terça-feira, março 19, 2024

Uns comentadores comentam o que diz o Ventura e o Marcelo, outros comentam o baptizado da neta do Castelo Branco e o Bruno de Carvalho responde à letra a um tal Miguel Azevedo - aparece de tudo um pouco.
Portanto, com vossa licença, opto por aqui trazer a subida do populismo explicada pelo S. Pappas

 

Entre assuntos burocráticos em que, como é costume alguém me liga e dá o assunto por acabado dizendo que falta ainda um outro papel (juro: hoje aconteceu outra vez!), e telefonemas exacerbados envolvendo um senhor das obras e as limitações existentes e tudo uma confusão pegada, eu só a querer paz e descanso e a falarem-me no tubo das águas pluviais e na prumada e em mais não sei o quê e o esgoto do outro lado e uma infiltração ou entupimento não sei onde, vá lá a gente entender alguma coisa, e, ainda, entre acabar um trabalho e deitar um olho ao que por aí se diz, pego no computador já perto da uma da manhã e sem cabeça para grandes divagações.

Apelo, pois, à vossa habitual condescendência.

Por entre votos perdidos, estragados, envelopados. desenvelopados e o diabo a quatro, continuamos sem saber como é que o sarilho arranjado pelo Marcelo vai acabar. Pelos vistos, ele também não e, por via das dúvidas, parece que também não se rala muito se não cumprir a Constituição. Eu, que não sou letrada em leis, só tenho para mim que, no meio da confusão, é prudente a gente agarrar-se a algumas bóias de salvação, a saber: a Constituição, as boas maneiras e o respeito pela inteligência dos outros.

Mas parece que, no meio da enxurrada populista, a malta já está toda numa de caguar para essas minudências.

Claro que também não consigo instruir-me com a chusma de comentadores que andam a dar à costa: raia miúda, carapauzinho pingão, de tudo aparece. É vê-los, com ar entendido, a dar lições de tudo o que calha. Política, Constituição, Fait-Divers a fazerem de conta que são História. Tudo. Ainda há pouco. 

Mas, ao fazer zapping para ver se fugia, à pressa, eis que, sem aviso prévio, me aparece a diva Castelo-Branco a arrastar a sua Senhora Dona Lady, depois os convidados a dizerem o que levavam vestido e que presentes iam dar à menina Constança, neta do avô que estava aperaltado na versão gaja produzida para baptizados. E no estúdio, como comentador, o Bruno de Carvalho, esgargalado e sem meias, a falar na qualidade de músico, compositor, letrista, produtor, cantor, ou seja, ecléctico artista do mundo do espectáculo. Portanto, I rest my case. Ou seja, santa paciência: aos costumes digo nada.

E, assim sendo, com a vossa licença que, desde já, agradeço, passo a palavra a Takis S. Pappas que até usa bonequinhos para a gente perceber melhor. Útil. Dá para pôr legendas em português. 

The rise of modern populism


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Um dia feliz

Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, março 18, 2024

Despediu-se da vida o Poeta.
Mas nós, que ainda estamos vivos, não nos despedimos da sua poesia.

 

O que é a poesia? Poder-se-ia redigir como se fosse prosa e continuar a ser poesia? Tem a ver com a forma como se lê? As pausas, a melodia da ligação entre as palavras? Ou não, é poesia mesmo quando espera, silenciosamente, que alguém a leia? Ou o que a distingue da prosa são as ideias destiladas, marcadas pelo silêncio e pela intemporalidade?

Não sei.

Que venha alguém defini-la. Eu não sei.

Soube da morte de Nuno Júdice e fiquei abalada. Não sabia que estava doente. Li que morreu de cancro, no hospital. Quem morre assim, creio eu, morre sempre da mesma maneira: a debilidade a tomar conta do corpo, o tempo a esvair-se. Estaria provavelmente no corredor que quase me apetecia apelidar de corredor da morte, aquele em que já não se trata da cura mas, tão-só, do bem estar, do bem-estar possível, do alívio... Provavelmente a família passou pelo mesmo que eu, e provavelmente toda a gente que acompanha doentes nestas circunstâncias, querendo transmitir alguma esperança ou optimismo mas não sabendo como, pois estamos formatados para não mentir, muito menos aos nossos pais ou àqueles que amamos. E ele provavelmente a ver que os familiares queriam encontrar palavras de ânimo e a saber que essas palavras já não faziam falta.

Quando morre uma pessoa que está nessas circunstâncias, aqueles que os amam pensam: 'descansou', 'já não sofre mais'.

Terá acontecido também com ele. Descansou. E o descanso de um Poeta é sempre inegavelmente merecido pois, ao longo da vida, um Poeta semeia, planta, apara, oferece ao mundo poemas que são flores que não morrem, que para sempre acompanharão os que ainda cá estão e todos os outros que vierem a seguir.

Numa sexta-feira, dia 22 de agosto de 2008, pelas 10:26 da manhã, Nuno Júdice escolheu a imagem abaixo e publicou o poema "Domingo no campo". Escolho-o ao acaso entre tantos mas deixo o caminho para muitos outros: A a Z

E leio devagar, devagar, devagar.


Aos domingos, quando os sinos tocam

de manhã, o que neles se toca é a manhã,

e todas as manhãs que nessa manhã

se juntam, com os dias da infância que

nunca mais acabavam, as casas da aldeia

de portas abertas para quem passava,

as ruas de terra batida onde as carroças

traziam as coisas do campo, os cães que

corriam atrás delas, uma crença no sol

que parecia ter expulso todas as nuvens

do céu, e a eternidade desses domingos

que ficaram na memória, com o ressoar

dos sinos pelos campos para que todos

soubessem que era domingo, e não havia

domingo sem os sinos tocarem a lembrar,

a cada badalada, que os domingos não

são eternos, e que é preciso viver cada

domingo como se fosse o primeiro, para

que o toque dos sinos não dobre por

quem não sabe que é domingo.

posted by Nuno Júdice @ 10:36

domingo, março 17, 2024

Porque ele há coisas, há quem goste e quem não goste.
Veja-se o caso da colecção de arte dos Anderson

 

Como podemos pretender interpretar o que nos rodeia da mesma maneira se, perante uma mesma coisa, temos reacções tão diferentes?

Às vezes pasmo com comentários que recebo*. Posso estar, em meu entender, a ser obviamente irónica e logo me aparece alguém a interpretar tudo ao contrário e a achar que estou a gozar com maleitas alheias. Fico de boca aberta. Mas como? Não perceberam que o tom era de ironia? Serei tão pouco hábil na escrita? Terei que intercalar smiles para que percebam que é brincadeira? Ou quando ironizo sobre as adivinhas que se fazem em torno do desparecimento de alguém e há quem que se ache mais esperto que outros e, porque leu ou ouviu umas aqui e outras ali, já acha que sabe tudo e aparece como se estivesse a dar-me uma chazada por achar que mostrei não ter compreensão...? Fico de olhos arregalados. Mas como...? 

A nível político, então, é o pão nosso de cada dia. Digo uma coisa, interpretam o oposto e aparecem a mandar bocas. Gostam de tresler? Ou não sabem ler? Frequentemente é isto: eu acho que estou a dizer potato e logo alguém aparece a mandar vir porque acha que eu disse tomato

Coisas assim.

Fazer o quê?

Temos que aceitar que o mundo é diverso e que há lugar para todos. Portanto, aceitemos que, para alguns, falamos uma língua estrangeira ou aceitemos que, porque vivem uma vida diferente da nossa, nos acham, a nós, estrangeiros. Aceitemos.

É como na arte: no outro dia uma conhecida mostrava pinturas que acha excepcionais. E eu, atrapalhada, sem saber o que dizer. A mim parecia-me tudo tão básico, tão horrível. Jamais, mas jamais, seria capaz de pendurar uma coisa daquelas na minha casa. Não que não fosse uma espécie de reprodução realista de paisagens ou de retratos de pessoas a quem tivessem sido aplicados filtros de saturação de cores ou de contraste para ficar tudo absolutamente 'perfeito'... Só que, para mim, uma coisa do mais piroso que existe. Fiz uma ginástica do caraças para não deixar perceber que achava tudo aquilo detestável.

Em contrapartida, se mostro aquilo que a mim me agrada, é inevitável que alguém desate a rir como se aquilo até o filho ou o neto de cinco anos fosse capaz de fazer, e de olhos fechados. Como explicar que não gosto de coisas óbvias, que não gosto de coisas 'perfeitas'? 

Mas posso eu achar que o meu gosto é melhor que o gosto de quem gosta de coisas que acho um pavor...? Não posso.

Mesmo aqui nos blogues, há quem os tenha com letras de todo o tamanho e feitio -- umas inclinadas, outras a bold, umas pequenas, outras grandes, umas às cores, outras aos saltos -- e tudo intercalado com bonecada que, a mim, me parece básica e de mau gosto. E, no entanto, para os autores e para os amigos, aquilo deve ser o máximo. E, se calhar, é. Para eles, deve ser. É subjectivo, isto. Nada mais subjectivo que o gosto. Portanto, tudo certo. Não os frequento porque me incomoda o que a mim me parece mau gosto e, naturalmente, não vou lá 'mandar bocas'. Sou civilizada e respeito os outros e, daquilo de que não gosto, faço uma coisa muito simples: afasto-me.

Agora, confesso, faz-me confusão que haja quem viva bem consigo próprio ocupando o seu tempo a ser desagradável para os outros. Mas, enfim, é o que é. Há gente para tudo.

Também por isso é que os resultados das eleições são para mim, por vezes, algo difíceis de perceber. Porque é que há tanta gente que vota em partidos que defendem medidas que lhes vão ser prejudiciais? Ou porque é que, perante a responsabilidade de escolher pessoas que nos representem, haja quem as escolha apenas para desestabilizar e causar ruído? Não percebem o risco?

Tudo um pouco bizarro. Os antropólogos ou os sociólogos -- ou mesmo os filósofos (e, se calhar, também os psicólogos, nomeadamente os especializados em psicologia social) -- que estudem estes fenómenos.

Eu, por mim, limito-me a render-me às evidências.

Agora uma coisa vos conto: gostei imenso de ver este casal aqui abaixo. Fantásticos. O que eles têm escolhido, coisas tão 'fora da caixa', o que eles têm, tantas obras e tão interessantes... E a generosidade deles... E, no entanto, o que não deve faltar deve ser gente que ache que aquelas obras não valem nada... e que os gestos deles pouco valor têm...

Mas é o que é.

Convido-vos a ver. E espero que se maravilhem como eu me maravilhei.

Anderson Art Collection to Open at Stanford

A new Bay Area art museum will open its doors this fall at Stanford University to showcase a who's-who of American post-war greats, including a large sampling of modern California masters. The works are a gift from Bay Area collectors Harry and Mary Anderson. KQED Newsroom visited the Andersons in their home to see what it's like to live in a house full of masterpieces — and why they're sharing their acclaimed collection with the public.


Nota: Lá em cima (*) refiro-me a comentários que me deixam de tal forma estupefacta que nem os publico. Não gosto de ter conversa tóxica aqui a incomodar quem os lê.
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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Paciência. Paz.

sábado, março 16, 2024

Onde se fala das manhas do e-Balcão, de um arroz de salmão com mistura mexicana, das ceninhas que envolvem a Kate e demais realeza e dos desatinos do Marcelo

 

Não tenho muito para dizer nem sobre o que se passa no mundo nem, tão pouco, na minha simples e little vidinha.

Posso talvez dizer que começa a ser um padrão: faço uma exposição via e-Balcão e, no dia seguinte de manhã, ainda estou a acordar, liga-me um funcionário das Finanças. Sério. Uma vez mais. Aquilo da impugnação, que ele me tinha aconselhado, afinal não mereceu aprovação por parte dos colegas, ele acha que impugnação é que deveria ser mas não é ele que manda, e, portanto, arquivaram-na e deram o assunto por concluído. Mas já tinha visto que eu tinha mandado uma coisa via e-Balcão e iam responder, se calhar, indeferir mas que eu depois podia reclamar e aí a coisa já ia para um patamar acima e até pode ser que lá mais acima arranjem uma solução. Disse-me ele. Quando, mais tarde, vi a caixa do correio, lá estava um mail da AT dizendo que o assunto tinha sido concluído e que poderia saber como no Portal. Fui ao Portal. Lá estava: concluído. Abri para ver o pormenor: vão examinar e depois logo respondem. 

Espertos, eles. Em vez de colocarem em análise, que é o que, de facto, aparentemente está, até para alguém, lá do serviço, monitorizar quanto tempo os assuntos estão em análise, não senhor, ligam para a pessoa a dizer que vão ler o que mandaram e, mais rápidos que a própria sombra, dão o assunto por concluído. Não me parece lá muito bem.

Houve uma outra coisa que também não correu lá muito bem. Pensei que o tempo estava a levantar e insisti para que estendêssemos a roupa lá fora, no estendal a céu aberto. O meu marido achava que não, que ainda nos arriscávamos a que ficasse mais molhada do que estava ao sair da máquina. Não fui nisso, achei que com aquela pontinha de vento, quando chegássemos a casa, estaria ela seca.

E fomos caminhar. Como se costuma dizer: fui de corpinho bem feito. Nem chapéu de chuva nem impermeável. À fresca e na base da confiança. O meu marido foi mais prevenido. 

Ora bem. Quando estávamos no ponto mais longínquo do passeio desata a chover. Mas a chover... Cheguei a casa toda molhada. Eu e o cão. O meu marido tinha um impermeável, nem por isso. Mas a roupa, no estendal, pingava. Felizmente, o meu marido não me atirou com o tema à cara.

E todo o resto do santo dia foi assim, uma chuvinha contínua não tão forte mas maçadora, molha tolos.

Como não me apetece falar dos assuntos do dia, conto apenas como é que, à falta de melhor alternativa, fiz um arroz de salmão que calhou sair tão bom que comemos ambos mais do que devíamos.

Num tacho coloquei azeite. Cortei grosseiramente duas cebolas que lá coloquei, deixando fritar um pouco, não muito. Juntei salsa e coentros e fui envolvendo e frigindo. Depois juntei umas quatro cenouras médias às rodelas grossitas. Agora não descasco as cenouras, só lavo. Como não tinha tomates frescos, coloquei uma latinha das pequeninas de tomate inteiro. Envolvi, deixei que os sabores se misturassem. Juntei um bocado de água e um pouco de mistura mexicana congelada (tem cenoura, milho, feijões e mais não sei o quê). Misturei ainda quatro bolas de espinafres congeladas. Juntei uma folha de louro e uma haste de alecrim fresco. Juntei um pouco de sal e mais um bocado de água. Depois de levantar fervura, baixei. Ficou ali a cozinhar até perceber que a cenoura estava cozida. Nessa altura juntei água a ferver para, no conjunto ficar com sensivelmente o dobro da quantidade de arroz. E juntei o arroz. Misturei tudo e, por cima, coloquei três lombos de salmão. Juntei também uma maçã, com casca (mas sem o caroçal) aos cubinhos. Depois de levantar fervura, baixei. Quando o arroz ficou cozido, desliguei. Estava feito.

Dá para duas refeições, no mínimo. Se depois de comermos a segunda vez ainda sobrar um bocado de arroz, mexo ovos e, com salada, ficaremos bem.

Tirando isso, que mais?

Só se for para dizer que aquilo lá para os lados da Kate Middleton parece que está complicado. Depois da chatice da cirurgia misteriosa, dizem que aos intestinos, órgão plebeu por natureza, e depois das bocas dos internautas e da population em geral, agora publicou uma fotografia de família que as agências de imprensa mandaram retirar por ter sido mal engenhocada, obrigando a pobrezinha a fazer sair um comunicado a confessar-se amadora na manipulação de imagens, fazendo com que já se pergunte se a monarquia vai aguentar tanto mistério e tanta coisa destas.

O pobre do rei a fazer tratamentos por causa do cancro que se lhe descobriu, a Kate nestas alhadas, o William não se percebe se a tratar da mulher e dos filhos ou a encontrar-se com aquela que dizem ser a sua amante, e Camilla, sem estar para dar mais pão para malucos, foi passar férias a Espanha. Portanto há quem se interrogue se há alguém ao volante. Como se eles, os royals, fizessem alguma coisa para além de aparecerem e serem simpáticos. E eu, republicana até à medula, dou por mim a interrogar-me: é melhor isto ou um Marcelo que só faz o que lhe dá na bolha, aparentemente marimbando-se para a Constituição, para o decoro e para o bom senso?

E, pronto, nada mais tendo a declarar, vou pregar para outra freguesia.

Bom fds, malta.

sexta-feira, março 15, 2024

Por entre os meandros da insaciável máquina

 

Continuo ensarilhada com os meus temas burocráticos. Claro que sarilhos de barriga cheia são como aquilo da pimenta no cu dos outros. Acho eu. Estou com a cabeça desmiolada e já nem sei bem o significado das coisas.

O terreno, o célebre terreno do Algarve, tem-me dado bastante trabalho. Se não estivesse como estou, contava. É que é digno de ser contado. Até às sete e quarenta da noite me ligaram da Câmara de lá para me explicarem o que faltava no pedido que eu tinha feito. Eu que me tinha esmerado, que tinha tido uma trabalheira, afinal não tinha feito o que, para eles, era básico. E nessa noite, ao longo de horas, rabiei até conseguir entender-me com a ferramentaria geocomputacional e parir as plantas do bendito terreno, conforme a simpática senhora me tinha ensinado. Até a carta militar eu conseguir dar à luz.

Conclusão, estava eu hoje ainda na cama e já estavam a ligar-me para saber se a reunião agendada com o arquitecto podia ser com outro e ser já. Reunião? Antecipar a reunião? E eu na cama... Felizmente era por telefone. Ufff. Aceitei.

Isto tem várias peripécias pelo meio mas atalho: não dá para lá construir nada, metade está numa reserva de um certo tipo e a outra metade numa reserva ainda melhor. Portanto, estão a ver. Ao fim de mil anos, um terreno, que ainda se está para ver como pode vir para o nosso nome, e em que não dá para fazer nada... Coisa jeitosa.

Quanto à casa, continua a embrulhada. Na repartição sugeriram que, no portal, eu fizesse uma impugnação administrativa. Assim fiz. Todo um número. Esmerei-me, juntei comprovativos, um brinquinho. Fiquei com comprovativo. 

O tempo passava e nada. Fui lá ver. Pois bem. Arquivaram-na porque eu, ou alguém por mim, não fiz uma coisa qualquer que era suposta. Coisa essa que não faço ideia do que seja e que lá não explica. Arquivaram e bye bye. 

Uma impotência. A gente a querer resolver os imbróglios e nada, cabeça numa parede, cabeça noutra. Isto porque ando eu a querer resolver. Mas estou a começar a convencer-me que não devo conseguir. Provavelmente tem mesmo que ser um advogado ou um solicitador. Mas porquê, caraças?

Com aquilo do imposto de selo para comunicar às Finanças outra tourada. Sistema novo, pouco user friendly. Ligo para lá e cada um, simpatiquíssimos por sinal, diz sua coisa. Todos convergem: ninguém se entende com aquilo, mais vale fazer à antiga, ou pelo e-balcão ou presencial.

Lá me esmerei, lá imprimi impressos, preenchi, fotografei, reduzi a resolução, inseri tudo num único documento cuja dimensão em Mb é limitada, compus aquilo para ficar apresentável. Tudo um bocado trabalhoso. Muito expediente. Muita maçada. Ao menos a ver se resulta. Caraças.

No meio disto, uma pequena vitória. Há muito que imaginava um espelho grande aqui no exterior, mais propriamente no terraço. O meu marido revoltado com estes meus gostos que passam por ter que fazer uma coisa que odeia: furar paredes. Segundo ele, não é furar, é estragar paredes.

Uma luta.

Quando se convenceu, conseguiu ele uma vitória. A parede tem capoto e caixa de ar. Ou seja, a broca primeiro apanhou aquela coisa que parece esferovite, depois apanhou ar. Portanto, decretou: impossível.

Mas, como não sou de desistir, fui tentando arranjar soluções. E ele foi ficando mais calmo. Acertámo-nos: seria pendurado no tecto do telheiro, encostado à parede. Comprámos grandes camarões, comprámos umas correntes. Com uma escada encostada à parede, com uma broca gigante, lá tratou do assunto. Já está. Acho lindo, lindo, lindo. Reflecte o jardim, reflete a luz. 

Só espero que não caia pois é grande e pesado...

E, tirando estas coisas de nada, pouco mais tenho a relatar. Um dia destes logo conto da conversa com aquele amigo com quem estivemos e cuja actual companheira está parecida com a primeira mulher, deixando-me, assim de chofre, um bocado baralhada. Depois, já só eu e o meu marido, ao comentarmos, pensava o meu marido que esta era aquela por quem ele tinha deixado a mulher. Tinha-se esquecido que, a seguir a essa, ele tinha-a trocado por outra. Mas foi uma conversa animadíssima pois esse amigo continua como sempre foi, um divertido bon vivant que nada derruba, nem o cancro que teve lhe causou mossa. Joie de vivre é com ele. 

E, pronto, hoje fico-me por aqui que isto já não são horas. Lá está, como um Leitor ou Leitora ou Leitor@ me lembrou, isto da PDI é uma coisa tramada, uma pessoa chega a esta hora e já não atina.

Beijinhos e abraços para todos e o que eu estimo é o que eu desejo.

quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.

quarta-feira, março 13, 2024

Foi o Marcelo? Foi a Lucília? Foi a Comunicação Social...? Sim, foram eles todos.
Mas... e agora, o que fazer? Fazer coro com o Chega para deitar o governo da AD abaixo...?

 

O que eu digo, disse-o hoje António Costa. As legislaturas, em princípio, são para cumprir. Nesse sentido, não me parece que, a menos que a AD esteja a propor asneira da grossa, o PS se coloque ao lado do Chega para deitar o Governo abaixo. Se a AD estiver a executar o seu programa, para o qual supostamente terá legitimidade e, do que propõe, não houver consequências gravosas para o País, penso que é mais inteligente o PS abster-se do que andar feito baderneiro a votar contra só porque sim. O papel de chantagista e arruaceiro deve ser deixado para o Chega.

O PS deve portar-se com idoneidade, com inteligência, com respeito pelos cidadãos e percebendo que, em aspectos críticos e estruturantes, pode ser vantajoso para o País que haja, com o PSD/AD, pontualmente, pactos de regime.

Chamo ainda a atenção, e repito-me, para o facto de que o PSD está a herdar uma situação assaz confortável podendo fazer flores que agradarão ao eleitorado. Quem impeça o governo de as pôr em prática será forçosamente mal compreendido por grande parte da população. O PS pode e deve chamar a atenção para o que for pertinente mas, se as medidas estiverem no programa do Governo e não forem de lesa majestade, será preferível que se abstenha e as deixe passar.

Esta é a altura para a cabeça fria, para a inteligência racional. Repito: não é altura para revanchismos, para pensamentos regados a testosterona, para clubites ou ajustes de contas.

Esta é a altura para interiorizar que o primeiro milho é para os pardais. 

O Chega, se lhe dermos corda, vai mostrar, mesmo aos mais cegos, que é um bando de oportunistas, de vira-casacas, de gente impreparada, ressabiada, reaccionária, muitas vezes boçal. A população que votou neles precisa de perceber que votar em gente que diz uma coisa e o seu contrário, que promete tudo e um par de botas, e que assenta a sua actuação no princípio de que os 'outros' não prestam, vai acabar por perceber que a os do Chega não apenas fazem parte dos tais 'outros' como são do pior que a sociedade produz, são o verdadeiro rebotalho.

Outro aspecto: não é claro para mim que o PSD tenha mais votos que o PS no final da contagem mas é claro para mim que, se o PS formasse Governo, a AD, o Chega e o Presidente Marcelo não o deixariam governar.

E ainda outro aspecto: concordo que quem tramou tudo isto foi Marcelo. E foi o Ministério Público. Mas foi também a Comunicação Social. E foi a campanha massiva das redes sociais capitaneadas pelo Chega e pelos movimentos que o apoiam (e era bom que tal fosse investigado). E foi o movimento corrosivo dos professores, dos médicos, dos polícias, movimentos corporativistas, certamente infiltrados por gente que, cavalgando o legítimo descontentamento dos seus profissionais,  quer a baderna, a confusão.

E quando, lá em cima, me refiro a 'isto' refiro-me à instabilidade sistemática, explícita ou implícita, que os acima referidos foram instilando na opinião pública, refiro-me ao clima de suspeição malsã contra incertos (todos os 'poderosos', todos os 'políticos' em geral), refiro-me à maledicência generalizada, refiro-me à omissão pelos inquestionáveis bons resultados que os Governos de António Costa obtiveram apesar da conjuntura desgraçada.

Mas se houve um caldo social que criou a apetência, por parte dos eleitores, pelo voto num partido que é um saco de vento e de sound bites populistas e incendiárias, a verdade é que há, e isso há que humildemente aceitá-lo, um fundo real de justificação para que parte da população tenha votado no Chega e isso deve ser escalpelizado e estudado com objectividade.

Não valerá tanto a pena perder muito tempo com os ignorantes, os burros e os ressabiados crónicos, gente de todos os estratos sociais, já que são, na maioria, casos perdidos, mas vale a pena perceber os fenómenos de não inclusão, de marginalização, de grandes dificuldades que parte da população enfrenta bem como os casos de jovens que não valorizam a democracia e a liberdade nem o bem comum e que, acefalamente, vão atrás de quem mais parece um dirigente de uma claque futebolística. E compreender isso e avaliar a melhor forma de lidar com isso é trabalho a que o PS deve dedicar-se.

A Mortágua, toda sorrisos, esquecida do seu lado de justiceira castigadora e esquecida das vezes em que o Bloco se juntou a quem calhou para impedir o PS de governar ou para vetar orçamentos socialistas, agora anda a bandear-se para o lado do Pedro Nuno Santos, a querer conversinhas com a CDU, com o Livre e com o PAN. Espero bem que o PS a mande dar uma grande volta. Há que não esquecer que quem gosta do BE e da CDU vota neles e que, no conjunto, valem 7% dos eleitores. São, de facto, dois pequenos partidos, partidos de nicho. Não é com eles que o PS deve perder tempo.

O PS deve reorientar-se por si. Como aqui o tenho defendido, deve abrir-se à sociedade, perceber como melhor colher os reais anseios da população e como melhor comunicar com ela nesta era das redes sociais e da comunicação directa e em tempo real. Dos agentes políticos actuais, vejo, e repito-me, que seria proveitosa uma aproximação com o Livre.

Não tenho falado muito na AD que, aparentemente, vai formar Governo. Não sei o que vai sair dali, não sei quem vão ser os ministros, não sei se vai ter pernas para andar. Espero que não vá desencantar múmias, gente de má fama. Seja como for, se um eventual Governo AD for cumprir o programa com o qual ganharam os votos, é legítimo e democrático para quem está na oposição fazer uma política séria, construtiva e civilizada.

A par do Crescimento Económico e da Fiscalidade, temas basilares e centrais que tem inúmeras derivadas, há os temas emergentes. Os temas da Saúde, do Ensino ou da Segurança estão longe, muito longe de se extinguir nas questões sindicais: há temas de fundo, de organização, de modernização, de reformulação de práticas. E são temas que têm que ser agarrados de forma séria, racional, ponderada, urgente e, não menos importante, musculada. A AD terá as suas ideias e é bom que sejam válidas e, se o forem, que seja bem sucedida a implementá-las. Mas o PS, mesmo que na oposição, tem a obrigação de estar na linha da frente do estudo de soluções para tão graves problemas. O País saberá reconhecer quem se interessa pela resolução séria dos seus problemas.

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Podem tresler o que escrevi, podem acusar-me de tudo e mais alguma coisa mas já sabem que me dá igual. Penso pela minha cabeça e, perdoem-me a imodéstia, não me considero mentecapta. 

Pelo contrário, vê-se o resultado que conseguiram os que acham que o caminho é o da viragem à esquerda (ou seja, convergir com os 7% do eleitorado). E, quanto aos que acham que, a partir de agora, a actuação correcta é o bota-abaixo, em concorrência com o Chega, também acho que estão altamente equivocados. O Chega, afinal, também apenas obteve 18%. Há todos os outros eleitores que não vão nas cantigas e não se reveem nas práticas do Chega. 

Mas o tempo o dirá.

terça-feira, março 12, 2024

E agora? Que faremos com estes resultados...?

 

Em 2015, o Bloco e o PCP valiam 18,4% do eleitorado. Isso correspondeu a 36 deputados. Apesar de tudo, tinham uma expressão não negligenciável.

Agora valem apenas 7,7%. Menos de metade do que era naquela altura. Dizendo de outra maneira: mais de metade das pessoas que se reviam nas políticas do PCP e do Bloco mudaram de ideias, fartaram-se.

Ou seja, a esquerda que eles representavam é hoje marginal. 

Hoje são 9 deputados (num total de 230). Ou seja, na verdade são apenas 4% dos deputados da Assembleia. Sejamos objectivos: quase nada.

Isto significa que a sociedade tem vindo a cansar-se e a desiludir-se do que o PCP e o Bloco têm para oferecer.

O eleitorado privilegia agora outras coisas. 

O eleitorado deslocou-se para o centro. 

O PS perdeu também eleitorado para a direita.

Por isso, o PS deverá perceber que o eleitorado tem hoje outras aspirações, diferentes das de há uns anos. Hoje o eleitorado já não quer ver-se livre da austeridade, do láparo, dos vestígios do cavaco, naquela gente que vendia o país ao desbarato. 

A página foi virada e os problemas, reais ou percepcionados são outros. Hoje as pessoas querem estabilidade, qualidade nos serviços (educação, saúde, segurança), quer retorno do resultado do seu trabalho (melhores rendimentos e uma carga fiscal menos pesada), quer qualidade de vida. 

Por isso, sempre que a conversa for dirigida para o que era o eleitorado de esquerda em 2015 falhará o objectivo de cativar mais eleitorado.

Quanto ao Livre, penso que é diferente. Rui Tavares mostra-se europeísta, civilizado, uma esquerda 'moderna', não caciquista, não anquilosada, não justicialista. A população urbana, que dá valor á democracia, à liberdade, a causas humanitárias e ambientalistas, tende a rever-se no programa do Livre. Os eleitores do Livre, em meu entender, não vêm do Bloco ou do PCP mas sim do PS.

Por isso, aqui referi que teria sido inteligente se o PS e o Livre tivessem feito uma aliança pré eleitoral. Haveria menos votos perdidos por via do método Hondt.

Não o fizeram antes das eleições mas estão ainda a tempo de se aproximar e pensarem em conjunto o futuro.

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No rescaldo destas eleições antecipadas, o PSD/AD está a herdar uma situação fértil. O PS fez um trabalho fantástico (que o PS e Pedro Nuno Santos não souberam louvar e divulgar de forma eficiente). Hoje há dinheiro em caixa (o défice é mínimo ou inexistente), há dinheiro nos cofres (há uma almofada, ie, reservas), há dinheiro a cair (do PRR). Portanto, a AD tem margem para fazer as flores que quiser. Tem margem para pôr em prática medidas que vão impressionar muito favoravelmente parte do eleitorado tradicional do PS bem como muito do eleitorado do Chega. 

E pode, se assim o entender, pôr em prática as suas medidas eleitorais sem ter que submeter um Rectificativo a votos.

E, portanto, pode seguir até ao OE 25 sem grandes sobressaltos.

Mas, se a AD for antes a votos, à luz da leitura que hoje faço dos factos, eu, se fosse ao PS, apostaria na abstenção, deixando o Rectificativo passar. E isto porque se um Rectificativo chumbasse e se se entrasse numa crise com novas eleições ainda este ano, não vejo como é que o PS poderia melhorar os seus resultados pois parte do eleitorado, que sentia que iria ser beneficiado com as medidas da AD, penalizaria quem chumbasse esse Orçamento. 

O que o PS deve fazer agora é perceber como deve reorientar a sua estratégia. Para começar, deve ver-se livre do que ainda subsiste de aparelhismo, de assessores e da lógica ainda instalada dos jobs for the boys. E depois deve orientar-se para o que os eleitores realmente querem: estabilidade, qualidade de vida. Os mais jovens querem condições para ter filhos e para poder proporcionar-lhes uma boa vida. A população em geral quer segurança nas ruas e isso significa integração das populações mais marginais (imigrantes, nomeadamente), quer segurança a nível de saúde com Centros de Saúde e Hospitais funcionais, quer boas escolas e professores a cumprirem os horários, quer paz social.  Claro que os ordenados devem subir mas, para isso, o mundo laboral tem que deslocar-se para profissões mais especializadas, em que a produtividade seja significativa. E todos querem receber uma parte maior do que ganham já que hoje, em especial os que passam a ser um pouco mais que remediados, a carga fiscal é um peso que custa a aceitar. Se queremos que os que emigraram regressem e que os que estão a pensar sair não vão, temos que assegurar-lhes maior liquidez, seja por via de salários mais altos seja por um expressivo alívio na carga fiscal.

Depois há os pensionistas, uma fatia enorme de qualquer eleitorado. Aqui o que há a assegurar é que as pensões acompanham o crescimento da economia e que haverá igualmente um alívio fiscal. E, também aqui, que o SNS seja uma resposta efectiva às necessidades. Hoje é muito difícil. Em especial nos grandes meios urbanos, que são os que melhor conheço, é muito complicado. Dou o meu exemplo. Mudei de casa vai para quatro anos e não consegui mudar de médico de família pois, onde agora vivo, não há médicos de família disponíveis. Mas com o meu também não é fácil pois, se marcar hoje uma consulta, só tenho vaga para Junho. E não é um exemplo inventado, é a realidade. E um dia destes vou fazer exames. Se alguma coisa não estiver bem, tenho que esperar por Junho ou, em alternativa, ir às oito da manhã, ou antes, para arranjar vaga para o dia, podendo ser atendida por um qualquer médico. Se estiver com alguma coisa que requeira análises ou RX tenho que ir para as Urgências do Hospital sujeitar-me a longas horas. Sei pelo que passei diversas vezes com os meus pais. Como tinham seguro, por vezes fomos para o Privado e aí, claro, as condições são outras. Ora é indispensável reorganizar todo o SNS por forma a que a resposta do SNS seja equivalente à dos Privados. Se enfrentar horas de espera, estar estendido horas a fio em macas em corredores pejados de gente, em que a privacidade e a dignidade das pessoas é posta em causa, é muito mau para toda a gente, ainda é mais ingrato para pessoas frágeis, de idade.

E é também indispensável que se perceba que essa larga faixa eleitoral é composta por uma população felizmente a viver até cada vez mais tarde em que o pão nosso de cada dia são os problemas complicados. E, por isso, deve haver mais Unidades de Cuidados Continuados ou Paliativos e deve haver muito mais Residências assistidas, dignas, com qualidade, e a preço acessíveis. Hoje a oferta com alguma qualidade é caríssima (acima de 3.000€/mês, o que não está ao alcance da maioria da população). 

Para além disso, há as grandes questões de fundo: a demografia e as alterações climáticas.

Por isso, o PS tem muito em que pensar. Tem que se reorientar e tem que ter tempo para isso.

Não sou de clubites nem tenho testosterona a correr-me nas veias em vez de sangue. Penso com a cabeça e não com as hormonas. Quero paz e desenvolvimento e não guerra e ajustes de contas.

Assim, acho que é de deixar a AD fazer o que se propôs e para o qual recebeu os votos dos eleitores (e que se entendam ou deixem de se entender com o Chega). Ou seja, que não possam alegar que não podem satisfazer as aspirações dos eleitores por culpa do PS.

A política, em meu entender, requer políticos que, no dia a dia, pensem no melhor para os cidadãos, e no médio e longo prazo, no melhor para o País. Requer políticos que pensem sob diferentes perspectivas, que estudem as matérias, que planeiem as suas medidas e avaliem os seus impactos.

Com uma abertura ao futuro, com generosidade, com abnegação pessoal, com os pés na terra e com uma proximidade atenta aos cidadãos, será possível ao PS preparar-se para as próximas eleições.

Se souberem ser uma oposição ponderada, bem informada, bem intencionada, próxima das pessoas, serão reconhecidos.

É o que eu penso.

segunda-feira, março 11, 2024

E agora, PS? E agora, AD?

 

Disse-o aqui várias vezes: o PS deveria ter percebido que, depois da atitude traiçoeira dos antigos parceiros da geringonça e porque agora as circunstâncias não são as de 2015, o País não queria mais do mesmo. O País já não tem paciência para o Bloco e está farto das arruaças sindicais do PCP. Se, em vez de Pedro Nuno Santos, o líder do PS fosse José Luís Carneiro, a percepção do eleitorado teria sido diferente e, muito provavelmente, a esta hora outro galo cantaria.

Mas não vale a pena chorar sobre leite derramado.

Agora, a confirmar-se que os resultados serão o que se perspectiva, penso que a única atitude que respeita o espírito democrático é o PS garantir algum suporte a um governo da AD, quiçá AD+IL. Isto para que a AD não precise do Chega e para que haja um mínimo de estabilidade.

Mesmo que os resultados surpreendam e ainda venha o PS a ficar à frente, mesmo que à tangente, seria bom que a AD também desse o suporte para que haja governabilidade.

E quem votou no Chega rapidamente perceberá o tiro no próprio pé pois o Chega não tem quadros capacitados para o que lhes caiu no colo. Rapidamente se esfrangalhará pois gente desqualificada que se alimenta da baderna não é gente que se aguente em lugares de alguma responsabilidade.

Quanto a Marcelo, depois do que escrevi abaixo, só consigo dizer: shame on you!

E agora, Marcelo?

 

Estará contente com o lindo resultado da sua iniciativa de dissolver a maioria absoluta...?

Estará contente por ficar associado a esta ascensão de um partido populista, xenófobo, trauliteiro, anti-democrático?

Estará contente com a instabilidade que semeou no País?

Não terá vontade de se demitir?

(Face aos resultados e depois do que tem feito e tem dito, sempre quero ver o que vai fazer ou o que vai deixar fazer.)

domingo, março 10, 2024

Dia de não-reflexão... Antes, dia de sentimentos profundos

 

Dia efectivamente mais calmo. E muito bom. Almoçámos juntos num restaurante familiar, muito agradável, com comidinha boa. Comi um prato de que gosto imenso e que já não papava há que tempos: pescadinhas fritas de rabo na boca com arroz de tomate. Que bem me soube. 

Depois fizemos um pequeno passeio a pé que teve que ser encurtado pois desatou  a chover e... imagine-se: tínhamo-nos todos esquecido dos chapéus de chuva no restaurante. Portanto, voltámos lá e seguimos para casa do meu filho.

Os rapazes jogaram futebol na PlayStation e depois futebol a sério no corredor com uma bola mole (sendo que, aqui, já não foram só os rapazes pequenos que se digladiaram com o esférico como pretexto). Entretanto, a minha filha tinha ido comprar cenas com a sobrinha que, quando chegou, vinha radiante: um gloss com sabor a cereja, um gloss que refresca e faz efeito de plump up (ou lá como se chama) nos lábios e, ainda, um rímel transparente. 

E ainda houve lanche: a minha filha tinha levado uns biscoitos e a minha nora fez um delicioso bolo de laranja.

E, da horta, ainda trouxemos couves e brócolos que este domingo já marcharão com bacalhau com batatas. 

Portanto, uma tarde daquelas de que eu estava completamente a precisar. Cheguei a casa muito retemperada, mais leve, a cabeça mais descansada. E a caminhada feita depois, com o dog, ao frio e à chuva, só fez ainda melhor. 

Não reflecti nada a nível de eleições pois a minha decisão está tomada ab initio. Só espero é que a malta vá votar e, já agora, que vote com a cabeça e não com os pés.

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Entretanto, enquanto vejo a votação para o Festival da Canção (em que a Filomena Cautela ou está grávida ou está atrapalhada dos intestinos pois não tira a mão da barriga), vou partilhar um vídeo que vi há pouco e que me agradou bastante. Calma, tranquilidade, amor à natureza.

Feeling deeply

That’s what the world tells us. There's been a movement to watch our thoughts and feelings, making sure that we're positive at all times. We receive messages that we must shift these ‘bad’ feelings and find better ones. But when we do this, we close down and shut off parts of ourselves, suppressing the fullness of our emotions. To feel whole and be whole, we must honour all of it - good and bad.  All emotions are beautiful and create a fullness and wholeness in our experience.  

They are powerful forces that our bodies can use as fuel for action and healing. Our thoughts create reality, not the other way around. So when our reality doesn't look the way we want it to and brings up emotions that are unpleasant to us, that is the message we are being given to start building a bridge between what is and what can be. 

Taking time to be aware of our reactions, thoughts and emotions will bring us into a space of clarity and balance where we can make informed decisions guided and supported by our soul... decisions that will usher in release and healing for ourselves and all of life around us.

Featuring Phoebe Barnard (www.phoebebarnard.com)

Filmed in Mount Vernon, Washington State, USA.

The poem read at the start of this film is called 'The Peace of Wild Things' - by Wendell Berry.


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Um belo dia de domingo

Saúde. Boa sorte. Paz.

sábado, março 09, 2024

Não me parece nada bem que a Fonte de Belém e a Manuela Ferreira Leite tenham tentado estragar-me a paz in heavem

 

A vida no campo adoça-me as arestas e traz-me algum do oxigénio de que ando bem necessitada.

Têm sido tempos de stress e esforço, mesmo físico, em contínuo desde há vários meses. Depois de meses sem perceber o que é que a minha mãe tinha, convicta de que era um caso agudo de hipocondria, convencendo-a a voltar a ter seguimento psicológico, insistindo até mais não poder, até à exaustão, a que tomasse os medicamentos para o coração, a descontrair e a não pensar em doenças e sintomas, caiu-me em cima uma primeira bomba de que, afinal, de súbito, sem aviso prévio, tinha entrado numa fase terminal e a segunda bomba de que, afinal, isso não era do seu desconhecimento, que tinha exames e estava avisada pela médica, e que, sabe-se lá porquê, tinha resolvido ocultar a doença grave e fazer de conta que não sabia o que tinha. E, aqui chegados, foi aquele mês e tal em que a morte avançou sobre ela de forma galopante, estando ela lúcida e, notoriamente, não preparada para aceitar a situação pois queria viver ainda por muito mais anos. 

Claro que, a seguir, após o doloroso desfecho, poderia ter ido enfiar-me no campo, descansar a cabeça, não ter agora andar neste afã de 'limpar' a casa mas, sei lá eu porquê, parece que tive esta necessidade de não abrandar, de não deixar a casa 'ao abandono', de não querer trazer na mente, em background, a ideia de que tinha este trabalho pesado para fazer, 

Portanto, sem descanso, tenho andado a esgotar-me, revirando o conteúdo de gavetas e prateleiras e caixas e roupeiros e malas e sacos, tentando salvar o máximo de coisas -- com o meu marido e os meus filhos sem quererem quase nada, ou nada mesmo --, e a dar voltas à cabeça para ver como hei-de conseguir absorver o máximo de coisas sem ficar com a casa atravancada, desvirtuada.

Por exemplo, no outro dia, quando a minha filha lá deu um salto, tínhamos que dar destino ao faqueiro melhor, o que estava na sala de jantar. Há outro na cozinha, digamos para uso corrente, que lá ficou. Mas este era o que usava quando lá estávamos todos ou, depois de a minha mãe ter deixado de dar aulas, para os lanches com as amigas. Sendo um faqueiro bom e o faqueiro usado quando a família estava reunida, custava-me dá-lo. Pareceu-me que a minha filha estava receptiva a levá-lo para sua casa. Afinal, não, guardou-o mas era para eu o trazer.

Fiquei mesmo sem saber onde colocá-lo. Pensei que só se fosse no campo. Portanto, para lá foi. Hoje estive a guardá-lo. No gavetão grande do aparador, havia um espaço em que talvez pudesse ser. Não poderia estar naqueles tabuleiros com divisórias pois os tabuleiros não caberiam no espaço livre. Coloquei um dos milhares de paninhos com rendinhas no fundo da gaveta, no espaço livre. E comecei a arrumar por espécie: colheres, garfos e facas de sobremesa, colheres de sopa, facas e garfos de carne, facas e garfos de peixe, colheres de chá, colheres de café. Depois mais uma dúzia de garfinhos para entradas e mais daqueles mínimos para amuse bouche. E até me parecia que ia caber tudo. As colheres grandes, para servir, incluindo a concha de sopa, tiveram que ir para a gaveta de cozinha que tem disso. 

Claro que, ao arrumar, me pareceu que não estava a dúzia completa de cada coisa e estava a dar graças por se terem tresmalhado tantas peças. Mas, para minha neura, quando fui arrumar o saco grande onde tinha vindo o faqueiro, senti-o bastante pesado. Havia lá uns plásticos de bolhas onde a minha filha tinha embrulhado peças de vidro. E, por baixo desses plásticos, estavam mais carradas de peças. Cá para mim a minha mãe comprava doze peças de cada mais umas quantas de reserva. A ginástica que tive que fazer para conseguir arrumar o que faltava sem ficar tudo ao monte só eu sei. Às tantas já estou num desespero, sem saber onde guardar tanta coisa de que não tenho falta e já só me apetece ou deitar coisas fora ou guardá-las a esmo.

De qualquer forma, pelo menos na minha cabeça, a parte mais complexa e pesada já está quase. Pelo menos acho que as coisas de mais valor, material ou estimativo, já foram retiradas de lá. Claro que ainda há o tema das mobílias e do muito que ainda lá está. Mas quero acreditar que isso se haverá de resolver.

Enfim. 

Acho que agora vou tentar intervalar. Preciso mesmo, mesmo. 

Claro que ainda tenho que tratar do imposto de selo com a documentação inerente, depois é o averbamento, depois a conservatória, etc. Do primeiro ainda tenho quase dois meses para tratar e do resto acho que não há grande urgência. Claro que também ainda há que regularizar a trapalhada da propriedade horizontal e mais não sei o quê e, já agora, também do terreno do Algarve que, felizmente, já comprovámos que, nas Finanças, está em nome do meu avô. Menos mal.

Com isto e mais um conjunto de outras coisas, só vi televisão à noite. E nem queria acreditar no que a Manuela Ferreira Leite tinha dito. Uma vergonha. Uma náusea. A todos os títulos, evitável. Diria mesmo: constrangedor. Nem queria acreditar, também, na ingerência da so called Fonte de Belém na campanha, uma coisa indecorosa, sem perdão. 

É o mal de gente daquele calibre. Ressabiados, descontrolados, sem princípios...? O que é isto?A sério que nem sei o que ache de comportamentos assim. Parece que, para eles, vale tudo. Ninguém pode estar descansado com gente assim por perto, essa é que é essa.

Mas hoje quero dar descanso à minha beleza e à minha saúde, preciso de manter a calma. Não vou perder tempo com o que só faz mal. Vou, isso sim, respirar fundo, aspirar o ar fresco e lavado. 

É verdade: pelos vossos lados também choveu como pelos meus? Puxa... Uma chuva pegada, intensa. Eu a querer andar a fotografar os maravilhosos verdes, as lindas flores, a primavera que já mal consegue aguentar, doida para aparecer, escandalosamente revigorada, e a chuva que não dava tréguas...

E que precisados andávamos de boa agüinha assim... Fico mesmo contente. Só tenho pena de não ter uma cisterna para a aproveitar. De futuro, cada edifício que se construísse (prédio ou moradia) deveria ter reservatório para água da chuva. Não acham?

Tirando isso, a ver se retomo a leitura e a escrita. Idealmente até conseguiria dormir umas sestazinhas depois de almoço mas isso já é capaz de ser pedir muito. Ou isso ou ir passear. 

É verdade, este sábado é para a malta não pensar em nada, não é? 

(Ou é o oposto: é para pensar?)

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Um dia bom

Saúde. Tranquilidade. Paz.

sexta-feira, março 08, 2024

O mistério da lembrança de tempos felizes

 

Tenho estado a tentar decifrar documentos antigos, imagino que bué antigos, mas em que não encontro nem nomes nem datas nem locais. Se, pelo menos, tivesse os envelopes talvez conseguisse ter alguma pista. Assim, zero. 

Neste caso, o papel usado é espesso e tem marcas que apenas são visíveis em contraluz. Vejo distintamente THOMAR. Se calhar é a marca do papel. Dá ideia que a folha que agora estou a ver foi cortada, não obedecendo a medidas standard. Numa parte do papel, na margem (digamos assim mas que, na prática, se trata apenas da zona em que o papel foi cortado), leio ASSO. Ou seja, deduzo que seja papel de almasso, escrito assim, na grafia antiga. Vejo também um símbolo que deve ser o logotipo.

Pela semelhança com outros de que me lembro de ouvir a minha mãe dizer que eram coisas que vinham da avó dela (minha bisa), o que foi descoberto na quarta-feira pode ser uma de duas: ou poemas que o filho, anarquista deportado, lhe enviava ou parte integrante da correspondência entre ela e os primos. Mas posso estar enganada, pode até ser coisa mais antiga. Não faço ideia.

Quem escreveu, dobrou o papel em três na vertical, mantendo as partes unidas. Ficaram, pois, seis 'tiras' verticais.

Mostro duas dessas 'tiras':



Gostava de saber quem escreveu estes poemas, a quem os enviou, quando, onde. Não percebo porque é que nunca na minha família ninguém deu importância a estas memórias e só agora eu esteja a tomar conhecimento de tudo isto. Só que agora todos os que me poderiam elucidar já morreram. Foram-se todos, várias gerações de permeio, ramos da família que caminharam para o desconhecimento mútuo. E, no entanto, estas folhinhas sobreviveram, estão aqui na minha mão.

Aquela velha questão do sentido da vida dá uma volta sobre si própria quando a gente pensa no des-sentido de tudo quando se constata quão efémeras são as pessoas e quão duradouras são as suas palavras escritas.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Poesia. Paz.

Tal e qual: Abuso de poder qualificado

 

Fala quem sabe. Percebe quem quiser.


quinta-feira, março 07, 2024

E a luta continua...

 




Hoje a labuta em casa da minha mãe foi muito produtiva. Apesar de ter estado pouco tempo pois foi lá ter connosco numa corrida junto à hora de almoço, a minha filha deu uma ajuda considerável. Grande parte das gavetas e das prateleiras dos armários já está com muito pouco ou nada.

Ainda há conjuntos de copos que lá permanecem: os meus filhos não querem, eu já não tenho onde pôr e o meu marido recusa-se a transportar. 

E a cozinha está ainda com tudo. E a despensa continua com muita coisa. E nos roupeiros e cómodas ainda há roupas de vestir, de cama, de banho. O roupeiro que está no pequeno hall junto à casa de banho está ainda compacto de coisas até acima (e o roupeiro vai até ao tecto): cobertores, turcos, lençóis. 

A solução para tudo isso será a mesma que encontrarmos para os móveis. Tenho muita pena dos móveis, alguns muito bonitos, mas não há qualquer possibilidade de os aproveitarmos, são muito grandes e não cabem em lado nenhum.

Já deitámos fora muitas dezenas de sacos de lixo. Muitos papéis, muitos, muitos, e muitas revistas, muitas (de decoração, de tricot, de crochet, de saúde e nutricionismo, etc) e muitos exames médicos. Isso deitamos nós directamente para o lixo. 

E a senhora que cuidou do meu pai e que continuou a ir ver a minha mãe e que continuo a contratar para zelar pela casa tem sido incansável. De cada vez que lá vou, deixo as camas cheias com pilhas de coisas que penso que são boas e mal empregadas para deitar fora. A primeira escolha é dela e terá já, certamente, aproveitado muitas coisas. Para aquilo que ela não quer, chama uma senhora amiga dela que lá vai ajudá-la a fazer uma segunda triagem, levando a seguir para uma senhora que, segundo me dizem, leva para a família ou para conhecidos carenciados que vivem no Alentejo.

Tínhamos lá um bico de obra que era o cadeirão com motor eléctrico que se reclinava até ficar quase como cama e que se punha para cima para ajudar no levante. Tínhamos comprado para o meu pai a seguir ao AVC que o usou durante vários anos até que, um dia, ao cair no corredor, partiu uma perna e nunca mais conseguiu recuperar, ficando acamado desde aí. O motor estava óptimo mas, ao contrário do que pensávamos, o cadeirão não era de pele mas sim de um material sintético que, de início, a imitava muito bem. O pior foi o que aconteceu com o desgaste, ficou em mau estado, todo estalado e feio. A minha mãe tinha posto uma coberta em cima e, não se vendo, parecia bem. Mas não estava. Era nesse cadeirão que, sendo muito confortável e não tendo como ser facilmente removido, a minha mãe passou a sentar-se para ler ou para fazer tricot ou crochet. 

Mas sabíamos que, por baixo da coberta, estava feio. Só que era tão pesado, tão pesado, que não se via como movimentá-lo. Tinha entrado pela janela e tinha sido uma odisseia para o conseguirem levar até lá. Pois bem: hoje o meu marido desmanchou-o todo. Todo. E, portanto, assim desmanchado, foi levado até junto dos contentores, onde a Câmara o levará para os monos. Mas, pouco depois de o meu marido lá o ter posto, quando levou mais uma série de sacos para o lixo, disse que tudo o que era ferro já tinha voado.

E a minha filha levou mais algumas coisas, mas poucas. Não tem onde pôr e não quer encher a casa com coisas que ou não ficam lá bem ou não cabem. Faz bem. 

E nós trouxemos mais uns quantos sacos grandes. Mais sacos que tenho que esvaziar, arrumando tudo o que lá está dentro. Um exercício de criatividade e logística (e paciência). 

E trouxemos um espelho muito grande que veio no carro da minha filha pois não cabia no nosso. Já tenho a casa cheia de espelhos mas o que está sobre o sofá desta sala é ligeiramente mais pequeno do que devia (135 x 80). Este tem 150 por 90 cm e uma moldura mais larga. Acho que vai ficar muito bem. E este que está agora aqui irá ser posto na vertical no hall da suite.


E trouxe um outro que fez com que o meu marido quase se passasse (aliás, ele anda já totalmente passado com esta labuta que parece que não tem fim...). Era o espelho que estava no que era o meu quarto em solteira, espelho em que, na adolescência, muito me olhei. E é o espelho que aparece naquelas fotografias do dia do casamento. Apesar do fotógrafo ser um colega da faculdade, lembro-me de dizermos: 'Espera lá, é costume a noiva ver-se ao espelho...'. E ali estou eu, em duplicado, eu e a minha imagem, com o espelho de permeio. A minha filha também achou que o espelho era icónico, que era pena não ser aproveitado. Portanto, veio. É recortado, tem um feitio bonito. Mas é de madeira escura. Se calhar, vou pintá-lo e pô-lo numa parede da sala in heaven onde já tenho quatro de diferentes feitios e tamanhos.

E encontrámos mais algumas pequenas preciosidades. Entre elas, uma redacção que fiz com 12 anos. Quatro páginas de redacção. Lembro-me de me darem o mote e eu, instantaneamente, desatar a escrever, a escrever, a escrever quase até tocar a campainha e ter que acabar. Lembro-me que, enquanto isso, alguns dos meus colegas olhavam para o tecto ou em volta sem saber o que escrever. São coisas que nascem com a gente. Em contrapartida, íamos para o laboratório de electricidade e uns montavam circuitos, inventavam aparelhómetros e sei lá que mais e eu nem pó, olhava para eles sem perceber como sabiam mexer tão agilmente em tudo aquilo.

E encontrámos mais uma folha escrita, creio que deve ser mais uma daquelas cartas do início do século passado dos primos algarvios dirigida à minha bisavó, quiçá do primo presidente, nunca se sabe. Como eram cartas entre primos ou não assinavam ou escreviam apenas as iniciais (mas como era escrito a caneta de aparo, numa letra muito desenhada, em papel fininho, mais de metade eu não consigo perceber. Digo que as cartas são deles pois, quando a minha avó morreu, a minha mãe achou a caixa com aquelas cartas e lembrou-se que a mãe dizia que era correspondência entre a mãe e os primos, creio que os da Mexilhoeira Grande.

Bem. A nível de pertences pessoais de algum valor, material ou, sobretudo, estimativo, creio que já veio tudo ou quase tudo.

A menos que no sótão surjam novidades. O meu marido só lá foi espreitar e nem quis aventurar-se. Diz que está cheio. Diz que deve haver móveis pois está muita coisa coberta. Não faço ideia do que seja, há muito tempo que não ponho lá os pés. A escada é um bocado íngreme demais para a minha sensível alma que padece de vertigens.

À noite, saturados, fomos esticar as pernas até à praia. Estava um ventinho gelado. Mas, apesar de tudo, soube bem. Fotografei uma árvore pois as árvores, ainda mais se nuas, são muito bonitas à noite. E fotografei uma bandeira de Portugal que, não sei porquê, alguém ali pôs. Não percebi mas achei bonito.

Só vi um pouco de televisão: Maryland. Muito bom, na RTP 2. A ver se amanhã e depois não me esqueço de ver. Depois também vi o comentário do Luís Paixão Martins, hoje não tão interessante como ontem. Devia ter mais tempo para melhor nos surpreender com a sua argúcia e descontração natural. O pobre Calafate bem quer ombrear com ele mas ainda terá que dar muito ao pedal e comer muito pão com azeitonas para conseguir chegar aos calcanhares do LPM. Mas, enfim, é o que é.

 E, portanto, dito isto, está tudo dito por hoje.

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Um dia feliz

Saúde. Boa disposição. Paz.

quarta-feira, março 06, 2024

A minha escolha no dia 10 + Declaração de voto

 

Como gosto de me pôr à prova e tenho dificuldade em virar costas a um quizz ou a testes que me digam o que eu penso, experimentei as dating apps que os jornais disponibilizaram para podermos validar quais os partidos ou os líderes com que mais nos identificamos.

Muito consistentemente deu-me o que me costuma dar: em primeiro lugar o PS, em segundo o Livre. Cá bem em baixo, aqueles com que não tenho nada a ver como o Chega ou o PCP. Bate certo.

Dito isto, considero que a campanha do PS parece que ainda não percebeu que, para ganhar, tem que ir buscar votos a quem está a pensar votar na AD ou a quem, estando hesitante, não está muito convencido a votar no PS. Ou seja, tem que perceber as dúvidas ou os anseios da classe média que não se revê em políticas muito encostadas à esquerda. Como escrevi aqui no outro dia, o PS não tem que falar para quem gosta do PCP ou do Bloco pois esses vão votar no PCP ou no Bloco. Não é com esses que o PS tem que se preocupar. Tem que se preocupar com aqueles que, nas últimas legislativas, votaram no PS (com António Costa) e que agora estão preocupadas com receio que o Pedro Nuno Santos dê ouvidos ao Bloco e ao PCP, nomeadamente, com aqueles para quem a conversa da AD de redução de impostos é música para os seus ouvidos.

Apesar de eu compreender as dúvidas desses hesitantes ou de preferir e um PS mais social-democrata e mais virado para a frente, mais aberto às grandes questões do mundo, e, em contrapartida, menos agarrado às reivindicações corporativistas de várias classes profissionais, considero que, face às reais alternativas, o PS é a melhor aposta, a mais segura, a que me dá mais confiança, a mim e ao País. Apesar de votar onde poderia eleger deputados do Livre, não quero arriscar. O meu voto é consciente e é útil.

Jamais daria o meu voto a quem pode colocar em risco a democracia, a liberdade, os avanços sociais que já foram conseguidas, a aventureiros, a populistas, a gente desqualificada ou traiçoeira.

E agora, esperando que não levem a mal, vou importar para aqui as declarações de voto de duas pessoas cuja opinião prezo.

Da declaração de voto do Rui Bebiano (A minha escolha no dia 10):

O meu voto sempre esteve, no momento da decisão, associado à pluralidade da representação da esquerda e à escolha de políticas baseadas nos valores que esta fundamentalmente partilha. A saber, para mim e para tantas outras pessoas: a defesa da democracia e da liberdade, a promoção da justiça social e de um desenvolvimento material harmonioso, a propagação do bem-estar, da saúde e da educação, o progresso da cultura, a defesa dos direitos humanos e do relacionamento pacífico entre povos. Sempre ancorados no papel imprescindível, ainda que infinitamente em construção e aperfeiçoamento, do Estado-Providência. É este, na essência, o sentido da minha escolha no momento de votar. E é também esta a razão pela qual, com o gesto, procuro contribuir para afastar a direita, a extrema e a dita «moderada», que são o contrário de tudo isso.

Direto agora ao assunto apontado no título. O partido cujo programa, apesar de algumas pequenas discordâncias, está mais próximo das minhas convicções – a defesa integrada de universalismo, liberdade, igualdade, solidariedade, socialismo, ecologia e europeísmo – é o Livre. Todavia, sei que, no presente contexto e com a atual lei eleitoral, em muitos distritos levará a votos perdidos; assim, se votasse em Lisboa, Porto, Braga ou Setúbal, onde pode eleger, votaria no Livre, mas não sendo o caso, votarei sem hesitar no Partido Socialista. Este é o partido de esquerda mais forte e aglutinador, que pode impedir o regresso da direita e tem condições para governar. Mesmo discordando de algumas das suas escolhas e personalidades, creio ser a solução possível, de preferência em convergência à esquerda. Tendo simpatia por escolhas e por pessoas do Bloco de Esquerda, que por muitos anos apoiei, reconhecendo o seu importante papel, temo o seu desequilibrado sentido institucional, bem como algumas das suas prioridades no combate político, mas representará sempre uma opção progressista e combativa.

Nas últimas eleições sugeri o voto em qualquer dos partidos da esquerda, mas reduzo agora o leque, pois dois deles perderam a escassa confiança que neles ainda tinha. Um é PAN, sem coerência para além das suas causas pontuais, pactuando com diferentes campos sem uma orientação clara, desde que da escolha resulte a participação num quinhão de poder. Outro é o PCP – o PEV é, de facto, um partido sem vida própria – que, apesar da sua respeitável história e das muitas pessoas honradas que sem dúvida inclui, continua a revelar-se defensor de ditaduras, como as da China, da Coreia do Norte ou de Cuba, e de regimes autoritários, como o da Venezuela, o da Síria e o da Rússia neoimperialista. Ao mesmo tempo, tem pactuado com a invasão da Ucrânia, em nome de uma «paz podre», tem sido sempre anti-União Europeia, e, além de conservador no plano dos costumes, tem-se batido contra causas justas e urgentes, como a defesa da morte assistida ou o fim das touradas. Quem considere isto irrelevante, que me ignore.

A minha escolha é esta e a ela não voltarei até ao dia das eleições.


Da declaração de voto do Valupi:

(...) O meu voto no PS é paradoxal. Considero que esse partido suporta isolado a coesão da comunidade, ligando as carências de pobres, remediados e ricos em políticas que não ambicionam a revolução nem a perfeição. A história do PS como partido de poder confunde-se com a história da democracia como regime da inclusão e do desenvolvimento pragmático, realista, consequente. E estes predicados são os mesmos que me levam a considerar o PS como o principal responsável pela perigosíssima, e já trágica, disfunção dos órgãos de Justiça, Ministério Público como corporação e certos juízes incluídos.

No PS não existem respostas para essa crise do poder judicial tomado pelo justicialismo e cometendo crimes sistemáticos. Não existe sequer um discurso que permita ter esperança a respeito. Restam as pessoas a dar o seu melhor, confusas e assustadas com os poderes fácticos em acção. Sendo demasiado pouco, é nesta circunstância infinitamente melhor do que nada.

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Um dia bom

Saúde. Pés na terra. Paz.

terça-feira, março 05, 2024

Em dia de ida a dois médicos, algumas conclusões
(e, a despropósito, pessoas que não existem e outras cenas de AI que são de um outro mundo)

 


Devido àquela bizarra situação que fez com que activassem o protocolo dos enfartes, chamassem o INEM, me enfiassem numa ambulância que me levou para as Urgências, lá chegada me tivessem levado, de cadeira de rodas, para a Reanimação e me tivessem feito lá estar até ao princípio da tarde do dia seguinte, agora uma vez por ano tenho que ir ao Cardiologista.

Era para ser no fim do ano passado. No fim do verão liguei para marcar a consulta (num hospital privado). Como afinal a escassez de médicos parece ser geral e não apenas no SNS, só consegui consulta para hoje. 

Entretanto, estando reformados e querendo começar a ir ao médico de família, depois de uma primeira consulta creio que no fim do verão e tendo ele mandado fazer alguns exames, tentámos marcar consulta para o fim do ano. Debalde. Fomos tentando. Debalde. Até que, finalmente, lá nos ligaram a propr uma data. Ora bem. Qual data? Pois. Justamente, também hoje. Com duas horas de intervalo e vários quilómetros e muito trânsito de permeio. 

Ou seja, cheguei a uma das consultas à tangente. Aliás, um pouco atrasada.

Primeira conclusão

Na sala de espera do Centro de Saúde, no espaço da Saúde Infantil, todas as crianças que vi, todas, eram filhas de imigrantes. Várias. 

Uma alegria. Já que os portugueses de gema não se reproduzem, ainda bem que os imigrantes o fazem. Só desejo que sejam felizes por cá, que por cá fiquem, que por cá trabalhem, que por cá efectuem os seus descontos. 

Portugal só tem a ganhar com esta situação.

Segunda conclusão

O carro tinha ficado estacionado no parque de uma superfície comercial. Quando lá fomos buscá-lo assistimos a uma grande confusão, muitos gritos, muito barulho, grande correria. Um rapaz tinha sido agarrado pelos Seguranças, gritava como um capado, e, ao correr tinha derrubado várias pessoas e várias coisas. O rapaz era português. Ou seja, se houve aqui um episódio que deixa as pessoas inseguras, ele não causado por nenhum migrante.

Terceira conclusão

O trânsito das cidades continua intenso e para quem, como eu, vive geralmente afastada da confusão, isto já fere, e muito, a minha qualidade de vida. A sociedade, no seu conjunto, deveria zelar por retirar stress ao movimento nas cidades. Mais transportes públicos, muito mais teletrabalho, horários mais desencontrados, quiçá horários mais leves... Muito deve ser feito para retirar trânsito e confusão das ruas. Ainda por cima, apanhei um grande acidente, muitos carros completamente espatifados, polícias. E, noutro ponto, muito trânsito resultante de um outro acidente. É o resultado do stress, tantos acidentes. 

E não continuo com as conclusões porque ou paro já ou continuo até amanhã de manhã

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E, para além disso, continuo às voltas com os temas burocráticos em torno de cenas que deveriam ser simples mas que, para mim, são chinês em estado puro. Volta e meia concedo-me uma pausa nestas coisas pois parece que fico bloqueada. Mas vou ter que voltar a tratar disto. 

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E aqui chegada acho que devo partilhar um vídeo do Guardian que me põe doida, que me faz apetecer hibernar, que me dá volta ao miolo.

How AI creators cement outdated beauty standards

Images created by AI are getting exponentially better, to the point where many people are unable to separate them from the real thing.

As this technology continues to develop, challenges to our perception of what is real are immense, and our trust in what we are seeing is eroded. These fake people are already changing industries such as modelling and marketing, but can they offer a more diverse reflection of humanity than has historically been available - or are they destined to reflect the narrow standards of beauty these industries have long been drawn to?


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Sobre a fotografia lá acima, em minha opinião, muitto linda, retirada do GuardianA photograph by Melbourne artist Atong Atem, ‘Adut and Bigoa, 2015’ which will show at the NGV as part of a local component of Africa Fashion, an exhibit travelling to Australia from London’s V&A. Photograph: Courtesy Mars Gallery, Melbourne

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Um dia feliz

Saúde. Leveza. Paz.