Comecei o dia bem. Enquanto bebia café, vi na televisão o ministro Miguel Cada-Vez-Mais-Esbugalhado Macedo a dizer com ar atrapalhado (via-se que números não são a especialidade dele; falava como se antes de abrir a boca de cada vez que dizia um número tivesse que repescar na cábula mental se era mesmo aquilo ou um décimo daquilo ou mil vezes aquilo) que, salvo erro com o fim dos governos civis, ia fazer poupanças de 3 milhões e cem mil euros e que, por outra qualquer medida, ia poupar 500 mil euros. Gostava que ele estivesse à minha frente para me ver a rir à gargalhada (de certeza que o ia deixar ainda mais inseguro: ‘se calhar enganei-me, caraças, se calhar era aquilo por mês... ou será que era aquilo vezes cinco?’).
Como têm sido galacticamente criticados por terem tomado o gosto em irem-nos ao bolso, alguns dos assessores ou das agências de comunicação, quiçá até o grande guru Cabo Angel (nickname pré-histórico, dos tempos do Pão com Manteiga), lhes deve ter dito: faz favor de começarem a mostrar que isto não é só fartar vilanagem, vamos lá mostrar algum servicinho, a ver se a malta não vos toma de ponta. Apareçam, expliquem-se, mostrem que andam a reduzir na despesa. Fixem bem, read my lips: reduzir despesa, poupança. E frases curtas para não se espalharem.
Vai daí, agora aparecem por todo o lado a dizer que vão poupar. Mas, senhores, vão poupar o quê...?
Claro que é melhor poupar nem que seja um cêntimo do que continuar a contratar assessores como se não houvesse amanhã.
Mas ponhamos as coisas em perspectiva: se os números que circulam são verdadeiros, esta poupancinha representa qualquer coisa como uma milésima parte da dívida da Madeira, ou seja, o chamado cagagésimo, a irrelevância mais completa.
Podia ser bom se isto fosse tudo concertado, tudo articulado e tivessem medidas destas aos milhares. Agora, se cada um aparece com uma poupancinha de 3 milhões, como são 11 (são 11? não me lembro), no conjunto poupam trinta e tal milhões de euros. Mas ó senhores, isso não é nada...!
Mister Gágá, nickname O Mangas: não sei, pode ser muito inteligente mas, não sei, parece que lhe falta um parafuso ou que tem um bug qualquer, não sei |
Se não conseguem melhor que isto, não tarda vem o Gas-pa-ri-nho De-va-ga-ri-nho das Man-gas Gran-des e rapa-nos o que falta do subsídio de Natal e mais o ordenado inteiro de Janeiro para ver se alguns morrem de vez, a ver se poupam a sério na Saúde (e lá apareceria a seguir o consistente Passos Coelho, com aquele ar de bom maridinho e com aquele ar encenadamente firme de quem é um expert nas farófias, a explicar-nos que apareceram umas condicionantes externas e que não há contradição nenhuma - só que os reformados parece que estão a viver mais que no tempo do Sócrates, que os funcionários públicos não estão a querer ser despedidos, tudo muito difícil e que, por isso, não lhes resta outra solução senão aumentar os impostos mas que, sob palavra de honra, nunca mais tal acontecerá).
Mas situemo-nos agora nessa extraordinária hipótese de deixar de comparticipar a pílula, algumas vacinas e alguns medicamentos para asmáticos.
Só quem passa por isto é que percebe Não dá para reduzir a comparticipação nos medicamentos para asmáticos!!!!!!! |
Tendo os meus filhos, em pequenos, sofrido de bronquite asmática sei bem o susto que é ver uma criança com falta de ar e sei que nenhuma mãe está descansada se não tiver consigo medicamentos broncodilatadores. Equacionam deixar de os comparticipar? Hipótese malvada.
Mas situemo-nos agora, mais concretamente, na pílula e nas vacinas. Dizem que deixariam de ser comparticipadas mas que continuariam a dá-las gratuitamente a quem for ao posto de saúde.
Perplexidade. Alguém me explica o racional disto? A mim, habituada a lidar com números e com decisões relativas a optimização de recursos, isto deixa-me banzada.
Então se as pessoas passarem a afluir em maior número aos centros de saúde não é economicamente pior? É que esse acréscimo não apenas passará a ser gratuito quando antes eram comparticipado como, provavelmente, têm que admitir mais pessoal para atender o acréscimo de pessoas.
Além disso, hoje em quanto importa a verba de comparticipação relativa a estas coisas? Presumo que, face ao orçamento brutal da saúde, trocos. E, então, vale a pena o retrocesso e o transtorno e as angústias por uns míseros trocos?
É que, ó senhores ministros, quando as pessoas se queixam que se estão a sentir enganadas e roubadas não é para vocês irem a correr fazer o primeiro disparate que lhes passar pela cabeça, cortando nos medicamentos ou nos transplantes. Não, a ideia é cortarem nas fundações que vocês diziam que não servem para nada, nos institutos aos molhos e nos serviços que vocês nos disseram que eram duplicados e triplicados, e mais nos assessores, nos pareceres a firmas de advogados quando têm serviços jurídicos nos ministérios, etc.
Já dói vê-los a fazerem tanto disparate, tanta coisa descabida. E, daquilo que se tinham comprometido a fazer e que esteve na base do voto que lhes deram nas eleições, nada de nada, pelo menos que se veja. Que incompetência, credo.
E agora, como se o nonsense não fosse suficiente e depois de andarem todos a dar entrevistas a justificar a medida, apareceu, durante a tarde, um comunicado do Ministério da Saúde a dizer que a decisão ainda não está tomada, que aquilo foi só um arremedo. Arrepiaram caminho em grande estilo.
Ei-lo em acção, o all in one, maçónico ou super-sónico lobbista ou aparelhista ou garganta funda ou o que der mais jeito (segundo rezam os media que eu não sei de nada, limito-me a papaguear) |
Ó senhores, mas aqueles laranjocas que vivem sob a batuta do pêro-saloio Relvas são, na marioria, tão nabos em tudo: fazem e desfazem, dão o dito por não dito, um amadorismo, uma trapalhada pegada.
Entretanto a impagável Ana Avoila saíu à cena e diz que quer aumentos para toda a função pública e nunca inferiores a 50 euros. É de homem!
Mas a dita sociedade civil também tem coisas do além: um pai foi entregar o filho de 15 anos à esquadra por ter descoberto que o rapazito é homossexual. E isto não se passou num qualquer remoto país nem no remoto século passado: não, isto passou-se cá, esta semana. Uma coisa que me arrepia, que me envergonha. E a polícia não prendeu logo o troglodita do homem? Coitado do miúdo.
Melhor que isto só o alce sueco que trepou a uma macieira e apanhou tamanha bebedeira com as maçãs fermentadas que comeu que já não conseguiu sair de lá. (Eu não fazia ideia que os alces trepavam para as árvores - isto há cada coisa).
De perna aberta, completamente escarranchado num tronco em cima da árvore, dizem os locais que parecia bêbado ou estúpido.
O alce sueco bêbado ou estúpido |
Percebo. É isso mesmo. Quando fazem parvoíces desse calibre é isso mesmo que parecem: bêbados ou estúpidos.
PS: Mas perguntava eu lá em cima: e o Álvaro?
Ó Álvaro, anda lá, aparece, que a gente já anda aqui intrigada com o teu desaparecimento, rapaz |
Daqui a nada estamos como andámos faz agora 10 anos, toda uma nação em suspense sem saber da Lili.
A Christine Lagarde bem implora que relancem a economia, que há o risco de a recessão afundar para além do aceitável, que, por favor, injectem recursos na economia para que o mundo não definhe alarmantemente, o Obama já está a fazer o trabalhinho e já lançou um vigoroso plano de relançamento da economia e por aqui...? Por aqui... alguém me diz? Onde é que pára o Álvaro, senhores!?
Cá para mim, das duas uma: ou aparece daqui por uns dias com pele de bebé, de mão dada com um cirurgião plástico espanhol da dermo-estética a explicar, todo sorridente com aquele seu ar de alvarito, que foi só ali fazer um peeling; ou então andou às maçãs e está para aí esquecido, escarranchado em cima de uma macieira, completamente bêbado.
Ai estes rapazes...
5 comentários:
Oh minha senhora dona!
meter o álvaro sueco e um alce escarranchado no mesmo sac...
desculpe!
um álvaro escarrachado e um alce bêbado no mesmo saco só por puro diletantismo.
Não posso estar d'acor...
desculpe!
não posse estar mais d'ac...
Ai!...
(caraças)
é aquela coisa do 'j'en doute', não é?
(q'confusão!)
Enfim, o que queria dizer, a propósito do seu divertido escrito sobre os jovens rapazes era qu'on s'en doute.
Também andou aí pelas árvores às maçãs, ó Pirata...?
Olhe, a falar francês dessa maneira e a soluçar dessa maneira, até me fez lembrar Calvados, a aguardente à base de maçã.
Quanto às suas dúvidas sobre estes rapazes só posso atribuí-las a um possível espírito cartesiano. Tem dúvidas, Pirata? Ainda?
Então fazemos assim: quando houver 'une petite quelque chose', 'un petit rien' que seja, que abone a favor deles, o meu amigo Pirata faça o favor de me avisar para aqui erguermos um cálice de Calvados e fazermos um público brinde, ok?
É para me adequar aos citados ou como se tivesse andado.
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Imbebível!
O calvados...
e a minha estimada amiga -soi disant- caiu como uma santinha!
Investigue lá a acepção -sem ter em conta o PALP- de 'on s'en doute', s'il vous plaît.
...do brinde é que duvido, mesmo que o Calvados fosse bebível.
(mas vista a solenidade a merecer pelo facto futuro, pode recorrer a uma vínica do minho que deixa as beberagens do estrangeiro a perder de vista)
Pirata,
Capisci. Em italiano, desta vez, mas não me arrisco a sugerir um chianti.
Mas deixe-me que esclareça: se sugeri o calvados, que jamais eu conseguiria beber, foi, justamente, porque a a hipótese de surgir a ocasião de uma comemoração é de total improbabilidade.
Bom domingo!
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