terça-feira, novembro 12, 2013

Conselhos às mal-casadas (as mal-casadas são todas as mulheres casadas, e algumas solteiras) - como trair o seu marido em imaginação


Não encontro dificuldade em definir-me: sou um temperamento feminino com uma inteligência masculina.

As minhas faculdades de relação - a inteligência, e a vontade, que é a inteligência do impulso - são de homem.

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O melhor género de
poema de amor
versa,
geralmente,
sobre uma mulher
 abstracta

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[Todas as casadas do mundo são mal casadas]


Livrai-vos sobretudo de cultivar os sentimentos humanitários. O humanitarismo é uma grosseria. Escrevo a frio, raciocinadamente, pensando no vosso bem estar, pobres mal-casadas.

Ser imoral não vale a pena, porque diminui aos olhos dos outros a vossa personalidade, ou a banaliza.

Segundo a vossa superioridade, almas femininas que me ledes, sabereis compreender o que escrevo. Todo o prazer é do cérebro; todos os crimes, já se disse, 'é nos nossos sonhos que se cometem'.

Proponho-me ensinar-lhes como trair o seu marido em imaginação.


A substituição não é tão difícil como julgam. Chamo substituição à prática que consiste em imaginar-se a gozar com um homem A quando se está copulando com um homem B.

Minhas queridas discípulas, desejo-lhes, com um fiel cumprimento dos meus conselhos, inúmeras e desdobradas volúpias não com o, mas através do, animal macho a que a Igreja ou o Estado as tiver atado pelo ventre e pelo apelido.

¨¨
É fincando os pés no solo que a ave desprende o voo. Que esta imagem, minhas filhas, vos seja a perpétua lembrança do único mandamento espiritual. 

Ser uma cocotte, cheia de todos os modos de vícios, sem trair o marido, nem sequer com o olhar - a volúpia disto, se souberdes consegui-lo.

Ser cocotte para dentro, trair o marido para dentro, está-lo traindo nos abraços que lhe dais, não ser para ele o sentido do beijo que lhe dais - oh mulheres superiores, ó minhas misteriosas Cerebrais - a volúpia é isso.

Por que não aconselho eu isto aos homens também?

Porque o homem é outra espécie de ente. Se é inferior, recomendo-lhe que use de quantas mulher puder.

E o homem superior não tem necessidade de mulher nenhuma. Não precisa de posse sexual para a sua volúpia.

Ora a mulher, mesmo superior, não aceita isto: a mulher é essencialmente sexual.


A mulher
- uma boa fonte de sonhos.
Nunca lhe toques.



Dá-me sonhos teus
para eu brincar.



Ninguém se amaria
a si mesmo
 se deveras se
conhecesse



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Tudo o que leram faz parte do livro 'Amo como o amor ama', escritos de Fernando Pessoa, Antologia inédita dos melhores textos de amor do grande poeta português, textos introdutórios de Vasco Graça Moura e Inês Pedrosa, organização de Mariana Gray de Castro, Divina Comédia editores.


As fotografias são de Mario Testino.

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Se continuarem a deslizar por aí abaixo poderão ver um vídeo sobre um filho que teve a sorte de ter uns pais (em particular um pai) que não o deixaram ser um vegetal. Impressionante, verão.

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E ainda gostaria de vos convidar a darem uma saltada até ao Ginjal e Lisboa onde um belo poema de Inês Lourenço me faz relembrar que nunca sabemos se poderemos voltar aos lugares de onde partimos. Continuo por lá com Waldemar Bastos.

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Espero que isto não me saia cheio de gralhas insuportáveis. Ou este editor do blogger não está bem ou a internet está a pedal ou o meu computador está a pifar. Isto não anda, é um desespero. Não vou reler. Quero é desligar isto o mais rapidamente possível antes que me dê uma fúria.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.

5 comentários:

Anónimo disse...

com esta situação económica, é melhor mesmo usarem a imaginação, ou podem mesmo saltar a cerca. Mais um vídeo para se perceber o que se passa - https://www.youtube.com/watch?v=heqkb_bTkEA

Anónimo disse...

esta música vai bem com o post - https://www.youtube.com/watch?v=kpfXXTvf3UM

Anónimo disse...

Às vezes, “Deus está atento e castiga os pecadores”. Quando D. José I regressava ao palácio – depois de ter passado a noite com a amante, que era casada com o marquês Luís Bernardo de Távora – a carruagem real foi alvejada a tiro. Os ferimentos reais foram suficientemente graves para obrigarem a Rainha a assumir a regência durante o período da recuperação do real adúltero. Ora, tivesse a real criatura respeitado um relevante mandamento de Deus (“não cobiçarás a mulher do próximo” e eu até acrescentaria uma alínea, “nem com ela te deverás deitar”) e nada daquilo teria sucedido, pelo menos naquela real manhã. O resto, a sorte dos Távoras e a subida de Pombal são conhecidos e não interessa nada à questão da traição. Como me dizia um amigo de farras: “trair não é dificil, saber trair já requer arte!”. Pois! E mesmo ou a dormir, ou na cama, é preciso muito cuidado. Já me contaram situações em que se escapou da boca um nome que não era o “caseiro”, melhor dizendo, nem familiar dela, ou, noutro caso, dele. É numa circunstância dessas que o conhecimento do tal “manual de bem saber trair todo o cônjuge” é requerido, para salvar um matrimónio. Entretanto, já imaginaram se efectivamente existisse um Criador e na hora do juízo perguntasse a cada um, ou uma, se alguma vez trairam os respectivos conjuges, ou parceiros/as, etc. Diz quem “sabe”: o homem, que é um monte de virtudes, passaria no exame, já a mulher, com o pecado no corpo, iria parar ao Inferno!” Talvez por isso eu queira ir para lá, depois de bater a bota. Ao menos, uma vez na vida, seria um “sultão”, a viver num harém e ainda por cima de mulheres pecadoras!
P.Rufino

jrd disse...

Sutilezas femininas. Os homens são mais directos e põem nomes de mulher aos furacões...
:-))

dbo disse...

Cara UJM,

é sempre bom lê-la, entre múltiplas cambiantes temáticas, com ou sem Pessoa, com ou sem humor, mesmo que zangada com a “alentejanidade” do seu computador que a precipita para a quase fúria.

“In illo tempore” o casamento funcionava como subjugação a dois: o “eu e tu”, “ele e ela” e ainda “ambos”. Os “super-machos”, reis da noite, do álcool e das “traições” não se imaginavam com outra quando copulavam a sua fêmea. Simplesmente se sentiam senhores da “sua escrava” e, na vida mundana procuravam aquela que tudo lhes fazia sem o pudor que proclamavam e exigiam à “sua escrava”. Todavia, a sua sobranceria não lhes poupava, muitas vezes, um belo par de adornos.

Sempre existiram e existirão devaneios e cristalizações da volúpia… sonha quem quer e com quem quer, mas não passa disso mesmo, um mundo onírico e fantasioso.

Não fique furiosa com o bicho máquina, goze a vida e tenha muita saúde.