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segunda-feira, julho 21, 2025

Os problemas com a saúde e os truques do costume
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Já aqui escrevi várias vezes que o Governo falhou na resolução dos principais problemas do país. 

  • A situação na habitação piorou com o maior aumento do custo das casas na Europa, 
  • houve muito mais fogos e mais área ardida, 
  • o número de alunos sem aulas é monstruoso,
  • e a situação na saúde é trágica. 

Por exemplo, as notícias do jornal da TVI das 20 horas de ontem sobre a saúde são reveladoras de quão trágica é a situação nas vários subsistemas da saúde. 

  • O INEM, que conseguiu juntar aos problemas conhecidos a barraca do concurso dos helicópteros, 
  • as urgências fechadas, 
  • o passa culpas entre o ministério e o INEM após ser divulgado um relatório do IGAS, 
  • as reivindicações dos bombeiros, 
  • os médicos que, em vez de fazerem horas extras, preferem trabalhar como tarefeiros como resultado da política de pagamentos definida pela ministra, 
  • os médicos que "confundem" a atividade pública com os seus interesses privados, 
  • as dezenas de crianças que nasceram em ambulâncias, 
  • a falta de operacionalidade efetiva dos helicópteros da FAP, 
  • ... 

Com todos estes problemas, o que faz o Governo? 

Avança com a notícia que vai criar uma unidade para combater a fraude na saúde. 

É a estratégia do costume, lançar para a agenda mediática um assunto que desvie a atenção dos problemas principais que entalam o governo. Criar um organismo com competências em termos da investigação idênticas ao MP e à PJ parece-me uma duplicação que onera os contribuintes. Só teria sentido se houvesse manifesta incompetência dos organismos que atualmente se ocupam deste tipo de investigações. Sendo certo que os principais problemas na saúde não são as fraudes, cai sempre bem junto de determinado tipo de eleitorado apontar a fraude como a razão dos problemas. 

O Chega teve sucesso e o PSD quer trilhar o mesmo caminho. 

Na minha opinião -- e falando estritamente das notícias que têm vindo a público sobre os ganhos milionários dos médicos --, o problema está na legislação em vigor que permite criar empresas em nome individual para prestar serviços com uma redução significativa de impostos, e ainda nos aumentos dos valores definidos pela ministra para pagamentos aos tarefeiros e os valores pagos pelos atos médicos efetuados em horário não laboral. 

Aliás, o próprio diretor executivo do SNS falou da "normalidade" de pagamentos estratosféricos aos médicos por atos clínicos extra. Como é sabido, para este governo vale tudo. O que é preciso é ganhar votos. 

Não bastava seguirem a agenda do Chega -- agora também decidiram pagar um complemento aos reformados dias antes das eleições. 

Não é de admirar, sabendo-se do caso Spinunviva.

sexta-feira, abril 11, 2025

Um bom médico de família.
As virtudes do SNS

 

Num comentário ao post de ontem, o Leitor António refere que estranhou eu não formular o meu louvor em relação ao meu médico de família e aos serviços prestados pelo SNS, no caso, o Centro de Saúde a que vou.

Pensei que estava implícito mas, tem razão, António, o que é bom é para ser louvado, e louvado com todas as letras.

Por isso, aqui estou, voltando ao tema.

Durante toda a minha vida recorri à medicina privada. As empresas em que trabalhei tinham médico para os funcionários e, desde há bastante tempo, para além de médico nas instalações, disponibilizavam generosos seguros de família. E o mesmo sucedeu com o meu marido. Portanto, que me lembre, apenas recorria ao então chamado SAP, Serviço de Atendimento Permanente, quando os meus filhos eram pequenos e era preciso ir com eles ao médico fora de horas. E também, durante algum tempo, ia lá a Pediatria pois a a médica ('particular') que os acompanhava deixou de trabalhar e fiquei sem saber onde ir. E, nessa altura, gostei bastante da médica do Centro de Saúde. 

De resto, a realidade do SNS era algo que apenas conhecia pelas idas ao hospital com o meu pai e, depois, com a minha mãe (pois, para além de maioritariamente 'frequentar' hospitais privados, também foi várias vezes ao público, chegando a estar lá internada).

Quando eu e o meu marido nos reformámos, subscrevemos ambos um seguro de saúde que, apesar de ser razoável, fica a anos luz do que tínhamos nas empresas para as quais trabalhávamos. De qualquer forma, até por alguma influência de familiares médicos, resolvemos 'experimentar' o SNS. 

De início, confesso, estranhei muito. Mas estranhei a nível de organização, de eficiência a nível de marcações e da demora na obtenção de uma consulta. Mas gostei bastante do médico de família.

Habituada a médicos até de algum renome no privado, não achei que este jovem médico ficasse minimamente aquém. Aliás, com o meu espírito crítico, quando um médico não me inspira muita confiança, fico logo de pé atrás. E tem razão o Leitor que diz que é difícil arranjar um bom médico de Medicina Geral. É verdade: passei por alguns, e também por alguns de Medicina Interna, e com alguns nunca me sentia totalmente segura. Mas deste gostei: é perspicaz, ouve com atenção, explica bem, é persistente. A nível administrativo já se despistou algumas vezes (por exemplo, passou um medicamento sem código pelo que, na farmácia, era como se não tivesse prescrito e tive que pagar por inteiro, prescreveu um exame num formulário errado pelo que não o aceitaram, etc). Mas dou desconto. Provavelmente o sistema informático não é famoso, queixam-se sempre que é lento, se calhar estava cansado. De qualquer forma, no que é relevante, sempre foi muito certeiro.

Com o meu marido aconteceu a mesma coisa. A ser seguido há anos e anos por um médico no 'privado' e a seguir religiosamente uma medicação, concretamente para hipertensão, ao chegar lá, o médico, ao observá-lo, questionou e questionou e não ficou convencido, prescrevendo um outro exame. E esse exame veio a revelar que o meu marido tem uma outra questão que não era atendida pela medicação que seguia. Ou seja, havia que adicionar um outro medicamento. Não muito certo dessa reviravolta nas suas 'convicções', o meu marido foi ouvir uma segunda opinião que atestou totalmente a abordagem do médico de família. E a verdade é que desde então não voltou a ter alguns picos de tensão que, apesar da medicação, tinha. E tinha pois a medicação que tomava destinava-se apenas a uma parte do problema. 

Portanto, estou muito confortável com este médico, sinto-me confiante. 

E já precisei de uma receita e foi fácil pedir sem ter que lá ir e, quando agora queremos marcar consulta, ligamos e, quando não atendem, recebemos, ao fim do dia, uma chamada a perguntar o que queremos e marcam o que for preciso.

O que é mais difícil ainda é encontrar clínicas que façam exames tendo protocolo com o SNS. Poucas o têm. E o Centro de Saúde (ULS) não tem uma lista das clínicas protocoladas, o que também não ajuda. Estes pormenores de organização facilitariam.

Li agora uma notícia a confirmar que dado não serem actualizados os valores, há cada vez menos clínicas a fazerem exames para o SNS. E isso é uma limitação um bocado chata a que o SNS deveria atender. Esta ministra incompetente ter 'despachado' o competente e experiente Fernando Araújo foi uma machadada no SNS. Estou convencida que o SNS, com um bom gestor à frente, um gestor do calibre de Fernando Araújo, poderia ser bem melhor.

E penso que também daria jeito que houvesse uma camada intermédia de atendimento de especialidades que não tivesse que passar pelo hospital. Por exemplo, oftalmologia, saúde oral ou mesmo cardiologia, deveriam estar mais acessíveis. Para uma consulta de oftalmologia tem que se ir a uma consulta com o médico de família, ele tem que referenciar para o hospital e depois tem que se esperar (cerca de 1 ano) para o hospital chamar. Penso que seria interessante, eficiente e lógico que as ULS dispusessem desses serviços. 

Seja como for, apesar de durante anos não ter sido utente, sempre fui e sempre serei ferreamente defensora do SNS. E, por isso, luto para que seja gerido com eficiência, com cabeça, por quem sabe gerir. Por isso, fico indignada quando se põem grandes hospitais, que mexem com centenas de milhões de euros, com milhares de funcionários, unidades que requereriam gestores de mão cheia, na mão de gente inexperiente e que apenas é nomeada por ser do PSD.

Que há muitos profissionais muito competentes e dedicados no SNS, profissionais que dedicam toda a sua vida ao serviço público. Tenho vários amigos assim. Por isso, não é por falta de qualidade dos profissionais de saúde. Quando há problemas eles situam-se sempre (ou quase sempre) a nível de gestão, de organização. 

Mas, Caro António, não tenha dúvidas: estou muito contente com o meu médico de família e com o acompanhamento que tenho tido na minha ULS. 

quinta-feira, abril 10, 2025

A medicina está longe de ser uma ciência exacta. Eu que o diga...

 

Tenho o maior respeito por médicos. Neles depositamos a nossa vida. Tenho alguns na família e admiro a sua capacidade de processar informação, a sua memória, a sua resistência. É uma profissão nobre e, quando não é exercida por mercadores, é digna do nosso respeito.

Mas o tempo tem-me revelado que são falíveis e, quando falham, nós podemos passar de doentes a vítimas. 

Já aqui contei que, há uns anos, depois de muitos anos a carregar pedras gigantes, a fazer muros e murinhos, e de vários outros esforços do género, os meus joelhos ressentiram-se. O médico a que fui, conhecido por ser um especialista em joelhos, achou que a coisa só lá ia com artroscopia. Lembro-me bem que o meu pai na altura, já com o AVC, quando soube, ficou bem preocupado e recomendou fortemente que isso não acontecesse: 'Nos joelhos só se mexe em último caso', dizia ele. E um dos médicos da família torceu o nariz, não viu razões para isso, mostrou desconforto com essa opção. Nestas coisas levo tudo com tal leveza que chego a ser leviana. Por isso, pensei: 'não é ortopedista, muito menos especialista em joelho, pelo que, não deve saber tanto do assunto como o que diz que tem que ser.' E, maria descontraída como sou, lá fui para o Bloco, convencida que ia verificar-se o que o ortopedista me tinha dito, que ao fim de um ou dois dias, saía do hospital pelo meu pé.

De facto, foi uma estupidez: tendo intervencionado em simultâneo os dois joelhos, para andar tinha que sobrecarregar forçosamente ora um, ora outro. A recuperação foi péssima: longa, dolorosa, incapacitante.

Mas o pior veio depois. Intranquila com as conclusões do ortopedista-cirurgião (dizia que eu tinha ácido úrico, pois tinha encontrado muitos cristais) que eram desmentidas pelo médico de medicina interna (que dizia que aquilo não tinha literalmente nada a ver com ácido úrico) e tendo-me este segundo recomendado que procurasse uma terceira opinião, fui a um reumatologista de renome que, observando os exames anteriores às artroscopias, me perguntou porque as tinha feito. Concluiu peremptoriamente que não só não precisava como não devia, que tinham estragado mais do que tinham beneficiado. A mesma opinião foi mais tarde corroborada por um ortopedista muito conhecido na área desportiva e também especialista em joelho: categoricamente afirmou que o médico que me operou me deu cabo de coisas que antes não tinham problema nenhum. Disse, tal como anterior, que as indicações médicas para artroscopia eram zero.

Fiquei chocada. E escaldada. Mas o mal estava feito.

Mais recentemente aconteceu-me com o coração. Num episódio meio assustador, numa clínica privada, ao verem o ECG e ao repetirem-no e ao fazerem outros exames, concluíram que eu estava a ter um enfarte agudo de miocárdio, activaram o protocolo do INEM, fui levada de ambulância para um grande hospital público e lá passei a noite e a manhã, sendo depois encaminhada para cardiologia. Aparentemente não tinha sido um enfarte mas havia lesões e, para além de repouso, era preciso perceber urgentemente o que se passava.

Por facilidade e rapidez, fui a um cardiologista de renome num hospital privado. Receitou-me logo uma medicação que seria para o resto da vida. E foram desencadeados exames e mais exames, uma longa bateria que fui fazendo e repetindo regularmente. 

Já lá vão quase 4 anos. 

Quando, ao reformar-me, resolvi tornar-me utente do SNS, o médico de família quis saber o meu historial. Levei os últimos exames, descrevi o melhor que pude os meus antecedentes clínicos. Começou logo por ficar muito intrigado com a medicação que eu estava a tomar. Como admitiu que houvesse razões que eu não estava a saber transmitir, pediu para eu, quando fosse ao cardiologista, lhe pedir um relatório sobre a minha condição para ele poder compreender e poder acompanhar-me devidamente a nível de medicina geral.

Quando pedi o relatório ao cardiologista, ficou ofendido, não percebia o que é que um médico de família tinha que questionar o que ele, meu cardiologista há anos, me prescrevia. E, escamado de todo, disse que não ia passar relatório nenhum. E que se o médico de família tinha dúvidas, que lhe escrevesse a dizer o que pretendia.

Como seria de esperar, meses depois, quando voltei ao médico de família, este perguntou pelo relatório. Com diplomacia e sem referir o agastamento do cardiologista, disse apenas que este preferia que eu levasse um pedido dele por escrito. 

Naturalmente, mostrou algum incómodo mas lá escreveu o dito pedido.

Quando há cerca de um mês fui de novo ao cardiologista, entreguei-lhe o envelope. Ao ler, pelo semblante, vi que ficou furioso. Então pôs-se ao computador, viu e reviu exames, escreveu, voltou a ver exames e a escrever. Esteve ali bem mais de meia hora. Eu, calada, em frente. Depois imprimiu, meteu num envelope e, sem qualquer comentário, deu-me.

Eu tinha levado umas análises e um exame que ele tinha pedido e em cujos relatórios eu tinha visto que estava tudo bem. Mas, aliás, ao longo deste tempo, do que eu lia, parecia-me sempre que estava tudo bem com a excepção da dita condição que, se bem percebo, é coisa com a qual se pode viver sem problemas, desde que haja apenas alguns cuidados elementares e algum acompanhamento regular.

Nessa consulta, no fim, perguntei-lhe se continuava com a medicação. Disse-me que sim. Referi aquilo de que já antes me tinha queixado, que, com qualquer pancadinha, fico com nódoas negras. Por exemplo, o cão, para brincar, põe-se de pé, com as patas na minha barriga, para eu lhe fazer festas. Ando sempre com a barriga cheia de nódoas negras. E disse-lhe que receio que, se caio, tenha alguma hemorragia mais séria, em especial se for na cabeça. Respondeu-me que riscos há sempre, que esse risco existe, sim, mas que não vale a pena estarmos a pensar no que pode acontecer, pode acontecer tanta coisa, mas que intervalasse a medicação, por exemplo, dia sim, dia não. Depois rematou: até se quiser pode deixar de tomar, já que o exame mostra que está bem. Estava já de pé, a apertar-me a mão, a despachar-me. E eu, de tão perplexa, nem fui capaz de bater o pé: então mas isso é assim? eu é que decido se tomo ou não tomo o raio dos comprimidos?

Hoje fui ao médico de família e levei o relatório elaborado pelo cardiologista e os ditos últimos exames. À medida que ia lendo, vi logo, pela sua expressão, o que se passava. Parecia-lhe óbvio que não havia qualquer necessidade de eu tomar aqueles medicamentos, em especial o que envolve riscos de hemorragias. Mas, ainda assim, pela responsabilidade da situação, quis ir conferenciar com uma colega. Estiveram não sei quanto tempo. Depois falaram os dois comigo. Disseram-me que os médicos, às vezes, quando têm alguma dúvida, pelo sim, pelo não, agem por excesso. Que lhes parece ter sido o caso. Que na opinião deles, não há razão, ou seja, não há indicação médica, para eu tomar aqueles medicamentos. Que, em última análise, a decisão deve ser minha pois um médico, especialista, que me acompanha há cerca de 4 anos, os prescreve. Mas que, na opinião deles, não há justificação para tal. Concordei. Vou deixar de tomar.

De qualquer forma, prescreveram análises e um exame cardiológico para, lá mais para o fim do ano, se avaliar se continua tudo bem.

Mas vim de lá um bocado desconfortável. Ando há anos a tomar dois medicamentos, ambos com contraindicações e um deles que envolve riscos que podem ser severos... e, afinal, não são necessários?

Em quem é que a gente pode confiar? 

Caraças.

Escusado será dizer que descrevi tudo, o relatório do cardiologista, relatórios de exames e análises e questionei o ChatGPT. Foi categórico: não vê razão para tomar os medicamentos. De qualquer forma, politicamente correcto como é, aconselhou que eu fale com os médicos antes de suspender a medicação.

Hoje, quando os dois médicos falavam comigo, expondo-me o que o cardiologista pode ter temido, as eventuais razões que o levaram a medicar-me assim, e, ao mesmo tempo, a explicarem-me os exames que demonstram que essas razões, a terem sido essas, eram infundadas, e os riscos de um dos medicamentos, ocorreu-me dizer-lhes aquilo que tantas vezes digo: ao contrário do que gostamos de pensar, a medicina não é uma ciência exacta. Concordaram ambos. "Nada, nada mesmo, há tantas variáveis, há tantas interpretações, suposições, receios, cautelas. Perante a mesma situação, médicos diferentes podem tomar decisões diferentes. De facto, não é matemática.", disse o meu médico de família.

Tal e qual.

Mas, para nós, seres indefesos, não é muito tranquilizador...

terça-feira, março 11, 2025

Foi pena a Sandra Felgueiras não ter perguntado ao Montenegro quanto é que a mulher e os filhos recebem como 'ordenado' da Spinumviva e quais as despesas que estão a ser imputadas à empresa? Eletricidade, água, comunicações da casa? Limpeza da casa? Combustível dos carros da família? Etc, etc, etc. Por acaso, estou curiosa.

 

Eu sei que Montenegro já confessou que fez o mesmo que qualquer português. Mas está certamente a referir-se, como Vital Moreira também o diz, aos profissionais liberais que criam empresas para pagar menos ou nenhuns impostos e, em cima disso, ainda reaverem o IVA das facturas que contabilizam na empresa.

Mas Montenegro, como Primeiro Ministro, pode comparar-se a quem usa esse estratagema para pagar menos impostos? 

Não deveria ser eticamente imaculado? A ser verdade que na Spinumviva eram (ou são) parqueadas todas as despesas da família contabilisticamente elegíveis, até porque a 'sede' da empresa era a sua própria casa e o contacto da empresa era o seu próprio telemóvel, qual a sua motivação para apelar ao bom cumprimento fiscal?

(Não admira que queiram é aliviar o IRC... Ah pois...)

Já agora, Senhores Jornalistas: não querem fazer uma investigação e ver quantos médicos do SNS (e do privado, já agora) são facturados, como tarefeiros, através de empresas que, no fundo, são apenas uma extensão de si próprios, a extensão que lhes permite que o rendimento seja da empresa que, atafulhada de despesas pessoais, acaba por não dar lucro e, portanto, não paga IRC, e eles, como funcionários da empresa. recebem ordenado baixinho que mal paga IRS (e é se pagar)? Claro que esses habilidosos também podem meter como gerentes a mulher e os filhos, e todos ganham um ordenadozeco que, como é baixo, não paga IRS, mas que, sendo limpo -- e tudo somado -- já é coisa que se vê.

Mas, voltando aos médicos, com o valor absurdo que esta ministra ofereceu aos 'tarefeiros', não será que muitos estão a 'sair' do SNS para lá estarem a trabalhar na mesma mas como tarefeiros, ganhando em dois carrinhos, não apenas através do valor que o SNS lhes paga à hora como através do benefício fiscal que obtêm através das suas empresas?

E, já agora, Senhores Jornalistas: não seria de investigar se mais dirigentes da área da Saúde, especialmente os nomeados pela Ministra Ana Paula Martins, não estarão a acumular o ordenado de dirigentes com umas horinhas feitas como tarefeiros? Acreditam que foi só o Gandra d'Almeida? 

E, de qualquer maneira, não são apenas os médicos a praticar, creio que em larga escala, esta habilidade. Diria eu que também advogados, consultores, etc -- todos os que conseguem fazer isso conseguindo assim quase não pagar impostos.

Quando é que alguém se interessa a sério sobre a maria barbuda que é, na verdade, a nossa política fiscal?

Quando é que alguém simplifica e baixa globalmente o IRS para que espertezas saloias destas deixem de fazer sentido? 

E quando é que a inspecção fiscal cai em cima destes esquemas....?

Mas... como...? Se, na volta, se calhar, o próprio Primeiro Ministro pratica esta habilidade... Eu não sei se pratica, se não pratica, mas penso que é um tema que a CPI deveria analisar com cuidado. É que, a bem da higiene pública e da sanidade democrática, não deveriam subsistir dúvidas.

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E sobre o RGPD e o trabalho que, segundo diz o Montenegro, a Spinumviva presta, poderão descer até ao post que se segue.

quinta-feira, agosto 15, 2024

No discurso do Montenegro, foi chato aquilo do será-lhe

 

Não vi tudo. Só comecei a ver quando ele falava -- e bem -- do poder corporativista dos médicos e da necessidade de o enfrentar, abrindo mais vagas para os cursos de Medicina. Aleluia. 

Claro que antes de atirarmos foguetes, primeiro é preciso ver se cumpre ou se não estará, uma vez mais, a cavalo de algumas medidas já engendradas e preparadas pelo PS. Mas, se levar adiante, e se, de uma vez por todas, se formar os médicos de que o País precisa, já não será mau.

Também vai dar um suplemento aos pensionistas com mais baixas pensões. À partida, é uma medida simpática. Mas, nestas coisas, às vezes é preciso ver o filme todo.  Já agora também seria simpático -- e justo -- que passassem a aumentar as pensões todas e não apenas as que são abaixo de 12 IAS. 

Mas se, na parte que vi, me pareceu genericamente bem, a verdade é que, às tantas, Montenegro teve um daqueles lapsus que me deixam cheia de comichões. No meio da frase saiu-se com um desconcertante será-lhe. Mas, vá, no calor do comício, a gramática às vezes vai para as calendas... Portanto, vou relevar. Mas vou ficar de olho.

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É verdade... que é feito do PS? O Pedro Nuno Santos ainda anda a vender bolas de berlim na praia?

sexta-feira, agosto 09, 2024

À atenção de Lentão Amaro, Ministro da Presidência:
"Ninguém de boa-fé poderia supor que problemas na Saúde seriam resolvidos em meses", diz agora V. Exa.
Ah é...? Muito me conta...
Mas quem o supôs e disso fez bandeira de campanha eleitoral foi a AD!
A AD, então, não estava de boa-fé. É isso?

Mais depressa se apanha um demagogo que um coxo!

 

O Ministro da Presidência, o Lentão (em boa hora assim apodado por Ricardo Araújo Pereira), disse mais:

A situação encontrada na saúde "é muito difícil e muito delicada" em termos de organização, de escassez de recursos e incapacidade de resposta e insistiu que a resposta "não se faz, infelizmente, num dia"

Ah sim? Descobriu agora, foi?

Fizeram campanha, prometendo uma resposta eficiente e a cura de todos os males em 60 dias e agora vêm com esta conversa?

Que não conseguiriam fazer nada em meia dúzia de dias já qualquer pessoa com dois dedos de testa o sabia.

Mas como há sempre gente ainda mais burra que os burros que julgam que todos são mais burros que eles, houve quem caísse e, com esse e outros engodos, conseguiram a unha negra que lhes permitiu cantar de galo.

Mas como, na maioria, só conseguiram rebotalho para o governo (como disse na altura, eu e algumas pessoas que me são muito próximas, sabemos de casos que são de bradar aos céus) não admira que não consigam fazer mais nada que não powerpoints e anunciar ou coisas feitas ou preparadas pelo governo anterior ou coisas que são apresentadas que são para agora mas que, efectivamente, só se concretizarão quando Deus Nosso Senhor assim quiser.

E, portanto, ou sabiam que era impossível resolver em meia dúzia de dias problemas complexos e estiveram de má fé a enganar os eleitores ou falaram por falar, inconscientes e irresponsáveis, que não sabem o que andam a fazer. Nenhuma das duas é recomendável.

E o artista que era da Ordem dos Médicos e que agora é deputado do PSD é um dos que tem mais culpas no cartório. Com a visão corporativista que a Ordem tem, impondo o que quer ao País sem que ninguém os apeie, conseguiu que se chegasse ao estado de bagunca organizativa que reina na Saúde. Os médicos ganham o que querem, trabalham em vários sítios -- e não me venham com conversas pois só não ponho aqui números para não me virem pedir que os prove (e, para os provar, teria que envolver médicos que estão bem, muito obrigado, a ganhar pipas de massa, trabalhando as horinhas que querem).

Se houvesse mais vagas nos cursos de medicina (deixando a Ordem de meter o bedelho nisso de uma vez por todas), se os médicos estivessem sujeitos às regras normais no mercado de trabalho, e se os hospitais fossem geridos por gestores capazes (e não gentinha dos aparelhos), deixando a medicina para os médicos e retirando-lhes de cima a gestão (pois, já se viu, o estado em que os hospitais estão quando geridos por eles) a ver se outro galo não cantaria.

Depois de criarem as falsas expectativas que criaram, ainda por cima põem como ministra uma criatura que mais parece uma incendiária, uma sarrafeira, uma intriguista, que a primeira coisa que fez foi fazer a cama ao director do SNS, Fernando Araújo, arranjar problemas com o INEM, atrasar os concursos e sei lá que mais, o que é que esperavam?

Mentirosos, demagogos, trumpistas é o que esta gente da AD é. 

terça-feira, março 05, 2024

Em dia de ida a dois médicos, algumas conclusões
(e, a despropósito, pessoas que não existem e outras cenas de AI que são de um outro mundo)

 


Devido àquela bizarra situação que fez com que activassem o protocolo dos enfartes, chamassem o INEM, me enfiassem numa ambulância que me levou para as Urgências, lá chegada me tivessem levado, de cadeira de rodas, para a Reanimação e me tivessem feito lá estar até ao princípio da tarde do dia seguinte, agora uma vez por ano tenho que ir ao Cardiologista.

Era para ser no fim do ano passado. No fim do verão liguei para marcar a consulta (num hospital privado). Como afinal a escassez de médicos parece ser geral e não apenas no SNS, só consegui consulta para hoje. 

Entretanto, estando reformados e querendo começar a ir ao médico de família, depois de uma primeira consulta creio que no fim do verão e tendo ele mandado fazer alguns exames, tentámos marcar consulta para o fim do ano. Debalde. Fomos tentando. Debalde. Até que, finalmente, lá nos ligaram a propr uma data. Ora bem. Qual data? Pois. Justamente, também hoje. Com duas horas de intervalo e vários quilómetros e muito trânsito de permeio. 

Ou seja, cheguei a uma das consultas à tangente. Aliás, um pouco atrasada.

Primeira conclusão

Na sala de espera do Centro de Saúde, no espaço da Saúde Infantil, todas as crianças que vi, todas, eram filhas de imigrantes. Várias. 

Uma alegria. Já que os portugueses de gema não se reproduzem, ainda bem que os imigrantes o fazem. Só desejo que sejam felizes por cá, que por cá fiquem, que por cá trabalhem, que por cá efectuem os seus descontos. 

Portugal só tem a ganhar com esta situação.

Segunda conclusão

O carro tinha ficado estacionado no parque de uma superfície comercial. Quando lá fomos buscá-lo assistimos a uma grande confusão, muitos gritos, muito barulho, grande correria. Um rapaz tinha sido agarrado pelos Seguranças, gritava como um capado, e, ao correr tinha derrubado várias pessoas e várias coisas. O rapaz era português. Ou seja, se houve aqui um episódio que deixa as pessoas inseguras, ele não causado por nenhum migrante.

Terceira conclusão

O trânsito das cidades continua intenso e para quem, como eu, vive geralmente afastada da confusão, isto já fere, e muito, a minha qualidade de vida. A sociedade, no seu conjunto, deveria zelar por retirar stress ao movimento nas cidades. Mais transportes públicos, muito mais teletrabalho, horários mais desencontrados, quiçá horários mais leves... Muito deve ser feito para retirar trânsito e confusão das ruas. Ainda por cima, apanhei um grande acidente, muitos carros completamente espatifados, polícias. E, noutro ponto, muito trânsito resultante de um outro acidente. É o resultado do stress, tantos acidentes. 

E não continuo com as conclusões porque ou paro já ou continuo até amanhã de manhã

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E, para além disso, continuo às voltas com os temas burocráticos em torno de cenas que deveriam ser simples mas que, para mim, são chinês em estado puro. Volta e meia concedo-me uma pausa nestas coisas pois parece que fico bloqueada. Mas vou ter que voltar a tratar disto. 

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E aqui chegada acho que devo partilhar um vídeo do Guardian que me põe doida, que me faz apetecer hibernar, que me dá volta ao miolo.

How AI creators cement outdated beauty standards

Images created by AI are getting exponentially better, to the point where many people are unable to separate them from the real thing.

As this technology continues to develop, challenges to our perception of what is real are immense, and our trust in what we are seeing is eroded. These fake people are already changing industries such as modelling and marketing, but can they offer a more diverse reflection of humanity than has historically been available - or are they destined to reflect the narrow standards of beauty these industries have long been drawn to?


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Sobre a fotografia lá acima, em minha opinião, muitto linda, retirada do GuardianA photograph by Melbourne artist Atong Atem, ‘Adut and Bigoa, 2015’ which will show at the NGV as part of a local component of Africa Fashion, an exhibit travelling to Australia from London’s V&A. Photograph: Courtesy Mars Gallery, Melbourne

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Um dia feliz

Saúde. Leveza. Paz.

segunda-feira, dezembro 04, 2023

Compartimentos secretos

 

Trabalhei durante muitos anos num dos grandes edifícios de Lisboa, por sinal bem perto daquele outro onde viria a trabalhar nos últimos anos. O último piso desse tal edifício, um piso bastante alto de onde se tinha uma fabulosa vista, era, de um dos lados, dedicado a grandes reuniões e, do outro, a almoços de trabalho ou comemoração. Na altura não havia caterings pelo que, nesse piso, havia também uma cozinha. Dizia-se que era o lugar de Lisboa em que melhor se comia. 

Não era só a extrema qualidade da comida, era também a excelência do serviço. E as entradas, os acepipes, tudo para além de bom. Grandes memórias tenho dessas belas refeições.

Entre um e outro espaço havia a zona de estar, onde iam dar os elevadores (que tinham permissão para tal). Nessa zona de estar, para além de vários e confortabilíssimos sofás e cadeirões forrados a macio veludo grená, de carrinhos com bebidas e entradinhas, de mesas de apoio com belos candeeiros de mesa, havia, ainda uma zona de estantaria até ao tecto carregados de volumes ricamente encadernados em pele também grená escuro e letras douradas. Eram sobretudo tratados académicos que versavam matérias relacionadas com o que se fazia e vendia nas empresas do grupo, e com as diversas vertentes da gestão. Eram também livros recebidos como presente, muitas vezes edições luxuosas.

Já aqui o contei e volto a contar: uma das estantes não era uma estante normal pois um dos livros não era exactamente um livro. Basculava e, ao recolher, deixava acessível o fecho de uma porta. Então a estante abria-se como uma porta e, passando por lá, ia dar-se a um recanto onde havia uma outra porta. E de lá havia uma escada por onde se podia sair do edifício sem se ser visto. Dizia-se que, de lá, se poderia ir também para uma outra zona secreta. Não sei, isso nunca vi.

Quando eu estava nesse andar, nomeadamente na zona de estar, tentava sempre descobrir qual era o livro a fingir e, a olho nu, nunca o consegui.

Mais tarde, recentemente, tive uma surpresa com uma outra coisa, numa outra dimensão, muito menor, nada a ver, mas, ainda assim, inesperada.

Quando visitámos a casa para onde nos mudámos há três anos e picos, sentimos de imediato uma tremenda afinidade com a arquitectura, com os acabamentos, com o jardim, com tudo. Como sou despistada e com uma péssima orientação espacial, saí de lá sem perceber como era a disposição das divisões ou exactamente como era o que tinha visto.

Depois disso voltámos lá mais uma vez e, vá lá saber porquê, fiquei na mesma. Já lá morava e parece que, em relação a algumas coisas, ainda não conseguia organizar-me mentalmente.

Tenho ideia que foi já depois de a casa ser nossa que lá descobri um compartimento que é quase secreto. A anterior proprietária se calhar já me tinha falado na biblioteca privativa do marido, livros ligados à sua profissão, em estantes feitas por ele. Mas devo ter pensado que era na cave onde estavam também várias estantes feitas por ele carregadas de livros e revistas.

Portanto, foi com agradável surpresa que um dia, ao estar num dos compartimentos do sótão, convencida que o compartimento se esgotava ali, descobri (descobri ou o meu marido chamou-me a atenção, que é o mais provável) um outro compartimento que nascia de um dos cantos, forrado a estantes. Achei fascinante.

Agora é ali que tenho malas, malinhas, carteiras e carteirinhas, clutches, bolsas, mochilas, sacos desportivos, sacos de pano, etc. Como geralmente uso sempre a mesma carteira e o mesmo saco com as coisas da piscina, raramente preciso de lá ir. Mas aquilo é quase uma graça. Claro que, se fosse para ser um compartimento secreto poderíamos arranjar-lhe uma porta dissimulada. Assim não tem porta. Só que como fica por trás de uma caldeira mal se vê.

Também na cave, apesar de ser, na prática um open space, há alguns recantos que só consegui assimilar ao fim de algum tempo. E isso, acho eu, dá um toque de graça suplementar à casa. 

No campo, in heaven, também há um sótão mas tem um acesso complicado e, com as vertigens de que padeço, nunca lá fui. Nem sei o que por lá há. Presumo que apenas canos, cabos, coisas assim. Em casa dos meus pais, a casa em que cresci, há também um sótão e embora tenha uma escada fixa e supostamente ser de razoável acesso, das vezes em que lá fui, em miúda, subir era fácil mas descer era para mim um desatino. Estava lá em cima e parecia-me que corria o risco de, a todo o momento, me despenhar. Chegava a pensar que não ia ter coragem de me abeirar da escada e que temia não conseguir sair de lá. Depois de crescida nunca mais consegui ir, parece que fiquei traumatizada.

E estou a falar nisto pois há pouco, ao ver o youtube, dei com o vídeo abaixo a que achei um piadão: salas escondidas, mobílias que são a fingir, compartimentos secretos, coisas super engenhosas, criativas, incríveis. 

Incredibly Ingenious Hidden Rooms and Secret Furniture

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A propósito da luta dos médicos

Em relação à presidente da FNAM e à representante dos 'médicos em luta' que ainda há pouco vi na televisão, de cada vez que aparecem, parecem super satisfeitas com os problemas que existem nas Urgências devido à falta de médicos e não parecem nada preocupadas com o transtorno e as consequências potencialmente muito graves para os portugueses. Esqueceram-se do Juramento de Hipócrates ou só pensam em dinheiro?

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Uma boa semana

Saúde. Coragem. Paz.