sexta-feira, junho 30, 2023

O Presidente Marcelo não vê a Grande Entrevista?

 

Conforme referi no post anterior sobre a felicidade, segue-se um texto da autoria do meu marido.


Vejo com alguma frequência a "Grande Entrevista" com Vítor Gonçalves na RTP3. O entrevistador prepara as entrevistas com cuidado, a maioria das vezes deixa os entrevistados falarem sem os interromper e os entrevistados são geralmente personalidades interessantes.

Vi as entrevistas do Ministro da Economia, do novo CEO da Delta, da Joana Vasconcelos e, ontem, do Governador do Banco de Portugal. 

Certamente que o sr. Presidente Marcelo teria aprendido algumas coisas com estes quatro entrevistados se as tivesse visto. 

Sobre economia teria aprendido que, afinal, há sectores industriais em Portugal em forte progressão, que afinal os salários médios têm aumentado, que existem politicas económicas suportadas no PRR e com objetivos definidos. 

Com o CEO da Delta aprenderia que o bom senso, o ouvir os outros. o criar grupos coesos com objetivos comuns deve fazer parte da ética do dia a dia de quem dirige e deve ser exemplo para a sua "equipa". 

Com a Joana Vasconcelos podia aprender que para se ser reconhecido e respeitado em muitos Países de vários Continentes não resulta de estar sempre nos media a dizer não importa o quê. 

Finalmente, com o Governador do Banco de Portugal poderia ter aprendido que afinal os salários disponíveis para os 20% mais pobres da população entre 2019 e 2022 cresceram 21% e que nos mesmo período a percentagem de crescimento do salário dos 20% mais ricos foi significativamente menor (6%). Também devia saber que, julgo, no mesmo período o número de empregos criados com salários bastante superiores ao salário médio foi praticamente o triplo (122 mil) dos salários criados no turismo cujo valor é bastante inferior ao salário médio, e que, felizmente, o incumprimento relativamente aos bancos não disparou, situando-se o crédito mal parado próximo da média europeia.

Teria feito bem ao Sr. Presidente assistir a estes programas e atentar na forma de estar destes quatro entrevistados, naturalmente, cada um com as suas ideias mas todos eles sensatos e merecedores do nosso respeito. O Sr. Presidente também poderia retirar das entrevistas assuntos importantes que vale a pena divulgar para que tenhamos orgulho naquilo que fazemos bem e seria um contributo para que os media revelassem este sucessos em vez de nos massacrarem com os dizeres sem relevância de muitos dos nossos políticos (incluindo o Sr. Presidente).

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Duas pequenas notas


1. Nos media somos matraqueados com a crise. Sugiro que investiguem se existe um grupo de pessoas que migra de festival para festival, de concerto para concerto, de arraial para arraial, de jogo de futebol para jogo de futebol, de restaurante para restaurante. Como está tudo sempre cheio/esgotado ou são sempre os mesmos que passam por lá ou então a crise não será tão abrangente como nos querem fazer crer.

Isto já para não falar no que as agências de turismo dizem que nunca se viajou tanto, para tão longe, para destinos tão caros.  

2. Ouvi hoje o noticiário das 20:00 da TSF. Falaram do incidente no aeroporto do Porto em que foi dada autorização para aterrar a um avião numa pista em que um outro avião se preparava para levantar. Podia ter sido uma tragédia. Pasme-se: o relevo que a Senhora que estava a ler as notícias deu não foi ao potencial acidente. Salientou, isso sim, que as conversas com os controladores são gravadas e, assim, se poderia esclarecer as causas do incidente. Até neste tipo de notícias a comunicação social toma  a nuvem por Juno. É triste e trágico!

Como ser mais feliz em 5 passos sem truques esquisitos

 

Hoje estava a dar-me para falar de felicidade. Acontece que o meu marido me disse que vai escrever uma coisa e, por isso, arrepio caminho e limito-me a pouco mais fazer do que partilhar convosco um vídeo interessante. Não sou estudiosa sobre a matéria mas, numa perspectiva meramente pessoal, concordo com o que Laurie Santos aqui diz.

Tenho para mim, isto é, na minha ignorância, que isto de se ser feliz tem também muito a ver com a carga genética. Deve haver quem tenha propensão para ser feliz, independentemente das circunstâncias, tal como quem a tenha para a infelicidade, também independentemente das circunstâncias.

Mas, independentemente disso, há também algumas regras que devem ser atendidas em especial para quem isso não seja intuitivo ou óbvio.

São coisas simples e muito eficazes.

Observa-se muito em grandes organizações que, perante as mesmas circunstâncias profissionais, há quem tenha reacções diametralmente opostas.

Vou dar um exemplo. Consoante os resultados e o atingimento dos objectivos anteriormente fixados, era costume haver atribuição de bónus. Para mim, receber um bónus sempre foi uma coisa boa. Fosse quanto fosse. 

Contudo, para muitos dos meus colegas, era um momento de stress. Ou achavam que era menos do que estavam à espera ou proporcionalmente não era tão bom quanto os de outros colegas ou sei lá.

Pois eu nunca tinha quaisquer expectativas. Por isso, tudo o que viesse à rede era peixe.

Depois não fazia ideia nem queria saber o que é que os outros tinham recebido. E, note-se, pelas minhas funções, tinha acesso a saber tudo o que cada um recebia. E, no entanto, nunca -- e nunca é mesmo nunca -- fui ver. E não fui ver porque não tinha qualquer curiosidade. Além disso, sabia que, se visse, iria ficar incomodada pois iria ver coisas que não perceberia ou não concordaria. Ora sempre quis estar feliz. Nunca procurei situações que tivessem algum potencial de me aborrecerem sem que eu tivesse qualquer contrapartida positiva para isso.

As comparações são geralmente uma fonte de chatice, especialmente para quem se acha sempre em défice de qualquer coisa. Para pessoas que acham sempre que deviam ter mais do que têm (seja dinheiro, atenção, amor, roupas, beleza, etc), a comparação com os outros só serve para acumular frustrações.

Depois há aquilo da pessoa se comprazer na maledicência e na vitimização, achar que tudo lhe acontece, que aos outros as flores crescem depressa, aos outros saem-lhes os maridos apaixonados, aos outros aparecem sempre oportunidades para grandes viagens ou para ir a belos restaurantes, que a quem menos merece é que tudo de bom acontece. Ser assim é corrosivo para o próprio. 

Se nos abstrairmos desse maneira de ver as coisas e nos sentirmos agradecidos por podermos andar ao sol sem haver risco de sermos atingidos por um míssil ou se podemos comer normalmente sem termos que ser alimentados por sonda nasogástrica ou se temos casa e dinheiro para viver condignamente, vamos andar sempre leves e felizes.

Ou se em vez de passarmos os dias inteiros a ver, nas redes sociais, o que fazem os nossos amigos ou familiares, nos juntarmos com eles e conversarmos despretensiosamente, despreocupadamente, também vai ser bem melhor.

O vídeo não tem legendas em português mas como a dicção de Laurie é perfeita e como acredito que muitos de vós não tenham dificuldade, partilho na mesma.

How to be happier in 5 steps with zero weird tricks | Laurie Santos

Às vezes, é muito difícil ser feliz. E há uma razão para isso: o cérebro humano não é programado para a felicidade. Por quê? Porque a felicidade não é essencial para a sobrevivência. Para piorar a situação, a nossa mente pode enganar-nos quando se trata de felicidade, levando-nos a perseguir coisas que não nos farão felizes a longo prazo.

Para resolver isso, a professora de psicologia de Yale, Laurie Santos, recomenda um conjunto de práticas, apelidadas de “religações”. Essas práticas incluem priorizarmos a conexão social, sermos orientado para o outro, focarmo-nos na gratidão e nas bênçãos e incorporarmos exercícios na nossa rotina diária.

Ao entendermos as armadilhas comuns de nosso pensamento e adotarmos novos comportamentos, podemos alcançar a verdadeira felicidade e fazê-la durar. Para Laurie Santos, a felicidade não é apenas um estado; é uma prática contínua.


E já volto com o texto do meu marido

Até já

quinta-feira, junho 29, 2023

Crimes de guerra (sem paz), juventude eterna a toque de vodka, agroflorestação em pequena escala e permacultura

 

Antes de ir comer um belo gelado, vinha no carro a espreitar as novidades e a comentá-las. 

Não vou aqui falar das cavalhadas da dupla de vígaros sanguinários Putin & Prigozhin a que agora se junta o mistério da possível evaporação de Surovikin, outro que tal. É daquelas cegadas cheias de improbabilidades tresloucadas, malta que suja as mãos de sangue e, a seguir, as lambe de gosto, malta que se esfaqueia mutuamente, arrancando os fígados ao que cair primeiro para, a seguir, os comer ou dar a comer ao cão.

Até que sejam todos postos com dono, tenho dificuldade em falar sobre o que quer que seja pois é tudo pior do que se possa pensar. 

Os nossos PZPs continuarão a defendê-los e a achar que a culpa de eles serem os assassinos que são somos nós e que bom, bom mesmo, era baixarmos todos os braços para que eles venham por aí, tripudiando, destruindo, roubando, assassinando, violando a seu bel-prazer.

Uma tristeza pegada. Estão bem uns para os outros.

Portanto, não falando disso, porque não encontro palavras para o fazer nem consigo compreender como o mal tão absoluto pode habitar o corpo de algumas pessoas, desloco-me para outros territórios.

A vida é assim, cheia de carreirinhos. Nuns caminham os grandes males do mundo e noutros vão, a passinho bailarino, as minudências e as rêveries.

Portanto, dizia eu, vinha no carro e, fugindo dos facínoras,  fui andando até chegar a Vera Wang, firme e jovem nos seus 74 anos. Certamente já se esticou várias vezes e já levou botulina por todo o lado. Mas, ainda assim, está bem, bastante bem, não desfigurada, normal. Diz que o segredo é não apanhar sol (presumo que compense com suplemento de vitamina D), é dormir 9 horas por dia (se calhar toma um comprimido para o garantir) e bebe 1 copo de vodka todos os dias. 

Como não me importava nada de parecer tão jovem quanto ela mas não me quero fazer esticar nem injectar nem quero tomar comprimidos para dormir ou para substituir o sol, resta-me o vodka. A ver se amanhã começo a caprichar nos cocktails pré-janta. Quiçá um dia rum, outra dia vodka. Mas com qualquer coisa para aliviar a força do álcool, acho eu. Senão não conseguirei chegar acordada, aqui, a esta hora, para escrever estas irrelevantes little coisinhas.

Tirando isso, ando a ver com muita atenção vídeos sobre micro-quintas e permacultura. Gosto. Qualquer coisa me diz que.

Tenho pena que estes vídeos não estejam legendados em português mas, para quem tenha maiores dificuldades, talvez as imagens falem por si.

The Incredible Benefits of Agroforestry on Small Farms | Introduction to Agroforestry

In this video, we visit James from@TapoNothFarm in Aberdeenshire, Scotland. Tap o' Noth is an incredible 8-acre agroforestry permaculture small farm that integrates crops and animals alongside perennial planting. By using inspiration from how this land would be if left fully to Nature, James and his partner Rosa are using that to their advantage to create a place that not only produces food and fuel, but also makes Nature a core part of their whole operation. 

From watching this video you will learn exactly what Agroforestry is, how it benefits farmers, plenty of examples of types of Agroforestry in action and what is needed to help make this amazing method more common in our food system. Agroforestry is a core element of Regenerative Agriculture. 



Traditional Farm Design vs. Permaculture Design: What's the Difference?

In this video, we explore the differences between traditional farm design and permaculture design on a sample land area. You will see that a permaculture design can be a little complex, but this video explains the most important permaculture design elements and the rationale for their implementation. Let me know if you've got any questions. 

Whether you're a farmer, gardener, or just interested in sustainable agriculture, this video will provide you with a basic understanding of traditional farm design and permaculture design and why they matter. 


Um dia bom
Saúde. Bons ares. Paz.

quarta-feira, junho 28, 2023

Coisas da minha vidinha (incluindo da sub-vidinha de candidata a escritora)
E um aviso a mijadores em locais públicos e a tremenda lição de vida de um patinho fofo

 

Hoje vão fazer o favor de me perdoar mas não vou alongar-me. Tenho calor (apesar de estar com o ar condicionado ligado), tenho sono e, para ajudar à festa, esta quarta-feira vou ter que me levantar muito cedo pois temos aqui uma coisa que tem que ser arranjada e o homem que cá vem resolver o problema, como já tinha o dia todo ocupado, disse que, para vir, teria que vir quase de madrugada.

Eu, que tinha pensado que iria pôr o sono o dia, chapéu. Portanto, estou aqui a pensar que o melhor que tenho a fazer é ir para a cama.

E depois, para dizer a verdade, não tenho muito a contar. 

Continuo a fazer hidroginástica e já consigo atinar com as esquerdas e as direitas, braço para aqui, perna para acolá, e troca, e salta e salta, e, no fim, aproveito sempre para nadar um bocado. Gosto bastante.

E andei outra vez a apanhar orégãos (apesar do calor horrível) pois gosto imenso, consumimos bastante, e gosto de ter para dar. 

E andei a regar, embora com muita contenção. Faz-me muita impressão esta secura e penso que temos que tentar impedir que tudo morra à míngua de água.

E estou a escrever um conto e isto comigo funciona de uma forma que, se calhar, é disfuncional. Não sei se quem escreve habitualmente planifica ou premedita. Eu não. Meto-me nas coisas um bocado à maluca e isso, claro, traz-me dificuldades.

Por exemplo, há não muito escrevi uma história sobre uma mulher que tinha uma certa profissão. A história desenvolve-se em torno da vida e do trabalho dessa mulher. Quando contei à minha filha, ela mostrou algum espanto e ironizou: "Tudo coisas sobre as quais sabes tudo...". Deu-me imensa vontade de rir pois era questão que não me tinha ocorrido. E, na verdade, é um mundo que desconheço na íntegra. E, no entanto, meti-me, sem pensar, a escrever sobre isso. E adorei. Foi como se o mundo se me tivesse revelado. Se calhar, se alguma vez alguém que, na realidade, vive naqueles lugares e tem aquela profissão, ler o que escrevi, vai achar que sou é maluca, que não é nada daquilo. Mas o que hei-de eu fazer...?

E agora, para este conto, foi a mesma coisa. Comecei a escrever e, quando dei por mim, a personagem tinha dado uma reviravolta na sua vida para ir fazer uma coisa que eu, igualmente, desconheço na íntegra.

Por isso, agora estou a escrever sobre um mundo que me está nos antípodas. E isso traz-me dificuldades que me obrigam a fazer pesquisas pois posso ser maluca de todo mas não sou parva. Pelo menos, acho que não sou.

Mas porque é que faço isto? 

Não sei. São as minhas mãos que me levam, que me levam para mundos novos. E eu, que sou levada, ando de gosto a conhecer vidas das quais estou a milhas. De vez em quando tenho que parar pois não sei o que vai acontecer a seguir. Não consigo escrever histórias sem histórias. A escrita circular, escrever só por escrever, não é comigo. Mas as histórias são percursos dos personagens e, por vezes, não sei que percurso é que elas vão seguir.

Não sei como é que isto é lido pois receio que pensem que estou a dar uma de escritora. Não estou. Estou, em total humildade, a começar a experimentar novos caminhos. Não sei onde é que eles me vão levar mas sei que tenho que me aventurar.

Isto ocupa-me o tempo livre que tenho e ocupa-me também a cabeça.

Mas, portanto, não me levem a mal mas hoje também não vou comentar os vosso comentários. Aqui deixo o meu agradecimento. 

E, para que não sintam que, tudo espremido, nada, deixem que, para acrescentar alguma little coisinha, partilhe um sinal contra urinar em cima das plantas que me parece bastante criativo. Eu, pelo menos, acho o máximo. 

E, se quiserem ver arbustos artisticamente aparados, podem vê-los no mesmo sítio.


E depois há o patinho fofo e esperto que, em situação de risco, resolve fazer-se de morto.

Ensinamento muito útil.

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Um dia bom

Saúde. Alegria. Paz.

terça-feira, junho 27, 2023

Coisas bizarras e inexplicáveis numa história que escrevi.

[Para aligeirar o tema: a oposição ao PS luta arduamente para ver se consegue atingir os seus objectivos. O pior é que, coitados...]

 

Quando cheguei a casa de uma caminhada de cerca de uma hora que me custou mais que eu sei lá, vinha exausta. Enquanto andava, não sei se era do calor, se era da nuvem de poeiras carregadas de cinzas e de monóxido de carbono, estava cada vez mais cansada.

Na noite anterior, querendo levantar-me muito cedo e andando já em carência de sono, forcei-me a ir para a cama um pouco mais cedo. É sempre a pior asneira que posso fazer. O meu biorritmo é o de uma noctívaga, e noctívaga que é noctívaga só vai para a cama quando a noite começa a aproximar-se da madrugada. Ou seja, fui para a cama sem sono. E, quando isso acontece, é ver as horas a passar... Só adormeci, e mal, quando estava na hora de me levantar.

Por isso, tudo junto, ao chegar da caminhada, arrastei-me até ao sofá e caí redondamente num sono profundo. O que me valeu é que o jantar estava feito.

Quando o meu marido me chamou para jantar, arrastei-me. E, mal acabei, voltei para aqui e foi, de novo, tiro e queda.

Se isto é do calor, de é das poeiras, se é de algum cansaço justificável ou se é ainda do pós-covid não sei.

O que sei é que é isto.

Entretanto, descobri que uma colega de liceu foi, afinal, minha vizinha quando éramos bem pequenas e, ao comentar isso com a minha mãe, descobri que duas tias dela se casaram com primos, um do meu pai e um da minha mãe. E só o descubro agora, dois séculos depois de andarmos juntas no liceu.

E ainda não contei uma coisa e agora vou apenas aflorar pois é coisa que me deixa um bocado sem saber que chão piso. É isto. Numa história que escrevi e na qual contei três eventos estranhos e reais passados comigo e com o meu marido, no início de andarmos juntos, introduzi um personagem também bem real que, uma vez, a propósito desses três eventos estranhos, produziu um comentário também assaz estranho em que parecia mostrar que estava ao corrente. 

Na história relato isso e a seguir prossigo numa trama ficcionada em que esse meu amigo se transforma em personagem. E, às tantas, na história, a personagem feminina da história sabe que ele morreu. Fica chocadíssima pois custa-lhe acreditar que o seu amigo de longa data morreu.

Pois bem, depois de o ter escrito, poucos dias depois, inusitadamente, sei que o meu amigo, de facto, morreu. Podem imaginar o meu choque. Duplamente choque: por um lado por saber que ele morreu e, por eu, insolitamente o ter dado como morto na minha história. Quando contei ao meu marido que o nosso amigo tinha morrido, ficou também surpreendido e chocado. Mas não fui capaz de lhe contar que ele estava na minha história e que na minha história ele tinha morrido.

Como sempre, no fim, pedi ao meu marido para ler a história. 

Nesse dia, quando me levantei, encontrei-o calado, incomodado.

Ao ler, reconheceu os eventos reais, reconheceu o nosso amigo e ficou muito admirado por ele estar morto na história. Estava admirado. Quis saber se eu, quando escrevi, já sabia que ele tinha morrido (pois achava que não, pois eu só tinha sabido isso para aí uns dois ou três dias antes e, nessa altura, a história já estava praticamente toda escrita). Confirmei que não. Ficou ainda mais incomodado.

Por vezes, ele fica impressionado por achar que eu adivinho ou antecipo as coisas. 

Eu própria, ao rever a história para corrigir gralhas ou para ajustar algumas coisas, fi-lo com desconforto, quase com receio de que mais coisas que ficcionei se materializem.

E é isto. 

Bizarro, não é? 

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Mas, mudando de assunto: depois da quase obsessiva perseguição do Marcelo ao Governo, no que mais parecia um pré coup, e depois de a fraquíssima oposição e a mais do que medíocre comunicação social cavalgarem a ondulação causada pelas sucessivas bocas presidenciais, eis que agora o tema é se o Costa vai ou fica. 

Não há cão nem gato que agora não ande nessa. Gente mais parva e mais fútil não há. Como se fizesse algum sentido lançar a confusão com um tema destes numa altura destas. 

E eu, vendo a Mortágua de má catadura, o da IL de que não me lembro o nome nem sei qual a dele, o Montenegro eternamente aos papéis apesar de não perder o sorrisinho deslocado, e o Ventura que vende a banha da cobra que quer que a malta da comunicação social papa-a toda, só penso que são como os meus amigos Monty na cena da escalada. Parece ele que se esfalfam, que dão o duro para lá chegar. Só que não atinam. Só fazem porcaria. Vêem os filmes todos ao contrário. São irrelevantes, inúteis, malucos. E a comunicação social atrás, a fazer a reportagem, a entrevistá-los como se alguma coisa daquela fizesse sentido. 

É que das duas uma: se é para a gente se rir, então que se apresente como uma rábula cómica. Se não é, então é a miséria intelectual mais absoluta e é como tal que a devemos encarar.

Monty Python - A escalarem as ruas como se não houvesse amanhã


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Um dia bom
Saúde. Bom humor. Paz.


segunda-feira, junho 26, 2023

Putin a nu

 

Depois do bandido Prigozhin ter desmascarado a narrativa falsa engendrada por Putin para atacar a Ucrânia e de ter exposto perante o mundo as manigâncias corruptas da trupe do Kremlin nos territórios ocupados, a roubalheira que lá têm praticado e a estupidez das balelas com que tentaram enganar os mal informados russos e os poucos descerebrados que vão em qualquer cantiga (Nicolás Maduro, Kim Jong Un e PCP incluídos), tudo se complicou ainda mais para o Putinito.

Prigozhin, armado em não se sabe o quê, dizem que quiçá com apoio de alguém das forças armadas russas, avançou sobre o Kremlin e foi sem espinhas. Um ressabiado e descompensado Putinito apareceu na televisão a ameaçar os traiçoeiros e que fazia e que acontecia.

Pois, pois.

E quando já se falava em guerra civil e o escambau, de repente, nada. Nada. O balãozito esvaziou.

O maluco do Prigozhin não sei o quê, Nicolás Maduro e Kim Jong Un declararam a vitória do Putinito e este, por sua vez, não sei o quê.

Perante isto, repito aquilo que toda a gente diz: o caraças é a cena nuclear.

É que, senão, até a maltinha da animação do Eurodisney ia por ali fora e tomava o Kremlin.

Não sei se aquilo não passou de um arremedo de guerra de gangs ou se foi mesmo uma cena dos Monty. Coisa séria é que não foi.

Não sei qual a tese dos pzps nem dos amigos da estátua mas já devem andar a engendrar alguma. Será, certamente, mais uma anedota a juntar às muitas que têm vindo a produzir desde que a dupla de facínoras Putin & Prigozhin (e respectivas tropas) começou a destruição da Ucrânia.

Tenho pena é de não me ajeitar a fazer memes que é mesmo o que esta cegada está a pedir.

E como não sei que mais diga sobre o tema, passo a palavra à BBC.

'Cracks' in Putin's authority in Russia exposed by Wagner rebellion - BBC News

An attempted armed mutiny in Russia shows "real cracks" in President Vladimir Putin's authority, America's top diplomat Antony Blinken has said.

He told US media Saturday's rebellion by Yevgeny Prigozhin's Wagner fighters was a "direct challenge" to Mr Putin, forcing him into an amnesty agreement.

The deal halted Wagner's march on Moscow. The mercenaries had earlier seized two major Russian cities.

Mr Putin accused the group of treason, but all charges were later dropped.



domingo, junho 25, 2023

Um dia quente e preenchido. Uma vida simples

 

Mais um dia muito preenchido. Nestas alturas do ano, é sempre assim. Juntamo-nos e, sempre que há muita gente miúda e outros não miúdos mas jovens, é uma festa. Quem é mais velho forçosamente rejuvenesce tamanha a injecção de alegria e de animado convívio.

O que posso dizer é que este sábado, in heaven, de manhã apanhei mais orégãos, reguei, arrumei umas cenas e fiz iscas para o almoço.

Não vi esquilos mas as pinhas roídas não param de aumentar. Com este calor, não sei como fazem para beber água. Por isso, pus a banheira que era dos meninos debaixo das azinheiras do jardim zen e enchi-a até acima. Poderão beber água ou brincar às piscinas caso queiram refrescar-se.

Saímos pouco depois de almoço. 

E daí até há pouco, quando chegámos a casa, já tarde, houve visitas à família e foi uma alegria e uma festa, incluindo um ruidoso pólo aquático que foi mais  wrestling aquático do que outra coisa; e ainda passámos por um arraial.

O pobre do animal, com tanto movimento e tanto calor, ao vir para casa já vinha a arrastar-se. 

Agora, finalmente a descansar, o urso cabeludo dorme todo esticado no chão de pedra e encostado a uma parede, certamente para sentir o fresco.

O meu marido, no regresso, vinha a dizer que estava capaz de ir directamente para a cama. Contudo, ainda aqui está pois estamos a ver as notícias sobre a cegada que se passou (ou passa?) na Rússia. É uma macacada tão absurda que mais parece tudo uma rábula dos Monty Python. Como é que uma cambada tão desqualificada (Putin & Prigozhin) pode ter alguma credibilidade? Impossível. Só mesmo gente descerebrada pode arranjar desculpas, para, no fundo, se pôr ao lado desta corja ridícula.

Com sorte, dentro de algum tempo ainda acabam uns com os outros e resolvem uma série de chatices. De qualquer forma, nada daquilo parece fazer qualquer sentido pelo que não acredito em nada do que ouço. Parece-me apenas um primeiro episódio de uma tragicomédia cujo desfecho ainda está por vir.

Mas hoje não me apetece conspurcar este meu espaço com anormalidades e psicopatias.

Vou antes ver o último vídeo da Green Renaissance. É sempre malta muito cool, muito zen, tudo tranquilo, muito despojamento, muita natureza, malta que sorri enquanto fala. 

To live simply

Simplicity is purity. It is facing the true nature of things and embracing it, instead of filling a hole inside you with chaotic activity or an overabundance of stuff. 

Simple, straightforward, meaningful - these words describe freedom, not limitation - intensity, not distraction - a life fully lived, not a life of lack.  A simple life is a deep life.

Filmed in Singapore.

Featuring Christopher Leow.


Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

sábado, junho 24, 2023

Num dia de calor de ananases, qual a melhor forma de o acabar...? Qual é? Qual é?

 

Não é só o que é, e o dia foi complicado, é também o calor. Já estive para adormecer mil vezes mas lá me vou aguentando.

Aqui ao lado, num dos grupos de whatsapp, sucedem-se as mensagens. De manhã à noite. Tive que tirar as notificações pois não suportava o plim plim constante. De cada vez que espreito já há mais umas quarenta por ler. e muitas não leio.

Por um lado uma efervescência omnipresente e vários dos intervenientes a combinarem coisas a toda a hora para todos os dias, e, por outro, as minhas horas que não dão para encaixar mais e a minha cabeça que já não consegue acomodar mais. Não que não gostasse. Gostava. Mas tinham os dias que ter cinquenta horas pois, para além do que tenho que fazer, tenho carências. 

Por um lado a questão do sono. Continuo com mais sono do que me parece normal. A última vez que fui ao médico contei que tinha tido covid e que daí para cá tinha ficado apanhada pelo sono e ela disse-me que, quando isso era um dos sintomas relevantes da doença, acontecia que subsistisse por mais um três meses. No meu caso já vai em quatro meses.

Por outro lado, a minha necessidade de ter algum tempo para mim, tempo para escrever (nomeadamente estas irrelevâncias), tempo para descansar alguma coisa. 

Chegámos aqui por volta das seis e meia ou sete, não sei, depois de ter ido ao supermercado e depois de uma conversa sui generis com a minha mãe que, embora esteja mais que óptima nos seus noventa anos, se compara com quando tinha menos trinta ou quarenta e se lamenta e manifesta profunda amargura por achar que tudo lhe acontece e que já não é o que era. Consome-se a olhar para o copo meio vazio e recusa-se a olhar ou a valorizar o copo meio cheio. Para além disso, teme qualquer sintoma, por mais banal que seja, como se fosse sinal de alarme e anúncio de uma fatalidade iminente, desestabilizando-se a ela e a mim.

Antes tivemos lá meninos em casa, uns fofos, sempre uma lufada de alegria. A minha menina foi para a cozinha e foi ela que cozinhou as costeletas que ficaram mesmo boas. Claro que, pelo meio teve o mano do meio a moer-lhe a cabeça, mas isso faz parte daquela dinâmica tão típica dos manos.

Mas, voltando aqui, depois de arrumar as coisas, ainda consegui ir apanhar orégãos (e a ver se este sábado consigo apanhar mais uma braçada) e já os pus a secar em cima de um lençol em cima da mesa da casa de jantar. E já está aquele perfume fresco e limpo e, ao mesmo tempo, cálido e mediterrânico, que tanto me agrada. E que me lembra que já passou um ano desde a última vez. Tempo do caraças que corre mais do que deve.

Está um calor de ananases. Mesmo agora a esta hora, a aragem que entra vinda da noite não é fresca. E isso não ajuda.

E tudo isto para dizer que não tenho cabeça para mais que isto. Salvam-se os vídeos com que me entretive a rir sobre danças do caraças. Divertidas, malucas, ou tradicionais mas tão extraordinárias que a gente vê e tem vontade de se questionar sobre o seu sentido e acaba a rir, como eles.








sexta-feira, junho 23, 2023

Quando se descobre que, afinal, os muito ricos não são invulneráveis

 

Já se sabe como acabou a aventura das pessoas que embarcaram no Titan. Com sorte a dita implosão catastrófica foi inesperada e radical não lhes dando tempo a perceber o triste desfecho das suas vidas.

Depois de ouvir os nossos ilustres marujos especialistas em submarinos percebe-se que aquela expedição milionária padecia de défice de segurança a diversos níveis. Dizem que, na Europa, provavelmente, não teria havido licenciamento pois, do que se parece saber-se, parece que não seguia diversas normas de segurança.

Não sei, não percebo nada do assunto. Por isso, não falo nisso.

Vou falar de outra coisa. 

Nisto, o que me faz espécie é a apetência pelo risco que alguns muito ricos têm. 

Desde os que se montam no foguetão (para irem ali acima, num ápice, e virem logo recambiados de volta, uns minutos a ir e vir por centenas de milhares), até agora a estes que não iam ao espaço mas ao fundo do mar por $250.000 (para irem ver, por um óculo do tamanho do óculo de uma máquina de lavar roupa, destroços do Titanic), há todo um vasto leque de 'experiências radicais' para os muito milionários.

É certo que para os muito ricos, mais 250.000 menos 250.000 não fazem qualquer diferença. Mas o que os leva a embarcar em situações em que qualquer vulgar mortal percebe que pode haver risco de vida? Aliás, eles assinam termos de responsabilidade em que assumem que foram informados e estão bem cientes de que pode haver risco de vida. Porquê?

Eu creio que é porque se acham de tal forma os maiores que quase se convencem de que estão acima das vulnerabilidades normais. Penso que se convencem que o temor é coisa dos fracos que não saem da cepa torta.

Convivi relativamente de perto com algumas dessas pessoas muito ricas. Parte delas são pessoas de famílias tradicionais, desde há muito montados em cima de grandes riquezas. Mas, em torno dessas pessoas, gravita sempre um grande número de pessoas que se tornam muito ricas ou porque casam com alguém da família e, de certa forma, passam a aceder aos elevados recursos dos outros, ou porque, pelas suas funções, passam a fazer parte do círculo mais estreito, usufruindo de muitas mordomias.

Esses são os que mais deslumbrados se mostram. Ao passo que os muito ricos 'de origem' geralmente não ostentam a riqueza nem são dados a grandes excentricidades, os outros são geralmente atrevidos, gostam de se fazer passar por irreverentes, destemidos, sempre vitoriosos.

Toda a sua vida passa a ser uma exibição da sua excelência. Têm acesso a bons advogados para que os seus actos estejam sempre contratualmente blindados, têm acesso a bons médicos para fazerem check ups regulares e para atalharem, sem qualquer restrição financeira, qualquer pequeno problema. E têm acesso aos melhores hotéis do mundo, a viagens fantásticas com guias personalizados, e tudo pago pelas empresas. E têm secretárias que lhes tratam de tudo sem terem que perder tempo a organizar ou ao telefone com quem quer que seja. 

Portanto, não só têm a vida absolutamente simplificada como tudo lhes parece possível, pois todos os riscos estão, à partida, mitigados.

A única coisa que difere disto são as situações radicais, acessíveis apenas a pessoas como eles.

Vou dar um exemplo ínfimo, que não tem nada a ver com isto, mas que ilustra este sentimento de impunidade.

Fiz várias viagens de carro com algumas pessoas do tipo que referi. Escuso de dizer que os carros que usam são sempre de super topo de gama, teoricamente 100% seguros. Mas há os limites que o código de estrada impõe, há os imprevistos técnicos, há os erros humanos, etc. Pois bem. Era normal irmos a 180 ou mesmo um pouco mais. Escuso de dizer que eu abominava aquilo, o que os divertia imenso. Eu ia pregada ao banco. Para além disso, pelo menos dois deles eram exímios em acelerar, se necessário for, colando-se ao da frente e apenas se desviando no limiar do acidente. Eu quase que tinha que fechar os olhos. E eles, os maiores, invencíveis, prego a fundo, a desafiar tudo e todos.

Apanharam multas, claro. Mas há advogados para 'limpar a barra' e provavelmente também não eram eles que as pagavam. Mas, mesmo que pagassem, não era coisa que lhes fizesse qualquer mossa. 

Apostavam, claro, em que não iam apanhar multas nem ter acidentes. E riam-se daqueles que, como eu, se preocupavam com essas minudências.

Mas isto é apenas um insignificante exemplo. 

Não é que não tenham amor à vida. Claro que o têm. O que acham é que nunca lhes vai nunca acontecer nada de mal e, se acontecer, acham que têm os meios para se 'safarem' de qualquer 'alhada' em que se vejam metidos.

É bem verdade, João, que são precisos muitos pobres para se fazer um rico. E também é verdade que o mundo real está muito longe de ser um mundo perfeito. Mas o que posso dizer é que é pena que os muito ricos não resolvam ser excêntricos fazendo coisas radicais que sejam úteis e não fúteis.

Só que há nisto um outro aspecto. Os muito ricos não gostam de ser maçados Gostam de fazer coisas, ficar felizes por as terem feito, e, uma vez feitas, partem para outra. 

Ora se se meterem em actividades de resgate a migrantes, por exemplo, dificilmente se conseguem livrar de maçadas pois a seguir ao resgate dos pobres que se fazem ao mar sem quaisquer condições haverá que enquadrá-los, arranjar-lhes alojamento, trabalho, etc. Ou seja, uma carga de trabalhos. Ora meter-se em cargas de trabalhos não é para os muito ricos. Para isso, tem os seus 'colaboradores', 'assessores', advogados, etc.

Enfim.

Agora o que eu gostava é que os nossos jornalistas investigassem estes aspectos, fizessem reportagens bem estruturadas, que fossem ouvir os muito pobres e os muito ricos, eventualmente que os pusessem até frente a frente. Seria bom que se fosse mais fundo na análise das coisas, que a comunicação social (e a opinião pública) não se ficasse apenas pela espuma dos acontecimentos.

Mas fazer o quê? O mundo é mesmo um lugar complicado.

quinta-feira, junho 22, 2023

O Titan.
E as embarcações sem nome.

 

Hesitei. 

Hesitei até em falar aqui em casa. O meu marido disse-me que também já o tinha pensado mas que não falou pois temia que o seu pensamento fosse populista.

Também eu. Penso e quase me censuro por pensar.

Mas penso.

E, por isso, com vossa licença, vou dizer.

Mas, primeiro, quero que se saiba que gostava que as cinco pessoas que estão no Titan sobrevivessem. Claro que sim. Que não subsista dúvida sobre isso.

Mas espanta-me a desproporção de atenção, de esforço, de meios postos à disposição (de investimento, em suma) que o tema está a merecer.

As nossas televisões, então, andam desvairadas. Não deve haver comandante e marinheiro de submarino que não tenha sido convidado para dar palpite. Quantas horas de oxigénio? Já piraram os cinco? Já estão mortos? Os entrevistadores salivando perante o cheiro a desgraça.

Contudo, repare-se: parece que o mini-submarino não estava certificado, que tinha diversos problemas técnicos (para além de desconfortável) e que o método de descida não foi devidamente monitorizado. Li também que cada pessoa pagou cerca de duzentos e cinquenta mil euros. Ou seja, segundo me parece, é daquelas excentricidades ao alcance de quem não sabe o que fazer ao dinheiro e resolve fazer coisas malucas.

Em contrapartida, não vejo reportagens próximas, não vejo comentadores, não vejo investimentos de alta monta e proporcional para salvar as centenas de pobres desgraçados que correm riscos enormes para, em embarcações precárias, atravessarem os mares -- não por excentricidade mas por sobrevivência, tentando chegar onde possam viver sem guerra, sem pobreza extrema, com casa, com água, com trabalho.

O fundo de alguns mares está pejado de cadáveres de gente miserável, de crianças, de gente que empenhou rendimentos futuros, que suporta a fome, a sede, o desconforto total, o medo, o risco de morte, o risco de ser recambiado para o local de onde vieram. 

Alguém vai ao fundo do mar para ver isso? Alguém acompanha aquela gente e vê como morrem pelo caminho e como reagem os que continuam vivos? Alguém acompanha os que chegam a terra, esfomeados, sedentos, e fogem e se escondem e tentam sobreviver num território estranho de que não conhecem a língua? Alguém acompanha os que, tendo passado por tudo o que passaram, são mandados de volta para a miséria e para a guerra da qual tinham tentado fugir?





E não digo mais pois isto perturba-me muito.

[Além disso, é um tema tão complexo que não pode ser visto sob a lente da emoção]

quarta-feira, junho 21, 2023

A malta do PCP anda a aspirar o cheirinho das trombetas-de-anjo? Ou montou-se numa jangada e desaderiu da realidade?
Pergunto

 

Lê-se e não se acredita. Será uma rábula? Será para os Apanhados? 

Isto sim deveria incomodar a presidente do Parlamento Europeu. Eu pergunto: se não lhe incomoda que haja um impedimento da livre expressão? Se não a incomoda que ande a assassinar a população e o povo da Ucrânia, com o desenvolvimento desta guerra, e que muito resulta deste poder nazi?

Palavras de um doido varrido?

Pois, se calhar.

Mas, se lermos toda a notícia, ficamos a saber que:

O PCP perguntou esta terça-feira à presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, se não fica incomodada com um poder em Kiev sustentado em "forças de cariz nazi" que "assassina a população

e que as palavras lá de cima são também de Paula Santos, a excêntrica líder parlamentar do PCP que levou a excentricidade a ponto de acusar Roberta Metsola de ter uma "atitude de arrogância e ingerência", mas também de "profunda hipocrisia", defendendo que a União Europeia (UE) tem procurado "alimentar e instigar a guerra", em vez de tentar pôr fim ao conflito.

Nem mais.

Não sei em que planeta esta bizarra criatura vive ou se padece de algum problema, quiçá de foro mental. Não sei. Alguma coisa é pois nada disto me parece normal.

Quem consegue manter a calma é Roberta Metsola que desafiou na sexta-feira a deputada comunista Paula Santos a falar no Parlamento de Kiev perante os deputados ucranianos.

"Eu decidi falar no Parlamento da Ucrânia no dia 01 de abril de 2022. Peço-lhe [deputada Paula Santos] para que diga o que disse aqui em frente aos deputados ucranianos. Para falar com esses deputados que não falam com as mulheres durante semanas, cujos filhos não podem ir à escola (...). Isto não se trata de ficar sentado à mesa e fazer com que as pessoas negoceiem, isto é sobre fazer com que a Rússia saia da Ucrânia. Nem mais nem menos", disse Metsola dirigindo-se à deputada do PCP.

Artigo completo no DNPCP pergunta a Metsola se não a incomoda um poder em Kiev que "assassina a população"

Se alguém conseguir explicar-me que estranha forma de cegueira é esta, de que padecem as pessoas do PCP, gostava de saber. É uma cegueira que se manifesta a propósito de muitos assuntos mas, de forma absoluta e letal, neste tema da guerra ´que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia.

Contra todas as evidências, eles desencantam argumentos absurdos, como se só eles vissem o que o resto do mundo não consegue ver. 

Uma tristeza. Desonram, vergonhosamente, o passado do PCP e atentam, de forma inexorável, contra o futuro do partido. 

terça-feira, junho 20, 2023

Uma casa extraordinária. Parece um ser vivo. Parece um fóssil. É pura beleza.

 

Por aqui há casas bonitas, umas de arquitectura tradicional e, cada vez mais, casas de traça moderna, linear, grandes planos de vidro.

Sempre gostei muito de casas e, como tenho dito sobejamente, sou muito sensível a uma boa arquitectura. 

Era jovem e já comprava revistas de arquitectura e de decoração. Há quem veja a decoração como uma arte menor. E pode ser. Mas quando a arquitectura e a decoração andam de mãos juntas e se compreendem e complementam é arte e da boa.

Esta é a quarta casa em que vivo (em ambiente urbano) e nunca tivemos vontade de construir uma casa de raiz. Não será opção fácil de explicar mas sempre foi uma decisão muito clara. Não sei bem qual a motivação do meu marido, em especial ele, mas a minha deve ter a ver com a humildade que sinto de que poderíamos falhar. Assim, só tivémos que escolher o produto acabado. 

Mas sempre procurámos casas especiais. Tinham que ter luz, ser amplas (ou dar essa ideia), tinham que estar bem situadas, num lugar agradável. 

A primeira casa era no cimo de uma torre, com janelas para vários lados, permitindo uma visão extraordinária sobre as cidades, sobre as serras, sobre o rio.

A segunda era normal. Tinha apenas a característica de ser central, ao lado de um jardim, no meio de todas as comodidades, incluindo as escolas dos miúdos.

A terceira era fantástica. O construtor chorou no dia da escritura. Era a sua casa. Mas divorciou-se e a nova mulher não quis lá ficar. Tinha uma vista maravilhosa, era central, tinha jardins ao pé, tinha uma luz que entrava por todas as janelas, era ampla.

E depois, quando nada nem ninguém (muito menos nós) julgaria que voltaríamos a mudar de casa, mudámos. 

Se fossem as pessoas da família ligadas ao sector ou se fossem ideias minhas, leiga, ou se fossem materiais escolhidos por mim não seria melhor que esta casa. Não estou a dizer que é majestosa, extraordinária, espectacular. Não, nada disso. É simples, maneira, equilibrada. Tem recantos. Tem espaços. Tem muita luz. Não é grande de mais. É tudo o que eu sempre quis. 

No entanto, quando por aqui caminhamos, vou vendo estas casas novas que são recticulares, grandes, com tanto vidro (ou mais) que betão. 

Vê-se muitas vezes o interior a partir do exterior. 

Por vezes, vejo os sites das imobiliárias só para ver as casas. Não para comprar. Apenas para ver. Há decorações elegantes, arejadas, inteligentes. E depois há outras meio atravancadas, móveis escuros, sofás de pele escura, tapetes escuros, muita tralha, candeeiros muito arrebicados. Só de ver as fotografias penso que as pessoas devem sentir-se deprimidas lá dentro. 

isto da internet tem coisas. Dantes comprava revistas. Agora vejo vídeos. E o meu amigo algoritmo do YouTube tem sempre coisa especial para mostrar.

A casa de hoje é qualquer coisa do além. Nunca tinha visto coisa assim. Creio que eu não queria viver numa casa assim. parece-me imponente demais para uma alma simples como eu. Mas é extraordinária, extraordinária.

Não deixem de ver pois uma casa assim acontece poucas vezes na vida de uma pessoa.

Inside a Breathtaking Desert Mansion That Looks Like A Fossil 

| Unique Spaces | Architectural Digest

Hoje, no Architectural Digest, visitamos Joshua Tree, na Califórnia, para conhecer a imponente Kellogg Doolittle Residence. A sensacional construção foi projetada pelo arquiteto orgânico Kendrick Bangs Kellogg e pelo seu protegido John Vugrin na década de 1980, levando mais de 20 anos para ser concluída. À primeira vista, você seria perdoado por pensar que esta propriedade era uma criatura viva; a magnífica estrutura parece esquelética com 26 peças de betão fundido espalhadas em forma de vértebras. Uma obra de arte por si só, não é de admirar que este espaço único seja considerado uma das maiores obras-primas da Kellogg.


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Um dia feliz
Saúde. Elegância. Beleza. Paz.

segunda-feira, junho 19, 2023

Brevíssimo ponto de situação sobre a minha santa vidinha
(E, para complementar, um vídeo que mostra como os totós só sabem dar tiros nos próprios pés)

 

Os dias têm-me andado apertados e tenho que usar as noites para pôr o trabalho em dia. Por isso, tenho andado um pouco menos assídua e prolixa.

Uns meninos já estão de férias, outros a caminho de o estar. Têm vindo cá desfasadamente. Aos dois de cada vez. O mais pequeno ainda está na escola.

Ainda não contei que três já estão no futebol a sério. Digo a sério porque é na competição. Têm treinos e jogos. Estão nas sete quintas. Os pais é que se veem gregos com tanto levar e buscar, até porque já há torneios e coisas longe de casa e porque cada um anda no seu horário O mais pequeno ainda não é 'a sério' mas também já anda na escola de futebol. Salva-se a menina, que anda no teatro.

Quanto à lida cá de casa, o tempo ora está de abrasar, ora se acinzenta e esfria. Por isso, no sábado, que estivemos sem programa e com um calor daqueles, consegui fazer umas valentes máquinas de roupa, cobertas dos sofás, forras das almofadas, tudo e mais alguma coisa. Tudo secava num instante. Neste domingo nem pensar.

O meu marido escreveu um texto sobre o Pedro Nuno Santos que era para eu publicar hoje. Mas exerci o meu direito de censura e não publico. Não é que não concorde mas acho que não incidiu o foco onde devia e pode levar a segundas leituras.

Como só me despachei da minha segunda actividade já passava bem da uma da manhã e já ele dormia a sono solto, não deu para esclareceremos os aspectos que me parece carecerem de ajustamento.

Amanhã veremos se ele aceita recentrar o foco ou se não recentra coisa nenhuma, situação em que terei que equacionar se veto ou se voto.

Entretanto, mostro um vídeo a modos que parecido com o dos deputados da CPI em que uns pareciam surdos, outros cegos e quase todos uns totós, acabando-se as audições sem ninguém perceber nada do que ali se passou e em que dali só podemos concluir que, querendo atirar sobre ministros e secretários de estado, acabaram atirando sobre si próprios.

O Aparelho Auditivo [Legendado] - Monty Python


Desejo-vos uma boa semana

Saúde. Bom humor. Paz.

domingo, junho 18, 2023

A verdade sobre os produtos alimentares 'fora de prazo'

 

Hoje o tema é outro. Não é política, não é a minha vidinha, não é o calor, não são flores ou esquilinhos. 

Hoje o tema tem que ver com os prazos de validade. Devemos deitar fora os produtos cujo prazo de validade expirou mesmo que nos pareçam bons? Devemos jogar pelo seguro ou podemos arriscar? Quais os alimentos que, na prática, jamais se estragam?

O vídeo abaixo é interessante e se, nas definições (roda dentada do vídeo) seleccionarem as legendas e seleccionarem o português (o de Portugal ou o do Brasil), não terão desculpa... Não faz grande sentido deitar tanta coisa para o lixo quando está perfeitamente comestível.

As datas de validade dos alimentos não são o que V. pensa - Carolyn Beans

Os países em todo o mundo desperdiçam grandes quantidades de alimentos todos os anos: cerca de um quinto dos alimentos nos EUA são jogados fora porque os consumidores não sabem ao certo como interpretar os rótulos de validade. Mas a maioria dos mantimentos ainda é perfeitamente segura para comer após as datas de vencimento.  
Carolyn Beans partilha como evitar o desperdício de alimentos.

Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Boas contas. Paz.

sábado, junho 17, 2023

O dia da última audição da CPI da TAP
(incluindo uma referência ao Ranking das Escolas)

[Mais uma vez, a palavra ao meu marido]

 

Parece que a coisa não correu muito bem aos partidos que mais entusiasmados estavam com esta Comissão de Inquérito. 

O PSD, o BE, a IL e o Chega apostaram forte em mais uma tentativa de desacreditar o Governo e se possível, com  a ajuda do Sr. Presidente Marcelo, demitir o governo ou dissolver o Parlamento. 

Afinal, e até os comentadores o referem, o Pedro Nuno Santos saiu em ombros e o Fernando Medina pela porta grande. Não fossem as diatribes do ex-assessor e as notícias sobre a CPI da TAP teriam sido tão sensaboronas que dificilmente os órgãos de comunicação social poderiam continuar a matraquear o assunto.

Por outro lado, o espectáculo que os deputados deram foi lamentável.  Os deputados do PSD, da IL, do BE e do Chega fizeram perguntas apenas para tentarem encontrar contradições nos depoimentos e sem qualquer intenção de analisarem a gestão da TAP (que, afinal, era o objectivo da Comissão). Perderam uma excelente oportunidade para se manterem longe dos holofotes e não revelarem a falta de preparação e a arrogância que demonstram. Episódios como os do telemóvel, o horário dos telefonemas, a insistência com que pretendem saber factos acessórios e que deviam ser reservados é trágico cómica. A forma inquisitorial como o Pedro Filipe Soares interrogou o Fernando Medina revela que segue de perto a chefe Mariana Mortágua. Antipatia e arrogância não lhe faltaram.

Ainda por cima, saiu uma sondagem que revela que afinal a posição do PS não sofreu com esta CPI o que deverá ter causado uma enorme azia ao Sr. Presidente que, segundo dizem, é viciado em sondagens. Também hoje o Banco de Portugal reviu em alta as perspectivas de crescimento do País. Mais uma chatice para os comentadores, para os pseudo jornalistas e para a oposição, onde incluo o Sr. Presidente.

Os comentários do José Gomes Ferreira, do Anselmo Crespo, do Bugalho,... desde vociferarem a chamarem mentirosos aos ministros revelaram bem a decepção que tiveram. Também achei "curiosa" e de um enorme mau perder a justificação dada hoje de manhã na SIC por uma jornalista julgo que responsável pela informação da SIC ou do Expresso, cuja  cara praticamente não se vê devido à abundância capilar, sobre as razões pelas quais o PSD não "arranca" e o PS se mantem à frente. Tem mesmo mau perder.

A FENPROF também ficou chateadíssima com o ranking das escolas. Não sei se o ranking é feito com critérios correctos ou não. Há uma coisa que me deixa de pé atrás e que é ter visto uma notícia em que 40% das notas no ensino privado são dezanoves e vintes. Alguma coisa  está mal se de facto as notas forem estas, estas percentagens não encaixam no que é razoável. No entanto, vi uma reportagem sobre  a primeira escola pública do ranking e tanto os alunos como a professora disseram que o acompanhamento pelos professores tinha sido determinante para a evolução da escola. Sugiro aos senhores professores que exigem "respeito" sigam estes exemplo e ao Mário Nogueira e ao André que se voluntariem para apoiarem os alunos que não tiveram aulas devido à forma como conduziram a luta dos professores, mesmo que no caso do André esse apoio esteja relacionada apenas com os lagartos da Amazónia.

Foi um dia lixado para o Sr. Presidente, para  a oposição e para os professores do "respeito".

sexta-feira, junho 16, 2023

Para terminar um dia quente, quente... o mar azul, os peixes, os pássaros... uma lufada de ar fresco

 

Os meus últimos tempos têm sido de trabalho intenso. Já aqui contei que tenho uma característica: dou-me mal com o tédio. Se tenho pouco que fazer, parece que não consigo fazer nada. Se tenho muito que fazer em muito pouco tempo aí, sim, fico com a pica toda.

Trabalhar horas a fio, até às tantas da noite, trabalhar até ficar cansada, isso, sim, é a minha praia. É uma coisa estúpida? Ah pois é, então não é? Claro que é. Mas é o que é.

Com isto trabalhei ontem até depois das três da manhã. E estava com vontade de continuar. Fui para a cama com uma espertina danada, só adormeci de manhã.

Depois tive um dia ocupado e, quando finalmente, tive oportunidade de recomeçar a função, adormeci pesadamente.

Uma vida sem ordem. Mas, caraças, muito motivada. 

Agora estou aqui a dar contas à minha vida e a pensar que, para tentar recuperar, deveria agarrar-me ao trabalho e, em vez disso, estou aqui a ver se acordo.

E esteve tanto calor... padeço imenso com o calor. 

Fomos passear à praia ao fim da tarde mas ainda estava muito calor.

E, falando em calor, anuncia-se para daqui a dias um calor tórrido.

Ora é isto que, infelizmente, nos espera. Um inferno.

O deserto e as chamas a avançarem, a água a escassear, as populações a migrarem. Um inferno.

Preocupa-me imenso isto das alterações climáticas. Gostava de ver o país a ser florestado, gostava de ver o tema da água muito bem agarrado. Sei que muito se está a fazer mas penso que deveria vir para a ribalta, ser falado, mostrado, discutido. Em vez de se andar a ocupar o espaço e o tempo com chachadas era importante que se debatessem os temas relevantes.

Quando estou em espaços públicos a presenciar conversas, ouço disparates atrás de disparates. Mesmo pessoas que se julgaria estarem minimamente preparadas dizem com cada disparate que é de uma pessoa se atirar para debaixo da mesa. Tanta rede social, tanta comunicação social da treta que dá nisto: as pessoas mal informadas e desfocadas do que é essencial.

Ontem, do que vi da entrevista com o Ministro da Economia, Costa Silva, fiquei espantada com a quantidade de projectos relevantíssimos em curso. De nada disto se ouve falar. Mas, é verdade, Filo, a seguir não se organizam debates para comentar o que foi dito. E seria importante e interessantíssimo que se juntassem empresários, investigadores, professores, gestores, e em conjunto debatessem os avanços científicos e tecnológicos, os investimentos. Seria relevantíssimo que a população estivesse ao corrente do que se faz, se sentisse motivada a fazer mais e melhor.

Mas não. 

Aposta-se é na estupidificação massiva. 

Claro que, a propósito de coisas estúpidas, há bocado, apanhámos o fim da audição do Pedro Nuno Santos. 

Uma paródia, uma chachada, uma barracada. O que é aquilo? Perguntas parvas, atrás de perguntas parvas. Sete ou oito horas de perguntas e perguntas e perguntas. Não sei como é que os inquiridos se aguentam. Tenho ideia de que, se fosse comigo, às tantas me levantava e dizia: "Tenho mais que fazer. Vão dar banho ao cão. E, entretanto cresçam e apareçam. Chiça."

Já não faço ideia do que é que se quer apurar ali mas, seja o que for, se durasse uma semana, devia ser mais do que suficiente para fazer perguntas aos que teriam alguma coisa a dizer. Mas não. Cada um arvora-se em pide de aviário e pergunta, interroga, contra-interroga, volta a interrogar. E depois vem outro e faz o mesmo. Mil vezes a mesma irrelevante pergunta. Mil vezes o mesmo ar de suspeição, de censura, de prepotência. Uma tortura. Não se aguenta. Cerca de oito horas de interrogatório a cada desgraçado. Ontem tinha sido outro, já demitido, e ainda sim, interrogado, esmifrado, seviciado até à exaustão.

Anda aquela gente, aqueles que teoricamente deveriam ser os nossos representantes na Assembleia da República, a ganhar um ordenado pago com dinheiros públicos para ali andarem a dar aquele triste espectáculo. 

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Mas não são horas para perder mais tempo com o que não interessa. 

Prefiro mergulhar no azul. 

Mar. Peixes. Peixões. Pássaros. Passarões. Passarinhos lindos.

Muita beleza

Fish Vs Bird | 4KUHD | Blue Planet II | BBC Earth


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As fotografias, lindas de tão minimalistas, são respectivamente de Jose Marques Lopes, Pete Chapman, Elisabeth Brecher e AKittinan Googlegog. Podem ser vistas aqui.

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Dias felizes
Saúde. Boa sorte. Paz.

quinta-feira, junho 15, 2023

SIS

[A palavra ao meu marido e uma Nota pessoal de minha autoria]

 


Trabalhei numa empresa que tinha uma certificação em segurança da informação  (norma 27001). A necessidade da empresa ter esta certificação resultava de utilizarmos informação confidencial disponibilizada pelos nossos clientes que, naturalmente, não podia ser divulgada.  Os procedimentos necessários para obtermos/mantermos a certificação implicavam analisarmos as nossas vulnerabilidades. e definirmos  as ações necessárias para mitigar a probabilidade dessas vulnerabilidades originarem situações que pudessem pôr em perigo a confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação que nos era facultada pelos nossos clientes.

Assim, primeiro identificávamos quais as situações de risco (avaria de equipamentos, possibilidade dos colaboradores copiarem informação, ataques informáticos,...). A seguir, para cada risco, tentávamos definir a probabilidade deste ocorrer e os danos que poderia causar, o que nos permitia, após alguns cálculos, conhecer quais eram os riscos de poderiam afectar de forma mais grave o bom desempenho da organização. Finalmente definíamos as medidas que deveríamos por em prática para mitigar a probabilidade de ocorrerem as situações mais graves.

Identicamente, para cada risco grave que, apesar das medidas preventivas viesse a concretizar-se, existia uma panóplia de planos de intervenção, muitos das quais passavam por reportar às entidades competentes a ocorrência do problema.

Suponho que  a  forma do Governo trabalhar no que respeita à informação sensível seja idêntica e, assim, presumo que tenha sido isso que aconteceu quando a Chefe de Gabinete, perante o roubo de um computador contendo informação sensível, reportou a ocorrência a quem de direito.

Identicamente o SIS deve reger-se por um conjunto de procedimentos. Identificará qual é  a informação sensível que não pode ser divulgada e definirá formas de atuar quando ocorre uma falha que origina o acesso indevido à informação ou a possibilidade de isso vir a ocorrer.

Ou seja, deve ter sido isto que aconteceu no caso do computador levado do Ministério pelo ex-assessor: foi reportado ao SIS que um computador com informação sensível tinha sido levado indevidamente pelo ex-assessor e o SIS promoveu a sua recuperação urgente. Deve ser compreendido que a intervenção do SIS não foi no sentido de recuperar o computador enquanto objecto mas sim a de tentar evitar a destruição de informação sensível ou a destruição de evidência de possíveis cópias indevidas,

Que os jornalistas e comentadores não entendam o que aconteceu é lamentável, que o Sr. Presidente da República deixe correr as coisas para tentar desgastar o Governo é infelizmente o habitual, que  a oposição se sirva de tudo  e mais alguma coisa para a luta politica é uma tristeza. 

Se, eventualmente, o SIS tivesse ficado "mudo  e quedo" e a informação confidencial fosse parar a quem não devia, a opinião dos jornalistas, dos comentadores, do Sr. Presidente e da oposição sobre o mesmo assunto, certamente seria exatamente o contrário daquilo que agora afirmam pois o que os move parece ser, apenas, o 'bota-abaixo'.

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Nota minha (UJM)

Uma vez que o meu marido trouxe a sua experiência pessoal sobre o assunto, trago também o meu conhecimento sobre temas afins

Trabalhei durante algum tempo numa empresa que, pela sua actividade, foi considerada por quem de direito como alvo apetecível quer do ponto de vista da espionagem empresarial, nomeadamente internacional, quer do ponto de vista de possíveis acções terroristas.

Obviamente estávamos certificados por todas as normas que garantissem a inviolabilidade da informação e das instalações bem como fomos informados e/ou instruídos por diversas entidades, incluindo pelo SIS, sobre os cuidados a ter e o que fazer caso alguma ocorrência anómala ou suspeita viesse a verificar-se.

Portanto, face à minha experiência, que o SIS tivesse sido informado e tivesse agido perante a ocorrência de informação sensível sobre infraestruturas críticas do País e sobre o plano de reestruturação da TAP estar nas mãos de uma pessoa não autorizada parece-me não apenas normal como bastante adequado.

Que as pessoas que não conhecem estes meandros estranhem que o SIS tenha sido avisado e que, uma vez avisado, tenha resolvido agir, não me espanta. Mas espanta-me muito que os jornalistas, os comentadores, a oposição e o Sr. Presidente da República, revelem não compreender uma coisa tão simples.

quarta-feira, junho 14, 2023

A espuma dos media

[De novo, a palavra ao meu marido]

 

A forma como as Televisões divulgam e tratam a informação revela uma cada vez maior falta de ética jornalística. Um jornalista tem que ser isento, verificar a veracidade das notícias e divulgá-las com objetividade e clareza. 

Se virmos os noticiários televisivos e os debates (excluo a CMTV porque não perco tempo com porcarias), o que constatamos é que não só os comentadores como os jornalistas debitam ideias pré-concebidas, independentemente da realidade dos fatos. 

O que a CPI da TAP tem proporcionado é um case study nesta matéria. 

Vou apontar dois dos vários exemplos que podia referir:

1) A versão do assessor é diferente da versão da chefe de gabinete, do ministro  e das testemunhas. Os jornalistas que ouvi e a maioria dos comentadores falam como se o assessor fosse o detentor da verdade e os outros uma cambada de mentirosos. Mas fazem este julgamento com que base? Tiveram acesso às conclusões de algum relatório secreto? A informação veiculada pelo assessor é mais fiável que  a transmitida por vários outros intervenientes? Ou quem tem alguma proximidade ao BE tem que ser tratado com benevolência e quem tem ligações ao PS tem que ser repudiado?

2) Após  a audição do Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Mendonça Mendes, a comunicação social seguiu a versão do Chega, da IL e, parece-me que sobretudo numa primeira fase, do PSD e continua a afirmar aos quatro ventos que o que o Ministro Galamba disse não coincide com o que o Secretário de Estado afirmou. Ora, se analisarmos cronologicamente os factos, constatamos que: 

  • A Chefe de Gabinete reportou ao SIS, 
  • O Ministro referiu que contactou o Secretário de Estado e este informou-o que uma das entidades a contactar em casos semelhantes era o SIS, e que, quando transmitiu essa informação à Chefe de Gabinete, ela o informou que já tinha feito isso
  • O Secretário de Estado referiu que não foi por sugestão sua que o caso foi reportado ao SIS. 

A última afirmação do Secretário de Estado parece óbvia e verdadeira. Se o SIS já tinha recebido um reporte do sucedido antes dele conhecer o assunto, como é que poderia ser por sugestão sua o contato com o SIS? Parece que não oferece dúvidas.

Só uma enorme falta de discernimento ou a necessidade de distorcer os factos podem ter alimentado a comunicação social que continua a matraquear a tese da contradição. 

E a coisa está tão enraizada na cabeça dos jornalistas que na 2ª feira à noite, após o Paulo Pedroso explicar por a mais b, creio que duas vezes, que as versões do Ministro e do Secretário de Estado não seriam contraditórias, o João Adelino Faria voltou-se para o Miguel Poiares Maduro e voltou a afirmar exatamente a mesma coisa: ou o Ministro ou o Secretário de Estado mentiram. 

Se os jornalistas se derem ao trabalho de revisitar a audição do Secretário de Estado verificarão que a Catarina Martins, honra lhe seja feita nesta matéria, percebeu de imediato que não havia contradição nas duas versões. 

No mesmo programa o Miguel Poiares Maduro fez uma afirmação sobre a defesa do Clinton no caso Mónica Lewinsky que não corresponde à verdade. Admito que tenha sido apenas um lapso. Não que seja muito relevante para o caso em apreço mas, em abono da verdade, o jornalista deveria ter corrigido até porque serviu a Miguel Poiares Maduro para defender a sua tese das meias verdades e das meias mentiras, quando, neste caso, parece não haver qualquer mentira.

Muito haveria também a dizer sobre a falta de pluralidade nas escolhas dos comentadores pelos canais televisivos ou sobre a pseudo omnisciência dos pseudo comentadores, que quais Professores Marcelo, acham que têm capacidade para comentar tudo e mais um par de botas, sobre os pivots que não se coíbem de emitir opiniões desajustadas, sobre as linhas editorias que privilegiam partidos e individualidades que não gostam do PS, sobre a obsessão em noticiarem o que corre mal e o que traumatiza em detrimento do que corre bem e nos pode orgulhar, sobre servirem de correia de transmissão do MP seguindo a agenda deste. 

A prática de alguns jornalistas e geralmente dos responsáveis  pela informação dos três maiores canais televisivos de intervirem não relatando os factos mas opinando sobre quais devem ser as decisões a tomar,  é violadora do dever do jornalista de informar com isenção e não de opinar. Assim, torna-se difícil discernir se as notícias que transmitem são objetivas ou se estão a "desfocar" a realidade para esta corresponder àquilo que entendem como "correcto". 

terça-feira, junho 13, 2023

O balão do populismo em Portugal está a encher a olhos vistos, insuflado pela Comunicação Social
(... e também pelo Presidente Marcelo?)

 

O populismo, quando começa a infectar a sociedade, é como a gangrena a avançar por um organismo.

Acontece que, em Portugal, em vez de se tentar erradicar o populismo, não apenas a comunicação social anda com os populistas ao colo, promovendo-os em permanência, como alguns dos outros partidos pensam que, para não irem pelo ralo, têm que ombrear em populismo com os populistas.

  • Assim, se o Ventura vai à Feira do Livro, sem motivo legítimo que se divise, a comunicação social vai atrás e é vê-lo, a fingir que é uma pessoa decente, a dar palpites, a fazer exigências, a ser demagogo e, no fundo, a mostrar-se como o troca-tintas que é, falando para as câmaras e para os microfones.
  • A Iniciativa Liberal também resolveu que deveria guinar para o lado populista da política ao pôr de lado o Cotrim e ao escolher este que por aí anda a fazer barulho sem dizer uma que se aproveite. Mas as televisões e as rádios andam atrás dele e ele, tal como o Ventura, tem uma capacidade infinita para ser troca-tintas, demagogo e vendedor de banha da cobra.
  • Montenegro, neste campeonato em que vale tudo, não sendo capaz de se afirmar como um líder decente e confiável, emula os outros dois e lança atoardas para o ar, não apresentando uma ideia, uma única, a que os portugueses reconheçam valor.
  • Falta aqui o Bloco de Esquerda que, no meio da mudança de liderança, tem andado mais apagado. Senão seria a quarta força a poluir a democracia com atoardas e a atirar-nos areia para os olhos. Aliás, veja-se a miserável actuação de Pedro Filipe Soares na CPI, portando-se como uma espécie de agente pidesco.

A nuvem de poluição que esta gente lança sobre a vida política é uma vergonha. Mas, mais do que isso, é um perigo. E é um perigo que tem sido alimentado pela Comunicação Social.

Nenhum dos referidos partidos contribui com uma única ideia construtiva para o País e a comunicação social limita-se a dar-lhes palco e a ajudá-los na sua promoção, papagueando o que eles dizem, esquecidos da sua função de isenção, de exercício de contraditório ou de verificação da veracidade do que dizem. 

No conjunto, limitam-se a portar-se como vulgares arruaceiros. E, daqui, pode vir um verdadeiro perigo para a democracia.

E, perante esta situação, lamento que Marcelo Rebelo de Sousa continue a andar pelas ruas a falar e comentar tudo e mais alguma coisa, a lançar confusão e a alimentar a praga de comentadeiros que polui em permanência o espaço de comunicação, e não faça nenhuma tentativa para esvaziar este balão populista que está a crescer a olhos vistos. 

Os reais valores da democracia têm que ser enaltecidos, respeitados, ensinados -- e o Presidente da República deveria ter um papel relevante nessa pedagogia.


PS: O Valupi recomenda que se comece a semana a recordar Paulo Portas sobre Marcelo Rebelo de Sousa e a vichyssoise e, se calhar, não é mal lembrado.


segunda-feira, junho 12, 2023

Será que o objectivo dos Professores é dar cabo do Ensino Público?

[Uma vez mais, a palavra ao meu marido]

 

Seguramente a maioria dos professores não apoia nem se revê na forma desrespeitosa como têm decorrido as respectivas manifestações. 

A forma pouco civilizada como os professores presentes no Peso da Régua falaram com o Primeiro Ministro e os cartazes que empunharam revela má educação e falta de civismo. 

No entanto, parece não ser apenas aquela minoria que lá se manifestou. De facto, parece haver bastantes mais professores que agem de forma desrespeitosa e que dão um péssimo exemplo aos alunos.

Gostava de saber se os professores que empunharam ontem e em outras manifestações aqueles cartazes bem como os demais professores que os apoiam têm lata para dizer aos alunos para se portarem bem e respeitarem os outros. Não é possível que tenham dois pesos e duas medidas pelo que seguramente não têm condições para educar os seus jovens alunos.

Só pode ser respeitado quem respeita os outros e manifestamente não é o caso dos professores que se manifestam desta forma. 

Mas também não podem ser respeitados os professores (e os exemplos que vou referir são concretos) que: 
    • fomentam o copianço nos testes de forma que alunos que não percebem nada da matéria têm notas próximas de 100%, 
    • estão de baixa médica vários meses e que, quando é para acompanhar viagens de finalistas a outros países, milagrosamente reaparecem, ou
    • quando não controlam o comportamento dos alunos, os forçam a fazer declarações em que estes se autoculpabilizam.

Para mim também é revelador da falta de maturidade cívica dos professores terem como dirigente do STOP um tal André que fala aos gritos, de forma demagógica e que, para além de matraquear três ou quatro frases feitas, não consegue transmitir uma única ideia com pés e cabeça*. 

[* Será o resultado do doutoramento que fez (provavelmente a expensas dos contribuintes) na Amazónia?] 

Admito que as reinvindicações dos professores podem ser justas mas, sendo assim, isto é, a serem justas, então, todos os funcionários públicos e os todos os trabalhadores do sector privado também teriam que ser ressarcidos dos congelamentos nas carreiras, dos cortes nos salários, das sobretaxas... que ocorreram no tempo da troika -- o que manifestamente não é possível. 

Os professores não são exceção e devem ter o mesmo tratamento que todos os outros.

(A propósito, onde estava o  Sr. Mário Nogueira e os senhores professores quando ocorreram os cortes no tempo da troika? Não os vi em manifestações. Calaram-se, não foi?)

Com tudo o que têm feito, os professores estão, de facto, a dar cabo do Ensino Público, estão a criar mau estar entre os pais dos alunos e estão a desmotivar muitos alunos que, naturalmente, com este exemplo não pensam que estudar seja uma prioridade.

Não me lembro de ver o Mário Nogueira ou o STOP falarem em problemas no Ensino Privado. Corre tudo bem entre patrões e empregados nesse setor?

Senhores Professores, raramente --  quer no setor público quer no privado -- se chega ao topo da carreira. Qual a razão para todos os senhores professores quererem chegar  a "administradores"?  

Não parece que os senhores Professores sejam das classes que mais têm a reivindicar, pois: 

  • ganham um salário que não compara mal com a media europeia, 
  • trabalham menos de metade das horas que normalmente são feitas pelos outros trabalhadores, 
  • têm tempo para dar explicações, bem pagas, que provavelmente não declaram (não seria interessante que este aspecto, ie, o aspecto fiscal associado às 'explicações', fosse investigado?), 

Lutem de forma civilizada pelos V. direitos tendo em conta a realidade do País, defendam a Escola Pública e garantam um ensino e uma educação de qualidade aos V. alunos. 

Se o fizerem serão respeitados. 

Em contrapartida, a continuarem a agir como têm feito até aqui e a defender causas egoístas e desfasadas da realidade nacional, arriscam-se a acabar como uma classe desprezada pelo resto da população.


Nota Final: Continuo, entretanto, a aguardar que o Senhor Presidente da República, sempre tão lesto a comentar qualquer evento, nacional ou internacional, venha demarcar-se veemente da forma de actuar dos Professores que se manifestaram em Peso da Régua e da forma de actuar nas manifestações e greves em que, durante este ano lectivo, fizeram de tudo um pouco para degradar a qualidade do Ensino Público.