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segunda-feira, junho 16, 2025

Dia bom depois de noite de pesadelo

 


O pessoal e o pessoalzinho esteve todo cá em casa (com excepção para o menino mais crescido que está a preparar-se para um exame dentro de dias) e, portanto, dia bom e animado e feliz. 

O cão esteve um bocado reactivo e portou-se mal, mas isso são outros quinhentos. Vamos ter que fazer alguns ajustes na convivência em dias de alegria colectiva e repasto na mesa do exterior pois hoje esticou-se e não foi pouco. Cão mais do caraças, este. Bolas. 

Parece um fofo, um santinho, não é?
E muitas vezes até é.
A minha filha diz que parece que se ri.
Pois, pois... O pior é quando se estica

Adiante.

Levantei-me cansada e agitada pois, não sei porquê, voltei a ter pesadelos. Acordei assarapantada com a situação e custou-me a acalmar-me. E o pior é que umas horas antes tinha sucedido a mesma coisa. Da primeira vez, levantei-me, bebi água e voltei a adormecer... para voltar aos pesadelos.

O do meio da noite já nem me lembro o que era mas o que me fez acordar de manhã foi uma coisa muito estúpida. Tinha ido às compras, tinha que ir para casa pois tinha o jantar para fazer e vinham todos cá, e, em vez de ir de carro, fui num carrinho minúsculo, quase parecia um corta-relvas com um banco e um volante. Mas, às tantas, do nada, apareceu uma portagem com uma cancela. E aquilo não reconheceu a minha viatura e não deitava bilhete, nem aceitava o cartão nem levantava a cancela. E todos os carros atrás de mim apitavam. E eu não conseguia sair dali pois também não havia funcionários. E o carrinho deixou de funcionar, já não arrancava. Então, levantei-me e fui a empurrar aquela carripanazeca até a uns escritórios lá mais à frente. Estavam duas funcionárias na conversa e não me ligavam nenhuma. Quando insisti para que me atendessem, disseram que o sistema não estava preparado para veículos como o meu e que, por isso, não podia passar. E estavam com ar desdenhoso por eu estar com aquele carrinho. Eu explicava que era por razões ecológicas, que, só para mim, era disparate andar num carro grande. Mas elas faziam um ar de gozo, como se eu estivesse a receber o tratamento devido. E eu perguntava como é que, então, eu ia para casa. Não queriam saber, não era da responsabilidade delas. Depois disseram que iam fechar o escritório, que eu tinha que sair. E assim fizeram. Fiquei na rua, debaixo de uma chuva a cântaros. Queria ligar para o meu marido mas, com tanta chuva, não conseguia, o telemóvel não funcionava. Quando finalmente consegui, não sabia o nome daquela rua nem havia ninguém a quem perguntar. O meu marido dizia para eu olhar em volta para identificar qualquer coisa. Mas eu olhava e só via prédios todos iguais, nada que me dissesse minimamente onde estava. E o tempo a passar, eu com o carrinho carregado de comida para confeccionar, a família toda a ir lá jantar a casa e eu sem saber como sair dali.

E foi isto. Completamente absurdo. Mas uma aflição.

Não sei porque é que isto me acontece. Não fui para a cama com o estômago cheio que é o que parece que costuma provocar sonos agitados. O meu marido diz que foi a série dinamarquesa que me impressionou. Não creio. Isto é o tipo de sonho que tenho recorrentemente: ou não sei onde estacionei o carro e ando às voltas, carregada de sacos, com compras pesadíssimas, e sem ter ideia onde procurá-lo e os miúdos estão cansados, não querem andar mais, ou, nesta demanda, passo por estradas à beira de precipícios ou com buracos enormes e perigosos e, como sempre, vou com os miúdos e tenho medo que caiam ou que se percam de mim, ando sempre a contá-los para ver se estão todos. Sarilhos assim.

Cenas reais em que não sabia onde tinha deixado o carro pois não o encontrava onde julgava estar, aconteceram-me duas vezes. E não é agradável. Uma pessoa fica meio zonza, sem saber se há-de pensar que roubaram o carro ou se há-de pensar que teve uma branca estranhíssima

Ou estar a conduzir e perdida de todo sem saber onde estava, isso também já me aconteceu pelo menos umas três ou quatro vezes e também não foi nada, nadinha, agradável, especialmente em duas vezes de noite, em lugares que eu desconhecia de todo, pelo que nem conseguia dizer onde estava (numa das vezes, numa era pré gps, e noutra vez, numa era pré-waze, em que o gps do carro desconhecia aqueles lugares e não atinava (nem falava) pelo que me pôs a fazer percursos completamente erráticos. Uma pessoa tem a sensação que pode ter caído num buraco negro sem noção de como de lá há-de conseguir sair.

Mas uma coisa é a realidade e outra são os sonhos. Contudo, a verdade é que estes meus pesadelos me deixam ansiosa. Acordo debaixo dum estado de nervos como se a situação fosse real, e, a noite passada, da segunda vez, porque já eram horas de me levantar, nem tive ocasião para dormir sossegadamente em cima daquele disparate, pois isso talvez me tivesse acalmado. 

Ao levantar-me, sentindo aquele aperto de ansiedade, até me fez lembrar o que me acontecia durante aqueles anos em que o meu pai estava a definhar progressivamente e nós sempre com o credo na boca à espera que aquele equilíbrio instável se desequilibrasse de vez, ou, mais recentemente, naqueles tempos terrivelmente angustiantes que precederam a morte da minha mãe, quando me levantava a sentir-me enervada, parece que sempre com medo de receber alguma má notícia. Na volta ainda são reminiscências desses tempos. A nossa cabeça tem mecanismos autónomos, não basta a gente dizer-lhe que 'está tudo bem, não há razão para stresses', que ela não nos obedece.

Quando isto acontece, no dia seguinte, quando vou para a cama até vou com medo de ter mais uma noitada repleta destas aflições nocturnas. 

Enfim. Já é tarde, tenho que ir. Pode ser que esta noite seja tranquila, não é?

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Desejo-vos uma boa semana

terça-feira, outubro 29, 2024

O Ministro Sarmento para além de não gostar muito da verdade, de misturar alhos com bugalhos (confunde, por exemplo, gestão de tesouraria com gestão orçamental) e de dizer que as cativações dele não são bem cativações, tem uma outra particularidade: não sabe falar. Por exemplo, diz "póssamos". É abaixo de mau.
Para compensar, peço muita desculpa mas tenho mesmo que invocar Puttin' on the Ritz

 

Foi a minha filha que me chamou a atenção e, como eu não tinha visto, até me enviou um vídeo que fez. Só que, por nabice minha, não consigo aqui incorporá-lo. Mas é uma cena verdadeiramente badalhoca: o Sarmento parece dirigir-se a esse outro que, com o que tem feito e dito, tem evidenciado ser uma nódoa na nossa democracia. Às tantas, com aquele seu arzinho ladino de chico-esperto, Sarmento diz: 'Quando descobrirmos qual o programa eleitoral que o Chega defende, talvez póssamos falar de programas eleitorais'. Ventura ri-se.

E eu só tenho pena de não poder correr com ambos, um do Governo e outro da Assembleia. É que não se aguenta. É mau de mais.

Já houve um tempo em que o Governo era formado por gente culta, inteligente, competente, e em que os deputados eram gente de bem, os melhores representantes da população, gente digna, séria, bem educada, bem formada. Agora é isto. Claro que haverá gente de bem, claro, uns quantos que ainda se aproveitam (felizmente), mas depois há um rebotalho que é isto. 

O que as televisões nos mostram é uma dor de alma: uns são mentirosos, outros mentalmente desonestos, outros broncos, e agora até isto, gente que nem falar sabe. Caraças. E há casos em que a mesma pessoa consegue ser isto tudo ao mesmo tempo. Um desastre.

A democracia, ao contrário da tirania, é benevolente, inclusiva, tolerante, avessa a linhas vermelhas. Portanto, gentilmente fecha os olhos às violações, aos atentados contra os seus mais valiosos princípios, abre as portas a quem tudo faz para a desgastar e, talvez, devorar.

Um dia ainda se fará essa reflexão. 

Esta queixa-crime colectiva contra André Ventura e Pedro Pinto é um bom passo nessa direcção. Não deveríamos deixar passar actuações como as destes dois. Mas muito mais se deveria fazer. 

E deveria haver também uma qualquer acção pública de denúncia contra os crimes contra a língua portuguesa praticados por gente paga com o dinheiro dos nossos impostos e que supostamente nos representa e/ou governa.

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Como fico doente com isto, tenho que respirar outros ares.

Pode ser isto.

Morecambe and Wise - Puttin' On The Ritz (1960s)


quinta-feira, outubro 10, 2024

Aleluia. Finalmente Pedro Nuno Santos, numa entrevista que não foi 'um passeio no parque', diz que vai analisar a proposta de OE 25 e depois logo vê se o PS aprova ou não aprova. Aleluia.

 

É que uma coisa era haver um entendimento tacitamente aceite entre a AD e o PS (como houve no tempo da geringonça, entre o PS, o PCP e o BE) e o Orçamento resultava do alinhamento de algumas linhas de convergência, e outra, bem diferente, é a que se verificou, com o PSD (apesar da raquítica maioria que não lhe dá para nada) a andar para aí a cantar de galo, desafiador, rufia, sarrafeiro, armado em todo-poderoso, fazendo o orçamento sozinho, agora querer à viva força que o PS o aprove.

Claro que Pedro Nuno Santos não esteve bem ao reduzir o tema da aprovação a duas linhas vermelhas, dois aspectos específicos. Entre mil tópicos, reduziu o tema a dois. A partir daí ou o Governo ajoelhava e rezava ou a coisa tinha tudo para infectar. 

Um orçamento contempla decisões em todas as áreas da governação e nem todas podem ser pacíficas. O Governo pode ter posto no OE toda a espécie de cavaladas. Veja-se qual a ideia do Governo para a RTP, uma canalhice pura e dura. E quantas mais medidas do género podem estar subjacentes ao orçamento?

Por isso, ou o Orçamento, no seu todo, tinha sido mais ou menos alinhavado entre a AD e o PS, ou a única decisão inteligente, em meu entender, seria esperar para ver: analisar cuidadosamente todas as medidas, todas as contas, e, então, com perfeito conhecimento de causa, tomar uma decisão.

O comentador Marcel e o seu amigo Mendes, a Madame Avillez, as comentadeiras a granel que, quais térmitas, saem de debaixo dos balcões para corroerem a opinião pública, podem não gostar. Azarinho. Já a comentadeira, mini-fonte-de-belém, Ângela Silva tinha escrito 'Despachem o Orçamento que Marcelo quer despachar o Almirante'. E agora, com esta decisão do Pedro Nuno Santos, ainda não sabem como é que isto vai acabar e isso maça-os. 

Claro que o desaventureiro Ventura, que num dia veste a pele de baderneiro, noutro de taberneiro e, nos intervalos, ensaia o papel de estadista, prepara-se para se mostrar muito responsável. Estará a AD bem entregue se o OE passar com os votos do Ventura...

Enfim, está a cegadinha armada. Mas outra coisa não seria de esperar com a mais do que anémica vitória obtida pela AD e pela falta de noção de Montenegro que gosta de se armar em campeão, esquecendo-se que tem uma maioria menos do que relativa e não mais do que absoluta.

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Para quem goste de ouvir pessoas inteligentes, sugiro que se veja Mariana Vieira da Silva no NOW. 

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De qualquer forma, penso que a sugestão que fiz no post abaixo se mantém válida. Ponha-se essa maltosa a dançar em vez de nos maçarem com conversa fiada:

Russell Bruner - Eccentric Dance


As televisões, em vez de porem os jornalistas a fazerem de comentadores, os comentadores a fazerem de jornalistas, os anhucas a fazerem de governantes, os governantes a fazerem de artolas e etc., deviam pegar neles todos e porem-nos a fazer uma coreografia como a que abaixo se vê

 

E mais não digo.

Dickie Henderson - Leg Mania: Eccentric Dance routine with Billy Dainty and Max Wall 1971

quarta-feira, agosto 28, 2024

Paulo Raimundo e Hugo Soares, irmãos ideológicos...?
Entre Trump e Kamala, quer o Narizinho Raimundo quer o Inteligente Soares sentem-se incapazes de escolher... Está certo.
Estão bem um para outro, não estão...?

[Como não há muito mais a dizer sobre a acefalia dos meninos, vou antes dar a receita do meu entrecosto no forno]

 

Tive cá pessoal, dia bom, bom. Clima ameno, o silêncio muito apreciado, peace and love. Estou é cada vez mais pequenina. Não que isso me incomode, é mera constatação. Já brincam, chamam-me mini-avozinha. Para falar com dois deles já tenho que olhar para cima. Brincam, agacham-se para eu não me sentir diminuída. E, pela idade que têm, ainda com muito para crescer, qualquer dia pegam em mim e põem-me às cavalitas.

Tirando isso, posso acrescentar que fiz entrecosto no forno. É sempre uma aposta segura.

Não tem muito que se lhe diga mas calha bem para um post de silly season. Fiz assim:

Forno a bombar ao máximo, duzentos e tais graus, uns minutos antes. 

Enquanto isso, num tabuleiro de ir ao forno, o maior possível, coloco: azeite, bué alhos, uma cebolona gigante aos bocados, orégãos, alecrim, pedras de sal. Por cima, os pedações de entrecosto (não piano,  mesmo entrecosto), mais umas pedritas de sal. Polvilhei com pimentão doce em pó. E mais: um big molho de salsa aos bocados, louro, mais azeite, meia cerveja. Depois de estar assim um pouco, rodei os pedaços para ficassem irmãmente besuntados.

Levei, então, ao forno e, nessa altura baixei para os 170º. E assim ficou.

De vez em quando, rodei os pedaços de entrecosto.

No entretanto, mais perto da carne estar macia por dentro e tostadinha por fora, cozi batata doce da variedade cor de laranja e batata normal, tudo aos pedaços. Naturalmente, com um pouco de sal.

Quando estavam cozidas, desliguei. Escorri. Quando vi que a carninha já estava a ficar boa mas era para ser comidinha, afastei os bocados de carne para abrir alas para las potatoes.

Meanwhile, tinha feito arroz basmati. Antes que estivesse seco, tirei do lume. Pus um fio de azeite e misturei. Coloquei num tabuleiro de ir ao forno, tirei umas colheradas de molho do tabuleiro da carne e espalhei por cima do arroz. 

Tirei o tabuleiro da carne, com las patatas, para ficar cá fora a descansar. E coloquei no forno o tabuleiro do arroz a secar e doirar ligeiramente.

Antes de tirar o tabuleiro do arroz, o meu marido colocou por cima fatias de pão de Rio Maior, lo mejor. Ficaram quentinhas e com as côdeas crocantes.

Servi com salada completa: alface, cenoura e beterraba raladas, acelgas e mais outra coisa qualquer.

E só não digo que o pessoal gostou (e eu também gostei) para a invejosa e o comichoso do costume não virem para aqui largar as bocas foleiras do costume.

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Quanto ao Sarrafeiro Soares e ao Fofo Raimundo não há nada a fazer. O que têm na cabeça não lhes dá para mais mas a gente não deve gozar com pessoas assim, coitadas, se calhar não têm culpa.

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E agora, para algo um pouco diferente, que entrem os meninos que gostam de dar um pezinho de dança para ver se trazem algum movimento:

Play | Alexander Ekman & Ballet de l'Opéra de Paris 


Saúde e alegria

Dias felizes a todos

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Não é bem o que à primeira vista pode parecer
(mas é tudo bonito e surpreendente)

 

De vez em quando há por aí teorias. Quando se tornam virais, geralmente são bobagem, fake, tontice. Uma delas, sobre a qual há artigos, vídeos e discussões é que a vida e o mundo e nós todos não somos reais, somos uma ficção, personagens de uma cena imaginada, que tudo o que se vê e vive não passa de uma simulação.

Lá mais abaixo, Michio Kaku fala do assunto mas, já mesmo aqui abaixo, acredito que quem seja surpreendido com o que se vê fique sem perceber o que é o quê. 

Por mim, acho bonito e isso chega-me.

Daqui



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Michio Kaku has some news about simulation theory


After movies like "The Matrix" (1999) posited the existence of a superficial world layered over our own, human imagination has run abound with theories about the nature of our reality. To a small but passionate minority, the red pill that can awaken us to this illusion is right at our fingertips.

World-renowned physicist Michio Kaku isn’t quite ready to take that pill. In fact, he’s skeptical that the pills even exist. He explains why. 

domingo, janeiro 21, 2024

Ondas, defesas, tostas, boa companhia, passeio ao arzinho frio, boas notícias e danças na rua

 

Face às circunstâncias da véspera, a noite passada dormi muito mal. Só adormeci de madrugada. Como tinha posto o despertador, acabei por dormir muito pouco. 

Mas a causa era boa e, quando a vontade é muita, o sono e o desgaste emocional passam para secundaríssimo plano. 

Fomos a um lugar onde já não íamos há algum tempo e que é daqueles lugares onde não me importava nada de ter uma casa. Aliás, há uns anos, foi coisa que foi equacionada. Muito bonito. Uma mistura de natureza e de vilarejo bem cuidado, um local simultaneamente de turismo e de tradições.

Um dos nossos intrépidos guarda-redes tinha lá um desafio de futebol e a família foi apoiá-lo. Para mim foi bom pois estou a precisar de me distrair, de espairecer. Gostei muito. Bons ares, boas ondas (metafórica e literalmente falando), boas tostas, e, ainda por cima, umas boas defesas.

Pelo meio, notícias que, de tão boas, soaram a inacreditáveis. 

De volta a Lisboa, fomos lá. Estava de facto melhor, felizmente, mas não como tinham descrito. Afinal tinham-se enganado. Está lá há uma semana e o enfermeiro baralhou-se. Mas, ainda assim, de facto, muito melhor do que de véspera.

É aquela velha máxima, para mim recente: um dia de cada vez. Um dia assim, outro assado, num dia as perspectivas são umas, no dia seguinte isso passou à história.

A minha prima, quando eu lhe disse que a minha mãe estava melhor, corrigiu: foi um dia melhor. A enfermeira depois disse a mesma coisa. É assim. Seja como for vim de lá mais contente. E, assim sendo, provavelmente vou conseguir dormir bem. Altos e baixos em roda livre, aleatoriamente.

Uma vez que o programa não era compatível, o cãobeludo teve que ficar em casa. Por isso, passou o dia sozinho, no jardim. Chegámos de noite e, como sempre, ao ver-nos, manteve-se encolhido, receoso. Fui ao pé dele: 'Tão bonito. Ficou a tomar conta da casa. Portou-se muito bem.' e ele, no chão, a dar ao rabinho, a pôr-se de lado, a abrir a perna, a querer festas na barriga. E eu a fazer-lhe festas: 'Foi muito lindo, sim senhor, a dona está contente.'. Então, vendo que não estava de castigo, levanta-se numa alegria, desata aos saltos, a correr, numa alegria desmedida. A seguir, fomos passear com ele, uma boa caminhada, sob o frio cortante da noite.

E, para o jantar, o resto da pizza familiar trazida ontem, acompanhada por salada. Bem bom.

Entretanto, como sempre faço quando me apetece descansar a mente, estive a ver vídeos e apareceu-me o que agora partilho em que, como sempre, me admiro com a espontaneidade de quem é apanhado, do nada, no meio da rua e se predispõe a fazer o que a Thoraya lhes propõe. Desta vez não é que contem segredos cabeludos ou outras coisas do além: desta vez é que dancem. E a malta dança. Espanto-me com a alegria, o ritmo, a espírito de festa com que a malta reage, apesar de estar a ser apanhada de surpresa

The most beautiful footage of strangers dancing in public


E que venha daí um belo dia deomingo
Saúde. Boa sorte. Paz.

sábado, janeiro 20, 2024

A moda das calças justas

 

Por mais que eu veja à venda ou em uso calças largas, é moda para cujo peditório já dei. Se é que dei. No outro dia, quando resolvi soltar a franga e me atirei aos saldos, provei umas. Não, decididamente não é a minha praia. Eu sou mais de calças justas. O que me vale é que a moda de verdade já não é a ortodoxia de há uns anos, agora a moda, a verdadeira moda é sobretudo estilo, o estilo a que cada um adere ou adopta como seu. Mas não me admirava nada que, a continuar a moda das calças largas, qualquer dia eu fosse a única a andar com calças justas na cidade.

"Tight Pants" with Matthew McConaughey | The Tonight Show Starring Jimmy Fallon


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[E a minha família que não venha dizer-me que não estou a esforçar-me, mas a esforçar-me mesmo, para não me deixar afogar em preocupação e perturbação....]

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domingo, outubro 29, 2023

Desbastar árvores.
Tentar controlar exacerbados medos (alheios)

 

Estava ainda na cama, comecei a ouvir um barulho. Claro que a essa hora o meu marido já estava levantado há não sei quanto tempo, já tinha regressado do seu passeio matinal com o urso felpudo. 

Apurei o ouvido. Percebi que estava a trazer qualquer coisa da cave.

Depois ouvi abrir a porta da frente. E um ruído metálico. Depois ele a dizer à fera que se desviasse.

Estremunhada, um sino tocou na minha cabeça. Ia desbastar as árvores do jardim junto à entrada.

Num salto, apeei-me da cama e, à trouxe-mouxe, enfiei uma roupa qualquer. Num ápice, estava fora de casa

Já ele tinha desdobrado a escada, já estava encavalitado, lá em cima, em acção, com serrote e podão de cabo extensível.

Concordei que fosse podar aquela profusão de ramos pois as duas árvores estão gigantes, compactas, não deixando passar o sol e impedindo o desenvolvimento da relva por baixo. E provavelmente a falta de sol ia atrofiar a magnólia. Mas não quero é que ele faça isso sozinho. Primeiro, receio que a escada resvale ou que ele resvale e que eu não esteja para acudir. Depois, receio que corte o que não deve pois, estando lá em cima, no meio dos ramos, perde a perspectiva e pode cortar a eito. Acresce que há uma trepadeira que dá flores muito bonitas que se suporta nos ramos da árvore. Por isso, não se pode cortar nenhum ramo em que ela esteja presa, senão é para a desgraça.

Portanto, andei a ajudá-lo, não só apontando para os ramos que podiam vir abaixo como, depois deles cortados, puxando-os e arrastando-os para um monte.

Foi mais de uma hora, talvez mais de duas, não sei, de volta daquela árvore. Ainda podia tirar-se mais uns quantos mas já não são alcançáveis com a escada.

Talvez este domingo se trate da outra árvore.

Este é o tipo de coisa que gostamos os dois de fazer: desbastar árvores. 

Sempre gostei embora na base da cabeleireira. Aparar, cortar umas pontas, com um gentil podãozinho. Batia-me por elas quando o meu marido queria reduzi-las a metade do volume, de serrote e podãozão em punho. Mas agora já percebi que, se não tentamos conter a natureza, ela acaba por nos devorar. E, com sensibilidade e bom senso, as coisas podem parecer em estado natural e, ainda assim, estarem sob controlo.

Claro que este foi o momento levezinho pois houve também o momento denso com a minha mãe. Nada de diferente dos outros dias. Mas uma pessoa chega a um dia em que parece que atinge o limite das suas capacidades.

Não consigo perceber se ela sempre foi como é agora, embora tivesse mão em si própria (e, portanto, fazendo com que não nos apercebêssemos), ou se está mudada. Não consigo perceber. Os meus filhos acham que está mudada, dizem que a avó não era assim. Eu não estou certa disso. O que sei, e disso tenho a certeza, é que o medo que tem de estar doente e o medo de não estar cabalmente diagnosticada, associado ao medo de fazer os exames como deve ser e, sobretudo, tudo potenciado pelo medo de tomar medicamentos, dão-lhe cabo da cabeça a ela e a mim. Por mais exames que faça, acha sempre que ainda não foi devidamente avaliada. Ou acha que os médicos não prestam. E, sempre que lhe receitam alguma coisa, faz de tudo para não tomar os novos medicamentos. E faz de tudo, mas tudo, para convencer toda a gente, nomeadamente os mil médicos a que já foi, que os medicamentos que está a tomar a deixam mais doente do que se não se tratasse. Isto apesar dos exames todos demonstrarem que não tem nada a não ser a doença para a qual está a ser tratada.

Como também tem medo de tomar ansiolíticos, fica muito difícil de lidar com a situação (difícil, muito difícil, para ela e para quem lida com ela, nomeadamente, eu).

Tantas vezes, tantas, tantas, parece estar muito mal, convence-se que está muito mal, transmite-me e mostra-me que está nas 'últimas' e tantas, tantas, tantas vezes não é nada -- e, mal se distrai ou abstrai, fica como se nada fosse --, que fico sempre a achar que é mais uma das suas crises exacerbadas. Mas receio que um dia seja a sério e que eu erradamente desvalorize. Mas, quando estou nesta preocupação, passado um bocado já ela está noutra. Noutra... pois, logo de seguida, já está outra vez muito, muito mal, mas com um outro sintoma.

Hoje disse-me que os meus tios é que têm sorte de ter uma filha médica pois assim a minha prima sabe sempre avaliar o estado de saúde dos pais. Pois. Infelizmente não posso fazer nada para resolver essa pouca sorte dela. Não apenas não tenho conhecimentos médicos como, além disso, ela não liga patavina ao que eu digo. Por vontade dela, para ultrapassar as minhas limitadas competências, todos os dias eu pegava nela e levava-a para as urgências. 

Muito complicado. 

De facto, nunca pensei que se transformasse desta maneira. Não quer fazer tricot ou crochet, diz que não tem paciência, diz que nada na televisão lhe interessa, não pega num livro, não conversa de outra coisa que não das suas doenças. Em cima disso, sabe de cor as bulas dos medicamentos, pesquisa no google tudo sobre doenças ou tratamentos e... fica com todos os sintomas que lê. 

Desperdiça estupidamente estes seus anos. E, por mais que a tentemos convencer a tratar-se da ansiedade, não quer, irrita-se comigo, fica furiosa: acha que está tão mal, fisicamente tão, tão mal, e eu, insensivelmente, a desvalorizar. Isto apesar de todos os médicos lhe dizerem o mesmo. Mas depois acha que eu é que influencio os médicos. Por mais que lhe diga que não falei nisso aos médicos, não acredita.

(Enfim, é o que é. Escuso de para aqui estar nesta lamúria porque é o que é. Além disso, acho que só que quem passou por isto é que consegue perceber como é.)

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A conversa hoje está pouco animada, não está...?. E eu não gosto de vir para aqui chatear os outros com as minhas minudências. Por isso, pedindo-vos desculpa pela conversa, bora mas é lá dançar.

Play by Alexander Ekman


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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Ânimo. Paz.

terça-feira, setembro 19, 2023

Dias mais complicados...
E as minhas últimas comprinhas (na Gulbenkian)

 

Um dia complicado. 

Na véspera tinha estado até às últimas a acabar umas coisas. O meu marido perguntou-me qual a pressa. Disse-lhe que prefiro ter as coisas despachadas não fosse surgir alguma situação que me impedisse de levar a água a bom porto. Sempre assim fui e agora ainda mais: gosto de acabar as coisas antes da data limite pois gosto de guardar uma reserva de tempo para imprevistos.

Parecia eu que adivinhava. Uma das coisas que mais impressão me faz, que sempre me fez, isto é, que me custa, é não poder ser eu a gerir inteiramente o meu tempo e as minhas actividades. Mas quem tem pais de idade sabe bem o que é andarmos com o coração nas mãos. Ou é uma coisa ou é outra. E, quando estão sob orientação permanente de terceiros em quem se confia para garantir que a medicação é seguida ou que os sinais de alarme são despistados, é uma coisa. Quando estão autónomos, independentes, orgulhosos de serem senhores do seu nariz, aí a coisa fia mais fino. Fazem o que querem. E não podemos obrigá-los a fazer o que não querem pois estão na plena possa das suas faculdades e ainda bem que assim é. 

O pior é quando o seu querer tem consequências. E não reconhecem como consequências mas, sim, como uma contingência de algo que não percebem ou não querem perceber: é que há dez ou vinte ou trinta anos faziam coisas cujas consequências eram nulas ou negligenciáveis mas, nos noventas, a fragilidade do corpo, já prega partidas.

Enfim. É o que é.

E, portanto, o dia foi daqueles com longas horas, preocupações, canseiras.

Agora parece que a coisa estará mais controlada. Mas, até que tudo passe, não fico tranquila. 

Tenho a sorte de viver muitos anos com os meus pais vivos. 

Mas assisti ao declínio do meu pai e ele também assistiu e sofreu muito por isso. Desde que teve o último e grave AVC ficou altamente debilitado, estando acamado nos últimos anos. Quando ele morreu, obviamente custou-me muito mas, racionalmente, compreendi que tinha chegado a hora dele, a hora de parar de sofrer, a hora de descansar, de chegar ao fim do seu caminho.

A minha mãe, felizmente está ainda bem, apesar das suas doenças e condicionantes. Mas está também a assistir às crescentes limitações que o seu corpo demonstra. E não está a aceitá-las bem. Receia muito essas limitações, desgosta-se muito, não aceita nem compreende, assusta-se. E, portanto, embora por razões diferentes do que aconteceu com o meu pai, com a minha mãe também não está ser fácil.

É lugar comum dizer que não se escolhe. 

Os jornalistas, quando entrevistam pessoas com alguma idade, têm o péssimo gosto de acabar as entrevistas com perguntas sobre a morte: pensa muito na morte? como gostaria de morrer?

Se me perguntassem parvoíces dessas mandá-los-ia à fava. Mas, por dentro, ficaria a pensar. Obviamente gostaria que fosse o mais tarde possível mas que acontecesse quando eu deixasse de gostar de estar viva e que fosse rápido, indolor e, de preferência, sem me aperceber que estava para acontecer.

Mas, pronto, isto não é conversa que se tenha. A questão é que estou cansada, um pouco esgotada.

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(...)
O que desaparece? E o que sobra?
Uma nuvem de aves brancas em céu de cinzas...

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Contudo, não me esqueci do que ontem disse, que ia mostrar os livros que trouxe da Gulbenkian. Contudo, vendo bem as coisas só um é que talvez possa ser cabalmente considerado como livro. Mas eu, que não sou purista, considero-os.

Mostro-os.














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Manon - final pas de deux - Sylvie Guillem & Jonathan Cope


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Um dia bom
Saúde. Tudo a correr bem. Paz.

sexta-feira, agosto 11, 2023

A excepcionalidade dos Chibi Unity

 

Se há coisa que deteste é gastar um dia, à espera.

No outro dia pedimos que viessem cá arranjar uma coisinha de nada.

Veio no outro dia. Tínhamos combinado que vinha cedo pois às onze, no máximo, teríamos que sair. Apareceu perto das onze, não fez nada e deixou uma coisa estragada. Combinou que vinha hoje acabar e que estaria cá entre as dez e as onze.

Eram onze e não tinha aparecido. Nem atendia o telefone. Toda a manhã à espera.

Só atendeu perto da uma. Disse que vinha às duas.

Veio e trouxe um ajudante. O que havia para fazer era mínimo. Não sei o que fez mas só saiu depois das seis e disse que não tinha acabado, que teria que vir amanhã.

Toda a tarde nisto, o cão preso, a ladrar, nós em stand by. Não podíamos sair porque andava fora e dentro e, sem o conhecermos de lado nenhum, não íamos deixá-lo sozinho.

Não consigo perceber. Dá ideia que é daqueles atrapalhados que cria problemas a ele próprio. E não consegue descrever o que se passa. 

Fico entediada, furiosa, arreliada com coisas destas. Só me apetece mandá-lo bugiar mas não faço ideia da trapalhada que ele arranjou e temo estar pior do que quando pedimos para cá vir. Aliás, não lhe pedimos a ele pois não o conhecíamos. Falámos com outro que ia de férias e disse que mandava cá este.

Quem vive na santa terrinha (e digo santa terrinha sem qualquer condescendência pois há terras que são mesmo santas e é um privilégio lá viver) e conhece mil jeitosos e faz-tudos nem sabe a sorte que tem. Uma pessoa viver num lugar em que não há ninguém para fazer o que quer que seja e termos que nos sujeitar a coisas destas é do pior que há.

Não faço ideia do que me espera esta sexta-feira mas até tremo.

Há pouco adormeci profundamente. Custou-me a acordar. Como habitualmente, fui ver as novidades. Vi uma casa em Bali que me deixou perplexa. Nem sabia que podia haver casas tão incríveis. Tinha pensado partilhá-la convosco. É de uma simplicidade fantástica mas de um tal bom gosto, de um tamanho fascínio pela natureza que fiquei rendida.

Contudo, agora vi este vídeo do America's Got Talent e também fiquei sem palavras. Que coisa, que intensidade, que extraordinária interpretação do que são os tempos correntes. Achei uma verdadeira maravilha. E se estou a exprimi-lo em palavras quando tinha dito que tinha ficado sem elas é apenas porque é por escrito pois, se lá estivesse, estaria sem saber o que dizer.

Golden Buzzer: Chibi Unity delivers "the PERFECT AGT audition" 

| Auditions | AGT 2023

Desejo-vos uma bela sexta-feira

Saúde. Paciência e boa disposição. Paz.

quarta-feira, julho 26, 2023

Uma maneta que gosta de ver dançar

 

Continuo quase maneta. O quase advém de que mão até tenho e de que ela até mexe. O que mal mexe é o braço pois o cotovelo continua inchado, encravado e doloroso. 

Não me apetece ir ao médico pois sei que teria que fazer rx e o escambau e que, portanto, teria que ficar nas urgências a penar. Tenho esperança que, com anti-inflamatório, analgésico, pomada, gelo e imobilização (ie, braço ao peito), isto vá ao sítio. 

[Não tenho aqui Transact mas não creio que funcione neste caso não apenas porque, sendo o cotovelo, não sei se o rectângulo adesivo funcionaria (acho que funciona melhor em superfícies lisas como as costas) mas, sobretudo, porque isto deve ter sido alguma rotura de ligamentos ou uma inflamação aguda nos tendões e creio que o Transact é para coisas mais light, tipo contracturas ou distensões. Digo eu.] 

Por isso, não apenas não consegui regar, varrer ou outras coisas básicas e essenciais no meu dia a dia, como continuo a escrever sobretudo com a canhota pois alguns inocentes movimentos de mão provocam-me incomodativas dores no cotovelo.

Portanto, com as minhas desculpas, não vou comentar os comentários (nem sequer os do Mr. Implicante que, apesar de revelar algum sentido de humor, deve ser viciado em gramática e deve padecer de um défice agudo de simpatia -- simpatia ou empatia?).

Passei o dia, pois, na maior indolência, sobretudo lendo e vendo vídeos. 

Contudo, a minha natureza puxa-me para a paródia pelo que dou por mim a ver vídeos que me fazem rir e, manhoso como é o algoritmo do youtube, às tantas só me dá é disso. Então, para ver se me cultivo, ponho-me a ver tutoriais sobre maquilhagem, sempre na vã esperança de descobrir quem me ensine como, num minuto (isto é, num único minuto), se transforma uma mulher normal, madura, numa esbelta e viçosa barbie. E, às tantas, começam a aparecer-me tutoriais de toda a espécie e feitio, uns que transformam pretas em brancas, nórdicas em gueixas, outros que transformam olheirentas e papudas em frescas e fofas, outros que transformam narigudas em narizinhas. Nada de útil face às minhas expectativas.

Tem-me também aparecido muita coisa séria como as alterações climáticas mas, por estes dias, para coisas sérias já bastam as terríveis imagens dos incêndios na Grécia ou tempestades na Suíça.

Por isso, não tenho nada de jeito que possa trazer aqui à colação. Quanto muito partilho este vídeo com dois fantásticos: Leonard Cohen interpretando o maravilhoso Dance me to the end of love e o elegante e cavalheiro Robert Redford a dar corpo à coisa. 

E, vendo-o, penso: como é que eu, no estado em que estou, poderia corresponder caso me aparecesse um Redford desta vida a convidar para dançar?


PS: Começo a convencer-me que vou ter que interiorizar que o meu corpo não é o de uma atleta sempre pronto para os desafios que se me deparem. Uma maçada, isto.

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Desejo um dia bom
Saúde. Alegria. Paz.

sábado, junho 24, 2023

Num dia de calor de ananases, qual a melhor forma de o acabar...? Qual é? Qual é?

 

Não é só o que é, e o dia foi complicado, é também o calor. Já estive para adormecer mil vezes mas lá me vou aguentando.

Aqui ao lado, num dos grupos de whatsapp, sucedem-se as mensagens. De manhã à noite. Tive que tirar as notificações pois não suportava o plim plim constante. De cada vez que espreito já há mais umas quarenta por ler. e muitas não leio.

Por um lado uma efervescência omnipresente e vários dos intervenientes a combinarem coisas a toda a hora para todos os dias, e, por outro, as minhas horas que não dão para encaixar mais e a minha cabeça que já não consegue acomodar mais. Não que não gostasse. Gostava. Mas tinham os dias que ter cinquenta horas pois, para além do que tenho que fazer, tenho carências. 

Por um lado a questão do sono. Continuo com mais sono do que me parece normal. A última vez que fui ao médico contei que tinha tido covid e que daí para cá tinha ficado apanhada pelo sono e ela disse-me que, quando isso era um dos sintomas relevantes da doença, acontecia que subsistisse por mais um três meses. No meu caso já vai em quatro meses.

Por outro lado, a minha necessidade de ter algum tempo para mim, tempo para escrever (nomeadamente estas irrelevâncias), tempo para descansar alguma coisa. 

Chegámos aqui por volta das seis e meia ou sete, não sei, depois de ter ido ao supermercado e depois de uma conversa sui generis com a minha mãe que, embora esteja mais que óptima nos seus noventa anos, se compara com quando tinha menos trinta ou quarenta e se lamenta e manifesta profunda amargura por achar que tudo lhe acontece e que já não é o que era. Consome-se a olhar para o copo meio vazio e recusa-se a olhar ou a valorizar o copo meio cheio. Para além disso, teme qualquer sintoma, por mais banal que seja, como se fosse sinal de alarme e anúncio de uma fatalidade iminente, desestabilizando-se a ela e a mim.

Antes tivemos lá meninos em casa, uns fofos, sempre uma lufada de alegria. A minha menina foi para a cozinha e foi ela que cozinhou as costeletas que ficaram mesmo boas. Claro que, pelo meio teve o mano do meio a moer-lhe a cabeça, mas isso faz parte daquela dinâmica tão típica dos manos.

Mas, voltando aqui, depois de arrumar as coisas, ainda consegui ir apanhar orégãos (e a ver se este sábado consigo apanhar mais uma braçada) e já os pus a secar em cima de um lençol em cima da mesa da casa de jantar. E já está aquele perfume fresco e limpo e, ao mesmo tempo, cálido e mediterrânico, que tanto me agrada. E que me lembra que já passou um ano desde a última vez. Tempo do caraças que corre mais do que deve.

Está um calor de ananases. Mesmo agora a esta hora, a aragem que entra vinda da noite não é fresca. E isso não ajuda.

E tudo isto para dizer que não tenho cabeça para mais que isto. Salvam-se os vídeos com que me entretive a rir sobre danças do caraças. Divertidas, malucas, ou tradicionais mas tão extraordinárias que a gente vê e tem vontade de se questionar sobre o seu sentido e acaba a rir, como eles.








domingo, abril 09, 2023

A pura fruição do corpo

 

Hoje estou outra vez um bocado cansada mas, desta vez, acho que tenho justificação. Varri a casa toda por dentro, lavei uma colcha, lavei um tapete, estendi-os ao sol, varri cá fora, reguei, apanhei ervas. Há bocado, quando me levantei, estava toda dorida. Notoriamente falta de hábito. Face a toda as circunstâncias, há já algum tempo que não metia mãos à obra para uma faxina a preceito. O meu marido bem me avisou que amanhã, dia de páscoa, não me conseguiria mexer. Mas o tempo estava bom, a casa precisada e eu com vontade de trabalhos físicos que me pusessem o corpo a mexer.

Também fiz uma caminhada enquanto exercitava os braços (e a mente).

E falo na mente porque, enquanto andava ia a pensar que o corpo é mesmo um animal amestrado que, quando deixa de ser exercitado, se esquece das habilidades que antes fazia com uma perna às costas. 

No outro dia, cá em casa, quis mostrar à minha neta as dificuldades que tenho quando, na hidroginástica, tenho que fazer uns movimentos com as pernas e outros, não equivalentes, com os braços. Quis mostrar-lhe a concentração que é precisa. Mas, ao querer mostrar-lhe, parece que o meu corpo não queria elevar-se no ar. Saltar à tesoura para os lados ou com uma perna para a frente e outra para trás, só por si, é coisa que faço nas calmas dentro de água. Elevo-me bastante bem, obrigada. Mas fora de água...?

E o que eu saltava, senhores. Gostava de saltar em comprimento e em altura, gostava de trepar, de correr. Em miúda, quer as minhas avós, em casa de quem eu ficava por vezes, moravam num sítio muito mais elevado em relação à escola, quer a minha casa era numa zona alta, bem mais do que o liceu. E o que eu adorava, mas adorava mesmo, largar a correr, correr tão velozmente como se voasse. Ganhava embalagem nas descidas e quase parecia que não conseguia parar.

Agora quis saltar, elevar-me no ar enquanto abria e a fechava as pernas, e tive que me concentrar e convencer-me que era capaz. Caraças.

Tenho que me mexer, exercitar, voltar a ter domínio sobre o meu corpo. 

Esta pasmaceira e espapaçamento em que tenho estado desde que tive covid faz com que até varrer, limpar a casa ou arrancar ervas me custe como se tivesse estado a cavar batatas de sol a sol. Não pode ser.

Por isso, ver estes fantásticos vídeos aqui abaixo soube-me como uma bênção. E não é apenas pela dança alegre, é também pela voz capaz de cantar. Há tanto tempo que não canto que, se quiser cantar, acho que não me sai nada. Caraças. A gente enferruja se não praticar. Não pode ser.

Não sei se será a coisa mais apropriada para aqui ter na Páscoa mas fruir o corpo é uma coisa boa para todos os dias, Natal, Páscoa, 25 de Abril ou 1º de Maio.

Veja o que acontece quando um dançarinos de Boogie Woogie e um de West Coast Swing improvisam
Sondre Olsen-Bye e Ardena Gojani dançam pela primeira vez


O contratenor e dançarino de break Jakub Józef Orliński | Retrato do multi-talentoso cantor de ópera

Ele parece um anjo e pode cantar também como um. O contratenor Jakub Józef Orliński encanta o público com sua voz aguda e simultaneamente sonora. Mas Orliński não se destaca apenas no palco da ópera. Para contrabalançar o seu trabalho operático, faz breakdance a um nível que também vale a pena ver. No caso de Orliński, a alta cultura encontra o estilo de rua. Acrescente-se a isso sua aparência extraordinária e charme incrível, e não é de admirar que o jovem polaco pareça não ter problemas para atrair até mesmo um público jovem para a ópera. Antes de uma apresentação no Théâtre des Champs-Élysées em Paris no outono de 2022, Orliński falou sobre os vários aspectos de sua vida. O resultado é o retrato de um jovem cantor excepcionalmente talentoso que olha para o futuro com curiosidade.

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Um belo dia de domingo
Saúde. Tudo a mexer. Paz.

sábado, abril 08, 2023

Um urso cabeludo, um coelho aos saltos, um cão imponente, muita natureza, paz e beleza
-- In heaven --

 

Estava a passear ao fim da tarde, passarinhos cantando de dar gosto, olhando e fotografando flores e florzinhas, só eu e o meu urso cabeludo, quando o vejo dar um salto e largar em louca correria. No mesmo instante, vejo um coelho aos saltos, correndo e saltando. Por pouco não fiz o mesmo. 

Em vez disso desatei aos gritos, gritando pelo nome do urso perseguidor. Poderão achar que é exagero meu mas juro que estava arrepiada. Nos momentos em que um crime pode estar em perspectiva todo o meu corpo fica em transe. Finalmente vi o urso deter-se num zona de moita mais compacta e desatar aos saltos, com latidos curtos e bem sonoros. E eu  gritar por ele. Temi até ao último instante que me aparecesse com o inocente coelhinho nos dentes.

Mas o coelho, veloz, deve ter-se enfiado nalguma lura. 

Pois eis que o urso veio a correr, aos saltos, a dar ao rabo, pondo-se de pé, todo ele sorrisos e felicidade. Pela reacção percebi que achou que fez o que achou que tinha que ser feito: rechaçou o inimigo.

O meu marido chegou entretanto e ele fez a mesma festa. Nitidamente estava a dar conta, também ao dono, de que tinha feito uma boa acção.

Depois foi pegar-se com os enormes lobos da quinta lá de baixo. Os três bisontes ferozes encostados à vedação do lado de lá e o urso do lado de cá, uma peleja que só visto. Dos três do lado de lá, há um que é imponente. Quando me aproximo, cala-se e fica a olhar para mim. É um animal fascinante.

Como continuei a minha caminhada não vi o vizinho, apenas ouvi vozes. O meu marido contou-me que o vizinho estava a chegar e, ouvindo tamanho ruidoso concerto, foi ver o que se passava e aproveitou para desejar boa páscoa. Simpático.

Entretanto, andei a apanhar nêsperas e, pelo sim, pelo não, a comê-las. E fiz também os meus telefonemas. E etc.

Já quase noitinha, o meu marido sugeriu que era melhor virmos para dentro e eu concordei porque a friagem começava a descer. Ele foi chamar o cão de guarda que andava desaparecido. Aqui é que o dog anda nas suas sete quintas. 

A fotografia está assim pois foi feita muito de longe, um zoom bem longínquo

Chamou, chamou. Por fim já chamava à bruta, na base da ordem de ou vens ou vais pagá-las. Fui também chamar. E também assobiei (que I know how to whistle). 

Nada de fera.

Passado um bocado apareceu, lampeiro, com as barbas meio molhadas e todo ele se lambendo. Feliz da vida.

Passado um bocado, já aqui na sala, veio pôr ao pé de mim uma corda de brincar. Peguei e ele agarrou com os dentes para eu puxar e ele fazer o mesmo em sentido contrário. E então senti-lhe um cheiro que não identifiquei, um cheiro orgânico, a coisa viva, uma coisa muito disturbing. O meu marido disse: por isso não veio quando chamei por ele. Nem quero pensar no que pode ter sido.

Para além de coelhos há de certeza vários esquilos. 

Debaixo dos pinheiros do costume há um mar de pinhas roídas. Quantos esquilos serão necessários para darem conta de tamanho ror de pinhas...?

Mas lá em baixo, ao fundo, também já vi vestígios deles. 

E sabe-se lá o que mais há de bicharada. Já para não falar nos pássaros. Um chilreio que derrete qualquer coração. Aliás, tudo aqui derrete, afaga e conforta o meu coração.

Tirando isso, fui ao supermercado e fiquei outra vez estarrecida com o que gastei. No fim, olhei para o talão tentando perceber como foi tal possível. As coisas a um preço estúpido. No fim, como que para gozar com a minha cara, aparecia escrito que tinha poupado 19€. Se tivesse apanhado a patroa do supermercado à minha frente capaz de fazer uma bolinha com o talão e, pedindo-lhe licença, fazer-lhe pontaria à cara de pau com que se apresenta a dizer que, nisto tudo, a distribuição está a fazer grandes sacrifícios. 

Mas, pronto, já fiz as compras todas para o fim de semana. Dessa já estou despachada.

Só ainda não contei que depois da visita familiar, da ida ao supermercado e do almoço, viemos os dois até ao sofá, carregámos no botão para o transformarmos em quase cama e, não sei como, quando demos por nós, eram seis e meia da tarde. Não sei quando é que este peso de sono nos vai sair de cima. Imagina se isto nos dava quando ainda estávamos no activo. Havia de ser bonito. Ou então isto não tem a ver com a covid mas com cansaço acumulado durante décadas. Não sabemos. 

Mas há-de passar.

O que sabemos é que há por aqui muito que fazer, muito mato para cortar, muita árvore para podar. Temos que vir com mais tempo. 

E só de pensar nisto me encho de felicidade.

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E, já agora, dois vídeos cheios de muita beleza e que também me trazem felicidade


Julie Gautier. Musica de Carlos Hof do album ADORE.

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Corda flexível de aço @CirqueduSoleil
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Um dia bom
Saúde. Serenidade. Paz.

sexta-feira, abril 07, 2023

Alexandra Reis, a temível tomba todos, continua a fazer das dela

 

Continuo muito afastada da televisão. Ou estou noutra ou estou off. Nos intervalos vou apanhando salpicos do que estará por aí a passar-se. E os salpicos ora me mostram a dita Alexandra, com voz melíflua, meio-sorrisinho, óculos de fino recorte, deixando escapar uma bicada aqui, uma bicada acolá, mas parecendo sempre confortável nos seus saltos, ora mostram Ourmières-Widener, a CEO do fantástico nome, boquinha de rosa, mostrando que não está nem aí para tamanho carnaval e, igualmente, seguramente instalada nos seus saltos. 

Não sabendo que partes significtivas do enredo perdi, ouvi há pouco falar num motorista que parece que não estava vacinado contra o corona e, a seguir, já parecia que o problema não era bem esse mas, se calhar, um outro mais escuso e interessante.

Desde que me conheço, em todas as cegadas bem apimentadas aparece sempre um motorista. Pode não ter nada a ver com a história mas por qualquer desvio estrutural que parece habitar a mente da malta, é como se o interesse acabasse sempre atraído pelo motorista. Só foi pena a Alex não ter feito biquinho, não ter revirado o olhinho e, em vez de motorista, ter dito chauffeur.

E, pelo meio, também não sei bem a que propósito, apareceu o Marcelo, o nosso ubíquo Marcelo (que, na realidade, não precisa de pretexto para aparecer seja onde for), que, se bem percebi, nem tem nada a ver com a história. Mas eis que vejo um mail ou uma mensagem do bacano Hugo Mendes (tem sempre que haver um Huguinho totó em qualquer história divertida) em que não se acredita. A realidade teima, cada vez mais, em ultrapassar a toda a brida a ficção. Só faltou que em vez do emoji fofinho dos dois pontinhos e parêntesis, um smilezinho muito déjá-vu, aparecesse um atrevido com óculos escuros e língua de fora.

Daria uma boa banda desenhada, este Huguinho. Aliás, qualquer dos personagens daria uns cartoons do caneco.  Melhor: todo o enredo daria uma bonecada do caraças.

E, apesar do frisson destas cenas, não posso esquecer-me de que o Huguinho dependia do Pedro Nuno que despachava, en passant, por whatsapp. E não posso esquecer-me que a TAP e a CEO e tudo o que se relacionou com a TAP, nomeadamente a sabida e consabida felga que por lá parece que imperava  dependiam do dito Pedro Nuno. Portanto, na banda desenhada não poderia faltar o boneco do Pê-Nu, esse ganda maluco de quem alguns ainda mais malucos que ele diziam ser o sucessor do Costa. Só que não, o Pê ia Nu.

Pelo meio de tudo tenho apanhado os comentadores a opinarem sobre tudo isto, nomeadamente sobre reuniões e sobre outros ministros que vão sendo chamuscados na primeira e na segunda e na terceira derivada pela inflamável Alexandra. Mas aos comentadores, então, é que já não consigo mesmo prestar atenção, são outros dos temíveis efeitos colaterais do tufão Alex.

António Costa deve estar com a cabeça feita em água. Como não? Tendo um governo com artistas como o ex Pedro Nuno ou a jovem e irreflectida Marina e com Secretários de Estado como o ex Huguinho e outra miudagem ou bacanos que fazem ou fizeram parte da equipa governativa, ele bem pode acender velas para pedir paz a todos os santinhos. 

Uma pena. 

Compare-se a qualidade de ministros e secretários de estado dos primeiros governos após o 25 de Abril com estes de agora. Estes de agora fazem-me lembrar o que o meu pai dizia de ir à praça perto da hora em que deixavam de vender peixe, quando as bancas de pedra já só tinham o peixe que tinha sobrado, peixe espatifado, pouco fresco, coisa que já nem para os gatos prestava, só para quem anda à babugem.

E isto nem ter a ver com o PS que, mal ou bem, ainda é capaz de ser do melhorzinho que por aí se arranja. Acho que isto é mesmo uma questão de regime. A influência nefasta da comunicação social cada vez mais sensacionalista e o poder triturante das redes sociais fazem com que o populismo ganhe terreno e, numa tríade fatal, provoquem o afastamento de gente de qualidade. Fica só isto, os inexperientes, os fala barato, os que vivem do show off, os verdinhos, os totós, os restos. 

O Presidente da República bem poderia ter aqui um papel construtivo, convocando um conjunto de 'sábios' ou de gente isenta para se estudar uma forma de assegurar que a democracia consegue sobreviver, atraindo e retendo governantes e gestores públicos de qualidade, evitando que sejam destruídos na praça pública para satisfazer shares ou para gáudio da turbamulta.

Tirando isso, que agora me lembre, nada. Só se for que, com este calor, de dia só me apetece ser sereia.


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A fotografia mostra Hailey Bieber

A coreografia e a interpretação debaixo de água é de Julie Gautier

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Uma boa sexta-feira

Saúde. Cabeça fresca. Paz.

segunda-feira, março 27, 2023

Marcelo. Macron. O sentido de estado.
[E, só porque sim, como um despropositado intróito, um pouco do meu dia]

 

Estou particularmente cansada, hoje. Quando chegámos a casa, ainda fui regar um pouco, talvez para conseguir ter alguma normalidade no dia ou levar a cabo alguma acção por minha decisão. Há vários dias que ando a reboque dos acontecimentos, horas fora de casa, sempre a sair cedo e a chegar tarde, sempre sem saber o que se segue. 

Quando cheguei a casa, depois de comer um iogurte ao qual juntei frutos secos (pois não tinha almoçado), sentei-me e, estafada como estava, adormeci. Ouvia, à minha volta, o urso cabeludo a ladrar freneticamente... mas o sono foi bem mais profundo, levou a melhor. 

Estava também expectante em relação à chegada do mais velho, que chegava de Paris, e que, fruto da confusão que por lá vai, tinha de lá partido com atraso. Isto depois de dias de farra e alta animação. E tinha pensado que tinha que acordar à hora dele chegar.

Quando o meu marido me foi acordar para ver se queria ir à rua passear com o dog pensei que não conseguia despertar de maneira nenhuma e, muito a custo, disse-lhe que fosse sem mim. Mas vi as horas, vi que estava quase na hora do avião aterrar. Fui logo ver o site. Ainda não tinha chegado.

Então forcei-me a levantar-me do cadeirão, bebi água e lá fui à rua, sempre agarrada ao telemóvel, a ver as mensagens e o site. Só aterrou cerca de meia hora depois. Aí respirei de alívio. 

E liguei à minha mãe a quem tinha deixado, um bocado antes, muito pouco animada, cheia de medos e ansiedades. Felizmente, já estava melhor.

Quando regressei a casa, fui fazer o jantar. 

Quando depois cheguei aqui ligou-me o jovem 'parisiense', rouco, rouco, radiante, feliz da vida, cheio de peripécias. Rico menino. Já quer lá voltar, diz que quer ir com os primos (e com o irmão, claro), quer ir repetir as aventuras, quer voltar a sentir a adrenalina das aventuras mais radicais. Quando tinha a idade dele e andava num ano lectivo equivalente ao dele, a minha excursão foi à Serra da Estrela. Agora vão a Paris. Outros tempos, outros tempos.

E agora estou aqui a lutar para me manter acordada mas não está fácil.

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Tenho andado para ver se conseguia falar de dois temas e gostava que fosse hoje. Vou tentar.

O primeiro tem a ver com as recentes medidas do Governo para mitigar as dificuldades económicas face à inflação, nomeadamente o aumento de 1% à função pública e à redução do IVA num conjunto de produtos essenciais, isto em conjunto com apoios a inquilinos de baixos rendimentos ou a quem tem créditos à habitação que não consegue suportar. E o que tenho a dizer é que, se for só isto, acho algo preocupante. Eu, numa situação de défice baixo, mais baixo do que o previsto, e com o crescimento do PIB acima do expectável, como meritoriamente aconteceu (e sinceros parabéns ao Governo!) centraria grande parte do esforço na redução da dívida. Sempre que se reduz a dívida poupam-se os custos dos seus encargos, libertando-os para outras áreas. Em contrapartida quando se aumentam custos, em especial custos fixos, pode estar a comprometer-se o futuro.

Ora não ouvi falar na redução da dívida e isso preocupa-me pois essa, em meu entender, deveria ser uma grande, grande, prioridade. 

Depois não sei se não se está a concentrar demasiado as ajudas nos sectores mais desfavorecidos, quase numa lógica de dádiva. Penso que fazê-lo de forma quase exclusiva é coisa de vistas curtas. O motor de uma economia é sempre a classe média. É a classe média que puxa pela classe mais baixa, e fá-lo numa lógica sustentável, criando empregos, gerando riqueza replicável. 

Ora parece-me que se está a agir demasiado numa lógica assistencialista e pouco numa lógica de desenvolvimento, de crescimento. E isso, a ser verdade, não é muito inteligente.

Contudo, mal tenho conseguido acompanhar as notícias pelo que posso apenas estar mal informada.

Além do mais, faz mal Marcelo em andar cegamente colado às sondagens e à opinião pública, pensando e actuando apenas numa lógica imediatista. Ele diz que é para contrabalançar a maioria absoluta mas eu acho que ele introduz confusão e ruído minando o terreno, pois, depois do que diz, deixa de ser possível ao Governo agir de forma racional, numa lógica de futuro.

O segundo tópico de que aqui quero falar tem a ver com o que se passa em Paris, com a rua em polvorosa contra a subida da idade da reforma. E o que tenho a dizer é que fico perplexa com aquela violência e disparate. Macron tem razão e nem sei como é que o sistema francês de pensões se aguenta com reformas aos 60, 61 ou 62 anos. Claro que, se não sobem a idade da reforma, é quase inevitável que, daqui por algum tempo, haja problema. Para além do mais, com a esperança de vida tão longa, que mal tem as pessoas trabalharem até aos 65 ou 66 ou mesmo 67 anos? Os actuais sessentas são os antigos cinquentas. 

Os cálculos relativos a pensões de reforma são cálculos complexos e dão sobretudo pelo nome genérico de cálculos actuariais. Há muito trabalho de simulação sobre modelos estatísticos e probabilísticos. E um dos factores que mais influencia os cálculos é, como não poderia deixar de ser, a esperança de vida. Se uma pessoa vive até aos noventa ou cem ou mais anos e se cada vez há mais pessoas a viverem muitos anos, tem que se ver bem de onde vem todo o dinheiro para lhes pagar. Por isso, quanto mais tarde se reformarem, menos pressão haverá. Claro que se a demografia for favorável com muito mais gente nova a trabalhar do que gente a receber a reforma, o problema estará mitigado. Mas acontece que em França (tal como em Portugal) a população vai envelhecendo sem que os novos se reproduzam ao ritmo necessário. Ajudam, nesta matéria, os imigrantes. Mas não chega. 

Não sei como é que Macron não consegue explicar uma coisa tão óbvia. Não sei se há aqui uma falha de comunicação da parte dele e do Governo ou se são os manifestantes que não querem perceber o óbvio. Os franceses deveriam era estar agradecidos a Macron. Ainda bem que ele é um estadista e não um catavento que gira ao sabor da opinião pública. 

Mas o que eu receio, ao ver aquelas inflamadas manifestações em que grande parte parece gente arruaceira, de baixa idade, é que os sindicatos e as ruas estejam infectados com agitadores que, como tem sido divulgado, poderão ter mão russa a agir na sombra para minar as democracias europeias.

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E para animar, um belo momento de dança e alegria.

Jerry Lewis Jitterbug


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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Paz.

sábado, março 25, 2023

Não é para todos

 

Começo a duvidar se não serei descoordenada motora. Nunca antes tinha suspeitado, juro. Mas, na hidroginástica, vejo-me aflita para atinar com alguns exercícios. Tudo o que seja do género: levanta a perna esquerda para o lado esquerdo e acompanha com o braço direito que vai para a esquerda, depois leva a mesma perna esquerda para a frente e passa o braço esquerdo para trás das costas, depois a perna esquerda chuta alto para o lado direito e o braço esquerdo vai para a frente e para a direita. E troca. E aí já começo a baralhar-me. Qual braço e qual perna vai agora para onde? Ou então: segura com o braço esquerdo o braço direito, levanta o cotovelo direito por cima da cabeça e empurra com o braço esquerdo. E troca. E aí já eu não sei onde pára o braço esquerdo ou o direito e até chega a parecer-me que a mão direita se mudou para o braço esquerdo. 

E como é música bem puxada para aquilo ser de tipo aeróbico, mal começo a concentrar-me para ver se atino (chego a fechar os olhos para ver se consigo raciocinar) já o professor ordena: e troca! 

Outra que é do caraças é fazer exercícios com uns tijolos de espuma compacta. Fora de água é coisa de crianças, não pesam nada. Dentro de água viram um pesadelo. Com cada um em sua mão, abre os braços (debaixo de água) e leva-os até às pernas. E abre, e fecha, e abre, e fecha. Rápido, rápido. E segura neles à frente e levanta as pernas e junta-os por baixo das pernas. E passa a mão esquerda com o tijolo por baixo da perna direita e troca. E troca. E troca.

Muito difícil.

No outro dia uma camarada, com um tubo de espuma por trás das costas e as mãos sobre as extremidades, num exercício de levantar as pernas, deu mais balanço do que devia e ficou numa aflição, rebolando-se de barriga para o ar. Teve que ser ajudada. Aguentei-me sem me rir pois pensei que poderia ser comigo. E que não fosse. Há que respeitar as dificuldades alheias. Se alguém me filmasse naquela dislexia motora também haveria de ser bonito.

Uma coisa é certa: sempre pensei que, com o par certo, haveria de ser capaz de dançar um tango à maneira. Mas, ao fim de um par de aulas de hidroginástica, já perdi as peneiras. Não seria capaz de me sincronizar. Nem pensar. Não seria só o caso de o pisar. Haveria de, sem dar por isso, lhe passar rasteiras... e até cabeçadas lhe haveria de dar.

Já Aoniken Quiroga, o improvável tangueiro, é um mimo. A música funde-se com as células do seu corpo e ele desliza, rodopia e encanta com um destreza extraordinária. Muito bom. Talvez se ele me levasse ao colo eu conseguisse ter a ilusão de conseguir dançar um belo tango. Mas só assim.

Alejandra Mantinan y Aoniken Quiroga - Berlin - 2022 - Exhibicion - Tango Show
Bailan: Y te parece todavia - Hector Varela


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Ia dizer sobre o vídeo abaixo: assim seria eu. Mas não digo, porque tomara eu...

Mariela Sametband y Guillermo Barrionuevo - La Milonga de Buenos Aires


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Um bom sábado
Saúde. Boa disposição. Paz.

sexta-feira, março 24, 2023

Carpir ou dançar. Ou rir.

 

Os dias não têm andado fáceis. Mantém-se a situação de que ontem falei, agravada pelo vazio comunicacional. Ninguém informa sobre nada e, se ligamos para lá, ninguém atende.

Acresce que, com a carga da bateria a esvair-se, o contacto com ela tornou-se diminuto.

E assim foi o dia até que, ao fim da tarde, finalmente, depois de inúmeras, longas e pacientes tentativas, alguém atendeu e aí, ao dizer o nome dela, aconteceu o milagre. Informação: que estava a fazer outro exame e que ia pedir ao doutor para me ligar. Fiquei de boca aberta. Duvidei até que acontecesse.

Mas, na realidade, ele ligou-me e combinou falarmos in loco.

Quando cheguei, senha tirada, eis que chega a minha vez. A senhora do atendimento muito admirada, o médico combinou uma conversa? Duvidou e duvidou como se eu estivesse a querer dar algum golpe. E eu que sim, que ele me tinha ligado e que tínhamos combinado. Ela fixa em mim -- marcou? com esse doutor? -- perscrutando-me, antevendo o momento em que eu ia vacilar. Mas aguentei firme. 

Então deu-se por vencida: foi ao sistema, depois disse que ia lá dentro. Desapareceu. Apareceu algum tempo depois, dizendo que não sabiam desse médico mas que eu esperasse que, quando ele aparecesse, logo me chamavam.

Mas eis que uma funcionária, fardada, que ali estava para tratar de outra situação, me disse que era médica e que podia falar comigo sobre a minha mãe. Perguntou-me se eu era filha dela. Fiquei admirada. Admiradíssima, melhor dizendo.

Fomos para um espaço mais privado. Simpatiquíssima, estava ao correntíssimo, conversámos, uma conversa tranquila, e, entretanto, referiu o contacto que um colega tinha recebido de um familiar nosso ligado ao sector.

Abro um parêntesis para enquadrar o ambiente de hoje. Podendo parecer impossível, a verdade é que aquilo estava ainda mais cheio. Dir-se-ia que ingerível. As urgências a deitar por fora, desde a rua à sala de espera. Ambulâncias, gente em macas, gente em cadeiras de rodas, feridos, achacados, gente estranhamente obesa com ar infeliz e muito doente, gente encolhida -- um pouco de tudo. 

Levaram-me, então, ao pé da minha mãe. Até lá chegar, passei por corredores lotados de macas, umas a seguir a outras, e gente doente ou acidentada em cadeiras. 

É o grau zero da dignidade: uma pessoa doente, numa maca, num corredor, por onde passa um e outro. E uma pessoa dependente, vulnerável, ali exposta. Uns choram, outros chamam. Os outros não ligam. Cada um está entregue ao seu próprio sofrimento.

Até que cheguei ao espaço onde estava a minha mãe. Uns tossem, afogados em expectoração, outras gemem e gritam, uns dizem maluqueiras e querem arrancar tubos, outros com ar sofredor e infeliz.  

Contudo, pelo menos connosco, os funcionários amabilíssimos. O médico foi lá ter e conversámos, ele com tranquilidade e extrema simpatia. A enfermeira e as assistentes técnicas também amorosas. As auxiliares atentas e delicadas.

E eu fiquei a pensar se esta disponibilidade e simpatia teriam um pouco a ver com o contacto referido ou se, portas adentro, são sempre assim, amorosos, dedicados, competentes. E, para que não fiquem dúvidas, o contacto foi apenas para saber o que se passava com a minha mãe pois eu não sabia o que se passava para ela lá continuar. Não foi para pedir o que quer que fosse, apenas uma informação. Temos também lá um familiar muito próximo com um cargo de direcção e a quem não falámos na situação da minha mãe para que não ficasse a ideia de que queríamos algum tratamento diferenciado.

Ou seja, pode acontecer que, vencendo aquela caótica barreira da multidão da urgência, lá dentro haja dedicação, atenção, cuidado.

A minha mãe ainda lá continua e para onde foi não deixaram que levasse telemóvel. Por isso, não sei se amanhã terei alguma informação ou se vai ser outra luta para conseguir saber alguma coisa.

E volto a dizer o que ontem referi: há ali um nítido problema de organização. Horas e horas e horas. Há muito doente impaciente, muito familiar cansado e desinformado. Tudo se atrasa, tudo se acumula, todo o ambiente se degrada.

Não há dúvida que deveria voltar a haver Serviços de Atendimento Permanente (SAP) para ficarem com muitos doentes a montante e não irem todos cair nos hospitais. Se calhar deveriam estar equipados com alguns meios de diagnóstico mais simples (recolha de sangue e urina que fossem enviados para laboratórios, 24 horas x 7 dias ou raios X).

Contudo, apesar de isso me parecer vantajoso, admito que não é indispensável pois até poderia, por uma questão de sinergias, não se optar por descentralizar os serviços. Mas, então, deveria haver uma triagem que segregasse para instalações distintas, com equipas distintas, tudo o que fosse mais simples e tudo o que fosse caso grave. Assim, como está, tudo ao molho e fé em deus, se aparecem mais casos graves, ficam os outros a penar por horas infindas, gerando o nefasto efeito de acumulação.

Além disso, deveriam ter um sistema humanizado, sistemático e atempado de informação aos familiares. Senão, por cada doente, há pelo menos um familiar desagradado. Isto quando não se junta toda a numerosa família, armando uma barulheira que incomoda.

Enfim, não há como negar que há na Saúde um problema complicado. Contudo, penso que as soluções não serão forçosamente nem muito complexas nem muito dispendiosas. Há em gestão um conceito que dá pelo nome de quick wins, ou seja, ganhos rápidos, ou seja, medidas fáceis que trazem ganhos quase imediatos. Seria bom que, antes de se pensarem em grandes soluções e grandes investimentos (antes ou, pelo menos, ao mesmo tempo), se enveredasse por uma abordagem mais modesta, tentando obter quick wins. Envolvam-se as equipas, peça-se que avancem com sugestões, peça-se ajuda a outros que noutras unidades (públicas ou privadas) já façam melhor. É que não há dúvida que é preciso arregaçar as mangas e deitar mãos à obra.

E é isto. Vou descansar.

Mas para que isto não fique uma pessegada difícil de tragar, deixem que partilhe convosco um vídeo de dança que talvez anime quem se sinta desanimado com estes temas.

James Last - La Cumparsita


Um dia bom
Saúde. Força. Paz.