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segunda-feira, agosto 14, 2017

Mark Zuckerberg (o Conquistador puritano), o Facebook e os mamilos e... a fúria da mamã...


Kate Moss, aos 43 anos, para a W Magazine


É sabido por quem por aqui me acompanha. Não tenho conta no Facebook nem tenciono vir a ter. Não há ali nada que me atraia. Pelo contrário, os potentes motores comerciais que movem a máquina do Facebook são de uma perversidade que acho assustadora. Gratuito para o utilizador normal, o Facebook é, na realidade, uma base de dados de interesse galáctico e desregulado e uma plataforma comercial que usa informação colhida nas preferências e comportamentos das pessoas para divulgar produtos e serviços, para induzir tendências, para manipular preferências.

Jean-François de Troy (1679 – 1752) -  Le bain de Diane

Por detrás do que parece um simples mural no qual as pessoas vêm fotografias alheias ou sabem de peripécias dos amigos ou exibem o seu prato de salada bio ou o seu sorriso de boca aberta enquanto dizem cheeese ou ba-ta-ta, há algoritmos a fazerem o seu trabalhinho para que a pessoa veja em primeiro lugar o que o Facebook decidiu ou para que a disposição do que é mostrado induza a reacção desejada.

Para além disso, há o valor incomensurável da infinita base de dados que é alimentada a todo o instante com toda a espécie de dados pessoais. O que pode ser feito a partir da comercialização desta base de dados já começou a ser visto aquando das mais recentes campanhas eleitorais e que conduziram aos efeitos que quem contratou os serviços da empresa de marketing político pretendia: a vitória dos clientes -- num caso a vitória do Brexit, no outro a vitória de Donald Trump.

Lucas Cranach o Velho (1472 - 1553) -- A Justiça

Mark Zuckerberg tem apenas 33 anos e, embora o seu ordenado seja de apenas 1 dólar anual, é já o ilustre detentor de uma fortuna que o torna a 5ª pessoa mais rica do mundo. Comprando as empresas que se mexem à sua volta, destruindo a concorrência e aventurando-se por caminhos que fazem tremer os que já lá estão, o jovem Zuck parece não conhecer limites.


Ao mesmo tempo que as suas empresas acumulam riqueza como se não houvesse amanhã, ele e a mulher resolveram criar uma fundação, a Chan Zuckerberg Initiative, dona de 99% das acções do Facebook, cujo objectivo é  "to advance human potential and promote equality in areas such as health, education, scientific research and energy". Na prática, uma poderosa empresa filantrópica, tão poderosa que assusta.


Jean Auguste Dominique Ingres (1780 - 1867)  - La Source

As movimentações do jovem Mark são seguidas com preocupação por quem sabe detectar sinais de potencial alarme. Leia-se, por exemplo, na Vanity Fair, o artigo Is Mark Zuckerberg Killing Silicon Valley?:

The exact nature of Mark Zuckerberg’s ambitions are a bit hard to pin down. At 33 years old, Zuckerberg has already built the world’s largest and most powerful social-media network; devoured the advertising and media markets; is threatening to put Hollywood out of business; amassed a $73 billion fortune and pledged to give most of it away in what could become the world’s most ambitious philanthropic enterprise. In two years, he’ll be old enough to run for president, a prospect that is being taken somewhat seriously in Silicon Valley, where various sources have told Vanity Fair he wants to be “emperor.”

Only Zuckerberg knows if those two impulses—to dominate the world and to save it—are in conflict. In the meantime, however, the Facebook founder and C.E.O. is not hesitating to ruthlessly expand his business empire in pursuit of whatever master plan he has in mind. (...)

Giorgione (1478 - 1510) -- A Vénus adormecida

No meio disto, parece até ridículo o puritanismo do Facebook. Quem por lá navega já deve ter sido informado das regras mas, ainda assim, transcrevo o seguinte excerto:

Nudez 
(...) Eliminamos fotografias de pessoas que mostram os genitais ou que se foquem em nádegas completamente expostas. Também restringimos algumas imagens de seios femininos se estas incluírem o mamilo. No entanto, permitimos fotos de mulheres a amamentar ou a mostrar seios com cicatrizes pós-mastectomia. Também permitimos fotografias de pinturas, esculturas ou outro tipo de arte que retrate nudez. As restrições na apresentação de nudez e de atividades sexuais também se podem aplicar a conteúdo criado digitalmente, a não ser que o conteúdo publicado se destine a fins educativos, humorísticos ou satíricos. São proibidas imagens explícitas de relações sexuais. Também podem ser eliminadas descrições de atos sexuais detalhados nitidamente.
Tiziano (1490 - 1576)  - Vénus com o Organista e com o Amor


No outro dia, o MCS (de No Vazio da Onda) dava conta que a sua conta no Facebook tinha sido temporariamente bloqueada por lá ter colocado uma fotografia do falecido Serge Gainsbourg (1928-1991) num dia de farra -- e tudo porque a fotografia mostra que, nesse dia, algumas foliãs estavam de mamocas ao léu.


Provavelmente essa fotografia ainda não almejou alcançar a categoria de 'arte'.

Mas o que é arte? Quem decide o que é arte ou não-arte? Não há pinturas de um classicismo irrepreensível e nas quais almas moralistas vêem pura pornografia?

Gustave Courbet (1819 - 1877) -- A Origem do Mundo

As imagens que aqui partilho -- com excepção da primeira que é, ela própria, um clássico entre as fotografias de Kate Moss -- as restantes são pinturas a que nenhum idiota ousaria negar a exibição. Contudo, algumas ou algumas deste tipo não podem ser expostas em galerias ou museus americanos por haver quem considere que ofendem a moral e os bons costumes.

O blogger, ferramenta da Google, que eu saiba, ainda não restringe a partilha de imagens com mamilos, nádegas ou que exprimam actos de amor (tanto mais que as disponibiliza no Google Arts & Culture).


No entanto, tendo recebido por mail um vídeo engraçado ('Embaraçoso...' ou 'Não chateiem a mamã') no qual a protagonista, no fim, aparece em nu frontal, quis inseri-lo aqui via youtube e o que aparece já é a versão coberta. Aqui o deixo na mesma.

Tudo é subjectivo, claro, mas o puritanismo e o moralismos nunca foram bons conselheiros e, em nome deles, grandes patifarias têm sido cometidas ao longo dos tempos. O que seria normal seria que as mentes fossem evoluindo mas, como se vê, a regressão é que parece estar a fazer o seu caminho.


Que mal fazia ver-se o corpo da mamã?

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E, em pós-post, aqui fica como recomendação, a resposta a um comentário meu n'A Matéria do Tempo. Com o Fernando aprendemos sempre.

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Se não fosse por coisas, nomeadamente por ser avessa a selfies, despedia-me com um auto-retrato meu. Assim, despeço-me com o mais parecido que arranjei. Só me falta o gato.

Mulher reclinada e nua com gato -- Pablo Picasso (1881 - 1973)

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E uma boa semana a todos quantos por aqui passam, a começar já por esta segunfa-feira.
Be happy.

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sexta-feira, agosto 26, 2016

Paris, mon amour



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Digo que não gosto de Paris no verão mas estou aqui e só me dá para me lembrar dos seus lugares. Não dos lugares turísticos mas dos jardins, ruas e pracinhas, das esplanadas, das pessoas diferentes com que nos cruzamos, da vista da belíssima cidade a partir de alguns telhados, dos passeios pelos boulevards, das bancas de livros e estampas na beira do rio, das livrarias.

E agora estou a lembrar-me de uma coisa que não sei se já aqui contei. Éramos dois casais e andávamos quase sempre juntos mas um dia fomos cada casal para seu lado, acho que eles iam visitar algum amigo num arredor qualquer. Encontrámo-nos à noite e ele vinha com um blusão de pele novo, giríssimo. Nós admirados, não eram o género de pessoas que fossem às compras de roupa, muito menos ele. Mas estavam pouco convencidos. Então o que tinha sido? Não me lembro já bem de todos os pormenores, tenho ideia que, no comboio, tinha entrado um fulano com um malão. Então o fulano, que tenho ideia que era italiano, tinha dito que tinha estado a expor artigos de pele numa passagem de modelos ou exposição, não me lembro bem, e que tinham sobrado umas peças e que não lhe dava jeito ter que expedir aquilo por avião e que se conseguisse vender tudo, melhor. E que, então, tinha proposto vender um blusão por tuta e meia, não me lembro se uns 20 ou 25 euros. E que eles acharam aquilo muito suspeito e que o fulano ainda tinha feito um desconto. E, a modos que contrariados e desconfiados, ficaram com o blusão.

Ora o blusão era um espanto, bom mesmo, uma boa pele, um bom forro, um bom design. Chegaram ao hotel, reviraram o blusão, apalparam, sacudiram, pensando que tinha droga escondida, qualquer treta. Nada. Nem sabiam se o ele o havia de vestir, pois mais do que certo era material roubado e ainda eram apanhados

Mas então ele lá se afoitou e lá o vestiu. Um espectáculo de blusão. Ainda me zanguei por ele não ter trazido também para nós. Eu, que acho que desencanto pechinchas por onde passo, nunca consegui coisa assim.

Mas, pronto, isto foi uma derivação.

Estou aqui na sala, a escrever deitada no sofá, e a olhar para a estante baixa, funda e comprida, onde tenho livros e tralha e, por cima, a televisão e mil molduras.

Uma vez, o mais pequeno abriu a estante e começou de lá a tirar as figurinhas do presépio, os anjinhos, as caixinhas de porcelana, a caixinha com a bússula, a caixinha de música e outras coisas do género. E então, apressadamente, o mais crescido puxou-o por um braço e disse: 'Não mexas no museu da Tá!' e eu achei um piadão porque vi que eles olham essas minhas pequenas preciosidades como objectos de museu. Mas uma das peças trouxe-a eu de lá, há muitos anos, eram os meus filhos muito pequenos, ainda me lembro do meu marido andar com o meu filho às cavalitas: é um bule muito bonito, estou a olhar para ele, tem umas cores suavíssimas, e tem forma de elefante (se não estivesse cheia de preguiça, ia fotografá-lo para o mostrar). Nessa vez trouxe também uns copinhos pequeninos de vidro pintado à mão, com flores douradas e cor-de-rosa velho. Tinha muito medo que se partisse aquilo no avião, tive mil cuidados, e o meu marido sem querer saber, achava absurdo que eu trouxesse aquilo, se se partisse acho que ele até acharia que era bem feito para eu não ter ideias daquelas. Mas chegou tudo intacto. E não sei como, com mudança de casa pelo meio, com tanta miudagem sempre cá em casa, ainda resiste tudo. Nunca os usei, sempre os mantive a bom recato, porque são umas peças mesmo bonitas. Olho para elas e lembro-me de Paris.


E nessa vez, em Montmartre, os miúdos posaram para serem retratados a carvão. Mesmo bonitos. Quando lá voltámos, já mais crescidinhos, no mesmo sítio, posaram para uma caricatura. As mesmas feições, engraçados. Mas cansavam-se, muito museu, muita caminhada. No entanto, divertiam-se. 

Também acho que já contei. Uma vez fomos jantar para a zona Des Halles, íamos à procura de um certo restaurante. Mas os miúdos estavam estafados e o meu marido impaciente, quando chega a uma rua com restaurantes, por vontade dele entra no primeiro - e, então, vimos um com uma decoração muito bonita, em tons de violeta e preto, com uns castiçais entre o design e o romântico, com umas flores altas muito bonitas. Pronto, ficamos é já aqui.


Pedimos - sempre aquela festa, os miúdos a quererem experimentar tudo - e nem reparámos em nada. Até que, instalados, os amouse-bouche já a sossegar a impaciência, começámos a ver o que se passava à nossa volta. Só homens, alguns muito in love, de mão dada ou aos beijos na boca, outros a darem palmadas no rabo dos empregados, um a beijar na boca um empregado. Nós ali os quatro completamente deslocados. Os miúdos parvos com aquilo, nunca tinham visto por cá nada assim. Depois chegou um todo maquilhado, grandes pestanas, umas calças completamente justas e todo provocante e os outros todos a meterem-se com ele. Os miúdos faziam sinais um para o outro. O meu marido furioso connosco, a não querer que olhássemos ou ríssemos, a dizer que ainda arranjavamos chatice. 

Quando cheguei ao hotel, ao ver os folhetos turísticos, vi que aquele restaurante era um dos mais carismáticos do roteiro gay. Estava explicado.

E a bailarina enorme, completamente gorda, toda Toulouse-Lautrec? De tutu, tules cor de rosa, em pontas, a circular dançando nos Champs Elysées? Ainda hoje a minha filha fala nela.

E quando fomos os dois, romanticamente, em Wagon-Lit? Que viagem tão linda. Gostei tanto.

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E não vos maço mais com estas recordações, ainda por cima em modo repetex. Isto é falta de férias. Tenho é que lá ir um dia destes.

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E, para quem não conheça, um vídeo divulgado esta quinta-feira, muito bonito, com Paris num pas de deux com Victoria Dauberville, uma bailarina dos Dot Move.

Transcrevo parte da apresentação:

C’est l’histoire d’une danseuse seule face à son destin, en proie au doute mais déterminée à réaliser son rêve coûte que coûte : danser à l’Opéra de Paris. 

Pour illustrer ce conte moderne, DOT MOVE a relevé le pari de rendre Paris complètement désert pour en faire un terrain de jeu idéal d'une danseuse classique.

Le film est illustré par « Rêve d'Opéra », extrait du conte musical les « Souliers Rouges » écrit par Fabrice Aboulker et Marc Lavoine

RÊVE D'OPÉRA




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Lá em cima era Jacques Brel interpretando Les prénoms de Paris

As imagens mostram pinturas no museu de que mais gosto e que visito de cada vez que estou em Paris: o Musée d'Orsay.

Os autores são, respectivamente: Jean-Auguste Dominique Ingres, Paul Gauguin, Claude Monet, Auguste Renoir, Toulouse-Lautrec, Gustave Courbet e, finalmente, os jovens gregos são de Jean-Léon Gérôme, 
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terça-feira, agosto 09, 2011

A banhista de Valpinçon de Ingres, o Violino de Ingres por Man Ray e Mulher à beira Tejo hoje no Ginjal

Cerca de 100 anos separam a pintura original de Ingres da fotografia de Man Ray, inspirada na banhista; cerca de 100 anos separam a fotografia de Man Ray da que hoje tirei.

E, se aqui a coloco, é apenas porque a posição e o turbante da mulher à beira do Tejo me fizeram recordar as duas mulheres que inspiraram Ingres e Man Ray. Passam os séculos e a graciosidade feminina é sempre a mesma.


A banhista de Valpinçon - Jean Auguste Dominique Ingres, 1808

O violino de Ingres - Man Ray, 1924



Mulher à beira Tejo, hoje no Ginjal