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quinta-feira, junho 07, 2018

Antes, depois. Ver para além do óbvio. Fazer diferente.
(Ainda o mesmo tema)





Já o P. me tinha escrito um mail a dizer que eu não tinha razão. Agora também a L. o fez e esta explicou-me como é que isto das carreiras na Administração Pública funciona. O que ela diz não bate certo com o que diz a comunicação social. Os jornais e os noticiários falam em centenas de milhões. O Leitor Prof. João Silva, em comentário, não foi meiguinho: diz que me portei como uma comentadora desmiolada. 

Com dois pontos se traça uma recta, com três um plano. Não sei se com a opinião de três Leitores posso formar uma opinião nova mas sei que devo repensar e informar-me melhor. É certo que a comunicação social é uma máquina fazedora de ruído e que os comentadores partidários mais depressa esgrimem argumentos deformados do que se dão ao trabalho de esclarecer a opinião pública. E, portanto, admito como válida a hipótese de ter emprenhado pelos ouvidos de quem cacareja mais do que informa.


Explica-me a L. que os professores não querem dinheiro, querem tempo de serviço. Mas, com as regras da função pública, provavelmente tempo igual a dinheiro e daí os tais milhões. Mas, admito que o tema não seja de leitura linear e que requeira melhor informação.

Diz o Prof. João Silva que ganha menos do que há 14 anos. Mas não é por ser professor, João. Também eu, que o não sou, estou na mesma. E penso que meio mundo. Com a subida de impostos e com os não-aumentos durante algum tempo, é assim mesmo que estamos. Não me parece que seja caso para nos sentirmos humilhados. É a vida, como dizia o outro. São as circunstâncias. É a crise. É a desregulação do sistema financeiro e do carácter especulativo de grande parte dos instrumentos fnanceiros até há alguns anos. Quando os primeiros se esfacelaram, grande parte dos outros veio atrás e os países, endividados até à medula, foram penalizados em proporção agravada. Portanto, vá de cortes e de subidas de impostos -- e o zé povo (lato sensu) que se lixe.


Mas foi o que foi e o que agora é preciso é conseguir, de vez, de forma sustentada, inverter a tendência de estagnação e continuar a crescer, desejavelmente crescer ainda mais do que até agora para se poder desagravar a carga fiscal e poder ter mais liquidez circulante.

Outra convicção minha muito profunda: o País tem que pôr de lado rivalidades e desentendimentos tribais e unir-se a favor do desenvolvimento. Clivagens, conflitualidades e divisões não ajudam nada.

E acho que o País, no seu conjunto, ainda não é suficientemente 'moderno'. O Estado Social e a Educação, por exemplo, ainda são, a meus olhos, áreas relativamente antigas e fechadas, com muitos dos seus profissionais ainda arreigados a teorias e práticas de outros tempos. O mundo é outro e os príncipios, os objectivos e os processos pouco têm evoluído.

Também acho que os sindicatos são estruturas velhas e relhas, presas a lógicas desfasadas da realidade. Desajudam mais do que ajudam.


Neste caso em concreto, em época de avaliações aparecer outra vez o sindicato dos professores a ameaçar com greves é déjà-vu, já cria anti-corpos no resto da população. Hoje vem a notícia que já não vão condicionar as avaliações mas que, se calhar, vão condicionar o início do próximo ano lectivo. Este clima de ameaça que sempre surge da boca dos professores não favorece a sua imagem junto da população. Podem ter razão, acredito que a possam ter, mas, se a têm, não a sabem transmitir nem sabem gerar empatia com o resto da população. Os professores deveriam ser vistos pela população como agentes de mudança, agentes da modernidade, como agentes da construção do futuro, ensinando esses valores aos seus alunos. E não são.

E se eu tenho que repensar o que disse, e acho que tenho, acho que os professores deveriam também repensar a forma como se mobilizam, como agem e como lutam. Mais: não me parece que seja eficaz a estratégia da vitimização. Nunca é. E aqui, nesta sempiterna luta dos profs, uma vitimização sucessiva, constante, tem um efeito contraproducente. 


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Quem canta lá em cima é a argentina Natalia Doco

O artista de rua que transforma objectos banais numa outra coisa é Tom Bob.


As coisas podem sempre ser outra coisa, Senhores Professores.