segunda-feira, julho 31, 2017

A entrevista do Marcelo ao DN -- não li, não ouvi, não vi.
Bombas atómicas, conversetas alusivas nem sei bem a quê e o escambau...? Ná. Não me apetececeu.
Apeteceu-me, antes, ver a Cara Delevingne a desenhar pessoas nuas.
Capaz de ser aquela coisa da silly season




No post abaixo já vos contei a minha fona de roda da carumba e no truca-truca com o serrote a ver se dava cabo dos ramiosques.

Dizia-vos eu, no textozeco, que a ver se, decorrido um dia, não aparecia desasada. Está bem, está. Ainda vinte e quatro horas não estão decorridas e um dos ombros já está a dar sinal. A ver. Antes de me deitar, ponho uma pomada. Os meus pais diziam 'dar uma fricção'. Acho que agora já se renderam a outras técnicas ou, então, mudaram de vocabulário. Isto a minha mãe que o meu pai já pouco fala. Sou um bocado dada a tendinites, a ver se não dei cabo do ombro. Ou seja, isto de se pensar que a vida no campo dá saúde deve ser encarado com alguma precaução.

Nos entretantos, a minha filha já aqui esteve a vir buscar os figos que tinha deixado esquecidos in heaven. O mais crescido péla-se e, no sábado, debaixo de um calor de ananases, quis ir à cata deles. Fomos as duas com ele e com a demais companhia limitada (limitada aos miúdos, que o resto do pessoal não é maluco e deixou-se estar no bem-bom, à fresca). Mas os figos ainda não estão no ponto. Só apanhámos para aí um quilo deles e é se for. No fim, ficaram lá. Mas o seu a seu dono e deu cá um salto a apanhá-los. Meu rico menino.


E eu já comi alguns, ainda pouco maduros, directamente da figueira. Mornos e meio verdes. Mas carnudos, belos. Não resisti. Adoro figos. Têm calorias que se fartam. Se a nutricionista soubesse destes meus apetites pelo interdito mudava de táctica. Assim, coitada, confia na minha disciplina.

Agora que tenho aquela balança linda, elegantésima, toda xpto, que me ofereceram pelos anos, até fico triste comigo. Com uma precisão obsessiva, a balança não perdoa um grama. Mas a intimidação que provém do rigor dos números, chapando-me na cara o meu peso sem arredondamentos, tudo até às milésimas, não é suficiente. Tanto zelo nutricional para agora, perante um pratito de figos (hoje, antes de vir, fui caçar mais uns quantos para trazer para mim), mostrar que estou pronta para esquecer todo o esforço transacto. Só me apetece devorá-los, com casca e tudo. É o meu lado animal. Nada a fazer.

E, com isto, ao cirandar pelos onlines, não estive afim do Marcelo. Li as gordas e chegou. Mais do mesmo. Prosa e circunstância. Se calhar tudo acertado, não digo que não, mas, a mim, ou a coisa me cheira a fresca ou vai de volta.  Noutro dia talvez eu aguentasse os recados ou as alusões. Hoje, nem pó.


Preferi antes a frescura irreverente da maluca da Cara. Tanto aparece feminina e sexy como arrapazada, assexuada, tanto parece uma sedutora infalível como uma 'não estou nem aí'. Se na fotografia lá de cima a tínhamos numa de femme fatale (avant la lettre, vá), no vídeo abaixo aparece com o look actual, menina-rapazinho algo traquinas. Vê-se o vídeo e fica-se bem disposto. Não fala de orçamentos nem de bombas atómicas nem de nada que se preste a ser referido pelo Marques Mendes na sua charla dominical que também já não se aguenta. Ou seja, o vídeo com a aula de desenho tem graça, não chateia, ninguém o comentará e, por conseguinte, aos meus olhos tem potencial. Se quiserem acompanhar-me, bora nessa, acho que não se perde nada em a gente pousar aqui os olhos.

Cara Delevingne Draws Nude Models | Vanity Fair



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Não sei se a praia este domingo esteve parecida com esta que aqui mostro.
Não pus lá o pés: andei à carumba


Não sei como terá estado a praia por cá. A minha praia hoje foi outra. Resolvemos fazer uma leve tentativa de domar a natureza que, pelas nossas bandas, se afirma com uma pujança desenfreada.
O meu vizinho da ponta da rua há tempos falava da carumba que os pinheiros deitam. Na altura, pensei que era mais uma das dele. Achei graça e passei a dizer carumba por graça. Afinal, agora fui ao Priberam e, para meu espanto, existe mesmo a palavra. Tanto se pode dizer caruma como carumba. Pensei cá para com os meus inexistentes botões: toma e embrulha para não andares a gozar, pensando que o vizinho inventa palavras...
Bem. Dizia eu que. 

Eu, que até gosto de caminhar sobre chão atapetado por ela, achei que devia apanhá-la, pelo menos à volta de casa. Uma tarefa sem fim. Apanhei carrinhos e carrinhos e, enquanto andava naquela fona, ia pensando que estava era bem escarumbada porque nem que todos os dias fizesse uma hora a varrer não haveria de me ver livre dela. 

A ver é se amanhã não estou completamente desasada porque varri que me fartei, a pá é pesada e porque virar um carrinho cheio para o despejar não é pêra mole -- e porque não faço ginásio nem sou camponesa que se preze e, portanto, os meus músculos e articulações não estão ginasticados para empreitadas tão violentas. 

Além do mais, depois também resolvi serrar pernadas de pinheiro que estavam mais baixas e os ramos eram grossos e pimba-pimba-pimba, serrote para cá, serrote para lá,  e é preciso muita força de braços para dar conta do recado. De lenhadora apenas tenho a ambição de ser -- de resto, tenho que reconhecer, falta-me arcaboiço. É que me falta mesmo.

Enquanto isso, o meu marido dedicava-se a trabalho mais duro. Vestiu umas calças velhas 
(digo isto pois, quando fui ajudá-lo, correu comigo dizendo, e cito, 'as silvas picam que se fartam e só uma pessoa passada da cabeça é que aparecia aqui assim' -- nb: obviamente eu estava de fato de banho já que, com o calor que estava, outra toilette não me seria suportável) 
e foi lá para baixo ver se dava conta de um silvado que já tinha subido pela barreira, silvas que parecem lianas grossas e com metros de comprido. Ele corta e puxa, puxa com toda a força que as malvadas enleiam-se umas nas outras, enleiam-se na ameixeira e na figueira, e elas parece que não acabam. No fim, tinha um monte de silvas e mato que destruiu e enrolou. 

E ainda veio ajudar-me a acabar a última e mais grossa pernada do pinheiro que eu já estava com pouco rendimento. Depois, tirou-lhes os ramos fininhos e levou-os para o buraco onde se põe o mato cortado, e os ramos grossos ficaram cá em cima para os cortar para uma próxima e servirem de lenha para o inverno.

Só almoçámos lá para as duas e tal, depois de um belo banho. A seguir ao almoço, como seria expectável, deixámo-nos dormir.

Depois ainda apanhei umas ramadas de eucalipto e de alecrim para levar à minha mãe -- um ramo tão cheiroso, um perfume a campo e a ar limpo que dava gosto. E que, ao recebê-lo, a deixou toda contente.


Agora que já passa das onze da noite, já fizémos as nossas visitas familiares, já fiz uma máquina de roupa, já fiz sopa e adiantei comida, já fiz arrumações e já passei um brilhozinho nas unhas.

E, portanto, agora que terminei a jornada, posso dar-me ao luxo de estar na preguiçota, folheando onlines, vagueando pelo mundo.

E, nesta flanação, fui dar com uma imagem inenarrável. Olha-se e não se acredita. O que leva as pessoas a enfiarem-se numa praia como a que aqui se vê, encostadas umas às outras, na maior promiscuidade? E tudo de bóia. Para que será a bóia? Até dá a ideia de terem pé, e nadar também não conseguem... De loucos. Uma coisa assim parece-me um pesadelo. Como é que é possível?

Chinese tourists swim in the lake called the ‘Dead Sea of China’ in the resort of Suining.
(The Guardian)

Caneco. Muitas mil vezes andar a apanhar carumba ou a serrar pernadas de árvores em dia de calor do que entrar numa água que mais deve parecer uma canja carregada de miúdos -- pescoços, asas e patas a boiarem everywhere (senão mesmo cabeças com bicos e tudo...) --, com gente encostada por todos os lados. O mundo, em alguns dos seus pedaços, pode ser um lugar verdadeiramente atrofiante. Foge.

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E uma bela a semana a todos, a começar já por esta segunda-feira.

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domingo, julho 30, 2017

Patinos e outras cenas



Como abaixo contei, este sábado foi dia de alta brincadeira e grande animação cá por casa. Como estava um calorão na rua, parte do dia foi passado dentro de casa.

Há um móvel grande na despensa, que nesta casa é um compartimento com uma dimensão incomum, que está cheio de brinquedos que eram dos meus filhos. Penso que até tem brinquedos que eram do meu marido (os meus devem estar no sótão da casa dos meus pais). Aquele meu móvel ali é uma autêntica arca do tesouro de onde saem brinquedos e jogos de toda a espécie e feitio que fazem as delícias dos pimentinhas. Quando comprámos esta casa, o anterior proprietário deixou cá alguns móveis. Na sala havia um enorme móvel escuro, daqueles que têm vários compartimentos, portas em baixo, estantes e bar e portas de vidro e sei lá que mais na parte de cima. De parede a parede. O meu marido, que detesta móveis escuros daquele género, era de opinião que se desse ou deitasse fora. Eu que sou aproveitadeira achei que ia mas era para a despensa que dava jeito para arrumações. E se deu...

Às tantas, o mais crescido lembrou-se e foi à estante dos livros infantis que está ao fundo do corredor e escolheu dois livros, um da Aventura e outro das Viagens no Tempo. Depois fomos pô-los a arejar, ao sol. Eram da mãe. Há anos que estão guardados. Descobriu o prazer da leitura e eu fico mesmo feliz.


A prima contou que, no caminho para cá, também leu um livro inteiro, um livro que a bisa lhe ofereceu quando esta semana lá foram visitá-los. Para a viagem de ida, tinha um outro. Também gosta muito de ler.

A mãe dele e o pai dela também começaram a ler livros quando eram pequenos e hoje, felizmente, têm uma biblioteca razoável e um gosto pela literatura que só pode ser boa influência para os filhos.

Os pimentinhas mais pequenos ainda não sabem ler mas espero que, logo que saibam, vão pelo mesmo caminho. Não há maior fonte de enriquecimento do que a leitura. São novos mundos que se abrem, é um prazer inesgotável.

E todos eles gostam de fotografar. O mais velho também gosta de realizar filmes. E o que era o mais novo antes do irmão nascer canta que é uma coisa extraordinária. Canta e interpreta. Canta ópera com uma atitude corporal que impressiona. E canta noutras línguas, especialmente em grego. Digo que é grego porque é o que me parece porque, para dizer a verdade, não conheço as línguas em que ele canta, quando está mais inspirado. E gosta de ter público e pede para o público interagir com ele. Nisto não sai nada ao pai que o pai nunca foi nada destas performances. Mas há uma coisa em que é igual ao paizinho. Quando o pai era pequeno, era maluco por seios femininos. Andava sempre a espreitar e a ver se mexia. Uma taradice. Uma vez na Gulbenkian, vi-o com ar malicioso a ir à socapa apalpar as mamas de uma estátua, um torso que estava à altura dele. Outra vez, ao passar numa montra de lingerie, a alegria dele a ver os soutiens nos manequins, o ar de raposia... Pois o filho é igual. Não há explicação. Vem dar-nos beijinhos, todo folgazão, e, mal uma pessoa se distrai, lá vem a mãozinha malandra pôr a mão onde não deve. A genética tem muita força. O outro primo, o que tem uma destreza física fantástica, gosta de efabular, uma imaginação e um facilidade em dar-nos a volta que só visto. Deste, já uma vez contei a mais emblemática mas, se me permitem, recordo-a de novo. Uma vez, quando ainda falava à bebé, disse-nos: 'Eu góto muto de patinos'. Ficámos espantados. Gostas? Mas gostas como? 'Góto de comê'. Ainda mais espantados. Mas já comeste? 'Já. Uma vez. E gotei muto'. E volta e meia aquilo: 'Eu goto muto de patinos' Eu dizia: Mas dito assim até parece que estás a falar dos patinhos do lago. E ele dizia: 'Ma não, goto é de patinos de comê'. Até que um dia resolvemos fazer-lhe uma surpresa. Fomos a um restaurante chinês e pedimos que nos colocassem uma dose de pato à Pequim numa embalagem. E lá fomos a casa. Temos uma surpresa para ti! E ele muito admirado. 'O que é?'. Ele e o irmão, 'O que é?'. Abrimos a embalagem: Patinho!. E então, para nossa surpresa, ele, ínfimo, dois ou três anos, nem sei, recuou quase enojado, 'Éia a bincá...'. Nós dois com cara de tacho. O quê!? Não gostas? E ele, ar infeliz, incomodado com a perspectiva, um esgar quase de náusea 'Não... éia a bincá...'. E logo o mano-velho, até envergonhado com a blague do irmão 'Ficas mal... vieram os avós trazer-te pato, de propósito... e agora não queres...?' E ele, recuado, aflito, não fossem obrigá-lo a comer: 'Nãããoooo... Não quéio comê patino...'. O meu marido: Sacana do puto que nos enganou bem enganados.

Embora ainda pouco saiba escrever, gosta de se sentar a escrever, letrinhas, páginas cheias de letrinhas. A minha mãe diz que, com o que ele gosta de criar histórias e o que gosta de escrever, ainda vai ser escritor. Quem sabe. Sairá à mãe que gosta tanto de escrever. É a tal genética.


O meu filho hoje disse que a filha tem um outro tique em que é igual a mim -- que ela, quando vai fazer um carinho a um dos irmãos, faz uma expressão igual à que eu faço, como que põe o queixo um bocado para fora, como se fosse atacar. Achei graça porque já reparei muitas vezes nisso, nela. Não sabia é que eu também fazia o mesmo. Agora o que sei é que não é para atacar. Ou melhor: é. Uma onda de ternura subleva-nos e temos que exteriorizar com beijos e abraços e tem que ser na hora porque é um instinto que não vai lá com sublimações metafísicas, tem que ser mesmo na base da exteriorização, muitas vezes até uma manifestação excessiva aos olhos dos mais moderados. 

Só para te chatear, baby...!
(Quando eu estava a fotografá-lo, quis impedir-me, perguntou se era para pôr no blog, que não queria. Ora não era nada, nem tinha pensado em tal, juro. Mas, já que me deu a ideia, aqui está...)


Ela hoje esteve a pintar. Enquanto o pai fazia o retrato da mulher estendida no sofá (a irmã disse que a figura tinha um ar um bocado amacacado e a modelo não se reviu, disse que mais parecia um rapaz -- não sabem que o que se faz não tem que ser uma réplica do que se vê e que o prazer está no fazer, não na obra feita), a little princesinha fazia o que disse ser o retrato da Madalena, uma amiga da escola. Tal como eu, também ela parece ser incapaz de usar cores suaves. A Madalena tinha a cara encarnada e toda ela era cores fortes sobre um fundo vibrante. Acho uma piada. 

Gosto que gostem de pintar. De fotografar. De filmar. De cantar. De ler. De brincar. De rir. 

A educação para a arte nasce com a ousadia de ver as coisas de uma outra forma, nasce com o contacto com a expressão livre do uso de diversos materiais e com a habituação às diferentes leituras do mundo, nasce com a alegria de viver e de ver a vida em todas as suas formas.

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E hoje está a dar-me para isto. Provavelmente é agradável para mim escrever sobre eles, amores da minha alma, mas não tem interesse nenhum para quem me lê. Por isso, na senda do post de baixo, volto a tentar compensar com um vídeo que acho bastante interessante. As obras são muito belas, o lugar onde Ali pinta é uma maravilha e a contenção com que se exprime parece revelar um grande domínio sobre o que se adivinha intenso.

Ali Banisadr's Impassioned Landscapes 


Born in 1976 in Tehran, Ali Banisadr moved to America when he was a child. His works are influenced by his experiences as a refugee from the Iran-Iraq war and his approach to abstraction mixes memory, nostalgia and violence. He is best known for his large, lush, highly intricate paintings featuring fantastical landscapes reminiscent of stained glass. Ali experiences synaesthesia, a condition which shapes his perception of the world, and a dimension of his work. His work can be seen in the Metropolitan Museum of Art in New York, the Museum der Moderna in Salzburg, the Museum of Contemporary Art in Los Angeles and the British Museum.


 

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E queiram continuar a descer, especialmente se precisarem de inspiração para o que fazer para o almoço.

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Saber quem somos
ou nem por isso


Estou como o outro: 
conhecer-me a mim mesma? Mas para quê? 

E essa coisa do 'eu' existe? Não estou certa disso. E, se existir, é mutável, é diferente consoante quem o vê. É uma ficção. Um holograma. Para quê, então, perder tempo com tão desinteresse tema?

Depois de um dia do mais preenchido que se possa imaginar, não consigo desenvolver mais do que isto sobre tão importante problemática. 

Fotografia feita pela pimentinha-menina ao seu vestido

Levantei-me por volta das nove da manhã, desatei de imediato a cozinhar. Depois, lá para as onze e picos, chegou o pessoal e foi non stop até perto das vinte.

Como sempre, achei que estava a fazer comida que dava para um quartel. E vieram iogurtes gelatinados, gelatinas variadas e mousses em quantidades que achei que me tinha desorientado nas compras. E fruta. E pão. E tudo. E tudo muito. Mas não. Há ainda, para aí, alguns restos mas não muitos e é daquelas coisas: pensei que ia sobrar muito mais; mas o que aquelas almas devoram é impressionante. Digo isto deliciada porque se há coisa de que os caranguejos gostem é de alimentar os outros. A questão está na dúvida sobre as quantidades a trazer para a próxima pois cada vez comem mais. Estou no supermercado, o carrinho a transbordar e eu a pensar que é um exagero, que estou sem tino. Afinal, vendo agora o que sobrou, penso que devia apontar as quantidades e, a cada semana que passa, multiplicar por um factor que assegure que a quantidade é sempre crescente. Os pimentinhas estão grandes, fazem muito exercício, comem de gosto. Na verdade, estou até a pensar que terei que comprar tacharia XXXL quando forem adolescentes.

Fotografia feita por um dos pimentinhas rapazes ao chão da sala onde estavam a brincar depois de almoço, quando estava calor demais para estarem lá fora
(a carpete é um tapete de arraiolos feito por mim à mão livre, sem desenho, bordando a la volonté)


No outro dia, num restaurante, vi uma menina que teria uns quatro ou cinco anos e a quem os pais tinham que insistir para comer, chegando a mãe a dar-lhe a comida à boca.

Com os meus, um número destes é impensável. São uns lorpazinhos. Para já, quando estão a ser servidos ou a servirem-se, querem tudo e querem mais. Depois começam a comer e, geralmente, é até estar o prato limpo. Ou, se chegam a um ponto em que dizem que não querem mais, toda a gente sabe que é porque estão a deitar por fora e nem vale a pena insistir. Se não querem é porque não querem. Até o bebé, que já começou a comer sopa e papa, vai pelo mesmo caminho. Come de gosto. Come e mama. No meio do maior reboliço, ali está ele a mamar como se estivesse no maior sossego.

E falo dos pimentinhas mas os seus progenitores são também, e felizmente, uns bons garfos. E, portanto, é de gosto que vejo que a comida que eu achei que ia dar para comer e vender, quase desaparece.
Agora ao fim do dia, e para aí no 2º ou 3º lanche, antes de saírem, e dado que foram daqui para um outro programa que incluía jantar, não comeram o que sobrou do almoço mas, sim, iogurtes, sandes, fruta. Excepto a minha filha que temeu que o jantar dela se atrasasse e preveniu-se também com um pouco da salada de frango que sobrou do almoço (frango do campo cozido em água com uma cebola, depois desfiado, cuscus feito no caldo do frango, beterrada cozida e maçã crua cortadas aos quadradinhos, pevides de abóbora, queijo feta cortado também aos quadradinhos, tudo envolvido com azeite). E excepto também a bela princesa de olhos claros como água de cor incerta que disse que queria peixe cozido. E batata e ovo cozido. E, quando eu estava a servir, disse: 'Podes pôr mais peixe, Tá'. Dá gosto ver o gosto dele por este pitéu. Também resto do almoço. (Cozi uma corvina grande. Depois desfiei grosseiramente e coloquei num tabuleiro. Por cima, coloquei metades de ovos cozidos. À parte tinha cozido batata normal, batata doce, feijão verde e os ditos ovos. Noutro tabuleiro dispus cada variedade em separado. Reguei ambos os tabuleiros com azeite. Mas quem quis, usou também maionese ou ketchup. Servi tudo frio, ou melhor, à temperatura ambiente). 
Guardanapos da papel que serviram para o meu filho e a sua filha irem limpando os pincéis enquanto pintavam, cada um a sua tela

Mas adiante. Dizia eu que, quanto a questões de identidade ou fisofices em torno de quem sou ou deixo de ser, isso terá que ficar para um dia em que eu esteja mais dada a profundidades. Agora estou mais na base da ligeireza. A linha de raciocínio está cá mas está na fundura, acho que não consigo alcançá-la. Portanto rendo-me ao que alcanço (culinária, afectos, coisas assim)

Mas, para que não sintam que estar aqui é tempo completamente perdido, deixo-vos com um interessante vídeo onde poderão algum desenvolvimento sobre o tema que eu não consegui nem aflorar.

Entretanto, transcrevo:
A BBC lançou uma série de vídeos de animação que explicam de uma maneira simples e divertida os principais conceitos de grandes pensadores. As animações, que possuem em média um minuto e meio de duração, foram escritas pelo filósofo britânico Nigel Warburton, e são narrados por grandes nomes do meio artístico, como Stephen Fry, Gillian Anderson, Aidan Turner e Harry Shearer. Os vídeos foram reunidos em uma série intitulada “A History of Ideas”, “Uma História das Ideias” em português, e disponibilizados no canal do Youtube da emissora.

Know thyself


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Até já.

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sábado, julho 29, 2017

Trump subtrai e segue.
De mal a pior, ilustrando o que é um caminho aceleradamente descendente a caminho do abismo.
[Agora é Scaramucci versus os outros da Casa Branca (incluindo o acrobata-tarado Steve Bannon) que põe os americanos de cabeça à roda]


Nem vou dizer muito. Faltam-me palavras para me referir ao tema. O que se tem passado naquela pangalhada da Casa Branca é do mais estapafúrdio que se pode imaginar. Nem nos filmes mais delirantes do Borat ou da Esquadra de Polícia se encontram macacadas mais hilariantes do que os inenarráveis números a que se tem assistido sob o comando do pato-palhaço Donald.

Podia ser apenas uma sucessão de alarvidades macacas mas, não nos esqueçamos, isto passa-se com o homem que provavelmente é o mais poderoso do mundo.

A quantidade de gente que ele já despediu, os anormais que nomeia, as humilhações a que sujeita os membros do governo tratando-os publicamente como retardados, as vergonhas que faz em visitas oficiais, as ideias estúpidas e balofas que tem, os gestos, os actos -- tudo, tudo é embaraçoso.

Mas quando se pensa que aquela gente estranha já desceu mais baixo do que o tolerável, eis que aparece alguém que lambe a sargeta antes de falar e mostra como se pode ser vulgar, ordinário, rasca e completamente parvo em meia dúzia de palavras. Steve Bannon não é flor que se cheire, aliás é mais do que sinistro. Mas dizer dele que chupa o próprio pénis, como Scaramucci disse, já me parece um exagero pois é dar-lhe um inusitado picante que a besta desmerece. Aliás, sempre ouvi dizer que, para tal, algumas costelas deverão ir ao ar e que o corpinho deve ser facilmente dobrável o que não parece ser o caso do entroncado Bannon, que tem mais ar de besta canibálica do que de gótico mal alimentado como Marilyn Manson. Mas, enfim, presume-se que era apenas uma não especialmente elegante metáfora de Scaramucci. 


É tudo mau de mais, é tudo para além do imaginável. O que espanta é como isto aconteceu. Que reviravolta deu o mundo para que as coisas tenham ficado de patas para o ar ao ponto de se ter chegado ao estado de degradação a que a Casa Branca chegou. 

O vídeo abaixo mostra a reacção dos jornalistas nos Jovens Turcos. Deitar as mãos à cabeça é pouco mas, face ao inusitado do que se passa em volta do doido varrido Trump, é o que ocorre fazer, lá isso é. 

Scaramucci Destroys Steve Bannon In NSFW Interview

The Young Turks



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Mas quem é Anthony Scaramucci, o novo Porta-Voz da Casa Branca?


The Guardian mostra:

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Na verdade, depois de tudo isto, o que se segue?

Dispararem um míssil nuclear just for the fun of it...?
Ou desleixadamente ignorarem os riscos de coisas perigosas que têm em mãos?

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sexta-feira, julho 28, 2017

Carlos Abreu Amorim, Hugo Soares, Telmo Correia et al.
-- não sei se têm espermatozóides a menos mas carência de neurónios parece mesmo que sim.
[Isto a propósito da fatídica lista das 64 vítimas, do SIRESP e não só;
e com uma sessão de coaching a cargo da Porta dos Fundos especialmente dedicada à trupe da bancada parlamentar capitaneada pelo auto-flagelado Hugalex ]



Parece praga. Não se consegue ver um canal português. Aparece gente doida a toda a hora e tornam-se ainda piores quando acicatados pela comunicação social.

Agora é o SIRESP. Depois de se ter esgotado o tema da lista das vítimas, agora andam agarrados a outro osso. O Siresp. Não conheço o assunto, não sei se o dito cujo foi bem ou mal concebido, nada sei --  mas uma coisa eu sei: é matéria tecnológica e, portanto, não é qualquer badameco (desses para quem mais zero menos zero, vai tudo dar ao mesmo ou para quem milhares ou milhões é tudo igual ao litro) que consegue perceber o que é que está em causa. 



Podem as pífias cabeleireiras ou os decoradores a granel que ocupam os lugares de jornalistas e de deputados pafiosos (e, atenção, nada contra as cabeleireiras e os decoradores) falar com desdém dos problemas do Siresp como se, se fosse com eles, já aquilo estava feito em cacos, os contratos rasgados e um novo sistema já a funcionar no terreno... que o valor do que dizem é nulo. Nulo. 



Há bocado ouvi um -- que presumo que fosse atrasado mental -- a dizer com ar superior que há 40 dias que há problemas e que ainda não estão resolvidos. E abanava a cabeça, com ar arrogante, como se tal fosse incompreensível e imperdoável. 

Em abstracto, e sem conhecer o Siresp, o que posso dizer é que, quando uma grande empresa ou um grupo de empresas muda de operador de comunicações, há dezenas de técnicos a estudar o assunto, há muitas dezenas de técnicos e não técnicos a passar cabo, a montar antenas ou a instalar equipamentos, há investimentos que não são brincadeira, há um projecto de migração que dura meses, há problemas de toda a ordem até que a coisa estabilize e, no fim, especialmente a nível de rede móvel, há deficiências variadas quando comparadas com o que havia com o anterior operador. E estou a falar de umas quantas empresas. Imagine-se o que é assegurar comunicações permanentes em todo o país. Se há operadores que levam meses e meses para assegurar cobertura razoável em lugares urbanos ou junto a vias principais, imagine-se o investimento e os estudos necessários para assegurar cobertura (e cobertura redundante!) em serras, vales, margens de rios perdidos entre desvãos de montanhas.


Portanto, não me admiro nada que o Siresp apresente falhas em situaçao de catástrofe natural como a que se tem vindo a assistir (com serras inteiras a arder e, forçosamente, postes, cabos, antenas e sei lá que mais também arder). E quem diz Siresp diz sistemas da MEO, da NOS, da Vodafone. Se em situações normais há deficiências -- e é natural que as haja, porque instalar infraestrutuas ultra dispendiosas para meia dúzia de utentes não é coisa que nenhuma empresa faça, a menos que a tal seja obrigada e, de alguma forma, ressarcida -- é mais do que natural que, em situações extremas como as que se têm vivido, os problemas de comunicações se verifiquem.

Que há coisas a melhorar, pois admito que sim. Sempre há. Que o Siresp tem que ser analisado, pois admito que sim. Sempre que alguma coisa é posta à prova, mil oportunidades de melhoria sempre surgem. Mas isso é o natural. O que não é natural é transformar qualquer assunto num carnaval, numa deplorável chicana. Seja como for, é matéria do domínio da engenharia e tem pesados investimentos subjacentes. Fazer estudos, obter orçamentos e fontes de financiamento, planear, instalar, testar, etc, é coisa que não é da ordem dos dias mas dos meses. 40 dias...?! Nem 4 meses! E é coisa para especialistas na matéria, não para burros encartados ou estólidas cavalgaduras.


Mas vá lá conseguir falar-se de alguma coisa séria neste país com esta comunicação social descerebrada e com os deputados mentecaptos que andam a dar cabo do inteligência do país. Não sabem nada de coisa alguma, armam-se em polícias, minam a confiança nas instituições, desestabilizam tudo em que tocam.

Estava a ver a pobre Ministra Constança e aquele pobre Secretário de Estado que tem mostrado uma presença de espírito fantástica, na Assembleia da República, a enfrentar uma mesa hostil onde pontuava o exemplar acabado da política de esgoto, Carlos Abreu Amorim de seu nome, secundado por aquele Telmo Correia que gosta de se mostrar como cão de fila dos donos. As perguntas que faziam, as acusações, o quase fazerem birra para que os governantes se demitam, a formam absurda como falavam é de uma pessoa se sentir revoltada. Ou pior que revoltada: envergonhada. Os políticos, como representantes do povo, deveriam ser o que de melhor o país tem. Mas não. Em especial neste PSD e neste CDS parece que é o rebotalho.



Devia ser exigido que, para se exercerem algumas funções como a de deputados, os candidatos fizessem testes de aptidão: QI, cultura geral, bom senso e estabilidade psicológica. Com certeza que, se houvesse um crivozinho e nem precisava de ser muito exigente, não teríamos cenas macacas na AR como aquelas a que assistimos nem o País estaria como estava.

Entretanto, na televisão, a macacada é a mesma. Jornalistas que não fazem ideia do que estão a falar, que fazem trejeitos patéticos, que levam qualquer coisa para o lado do drama, que põem uns contra outros, que incentivam a peixeirada em torno de boatos ou de ignorâncias, que relatam banalidades com mal contida histeria, que dão palco a gente desqualificada, que perseguem a intriga, o esguicho de sangue ou a facada nas costas. Uma vergonha.


O meu marido, há bocado, ouvindo umas alarvidades (do ponto de vista técnico e não só), dizia: 'os jornalistas são dos que mais m.... fazem; dão cabo disto tudo'. E é verdade. Com o seu populismo, a sua ignorância e a sua prepotência os jornalistas (e comentadores) fazem um chavascal, armam confusão, viram a cabeça das pessoas do avesso. Um perigo esta cambada que por aí anda.


Li que em apenas 40 anos, a contagem de espermatozóides de homens no mundo ocidental caiu mais de 50%, revela um estudo publicado na revista Human Reproduction Update. Estamos perante um problema de saúde pública, avisam os investigadores.



Uma maçada isto. Diz que, a continuar assim, não tarda acaba a espécie. Chato. Mas, cá para mim, talvez ainda mais grave que a rarefacção de espermatozóides é a crescente perda de neurónios. Para já isso é muito evidente em alguns partidos e na classe dos jornalistas. Isso é que irá, na verdade, a dar cabo disto tudo.

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Já agora:

A esta hora já o inteligex Hugalex deve estar reunido com o pudim Amorim e outras feras lá da laranja furada a ver como é que agora, depois do papo furado da lista da 'empresária' e do tema meio chato do SIRESP, hão-de captar a atenção do coito dos boateiros do Expresso, da balsemónica SIC, da flausina Judite, do jornal de referência Correio da Manha e de todos os outros que, na iminência da falta de assuntos, também já devem estar a levantar pedras da calçada a ver se descobrem minhocas esfaceladas, baratas violadas pelo tio, formigas implicadas no Caso Marquês, ou mesmo pombos-correio embuchados de milho por culpa da ministra Constança.


E eu, sempre atenta aos desvalidos, especialmente aos desvalidos mentais, aqui estou para ajudar. É só seguir o guião que ideias aqui não faltam.

Deputado -- Porta dos Fundos



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De nada.

Sempre às ordens

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E, a todos quantos aí estão desse lado, desejo uma bela sexta-feira.

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quinta-feira, julho 27, 2017

Hugo Soares = nojo *
Ascensão e queda de um líder parlamentar falhado - ou a fatal entrada em cena do Hugalex.
-- E mais um passo em falso da Cristas da Coxa Grossa --
[Já para não falar em mais um prego no caixão do jornalismo em Portugal que os boateiros do Expresso fizeram o favor de espetar]


Não estou em grande forma. A outra noite, para mim, não foi bem uma noite, foi mais um dia de juízo. Agora, um bocado cansada e muito mal dormida, estava aqui mais numa de assuntos tranquilos, daqueles que não me indispõem. Percebam-me, por favor: nem todos os dias está uma mulher pronta para a guerra. Tem dias em que se está mais numa de, suavemente, deixar correr a pena, o coração nostálgico, a melancolia a tolher-nos as mãos -- e nós sem darmos luta. 
A dor de um filho que perde um dos seus progenitores não é coisa pouca e, tanto pior, se, à altura da perda, for quase criança e as sombras abruptamente invadirem um espaço que antes era de luz e amparo. 
E foi neste estado de espírito que, serenamente, falei da memória que guardo da fatídica noite de 31 de Agosto de 1997 e do tributo que, vinte anos depois, os filhos prestaram à sua mãe Diana que foi Diana de Gales.

E agora, na mesma pacífica modorra, estava aqui a ler blogues alheios, por vezes prova saborosa, enquanto na televisão correm as notícias do dia.

O fogo a devorar tudo o que é verde. Correndo montanhas, atravessando estradas e rios, o fogo avança como um bicho esfaimado, um bicho de grandes patas, de ameaçadoras goelas. Fogo e mais fogo. O fogo é um dos elementos matriciais disto tudo. O ar, a terra, a água, o fogo -- tudo muito para além do que a inteligência e a força humana conseguem dominar. Por vezes, parece que nos esquecemos que a natureza, quando se agiganta, é capaz de devorar quem ousa desafiá-la. A seca, o vento, gestos irracionais (tantos incendiários que há no meu país... alguém já terá estudado seriamente este fenómeno?) e a pouca sorte são uma mistura explosiva.

Mas, logo a seguir, talvez porque, pelo meio, me tenha distraído e perdido o fio à meada, lá me apareceu o desinfeliz Hugo Alexandre, agora já na versão 'derrotado pela evidência dos factos'.


E quais os factos a que me refiro? Não é certamente à lista dos que pereceram na tragédia de Tancos, que eu não tenho por hábito juntar-me aos abutres que não passam sem rondar a carniça nem vou atrás dos boatos que o Expresso lança para a praça pública (mostrando os riscos que a democracia e a liberdade de expressão comportam ao serem usadas para minar a confiança nos seus pilares). Não. Os factos que derrotaram a ambição política do Hugo Alexandre Soares, aka Hugalex, são mais simples que isso. 

Não sou supersticiosa mas acho que não é bom augúrio começar o que quer que seja alicerçando-se sobre aldrabices envolvendo mortos. Os mortos merecem respeito e contenção. Ora o Hugo Alexandre resolveu cavalgar uma trapalhice a que o Expresso, num mais infelizes episódios da sua história, resolveu servir de megafone. Mostrando ter falta de tino, falta de bom senso, falta de sentido de estado e de solidariedade humana para com os familiares das vítimas, o ridículo Hugalex, depois de um desafiador 'dou 24 horas' e de, ao cabo de pouco mais do que isso, ter recebido, através da tão demandada 'lista dos mortos', o atestado público da sua estupidez apareceu perante as câmaras de televisão a mostrar como é patético o exercício público de enfiar o rabo entre as pernas. Contudo, em vez de o fazer de pianinho, low profile, a ver se passava despercebido, não senhor: intelectualmente pouco honesto como é e bastamente desinteligente como tem demonstrado ser, ainda apareceu com o dislate de vir congratular-se pelo fim da polémica sobre a lista dos mortos -- como se fossemos parvos e não estivéssemos todos carecas de constatar que quem mais alimentou a polémica foi ele, justamente ele.

Uma indigência política esta a que chegámos, quando uma função como a que o Hugalex agora desempenha, é entregue a alguém tão incapaz como ele.

E estava eu a antever que aquela pobre e destituída figura não se aguentará muito tempo nestas suas novas funções quando logo a seguir me apareceu outra que tal -- a Cristas, na televisão, também a culpar o Governo de ter criado o furdunço em volta da lista dos mortos e, tal como o outro, a mostrar que em boa hora e muito justamente os portugueses mostraram querer ver-se livres desta seita dos PàFs, gente que dá ânsias a qualquer português bem formado e com dois dedos de testa.

São os salvados dessa gentinha que agora por aqui andam, à babugem dos boatos que as sobras da comunicação social vão espalhando. Julgam os portugueses à sua imagem e semelhança, julgam que papamos toda a porcaria que nos querem impingir. Mas enganam-se: estou em crer que ainda há muita gente inteligente.

Não posso terminar a referência a este fétido capítulo da política e do jornalismo da era lapariana sem referir uns quantos nomes que ficarão bem ao lado do Hugo Soares, da Cristas, do Láparo e desta gentinha-poucachinha que infesta a política nacional. Refiro-me a alguns representantes do jornalismo desclassificado que, por estes dias, campeia em Portugal e que mostraram, uma vez mais, que, a continuarem assim, um dia destes os portugueses vão achar que estão melhor sem eles. E são, a saber: João Miguel Tavares, Pedro Santos Guerreiro (de quem eu, antes dele entrar para o coito dos boateiros, até gostava), Bernardo Ferrão. Populistas, fuxiqueiros, levianos, cheios de uma empáfia que ainda os desvaloriza mais. Falo nestes mas, atenção, não são os únicos, são apenas, pelos piores motivos, três bons exemplos -- até porque seria uma felicidade se fossem só três e não, não temos essa sorte. Upa, upa. 



* nojo = luto, repugnância
(escolham, os meus doutos Leitores, qual o sinónimo que melhor se adequa ao momento político que o líder parlamentar do PSD resolveu criar e nele se enterrar)
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NB: As imagens com que polvilhei o texto não têm muito a ver. Quis ter aqui algum toque de humor já que a conversa era sobre gente que não é boa companhia. Encontrei-as no Bored Panda e gostei. Umas mostram uma mulher dita 'normal' que resolveu mostrar como fica quando reproduz fotos de beldades e outras mostram actos de vandalismo urbano, mas um vandalismo inócuo e divertido.

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Permitam que relembre: caso vos apeteça mudar para um registo, queiram descer até Diana, a nossa mãe (incluo o vídeo completo)

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Diana, a nossa mãe.
[Diana, Our Mother - Her Life and Legacy]



No vídeo que abaixo partilho, pode ver-se o tributo de dois filhos que querem mostrar ao mundo as memórias que guardam (ou que outros guardam) da mãe de quem se viram abruptamente separados quando eram ainda miúdos. Tendo crescido debaixo dos holofotes e vivido uma infância e adolescência muito atípicas, William e Harry são ainda pessoas sobre quem impende um conjunto de obrigações e restrições que não devem ser nada fáceis de suportar.


No dia 31 de Agosto de 1997, e custa-me a acreditar que já passaram quase vinte anos, eu tinha tido um grande jantar em minha casa. Era já bastante tarde, estava calor, tínhamos as janelas da sala abertas e conversávamos animadamente. Os miúdos, os meus e vários primos e amigos deles, deviam estar noutra sala. 


Estes jantares prolongavam-se sempre pela noite adentro. No fim, um ou outro estavam sempre já razoavelmente bebidos e o humor rolava sem condicionantes. Nessa altura, um dos casais mais animados ainda não se tinha separado e éramos um grupo que regularmente se juntava para prolongados e animados repastos. Ele, em especial, era um pândego que, se fosse preciso, fazia sozinho a festa. Contava histórias, ria, pregava partidas, fazia maluquices. Contudo, entre ele e a mulher, havia sempre um equilíbrio à beira do precipício. Por vezes, do nada, nascia um desacato entre eles. Mas já ninguém ligava. Fazia parte do programa. Depois ficava tudo bem.

Essa era uma dessas noites.

Não sei a que propósito, no meio da animação, alguém ligou a televisão. E, de repente, o ambiente gelou. Ficámos mudos a olhar para a televisão. Ninguém chorou mas todos ficámos emocionados. Diana tinha morrido. Custava a acreditar. Quase queríamos que alguém aparecesse a dizer que tinha havido um engano, que afinal estava viva. Só dizíamos: 'Não pode ser'.

Dias depois, num almoço entre colegas que já não trabalhavam juntos e que se tinham reunido para pôr a conversa em dia, veio à baila a morte de Diana. Era eu e mais, salvo erro, onze colegas, todos homens. O almoço tinha sido bem regado e, depois de se ter falado de negócios, de aquisições de empresas, de processos em tribunal e de muita paródia, ali estávamos, comovidos a falar da morte de alguém que parecia que nos era próximo. Um deles, executivo bem sucedido e a quem a bebida costuma dar para o sentimento, confessava que não tinha conseguido sair a frente da televisão enquanto tinha durado a transmissão do funeral. Outro gozou: 'Mas quê, Sr. Engenheiro, chegou mesmo a chorar...?' e ele, verdadeiramente comovido, 'Não, Doutor, chorar não chorei mas só porque consegui conter-me' E estava a falar verdade, ainda emocionado. Certo que, quando quis ir à casa de banho, receou não conseguir ir a direito.


Não sei qual vai ser o futuro dos filhos de Diana mas, apesar de não simpatizar com os regimes monárquicos, a verdade é que simpatizo com estes rapazes que cresceram à nossa vista e que, de crianças brincalhonas e sorridentes, passaram rapidamente para um outro capítulo. A imagem que todos vimos, uns pequenos homenzinhos a caminhar atrás da caixa que levava o corpo da bela mulher que, para eles, era apenas a sua mãe, é uma imagem que não se esquece facilmente.

Diana, se ainda vivesse, seria a super avozinha de George e Charlotte e o mundo gostaria de ver como aquela bela mulher sempre tão maternal, se entregaria à alegria de brincar com os seus netos. 



Diana morreu quando tinha 36 anos (a mesma idade que tinha Marilyn Monroe, outra mulher bela que, igualmente, nunca se sentiu bem amada e que também travou uma luta para ser aceite como uma mulher inteligente, com ideias e vontade próprias). Diz-se que morrem cedo aqueles que os deuses amam mas, como eu não sou dada a crenças, não sei se isso é verdade. O que sei é que aquela mulher de quem diziam ser ingénua ou excessivamente emotiva soube tocar o coração de muita gente e é ainda com uma estranha sensação de proximidade (mesmo de proximidade temporal) que ainda vemos as suas imagens. E estou a falar e, sem querer, a colocar a frase no plural quando apenas devo falar por mim. Mas, vá lá saber porquê, acho que não haverá quem não sinta simpatia por Diana. 

(Ok, talvez a Camilla ainda não goste muito dela)

O vídeo não está legendado mas, ainda assim, aqui o deixo.


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quarta-feira, julho 26, 2017

Uma casa na árvore



Noite algo atribulada. Não sei se vou conseguir escrever muito mais do que isto. Portanto, para o caso de não conseguir, aqui fica informação relativa ao tema sobre o qual hoje gostava de poder escrever. Comprei à hora de almoço um livro que me faz trepidar de imaginação e de vontade de partir para a loucura: 'Tree houses'.


Desde sempre as casas nas árvores me encheram de fascínio. É todo um mundo de fantasia que sempre me atraíu mas que sempre me pareceu inantigível. Até hoje. Vi o livro e não resisti. Agora comecei a folheá-lo e é maravilhoso. As casinhas nas árvores podem ser um ninho, um refúgio, um esconderijo, um cantinho de paraíso.

O vídeo abaixo mostra uma outra dimensão do conceito: modelos exóticos, luxuosos, para todos os gostos. Não me teria ocorrido a possibilidade de fazer uma casa na árvore para ter as mesmas comodidades que uma casa na cidade mas, enfim, havendo dinheiro de sobra pode fazer-se de tudo.


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Até já ou até amanhã.

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terça-feira, julho 25, 2017

Ai Conselheiro Marques Mendes que desta vez V. foi longe demais...
[O garganta-funda do regime agora deu em vender roupa velha como se fosse bacalhau do dia.
Como se o PSD já não andasse pelas ruas da amargura...
Já não basta a necrofilia de que padece o Hugalex, agora também a vizinha cusca deu em dar um passo (atrás) maior que a perninha, deixando o INE à beira de um ataque de nervos
-- e os portugueses a rebolarem agarrados à barriga, gargalhando sem parar]


No post abaixo (Hugalex e a sua fixação necrófila. Nuno Magalhães ou a sapateira oca em versão masculina e oleosa) falo desse grande tribuno que dá pelo nome de Hugo Alexandre e sobre quem o País tem vindo a descobrir que, pelo menos desde que subiu a líder parlamentar, mais do que um cromo, o que ele é é detentor de uma anomalia -- e não uma anomalia qualquer. Esta é daquelas que, ao que vemos, lhe deu com força e relativamente à qual há quem faça filmes e séries de horror.


Mas eis que, depois desse meu exercício, quando na mais pura das boas intenções me preparava para ingressar no sempre atraente mundo da realeza, desta feita para falar do documentário sobre Diana, no qual William e Harry falam da memória da bela e trágica progenitora, caio de novo das nuvens aos trambolhões. 


Então não é que ouço de novo referência à mãe de todas as barraquinhas? Também à hora de almoço tinha ouvido a rabecada do INE no nosso grande Conselheiro de Estado, aquele sobejamente conhecido pela sua alta craveira decorativa (leia-se: dada ao decoro) e pela sua capacidade para se infiltrar em tudo o que é lugar, desde Conselhos de Ministros até reuniões à porta fechada no Banco de Portugal. 

Mesmo que alguém se reúna num submarino ao largo dos Açores para ver se o pet-comentador não consegue captar os segredos aí proferidos, tudo lhe chega aos ouvidos e tudo, ao domingo, o garganta-funda divulga em horário nobre aos balcões do clube dos boateiros.
Mas, dizia, ouvi à hora de almoço falar na big bronca mas, desde logo, resolvi não falar do tema.
Se o Um Jeito Manso é um diário a céu aberto, que imagem do meu país deixo eu para a posteridade se falo de todas as misérias a que, no dia a dia, assistimos...? A de que isto está entregue à bicharada...? A de que Orwell nem sonhou onde é que afinal viria a situar-se a verdadeira Quinta dos Animais, agora que os porcos triunfam em toda a linha desde que a laranja parece ter secado de vez...?
Não. Prefiro dourar a pílula, optar pelo estilo peace and love, e ainda que agastada, passar ao lado (para não sujar os pés), dedicando-me antes à rêverie e às coisas fofas em vez de, qual intrépido Jumento ou Der Terrorist, não deixar passar uma e dar-lhes com força no totiço.

Mas a verdade é que, como dizia o outro (presumo que um comentador de futebol), o que tem que ser tem muita força -- e estando eu aqui na boa, inesmente posta em sossego, uma voz se levanta do sofá ao meu lado para comentar o inédito comunicado do INE.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) critica fortemente as declarações de Marques Mendes no domingo na SIC, acusando o político e comentador de "antecipar" um resultado que "já tinha sido publicado". (...)
Ou seja, diz o instituto responsável pelas estatísticas oficiais, "o Senhor Conselheiro de Estado e comentador da SIC, Luís Marques Mendes, não antecipou este resultado. O resultado já tinha sido publicado!" 
O INE vai mais longe e diz que "esta falsa antecipação é grave na medida em que se pode gerar na opinião pública a ideia que Luís Marques Mendes tenha qualquer privilégio de acesso antecipado às estatísticas oficiais do INE, o que não sucede".
E, assim sendo, entendendo eu isto como um chamamento, não tenho outro remédio senão aqui deixar registo de mais esta mancha no comportamento do partido lapariano. Ora é o Láparo, ora o Hugalex, ora o Prof. Dr. Dentista-Ariano Ventura, ora o eterno putativo Rangel, até agora, imagine-se, o célebre Conselheiro Mendes. Todos à uma a darem tiros nos pés. Uma festa.

Mas, no fundo, no fundo, o propósito deste post nem é bem o acima exposto. É mais, tão só, o deixar testemunho de uma funda interrogação que badala no interior da minha mente: que praga de gafanhotos alucinados ou surto de peste parvalhónica se terá abatido sobre o partido de Sá Carneiro para que desde ex-líderes a actuais, seja líderes do partido, seja da bancada, seja de distritais e concelhias, todos não façam senão porcaria de todo o tipo, a toda a hora, em todo o lado? 
[Não acredito! Que nem de propósito... Juro. Então não é que agora, enquanto escrevo isto, até o Cavaco tenho aqui na sala. Imagine-se. Foi receber uma medalha. Não prestei muita atenção. Dá-me ideia que alguns galegos de coração de manteiga se condoeram do ostracismo a que a história o votou e resolveram oferecer-lhe um sorvete. Pois aqui está ele, a jactar-se dos seus feitos. Ele e a sua Maria, ela a olhá-lo como ele, em não-saudosos tempos, olhava para as vacas que riam. Blasona-se ele, dizendo que é um fazedor. Como se a gente não soubesse. Carradas de anos a fazer m... e ainda vem gabar-se disso. Haja paciência.]

Não sei mas alguma explicação há-de haver para este triste fenómeno a que estamos a assistir. Algum sociólogo, antropólogo ou psiquiatra estude o caso, por favor. A continuar assim, e ao ritmo a que a coisa se está a desenrolar, o PSD ainda vira rapidamente um antro de tesourinhos deprimentes, múmias paralíticas, láparos empalhados e pouco mais.

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Aviso

Desaconselho vivamente o post abaixo. 

Avisei.

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Hugalex e a sua fixação necrófila.
Nuno Magalhães ou a sapateira oca em versão masculina e oleosa.


Tinha eu estado aqui a pensar que não ia falar das pouca-vergonhas em que o PSD agora anda metido pela mão do neófito Hugo Alexandre, quando, à hora de almoço, no carro, ouço umas afirmações estonteantes de tão despropositadas. Pensei cá para com os meus inexistentes botões: 'Mas que diabo de conversa mais parva é esta? Mas a gaseada criatura que assim bolseja não saberá que está a chorrilhar asneiras como se não houvesse amanhã?'

E estava ainda eu intrigada por tão despautérica disenteria verbal estar a passar na rádio quando, perplexa, ouço que, afinal de contas, o seu autor não era senão o jovem e provavelmente inimputável Hugo Alexandre -- que usa o nick de Hugo Soares, provavelmente para ver se consegue inspirar algum respeito.


Depois pensei: 'Calma. O país não está perdido... Ainda há jornalistas. Pelo menos alguns. Poucos mas alguns. Os que estão a ouvi-los hão-de interceptar-lhe o desvario perguntando-lhe se não sabe que, dadas as circunstâncias, não é ao Governo que compete apresentar a lista nominal de mortos? Ou perguntando-lhe qual o benefício para o Governo em esconder uma morte? Ou perguntando-lhe que estranha tara é a dele para estar tão fixado na lista dos falecidos?' 

Só que, acto contínuo, tive um pensamento que me deixou incomodada: 'Não... Espera lá... Quem lançou isto foi justamente um jornal, o Expresso, um coito de pseudo-jornalistas, o mediático altifalante dos maiores boateiros do país...' 

E, enquanto me punia por estar a generalizar, pensando que ainda por lá é capaz de subsistir um ou outro verdadeiro jornalista, fiz a única coisa inteligente que estava ao meu dispor: mudei de posto, pus-me na Antena 2 e deslizei para um território ainda não conspuracado pela bandalheira política a que o PSD chegou e pela indigência intelectual para a qual parte significativa da comunicação social portuguesa se deixou arrastar.

Mas agora, aqui em casa, ligo a televisão e, azar, quem é que eu vejo? O Nuno Magalhães. Seguindo a linha ideológica da sua líder, a famosa Madame da Coxa Grossa, que acha que deve adaptar o discurso aos sms que recebe incentivando-a à arruaça verbal, aqui estava ele a querer apanhar o sinistro comboio do seu colega pafiano, Hugalex, exigindo também saber os nomes dos pobres coitados que mereciam algum respeito em vez deste impúdico sapateado em cima da sua memória.


Portanto, mudei também de canal. E fui parar a um apontamento de reportagem no qual os presidentes das Câmaras afectadas mostravam um autêntico desprezo por este sórdido emporcalhamento que a trupe do Passos Coelho e da Madame Cristas anda a fazer e diziam que as pessoas que pereceram no incêndio eram conhecidas e que não dão conta de que mais alguém, para além dessas, bem identificadas, tenha morrido.

Mas nem assim aqueles desqualificados ganham tento na língua e vergonha na cara. Cabeças ocas como são, uma vez que não encontram mais nada sobre o que falar, aqui andam feitos abutres a farejar carniça.

É ao que chegámos.


Apenas disto se alimenta a comunicação social e os restos do que, em tempos, foi o PàF: são uns incompetentes, pouco inteligentes, desrespeitadores e, ainda por cima, necrófagos. Não há verão ou silly season que justifique tamanha perversão.

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Fujamos deles, meus Caros, se queremos gozar um belo dia.

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segunda-feira, julho 24, 2017

Sobre o dia que passou,
enquanto ouço o vento





Este domingo, tal como se previa, foi repleto. Praia de manhã, uma aragem boa, a água fria mas nada de dramático, depois bacalhoada com todos a la maison, preparar petiscos para levar, a seguir superar o trânsito para ver se chegávamos a horas -- indo em carros separados, a maltinha é muita, já não cabe num único carro -- e isto para irmos buscar veraneantes ao aeroporto, o aeroporto mais parecido com dia de feira popular a abarrotar, os veraneantes a chegarem bronzeados e felizes da vida, depois todos para mais uma festa de anos, a última antes de os leões começarem a atacar, o meu caranguejinho mais lindo já um rapazinho, menino mais querido, depois, à noite, de novo em casa, a lida da casa, refeições adiantadas -- uma labuta (mas uma labuta boa). Mas, de facto, de manhã até à noite, uma roda viva. À noite quase me sentia desidratada de canseira. Mas bebi água quando cheguei, dormi uns minutos e reequilibrei a energia.

Estive agora a ver as fotografias que fiz. Todos bronzeados, todos sorridentes. A meio da festa, jogo de futebol lá fora com a rapaziada. Fui com eles, fiz a reportagem. Ouço-os a discutirem, não se põem de acordo quanto a ter sido ou não golo, se estava fora, se foi ou não auto-golo. Um diz que marcou uma tabelinha, outro fala em golo-cueca. Uma linguagem que não acompanho. O mundo do futebol requer, para a sua compreensão, competências que não possuo nem conseguirei, alguma vez, adquirir.


Depois, de novo em casa, os rapazes todos transpirados, uns quantos fazem uma banda. Um toca gaita de beiços, e toca bem, outro guitarra e todo ele inspiração, e duas meninas (no meio de tanto rapaz, hoje, entre os convidados, apareceu uma menina, uma companhia para a minha princesa mais linda que regressou bronzeada, olhos cinzentos ainda mais claros, quase transparentes) ocupam-se da bateria usando caixas de tupperware. O bebé come uma grande papa e mantém-se acordado e ri até que, finalmente, no meio daquele reboliço, adormece. Outro bebé, maior, faz uma ruidosa festa enquanto come e depois desata a gatinhar no meio da confusão dos outros. Os mais crescidos jogam PlayStation. Por fim, cantam-se os Parabéns e come-se o bolo de anos que é, na forma e na decoração, o leão do Sporting. Claro que parte dos convidados diz que se recusa a participar do festejo, que não pode compactuar com a situação, todos em volta da mesa debruçados sobre o símbolo do clube rival mas, enfim, a bem da paz social e familiar, superam a provação e acabam a comer partes da fera.

Agora, aqui em casa, o meu marido dorme depois de se queixar ('um gajo não consegue descansar'). Eu descanso, escrevendo.

Estive a ver as notícias no mundo por esses jornais online e não sei se é do cansaço que tenho em cima ou se é que o mundo anda mesmo desengraçado. Por cá, os onlines apenas dão destaque a palermices que o láparo diz ou a uma estranha atracção pela exumação contabilística de vítimas ou a populismos de trazer por casa. Não tenho paciência. Entre um xenófobo suburbano, uma política com a cabeça mais vazia que uma sapateira cheia de aguadilha e que tenta imitar as peixeiras em gritaria e um partido esvaziado que cavalga cada onda que lhe pareça trazer sangue ou porcaria, não consigo optar por nada.


Desloco-me, então, para outras paragens.

Descubro, perplexa, que os jiadistas cultivam a poesia, são incentivados a dedicar-se à literatura, que aprendem boas maneiras, que são sensíveis à elegância de atitude. Que, pelo meio degolem quem se lhes atravesse pelo caminho, não parece ser, para eles, uma contradição mas um acidente de percurso.
Terei que voltar ao assunto com mais tranquilidade pois temo que precise da cabeça a funcionar a pleno para poder perceber o que vi escrito. O mundo tem tantas surpresas e incompreensões que a minha pobre mente não está suficientemente ginasticada para poder entrar facilmente em todos os labirindos que nos aparecem pela frente, uns mais atraentes outros mais assustadores, esquinados, escondendo monstros elegantes que se dedicam à poesia.
Passo então para os novos palácios, os novos monumentos. Mas não palácios venezianos, não belos edifícios renascentistas, não, nada disso. 

Inward-looking?
A rendering of Apple Park in Cupertino, California,
the company’s global headquarters designed by Norman Foster + Partners.
It’s ‘a 100-year decision’, says Tim Cook, Apple’s CEO.
Os novos príncipes não surgem da aristocracia de antanho. Os novos fidalgos vestem jeans, têm ideias loucas numa garagem, arranjam amigos que os acompanham, vão por aí fora. São outros os mundos. De repente são dos homens mais ricos do mundo, são cortejados, distribuem oferendas, criam fundações. Quando se dá por ela, têm a trabalhar para eles muitos milhares de pessoas a quem eles querem felizes para que melhor produzam. Para isso, os novos senhores do mundo contratam os melhores arquitectos, pedem que lhes desenhem os edifícios mais arrojados, que criem novas formas, que inventem novos materiais, que tragam árvores raras das selvas mais recônditas, que façam nascer água e inventem rios, que no meio dos escritórios haja parques frondosos, ginásios, cinemas, bibliotecas. Leio isto e fico ligeiramente incomodada. Que novos produtos são estes que, do nada, geram tamanha riqueza? Faz isto sentido? Twitter, Facebook. Por exemplo. Como é que eu me enquadro este admirável mundo novo? Eu, que me encanto com a requintada filigrana da folhagem das árvores ao cair da tarde, como posso perceber o poder incomensurável destes novos reinos que comandam o mundo?


Entretanto, na RTP 1, passa A Última Paixão do Sr. Morgan. Já tinha visto mas estou a gostar de rever. Gosto da serenidade que vem das histórias bonitas, bem representadas. 

Não vos maço mais pois, como vêem, não tenho nada de mais para dizer. Nunca tenho nada de mais para dizer.

Hoje recebi vários mails de Leitores mas dois deles tocaram-me mais. Num deles, quem me escreve diz que gosta de me ler e que gosta de mim. Noutro, quem me escreve preocupa-se comigo, acha que há um tom de preocupaçao no que tenho escrito, pergunta-me pela família. Sinto-me tocada. Escreve-se como se se escrevesse sem ninguém aí desse lado, 'meu querido diário', e depois, quando se recebem palavras de afecto e cuidado, percebe-se que o mundo das palavras é afinal parte do mundo de verdade.
Hoje, quando perguntei à minha pequena leoa de olhos transparentes o que gostava de receber pelo aniversário, disse-me que queria um diário. Perguntei-lhe para quê. Disse-me que era para escrever sobre aquilo de que gostava ou não gostava, sobre os amigos, sobre coisas, e que tinha um cadeado com uma chave. Minha menina querida. Vai fazer sete anos, adora ler e agora quer ter um diário. Eu disse que lho oferecia eu. Depois perguntei-lhe se já tinha falado nisso a outras pessoas. Disse que a muitas. A ver se consigo ser eu a dar-lhe. 

Lá fora o vento dança nos ares e eu, que tenho os vidros abertos, sinto a frescura da noite. Gosto de estar assim, na sala quase às escuras, a sentir o ventinho a entrar, a escrever. 

Mas já escrevi demais. Tantas vezes me aconselharam: na internet os textos querem-se curtos, meia dúzia de linhas, se tanto. E eu que não aprendo.

Mas vou acabar. Antes, vou escolher fotografias do campo para povoar estas as minhas palavras. Gostava que a luz que eu vejo pousada sobre as folhas e sobre os muros chegasse intacta até vós. E gostava de vos poder oferecer os figos que começam a ficar carnudos e doces e as amoras que, quando tintas, são doces que só visto. Como não posso, deixo-vos aqui estes pedacinhos do meu paraíso na terra. 


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Desejo-vos a todos, meus queridos Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira.

Sejam felizes.

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