Hoje estive a almoçar ao pé do Miguel Frasquilho no IKEA e depois voltei a cruzar-me com ele lá em baixo, nas compras, e tive ocasião de reparar num pormenor.
A criatura nunca me foi especialmente simpática: é de um ultraliberalismo incondicional e sempre muito seguro das suas razões. São tendências extremadas com as quais não me identifico (o mercado não pode comandar tudo nem é auto-regulável como os factos o têm, infelizmente, vindo a demonstrar) e, além disso, tanta certeza absoluta revela a antítese da sabedoria. Quem tem mundo e sapiência sabe que não há verdades absolutas nem certezas inabaláveis.
Mas, bem pior que isso, foi o pormenor em que só hoje, ao vê-lo assim de perto, ao vivo e a cores, pude reparar: o liberal Frasquilho usa uma pulseirinha de ouro no bracinho, caída sobre o pulso. Estava na fila muito hightech a consultar a internet num dos gadgets da moda mas, pelo amor da Santa!, de pulseirinha de ouro…uma pulseirinha a meio caminho entre o completamente kitch e o completamente menino-da-mamã.
Coisa tenebrosa.
Coisa tenebrosa.
Um ultra-liberal de pulseirinha pirosa de ouro é a contradição dos termos, perde instantaneamente qualquer réstea de credibilidade.
Será que há mais como ele? É que a gente vê-os na televisão e só os mostram do busto para cima, os bracinhos ficam para baixo e coisas importantes e redutoras como esta, não se vêem, quando, afinal, são do mais elucidativo que há, uma pulseirinha pirosa pendurada no pulso diz mais que mil discursos na Assembleia, do que mil statements na televisão.
Não haverá maneira de os sujeitar a um triagem como a que há nas urgências dos hospitais? E pôr-lhes autocolantes na lapela para a gente ver na televisão?
- Autocolante verde para quem se sabe ao menos apresentar,
- amarelo para quem está prestes a resvalar para a piroseira
- e encarnado para pessoas assim, com pulseirinha de ouro tombada sobre a mão, ou anel no dedo, ou patilhas artísticas, ou gravata brilhante cor de rosa, ou com um travessão de ouro bicolor na gravata, enfim, com pérolas desse género.
Acho que seria um serviço ao País. Já saberíamos em quem nunca votar.
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