas ou mulheres transgressoras da Paula Rego.

Quanto ao meu estado 'debilitado'... ainda ando empenada das costas, hoje melhor que ontem mas ainda com dores. Mas, enfim, fazendo a vida normal, que remédio, e tentando, durante o dia, 'não dar muita bandeira' que detesto que me olhem com curiosidade e pena e me perguntem o que tenho.

A ver se isto passa que detesto andar assim (mas tenho facilidade em abstrair-me; se me ponho aqui a escrever, às tentas nem me lembro; mas estou numa cadeira de madeira, sem estofo, que era da minha avó, porque assim estou melhor).

Adiante.

Agora vou à minha labuta. Vou escolher a música, o poema, a fotografia, escrever umas coisitas - enfim, vou fazer a lida ali no Ginjal).

Um abraço, Leanor.

Um Jeito Manso disse...

Era uma Vez, olá!

Pois é, a trova do tempo que passa e a voz do Adriano, não era? Aqueles poemas tão carregados de sentido, uma emoção tão profunda, pois é.

Adorei o que escreveu, tão próximo do que eu acho que Eva sente, mesmo isso. Querer e não querer, não querer abdicar do que sente e quer e, por outro lado, querer fazer a vontade a Miguel, aos filhos. Está dividida numa casa vazia. Não gosta de ceder mas gosta de fazer a vontade ao seu amado.

É uma mulher forte às vezes, e frágil de vez em quando.

Que bem que exprimiu estas contradições no seu poema/história, que bem.

Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não...

Vamos ver o que faz ela...

(Agora ainda não sei, a sério).

Vou ao Ginjal cumprir a faina diária e depois logo vejo para o que é que me dá.

Um beijinho, Erinha!

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo. E gostei de ouvir Paula Rego, em duas entrevistas. Aprecio e muito a sua personalidade. Agora, acho as suas figuras, a mulher em particular, simplesmente horrendas. É intencional nela. Porquê ainda não percebi. Por mim, sempre que olho, aprecio uma obra de arte, seja pintura, escultura, etc, procuro encontrar nelas algo que me lembre o “belo”, mesmo que por mais abstracto, bizarro, diferente, que seja. Na pintura de P.Rego não consigo. Choca-me. Por exemplo, posso, como disse, ter alguma dificuldade em entender Picasso, mas deleito-me com algumas das suas obras de arte. Algumas. Com Paula Rego, não consigo. Não existe empatia, ou o que seja. Como nada na vida, com a excepção da morte, é definitivo, quem sabe se um dia me conciliarei com a grande artista!
Boa noite!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

P. Rufino,

Olhe que eu sou pessoa de desafios...! Tudo o que me cheira a missão complicada é, para mim, um obstáculo que me vai dar prazer ultrapassar.

Por isso, não fale muito nisso senão meto na cabeça pô-lo a adorar a pintura de Paula Rego...

PS: Bom, já cumpri a minha tarefa diária no Ginjal, agora estou já com o UJM em mãos e parece que vou resistir à tentação de desancar no Passos Coelho que é pior e menos fiável do que eu receava.

A ver no que dá a minha jornada por aqui...