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quinta-feira, agosto 04, 2022

Os mais qualquer coisa de entre os bloggers que sigo (Parte 3): dois guerrilheiros

 

Resisto a alguns temas da actualidade e volto a trazer aqui os bloggers que considero que são mais (qualquer coisa) de entre todos os que sigo.


Já aqui tive o mais jovem, a mais criativa e o mais romântico e, a seguir, o mais cirúrgico e o mais inesperado. Hoje vou ter dois bloggers que vejo como uma dupla de guerrilheiros, tropa de elite, forças especiais.

O primeiro da tropa de elite. Qual escrupuloso relojoeiro, colecciona ferramentas, peças, mecanismos, encaixa-os uns nos outros, faz movê-los. As linhas do tempo podem sempre ser reconstituídas a partir dos seus registos. Meticuloso, implacável. Cuidado com ele. O âmbito é diverso mas há vectores que são dominantes: a baixa política, a escumalha que se acoita na igreja católica, a pimbalhada em qualquer ramo do showbiz (incluindo nos partidos), a street art. E, claro, a música. Mas aí, na música, não é vector, é cátedra. Minha nossa. Que infinito repertório. De resto, em geral, quando dispara é para acertar. Não desperdiça muitas munições. Aponta e lá vai disto. E a graça é que, frequentemente, a bala vem sob a forma de uma caça ao tesouro, há que ir destapando as pedrinhas para ver as pistas que debaixo lá se escondem. E vêm envoltas em ironia. E o melhor da história é a forma como escreve. Caraças. Como eu aprecio uma boa escrita. E não sabia mas sei agora: quem sai aos seus...

João Lisboa de Provas de Contacto

Alguns exemplos:

Kismet

(sequência daqui) Dificilmente poderia ter escolhido melhores “maîtres a penser”. Embora com largos hiatos (consequência da periclitante sobriedade) e praticamente nenhum sucesso comercial, não é, de facto, fácil encontrar um “songbook” simultaneamente tão enraizado no terreno de origem e tão aberto a impulsos exteriores – Byrds, Bacharach, Velvets –, costurados de tal forma que o que acaba por sobressair é a identidade de Michael Head. Após o tal álbum da sobriedade (Adiós Señor Pussycat, 2017), Dear Scott – inspirado na história de F. Scott Fitzgerald que, na bancarrota e sonhando com uma carreira de argumentista em Hollywood, é colocado pelo seu agente no Garden Of Allah Hotel, um antro de perdição de Sunset Boulevard – é mais uma colecção de canções minuciosamente lapidadas e orquestradas. Como ele canta em "Grace and Eddie", “If anybody asks you what you’re playing now, just say ragtime, country blues and original songs”.

Aqui

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Com mais um pedidozinho de perdão, a coisa resolve-se e não se fala mais nisso (já que engaiolar toda a seita de malfeitores parece estar fora de questão) 

Edit (14:11) - ... e também já há o guito para o evento que trará a Lisboa grupos de criminosos

Aqui

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Na generosíssima tradição de Luís IX perante o fake do Além, saúde-se a milagrosa recuperação da Santíssima Hemoglobina (o Divino Prepucinho virá a seguir, tenhamos fé!)

Aqui

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O outro guerrilheiro. Tropa de elite. Forças especiais. Aponta e nunca falha: o tiro é sempre bem no meio da testa. Os títulos são sempre bem apanhados e são, em si, mortíferos. As imagens que escolhe para ilustrar o disparo são fantásticas, igualmente letais, e tornam o blog um interessante objecto estético. Tal como o primeiro, também este é um infalível sniper. Sempre à espreita, parece que fareja todos os biltres e todos os artolas que põem pé em falso. Em todos os que gostam de se engalanar, é dos primeiros a dizer que o rei vai nu. E, rápido no gatilho como é, mal a coisa se dá, já ele está pronto para soltar os cães e disparar a matar. Acresce que, como setubalense de gema, menino do rio, conhece a rua e a malandrice da malta de Trroine, a dureza e a sageza da malta que enfrenta, de peito feito, todas as adversidades que aparecer pela frente.

José Simões de Der Terrorist

Alguns exemplos:

A child points a water pistol at a statue of Russian President Vladimir Putin riding a tank created by French artist James Colomina in Central Park in Manhattan. Reuters/ Andrew Kelly

in I Shot the Sheriff

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Qualquer que seja o ângulo, da "liberdade económica" à liberdade de expressão passando pelo regular funcionamento das instituições, entre o accionista e o contribuinte optam pela defesa do primeiro. Se dúvidas houvesse. Pelo caminho dão mais um passo na legitimação do fascismo. Comparar António Costa a Viktor Órban, o racista e homofóbico homem de mão de Putin na União Europeia. Make Portugal Great Again.

de Make Portugal Great Again

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O Holodomor não existiu, só na cabeça dos ucranianos, mas "o capitalismo mata deliberadamente".

em Inhumans of Late Communism

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Tinha escrito no título 'dois guerrilheiros e uma guerreira'. Mas o post já vai longo, os guerrilheiros são espaçosos, e a guerreira também requer espaço. E, sobretudo, requer cuidado. Não é a esta hora que vou ter tempo para escolher os textos ou para alinhar devidamente as palavras que vou usar para falar dela. Por isso fica assim, com os dois guerrilheiros, que fica bem. E é melhor que a gente não lhes dê o pretexto de que ambos precisam para passarem à acção. Make my day - pensam eles antes de reduzirem a pó os palermas, em especial os encartados.

Ou seja, a guerreira virá amanhã. Ficará mais à larga.

E, assim sendo, por hoje, por aqui me fico.

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Desejo-vos uma boa quinta-feira

Saúde. Boa sorte. Boa disposição. Saúde

quinta-feira, janeiro 27, 2022

Eleições Legislativas 2022 - Votos e Bandidos

E umas perguntas muito concretas ao João Lisboa

 



Sobre o que escrevi ontem, recebi um mail e uma mensagem. E, com a devida autorização do estimado Leitor que me enviou o mail e pressupondo que o meu filho não se vai aborrecer que eu refira o reparo que me fez, aqui segue então, em primeiro lugar o texto do mail (que agradeço):


Votos

Bom dia UJM. Faço meus os seus votos, por mil e uma razões !

Há aproximadamente 2 anos foi diagnosticada uma doença degenerativa à minha Mulher. Durante os 2 ou 3 anos anteriores, foi seguida no Hospital da Luz por uma especialista que cobrava honorários a peso de ouro. Um dia pedi-lhe um relatório médico que me foi solicitado pelo Centro de Alcoitão, para iniciar terapia da fala. A dita médica, depois de muita insistência minha, escreveu meia dúzia de linhas manuscritas de difícil compreensão. A técnica do CRA, classificou  o dito relatório, "no comments". Ao mesmo tempo, a dita médica, recomendou a realização de um exame no HL, sendo que o mesmo teria que ser com internamento de 3 noites. Aí eu desconfiei ....

Realizámos o dito exame da Ressonância magnética num laboratório conhecido, a preço muito acessível, e decidimos recorrer aos serviços do SNS no HEM.

Tudo mudou desde então. A abordagem pluridisciplinar que se impunha, começou a funcionar em pleno. Sabemos que é uma doença progressiva, contudo, para minimizar os impactos temos contado com uma equipa excepcional  do HEM e HSFX que tem agido de forma integrada. 

Várias vezes tenho referido aos membros da equipa, a nossa gratidão. Sinto que a equipa dos médicos, também aprecia a manifestação do nosso reconhecimento.

Interrogo-me e preocupa-me o que irá acontecer com o hipotético regresso ao poder dos que propõem a privatização do SNS.

Desculpe-me não publicar este meu testemunho no espaço dos seus comentários. (...) Se achar relevante, pode transcrevê-lo.

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Do meu filho recebi um reparo, primeiro por mensagem e depois, mais tarde, por telefone. Dizia-me ele que. se António Costa conseguiu formar Governo e governar bem durante seis anos e se foram feitos alguns avanços significativos em algumas áreas, tal se deve ao apoio dos 'bandidos' a que a avó se tinha referido.

Do que lhe conheço, ao falar nos ditos bandidos, a simpatia dele vai mais para Jerónimo de Sousa. Não lhe conheço qualquer simpatia para com o Bloco. Também eu sinto respeito pelo velho moicano. E também eu, desde o minuto zero, achei bem que António Costa governasse com o apoio da esquerda. E, apesar da frequente queda da Catarina e das Mortáguas (com o Cardeal na rectaguarda) para a traição, passei por cima disso e foquei-me no importante: a defesa de políticas justas, de desenvolvimento, de salvaguarda dos direitos dos que mais precisam de apoio. Mas quando Catarina Martins, o ano passado, num gesto de arrogância, de irresponsabilidade política e de ânsia por protagonismo, chumbou o Orçamento e quando este ano, um ano tão difícil, com um Orçamento equilibradíssimo e com inúmeros pontos de convergência com as pretensões desses dois partidos, resolveu chumbar o Orçamento, juntando-se ao seu companheiro de percurso PCP e juntando-se à direita reunida, PSD, ao CDS e ao Chega, a minha posição mudou. Mudou mesmo.

O meu filho diz que em democracia devemos aceitar que os partidos se manifestem. Claro que sim. Em ditadura, quem se manifesta contrariamente aos cânones é perseguido, detido. Em democracia não: em democracia os ajustes de contas fazem-se nas urnas. E é nas urnas que desejo que quem antes votou no PCP e no Bloco agora lhes vire as costas pela irresponsabilidade e pela traição.

O Bloco e o PCP podem fazer o que quiserem, são livres de o fazer. Claro que sim. Mas ao quererem agradar aos seus militantes mais fundamentalistas esqueceram os interesses do País. E, com isso, revelaram que lhes falta o sentido de Estado.

Ao argumentar assim ao telefone com o meu filho, ele lembrou-me que, há seis anos, contra um longo historial de aversão aos socialistas por parte dos comunistas, Jerónimo de Sousa aproximou-se de António Costa e, com esse gesto, viabilizou um Governo socialista.

É verdade. Foi um gesto corajoso e digno de um verdadeiro estadista. Louvo-o por isso. Louvei-o na altura e, ainda hoje, reconheço o valor e valentia do gesto

Mas critico-o por agora ter saltado fora na votação na generalidade deste Orçamento (que, na especialidade poderia ainda ser melhorado), juntando-se à direita trauliteira e revanchista que sempre fez de tudo para denegrir a Geringonça e o Governo apoiado pela esquerda.

O meu filho recordou-me que o chumbo do Orçamento não implicaria a dissolução da Assembleia e que, aí, quem se precipitou foi o Marcelo.

Concordo. Algumas vezes aqui o tenho dito: Marcelo precipitou-se. Também ele é refém do seu forte apelo pelo auto-protagonismo.

Mas, tendo ele anunciado que, se o Orçamento chumbasse, a Assembleia seria dissolvida, já não havia recuo possível. Portanto, o PCP e o Bloco, ao votarem como votaram, sabiam a crise que iam abrir no País. 

Faltou-lhes sentido de Estado, faltou-lhes o sentido de lealdade, sobretudo lealdade perante os portugueses. E a quem faz isso (pela 2ª vez) não deve ter servida de bandeja a oportunidade de o fazer uma terceira vez.

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Entretanto, num comentário, o João, reportando-se ao que escrevi sobre as virtudes do PS e de António Costa enquanto governante, pergunta-me pelo Cabrita, pelo ministro da Educação, pela fraca intervenção cultural, pelas cativações*. Percebo-o. Tem razão. Mas, João, há soluções perfeitas? Quadros em que são todos umas sublimes, excelsas e não-pecadoras criaturas só aquelas pinturas com santinhos sobre as nuvens, uma virgem (a tal do imaculado pipi) e passarinhos iluminados por abençoados raios. 

[Eu não incluiria as cativações nos episódios menos felizes. Cativações são procedimentos normais na gestão económico-financeira. O facto de estar previsto em orçamento não tem que significar que são verbas automaticamente disponíveis para gastar pois as circunstâncias podem mudar e há que ir aferindo da oportunidade ou da necessidade de se gastar]

Na vida real, seja em que situação for, há sempre o que não é tão bom como o demais. Mas há que sopesar cada aspecto, olhar para o conjunto, avaliar alternativas. 

Imagine, João, que não ganha o PS. Aí, vamos pensar no que acontece no dia seguinte. Ganhando o Rui Rio, vamos ver quem é que ele poria na Administração Interna. Na Defesa já sabemos que põe o Chicão. Coisa esperta, não é? Na Administração Interna, imagino que não vá repescar o Ângelo Correia. Mas vai buscar quem? O Silvano? Credo. A Mónica Quintela? O Rangel...? Susto... E na Educação? Quem? Qualquer nome que me ocorra é para ser um susto ainda maior... E na Cultura? Quem é que o PSD tem para pôr na Cultura... Aqui nem consigo imaginar. Que ideias é que o Rui Rio tem para a Cultura...? Sabemos o que foi o reinado dele na Câmara do Porto. Um desastre absoluto.  E na Economia? O José Gomes Ferreira...?

Ou seja: pensando numa equipa governativa liderada por Rui Rio, o João consegue perspectivar melhor equipa do que uma equipa que António Costa possa formar? 

Por isso é que acho que nem vale a pena a gente pensar muito. Mesmo que não se ame o PS de paixão nem se  se idolatre o Costa, há que reconhecer que, neste momento, as alternativas a um governo PS são de mal a pior, são para a desgraça. 

Portanto, mesmo que não seja por total convicção, mesmo que seja um mero voto útil (quimicamente puríssimo), qualquer pessoa que goste do País e dos portugueses e que se preocupe com o futuro, o seu e o do País, não tem grande alternativa. Por isso, espero que os hesitantes e os sonhadores e os distraídos caiam na real e vão votar. No PS.


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Desta vez as belas rosas fotografadas por Nick Knight vêm ao som de Silêncio e tanta gente de Maria Guinot

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Desejo-vos um dia muito bom

Muitas rosas e muitos sorrisos para todos

segunda-feira, setembro 23, 2013

Angela Merkel ganhou as eleições na Alemanha. Não me assusta, isso. Nunca me assustou. Não sei se há razões para assustar alguém. Não sei se o monstro Angela Merkel existe. Lili Marleen também nunca existiu e, no entanto, todos falavam dela, todos a queriam conhecer. Às vezes criam-se mitos, monstros, uns, anjos, outros. - [Hanna Shigulla é especial mas quem levanta as pedras da memória, avança por sombrios labirintos, e traz até nós a esperança por melhores dias é June Tabor, a maravilhosa June Tabor].


Angela Dorothea fez em Julho 59 anos. É física de formação académica, foi investigadora, estudiosa de química quântica, aluna brilhante. Alguma coisa das metodologias de trabalho, do rigor científico, do gosto pela inovação e pelo conhecimento ainda deve existir dentro de si. Acaba de ganhar, uma vez mais, as eleições alemãs e agora de forma inequívoca, folgada. A sua vitória veio, pois, reforçar o seu papel decisivo na União Europeia.


Não sei se os resultados foram bons ou maus para os países intervencionados que estão a soçobrar aos pés de uma Alemanha que se vem impondo, de forma hegemónica, à Europa. Por um lado, não tem que se coligar com nenhum partido mais à direita (direita que saíu derrotada), por outro está mais livre para fazer o que quiser.

Do que sei, o que Angela Dorothea tem defendido para a Alemanha passa por aliviar a carga fiscal, apostar no desenvolvimento, sustentar o Estado Social. Os alemães agradeceram. 


E, claro, e como não os compreender?, abastados, tudo fazem para defender o perímetro da sua riqueza, mesmo que, por vezes, mostrem não estar excepcionalmente bem informados sobre a natureza e as causas do que se passa nos outros países.

Quanto ao resto, pode muito bem acontecer que a hegemonia alemã passe pelo facto de grande parte dos outros países da União Europeia estar entregue a um bando de fracos, incompetentes, rameiras, vendidos, cobardes, burocratas sem mandato. Encontrassem os alemães pela frente gente com coluna vertebral, cabeça arrumada e determinação e talvez as eleições na Alemanha não fossem o alfa e o ómega da política nacional desses outros países.


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Os alemães já deram aos outros, por mais que uma vez, razões para grandes preocupações e justificados ódios. 

Sabemos que ainda há franjas da população que continuam a perfilhar perigosos ideais - mas há lá como há por todo o lado. Há ainda muita gente que não aprende com a história nem com coisa nenhuma, há gente que é arraçada de pitbull ou de qualquer outra dessas raças perigosas. No entanto, não sejamos injustos. Não são todos.

Já aqui o referi algumas vezes. Ao longo da minha profissional tenho trabalhado ou lidado com gente de várias nacionalidades: espanhóis, franceses, belgas, ingleses, holandeses, alemães, noruegueses, marroquinos, japoneses, australianos, israelitas, etc. E, de todos, aqueles com quem melhor me tenho relacionado - mas de longe - é com os alemães.

Ainda a semana passada tive uma reunião de horas com um alemão e foi, como sempre, uma reunião produtiva, que decorreu num ambiente construtivo, de compreensão mútua, muito bom, perfeitamente de igual para igual. Esta semana vou ter outra reunião com alemães que vêm a Portugal expressamente para essa reunião, e estou certa que vai, uma vez mais, correr bem, e digo isto com absoluta confiança apesar de serem pessoas que eu não conheço, 

Já com espanhóis é o oposto: a coisa nunca corre bem até ao fim. Ao princípio é uma animação, tudo facilidades e, no fim, desatam a ser uns troca-tintas, a desdizerem o que tinham dito, a atirarem as culpas para os outros - ou seja: gente em que não se pode fiar, nem bons ventos nem bons casamentos. 

Poderia agora falar da minha experiência profissional com pessoas de outras nacionalidades mas, não só já aqui uma vez o fiz, como não é o tema de hoje.

O tema é o de afastar a diabolização alemã. Aqueles com quem tenho trabalhado são de várias zonas da Alemanha e não é de hoje, muito pelo contrário, que tenho apreciado a consistência do fácil relacionamento com pessoas alemãs.

Por isso, nada do que se passa na Alemanha me preocupa ou assusta.

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Assusta-me e preocupa-me, isso sim, a indigência dos governantes do meu país, gente sem rei nem roque, sem cultura, sem princípios éticos ou morais, sem competência, gente servil, gente com vocação para concierge ou nem isso.

Mais de dois anos de sacrifícios infligidos à população para estarmos hoje muito pior do que estávamos antes de Passos Coelho e Paulo Portas deitarem as suas mãos gulosas ao País. Não há saída possível que não passe pelo afastamento total da gente que, sem saber o que está a fazer, limitando-se a ser joguetes úteis nas mãos de quem quer que os saiba manipular, está  a destruir o pouco que este País tinha para oferecer e sobreviver.


Não é Angela Merkel que eu temo. Angela Merkel é um papão que, para mim, nunca existiu.

Não nos iludamos. É cá que votamos, é cá que fazemos o nosso futuro. Claro que é também na UE, no BCE e por aí que as coisas que decidem - e, por isso, não empurremos para lá o entulho de que nos queremos livrar. Sempre que formos chamados a escolher, saibamos fazê-lo bem, saibamos escolher gente capaz de nos saber defender, de nos saber governar.

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Mudança de tercio

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Lili Marleen também nunca existiu. A sua fama atravessou fronteiras, uniu trincheiras, atravessou os tempos. E, no entanto, nunca existiu.

Transcrevo o que, logo nos primeiros dias do Um Jeito Manso, aqui escrevi:

"Lili Marleen" é uma canção alemã, que teve a 1ª gravação em 1939, interpretada por Lale Andersen (1905-1972) e que se tornou popular durante a 2ª Guerra Mundial.


A letra foi escrita em 1915, durante a 1ª Guerra Mundial, e a música apenas em 1938.

Depois da ocupação de Belgrado em 1941, a Rádio Belgrado passou esta canção, que quase não era conhecida, e, por não terem muito mais músicas para passar, Lili Marleen passava frequentemente.

Goebbels, na altura Ministro da Propaganda Nazi, proibiu-a mas a rádio recebeu tantas cartas pedindo que a passassem de novo que, ainda que com relutância, acedeu, mandando que fosse colocada no fim da emissão, perto das 10 da noite.

A popularidade da canção aumentou rapidamente quer entre os Aliados quer entre os Nazis que se habituaram a que, houvesse o que houvesse, às 10 da noite, Lili Marleen apareceria para lhes fazer companhia, trazendo-lhes doçura e nostalgia. Dos dois lados da guerra, às 10 horas, os soldados aquietavam os corações para ouvir a balada que os fazia sonhar com o regresso, alguns fantasiando que, com a paz, viria a possibilidade de irem procurar a Lili Marleen.

Os soldados italianos em Itália adaptaram a canção com uma letra própria para criarem uma espécie de hino. Sucederam-se adaptações, numerosas, um pouco por todo o lado. Uma muito conhecida é a alemã, interpretada por Marlene Dietrich.

In 1980, Rainer Werner Fassbinder dirigiu o filme Lili Marleen, no qual, de forma envolvente, contou a história de Lale Andersen e da sua versão da canção. Hanna Schygulla foi tocante na interpretação.




No entanto, de todas, a versão que mais me impressiona, que me toca, que me toca mesmo, mesmo, é a de June Tabor. 


Também já aqui esteve no Um Jeito Manso pois ela é, de todas, talvez aquela mulher cujas interpretações mais me impressionam (e não me estou a referir apenas à interpretação de Lili Marleen). 

Sobre June Tabor escreveu João Lisboa no Actual do Expresso deste sábado. E escreve com devoção de amante:


Durante os quase dois minutos iniciais (no concerto 'Daughters of Albion, da BBC4) June conta a história dessa canção. Provavelmente, não repararão de imediato, mas, já aí, na articulação das palavras, nas pausas, acentuações, respirações, é de música que se trata. E, logo a seguir, desde o instante em que pronuncia 'Vor der Kaserne, vor dem grossen Tor...', por um milhão de vezes que tenhamos escutado o texto de Hans Leip musicado por Norbert Schultze, a voz que, agora, o interpreta apossa-se dele e fá-lo como se fosse a primeira.

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Deixemos, pois, que o encantamento das palavras desta canção singular e da voz desta mulher faça o seu caminho dentro de nós. Deixemos que o sonho nos guie. E que o amor para sempre aqueça os nossos corações. (E, faz favor, nada de risinhos sarcásticos, não pensem que isto é piroso porque não é - parece, aceito, mas não é: isto é a verdadeira essência da vida)




Uma maravilha. Apesar de ser uma canção alemã.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.