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segunda-feira, abril 08, 2024

Donostia

 


De todas as vezes que estive no País Basco sinto-me encantada e com vontade de regressar com mais tempo. Tenho ideia que este enamoramento vem do tempo em que lia os livros da Menina Aguaceiro da Berthe Bernage e em que pelo menos uma da história se passa lá. Não sei se os avós dela eram bascos e ela ia lá visitá-los pelas férias ou se sonhei. Já tentei pesquisar na net para ver se confirmo a minha ideia mas não encontro. Acho que esses livros estão in heaven. Tenho que ver se os descubro e se encontro alguns passados entre os bascos. 

Para mim é como se fosse uma terra de magias, de segredos. É um lugar de grande beleza natural, em que as pessoas mostram ser muito felizes, em que o convívio parece permanente, onde todos se mostram sorridentes e conversadores. E onde se vêem mais crianças na rua. É impressionante como há parques infantis nos locais de passeio e como estão sempre cheios de chilreios felizes e ruidosos. A demografia em Donostia deve ser motivo de tranquilidade para quem gere os sistemas de segurança social e, para as restantes zonas em que a população envelhecida prevalece, deveria ser inspiradora.

Portugal deveria tomar Donostia como um case study e analisar o que leva a população a reproduzir-se tão abundantemente.

Ao fim do dia, as ruas enchem-se ainda mais e há miudagem e adolescentes como não vejo em qualquer outra cidade.

[Abro um parêntesis para um aspecto que, aqui no texto, vai parecer a despropósito mas que é um tema que trago latente em mim. 

Durante muitos anos sentia receio em afastar-me de casa pois parecia antever que, mal chegasse ao meu destino, iria ter que regressar para acudir a alguma crise do meu pai e, depois, da minha mãe. Aliás, mal eu estava a pensar afastar-me um pouco, eu sentia que a minha mãe ficava ansiosa, com receio que houvesse alguma e que ela não me tivesse por perto para encaminhar ou resolver o que aparecesse.

Por isso, aos poucos fui-me adaptando a, no máximo, ir fazer uma semana ao Algarve ou uma semana ou dias avulsos a locais próximos, em que, se necessário fosse, ao fim de duas ou três horas estaria cá.

Agora já não existe essa condicionante. Contudo, quando o nosso cérebro se enleia em preocupações e cuidados, é difícil, num curto prazo, vermo-nos livres deles. Por isso, cá no fundo de mim há sempre uma pequena ansiedade latente como se, a qualquer hora, alguma coisa fosse surgir que me atalhe as férias. 

Mas isto já vem de antes. Ainda antes dos meus pais eram os meus sogros. Ainda me lembro de estar em Lagos e o meu sogro estar a ligar para o meu marido a querer que ele fosse com ele ao médico e ele a fazer uma ginástica, a dizer que ia na segunda-feira seguinte e o meu sogro a querer que ele fosse no dia seguinte. Eu ouvia aqueles telefonemas sempre no receio de ter que fazer as malas e regressar. 

Claro que a nossa mente fica formatada... 

Mas sei que, aos poucos, isto me há-de ir passando.

Mas ocorre-me também, frequentemente, que está na hora de ligar à minha mãe ou que não posso atrasar-me senão faz-se tarde para ligar. Claro que logo penso que é pensamento desfasado mas, nessa altura, parece que sinto a falta de ter a quem contar os meus passeios, o que os meninos fizeram, as notas que tiveram, como são as lojas ou os preços. Não digo nada. Falar nestas coisas causa apreensão nos outros, acham que alguma coisa não está bem connosco. Também, falar para quê? Mais vale encarar com naturalidade e seguir adiante.

Há cerca de um mês, quando fui a uma consulta de rotina, queixei-me ao médico que parece que ando com o sono alterado. Ele disse que isso era normal nos processos de luto. Nessa altura, contrariei-o: 'Acho que não deve ser isso, já passou um mês...' Ele riu-se e disse: 'Um mês nestes processos de luto não é nada. É normal durar meses.' Agora já passaram dois meses e meio. De facto, foi há pouco tempo. E estou bem melhor.]

Andar em locais de grande beleza, com a família, em ambiente boa onda, faz-me bem. Nenhum lugar poderia ser mais adequado a esta lavagem de alma do que o País Basco.

Por muitas vezes que esteja em Donostia, por mil vezes me sentirei encantada. Tudo tão bonito, tudo tão feliz.

Depois há o lado francês, Saint-Jean-de-Luz, Biarritz, Bayonne. Mas amanhã as mostrarei.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria. Paz.

quarta-feira, abril 03, 2024

E que tal se portou o Rangel na tomada de posse, agora que o puseram em ministro?
(A bem dizer é a única coisa sore a qual tenho verdadeira curiosidade)

 


Sei que o Montenegro tomou posse mas não acompanhei. Também não tive curiosidade de repescar. A única coisa que tenho pena de não ter visto é a carinha do Rangel. Ainda assim não é pena que me leve a ir pesquisar.

Quanto ao Marcelo também já desaderi. Depois de tudo o que ele fez, comecei por descurtir e acabei nisto: desaderida. Já não consigo levar a sério ou sequer dar o benefício da dúvida e, note-se, culpa dele que se deu ao luxo de queimar, um a um, todos os cartuxos que eu -- e creio que a maioria dos portugueses -- esperavam que ele cuidasse para usar criteriosa e responsavelmente quando necessário. Afinal, pelo mero gosto de se ver sempre na crista da onda do foguetório, dinamitou tudo. E reincidentemente.

Comigo já não conta. Já sei demais para o seu (seu, dele) peditório. Não é que isso lhe interesse mas aqui fica dito. 

Portanto, o que ele disse ou deixou de dizer ao menino que levou ao colo até torná-lo primeiro-ministro a mim não me interessa.

Gostava que o Governo fizesse coisas boas e capazes, com propósito, inteligentes, com visão e a bem de Portugal (e, tenho que repetir, a bem também dos Portugueses). Tenho algumas dúvidas dados os little craniozinhos de alguns dos artistas de que se rodeou. Mas, para já, como antes aqui o disse, a bem da Nação, umas vezes sim, outras vezes não, cá estarei para me pronunciar.

De resto, embora o tempo não tenha estado famoso, a beleza do lugar que aqui vos trago faz com que tudo o resto sejam irrelevantes alcagoitas.

Agora estou um pouco fatigada pelo que não me alongo. Até porque estou out das novidades. 

Quando, no telemóvel, acciono o google aparecem-me notícias que me levam a crer que o algoritmo acha que sou débil mental. E não digo que, de alguma forma, não seja. Em vez de vir para aqui falar de cenas, ponho-me para a desfiar contracenas ou lá o que é. Se calhar por isso, o dito algoritmo acha que deve informar-me que alguém prevê, à base de astros, que a Cristina Ferreira ainda pode casar-se e voltar a ser mãe. Vá lá que é isto e não que vai voltar a fazer a primeira-comunhão ou que se vai armar em princesinha da Disney com o Goucha a levá-la ao colo, todo cheio de epifanias e outras alegorias. Já não digo nada. Ou isso, ou que a Inês Aires Pereira já mora numa casa nova e tem um amigo especial. Claro que o tipo (o tipo, leia-se 'o algoritmo') deveria perceber que isso não é exactamente a minha praia mas, na volta, fui eu que num dia de alucinação carreguei numa qualquer cruz escondida ou que, em vez de desaderir, como fiz com o Marcelo, ainda ali mantenho tal literatura.

Agora, para ver se me informava sobre temas que me parecem interessantes, estive a ler um artigo. Mas não é tema para aqui, iam logo dizer que estou mas é depré - sem quererem perceber que gosto de me inteirar dos avanços da ciência. Paciência, curto os meus estudos à socapa. Portanto, segue o baile. 

E se, entretanto, o Sarmento -- que deveria ser o mauzão da fita e o fiel da balança --, mostrar que eu tive razão ao notar que falta ali aquele je ne sais quoi sem o qual o menino vai patinar à força toda ou que o artista das privatizações mal feitas está outra vez armado em bom a fazer porcaria, só vos peço que me avisem, ok?

E agora mostro alguns postalitos ilustrados que fiz hoje para, sobre eles, vos escrever esta simples cartinha.


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Uma boa quarta-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

domingo, abril 13, 2014

Ode ao Mar






Se eu penso num sítio onde sempre tenha vontade de voltar é em San Sebastián, Donostia, que eu penso. É um sítio onde gostaria de passar um mês de seguida, dois, três. Se eu pensar que um dia gostaria de ficar num sítio a fazer uma vida forasteira, andar pelas ruas e cais a fotografar, depois pôr-me a ouvir música e pintar ou ler ou sentar-me junto a uma janela e escrever, é em Donostia que penso. Há uma largueza de mares, de vistas, há uma alegria nas ruas, muitas crianças, muitas mães a passear nas ruas com os filhos, e restaurantes bons e bares e, em certos dias, muitos, uma neblina única, uma luz muito pura. Há em Donostia qualquer coisa que não identifico nem sei definir mas que me atrai irresistivelmente.

Mas não é só Donostia: é o que há à volta, é Biarritz. Biarritz é lindo. É um romantismo de antigamente, aquelas casas apalaçadas, aquele mar bravio, tudo aquilo é a um tempo genuíno e sofisticado, é uma coisa que remete para uma burguesia que já não existe, uma aristocracia literária. Não sei explicar. Um vento fresco, uma névoa cheia de maresia, penhascos, ondas brancas, distantes. Adoro estes sítios. É como se não fosse Espanha, nem França, mas um reino misterioso, o País Basco das mil histórias, uma gente e um sítio que são naturalmente independentes porque únicos. O mar de Biarritz.

O atraente abismo que podem ser San Sebastián e Biarritz para amantes clandestinos, para poetas, para solitários, para loucos. Lugares envoltos em mar.

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Memorável também é o poema Ode ao Mar dito no filme O Carteiro de Pablo Neruda, um filme encantador, encantatório.


Baseado no livro Il Postino de Antonio Skármeta, adaptado entre outros por Massimo Troisi que interpretou o personagem do carteiro. Massimo Troisi, que também era poeta, adiou uma cirurgia cardíaca para poder completar o filme. Cerca de doze horas depois do fim das filmagens, sofreu um ataque cardíaco fatal.



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Lá em cima, o primeiro vídeo, era a tradução do poema Ode ao Mar de Pablo Neruda, ODE TO THE SEA,  lido por Ralph Fiennes, em presença das grandes ondas de Bairritz


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