sexta-feira, novembro 15, 2013

Quem, se eu gritar, me ouvirá entre as legiões de anjos?


Manhã difícil hoje. Há sons que custam ouvir e eu tento afastar-me porque não sou nada forte. O momento em que fecham o caixão é terrível, é o fecho de um ciclo, é o momento em que se encerra o que sobrou do que foi uma vida inteira. É um som seco, madeira contra madeira. Não vejo. Nunca vi. Tento não ouvir. Mas hoje não consegui afastar-me o suficiente pelo que não consegui deixar de ouvir. E fiquei ali, no meio das pessoas, e fui vendo como, tal como a mim, as lágrimas corriam nos rostos à medida que aquele som se ouvia. 

É tudo muito triste. Não quero falar mais nisto.

Depois, de tarde, fui trabalhar e agora aqui estou a tentar abstrair-me e a ver se escrevo coisas animadas. 

Mas, antes, quero agradecer as vossas palavras, quer aqui nos comentários, quer através de mail. As demonstrações de afecto sabem-me sempre muito bem. Gosto de as receber tanto quanto de as oferecer.

Não agradeço individualmente a cada um de vós mas, a todos, meus queridos Leitores, vizinhos da minha rua, aqui deixo o meu muito sincero agradecimento.

Escolhi imagens, palavras, uma música, um momento de dança, tudo para tentar retribuir a generosidade dos vossos abraços e, ao mesmo tempo, retribuir também, um pouco, muito pouco, de todo o imenso carinho que sempre recebi da minha tia.


Tanta terra,
tantas palavras sob tantas palavras.
Regressa como um corpo o coração
à apenas existência,

lembrança de
alguma coisa lida:
o rosto da mãe, a trepadeira do jardim.
Mãe, afastei-me de mais, perdi-me



no meio de palavras minhas e palavras alheias,
quem, se eu gritar, me ouvirá entre as legiões de anjos?
E nem isto me pertence,

a tua ausência e o meu medo;
nem estou na minha ausência,
fui como um vaso e quebrei-me ou qualquer coisa assim.


































..
























The secret of life is enjoying the passage of time

Isn't it a lovely ride
Sliding down
Gliding down
Try not to try too hard
It's just a lovely ride

Now the thing about time is that time
Isn't really real
It's just your point of view
How does it feel for you

**

  • O poema é Tanta Terra de Manuel António Pina in 'Nenhuma palavra e nenhuma lembrança'.
  • O bailado é Romeu e Julieta numa interpretação de Sylvie Guillem numa coreografia de Sir Kenneth MacMillan, sobre música de Sergei Prokofiev
  • A música é 'The Secret of Life' interpretada por JamesTaylor


**

Afinal hoje não escrevo mais. 
Fico-me, pois, por aqui não sem antes vos desejar, meus Caros Leitores, uma boa sexta feira 
(tanto mais que as sextas feiras têm tudo para ser um bom dia)

4 comentários:

Olinda Melo disse...


Minha querida

De madrugada li algumas das suas palavras. Lá do meu painel vislumbrei o seu sofrimento e a sua saudade. E compreendo-a e nem sabe quanto. Ainda não há um mês passei por momentos de angústia,idênticos aos que aqui descreve. O meu tio, aquele de que falei num dos meus comentários ao seu conto 'Lídia', deixou-nos.

Deixo-lhe aqui os meus sentimentos.

Beijinhos

Olinda

margarida disse...

Na verdade, às vezes o que apetece é apenas um chorrilho de palavrões, porque os deuses são caprichosos e chegam a ser malvados connosco. Às vezes zango-me. E, nestas alturas, se choro, é de raiva. Pronto.
Não deixo que me magoem mais.
Não deixe, também.
Faça-lhes uma careta e mande-os bugiar. Aos deuses traquinas e impiedosos. Esses malandros que nos criaram para brincarem connosco. E nós não somos bonequinhos de trapos.
Embora às vezes pareçamos.

Anónimo disse...

Há uma frase do Estaline que muita gente não gosta por ser dele, mas que retrata bem o ser humano.Quando afirma que 1 morte singular é uma tragédia e milhões é estatística.E por azar aconteceu uma coisa terrível nas Filipinas para confirmar a 2.ª parte da frase.

Mar Arável disse...

Há pássaros que nunca deixam de voar