quinta-feira, junho 30, 2011

O equivalente a metade do subsídio de natal vai de asa. (Começa bem Passos Coelho, logo no primeiro dia do Governo na Assembleia da República). A devastação do mundo, diz Nuno Júdice

Não é que a medida seja desnecessário (e o mais certo é que não chegue). As finanças estão num estado tal que todo o saque aos contribuintes é justificável. Foram muitos anos de políticas erradas, desde os tempos gloriosos do cavaquismo, até ao facilitismo associado à adesão ao euro, passando pelo oportunismo dos países fortes que impuseram o fim da indústria, agricultura e pecas para terem para onde escoar os seus produtos.

Mas o que chateia é que Passos Coelho derrotou o Governo alegando que não eram admissíveis tantos sacrifícios, no mesmo comprimento de onda de Cavaco Silva quando tomou posse (dizendo que há limites aos sacrifícios). Afinal, agora que Sócrates foi derrotado, o discurso muda e, com igual convicção, se diz o contrário do que se dizia há um ou dois meses atrás.

Justifica-se agora Passos Coelho que soube ontem em quanto ia o défice e que resolveu isto: one time shot, um imposto extraordinário que é uma injecção única. Estranho. Primeiro porque o défice do 1º trimestre não é significativo, contém ainda resíduos do ano anterior. Segundo porque grande parte das medidas ainda não foram implementadas - a sê-lo puxarão o défice para valores mais baixos. Terceiro, um soco no estômago destes dá-se assim, sem pensar, depois de uma única noite?

Oportunismo, cinismo - e fico-me por aqui para não ter que ir buscar outros epítetos igualmente adequados.


Ocorrem-me, nesta altura, as palavras de Nuno Júdice (Luta de Classes in A a Z):


Na primeira hipótese, há uma causa
que obriga a multidão a avançar pela rua,
sabendo o que tem pela frente. As suas vozes
esperam que alguém as acorde com uma fórmula
que dê sentido ao seu movimento; mas
nem isso é preciso, quando olhamos o conjunto
e encontramos uma lógica que
determina cada passo.

Na segunda hipótese, a expressão do rosto
transporta uma decisão que ultrapassa o objectivo
do grupo. Poderia falar-se de uma metafísica
colectiva, e recorrer à dialéctica do Hegel para
descobrir esta violência serena que antecede
o grande combate que o filósofo descreveu como
simples antítese. A abstracção do raciocíonio
liberta-nos da realidade.

O que não vemos é o que está à sua
frente, e nunca tem rosto. A devastação
do mundo é, no fundo das coisas, a terceira
hipótese, mesmo quando uma planta ainda nasce
no terreiro vazio, depois da batalha.


Atenas

Pintar à mão livre, pintar sem regras, sem limites e a coragem necessária para fazer retratos infiéis (e Rothko, Picasso, Modiagliani, Chagall, Pomar, Paula Rego)

Há algum tempo que não pinto. Requer uma disponibilidade que não tenho tido. Contudo tenho muita vontade de o fazer. Não me considero uma pintora, mas nem pouco mais ou menos. Ser-se pintor, escritor, escultor é ter um dom que não é acessível a qualquer um e, quem tenha esta percepção e ame a arte, não se auto-intitulará artista de ânimo leve.

Grande amante que sou de pintura, a arte abstracta quase minimalista é a que maior impacto tem sobre mim.

aqui falei várias vezes de Mark Rothko cuja obra exerce em mim o efeito que as obras sagradas terão sobre outras pessoas.

Tríptico de Rothko - Capela Rothko

As grandes manchas de cor, as combinações, que parecem rudimentares, de cores em simples rectângulos quase monocromáticos, a mim produzem um inexplicável efeito de devoção, de recolhimento.

Também gosto de pinturas quase transparentes, claras, de uma luminosidade simples.

Pintura que adquirimos a um pintor de rua em Espanha

No entanto, quando pinto, e apesar de me esforçar para ser assim tão simples, por incrível que possa parecer a quem me ouve ou me lê, não o consigo.

Fragmento de pintura minha

Começo bem intencionada mas, sem me dar conta, uma torrente de cor começa a sair-me das mãos e, quase como se tivessem vida própria, as cores desatam a conjugar-se entre si, muitas vezes com textura (juntando materiais às tintas), a sobreporem-se, e, por mais que quase me obrigue a ser minimalista, não o consigo.

Fragmento de pintura minha

Outras vezes, se estou numa ‘fase’ mais figurativa, formam-se frequentemente associações de ideias que tenho dificuldade em explicar de forma elaborada e sincera ou saem-me figuras provocadoras que me divertem mas que não sei a que propósito vêm – mas, o engraçado, é que não é deliberado, muito menos planeado (e, que não se pense que estou a fazer género, porque não estou mesmo).

Geralmente, quando começo a pintar não tenho a mínima ideia de qual pretendo que seja o output final, vou indo, num prazer infantil de fazer o que me vem à cabeça, sem me coarctar, sem me tentar autocontrolar.

Estou simplesmente a fazer uma coisa de que gosto, sem ter que dar justificações a ninguém – uma coisa totalmente à vontadinha, sem qualquer pretensão.

Mas há uma ‘modalidade’ que me obriga a ser o oposto do que sou: o retrato. Já tentei umas duas ou três vezes fazer retrato e, justamente, com uma das pessoas que melhor conheço, a minha filha.


Antes de prosseguir, devo dizer que sou autodidacta em absoluto. Acho que, para aquilo que faço e da forma que faço, só pode funcionar assim: na total ignorância. Não consigo sequer conceber qualquer tentativa de domesticação de uma coisa que só poderá dar-me prazer se for assim, a vol d’oiseau, sem regras, sem preceitos, sem ensinamentos, sem limites.

Fragmento de tela em que retrato a minha filha, que geralmente não tem o bronze que aqui lhe dei

 Mas, então, voltando ao retrato: é para mim a total contradição dos termos pois se, por um lado, nisto como em quase tudo na vida, só funciono bem sem receitas, sem guiões, em absoluta liberdade, por outro, para ser retrato, deverá ser a reprodução do que se vê. E então é uma violência. Fico exausta, psicologicamente exausta – é uma luta que dificilmente alguém consegue perceber.

Luto para que, olhando para o quadro a veja tal como ela é em pessoa, a boca, a forma como sorri, o olhar mas, quando vou aplicar a tinta (e, na prática, tudo se resumo a isso: a escolher as cores certas, a dimensão de cada pequena mancha de cor), apetece-me por exemplo, conter-lhe o sorriso ou reforçar o olhar lateral mas, ao fazê-lo, os lábios já perdem um pouco do volume que os caracteriza, ou o olhar fica mais transversal do que costuma ser na realidade. E, então, corrijo (o que em pintura não é tão fácil como apagar com borracha) e forço-me a restringir-me ao que é, tal e qual mas, no último instante lá me desobedeço e acentuo o brilho numa maçã do rosto e depois, vendo de longe, já não é bem ela e volto e volto e volto. Uma luta, uma luta que só visto.

Por isso, evito fazer retratos. Fico extenuada e descontente.

E depois chega ela e toda a gente que a conhece e, mal vêem o quadro, exclamam, de imediato que é ela mas depois, inquisidores e picuinhas, põem-se de lado, ‘ah, há ali qualquer coisa naquele canto da boca que não é exactamente dela’ ou ‘o sorriso não é bem, bem, bem este’, e eu fico frustrada, derrotada.

Mas vejo depois os retratos feitos por pintores que admiro (retratos e auto-retratos) e os de que mais gosto são justamente aqueles em que os artistas se estiveram nas tintas para a reprodução fiel do modelo.

Quando vejo um retrato muito ipsis verbis acho que mais valia uma fotografia.

Só gosto quando há uma distorção, uma visão adulterada da verdadeira imagem (adulterada porque o pintor foi capaz de cometer adultério em vez de se manter fiel à imagem fotográfica do modelo) e isto porque me parece ver a imagem decantada pela mente do artista ou seja – a ver se me consigo explicar – a imagem incorporando a mais valia da criatividade do autor.

Veja-se Picasso e os fantásticos retratos das suas várias mulheres e amantes (Fernande, Eve, Olga, Marie Thérèse, Dora Maar, Françoise, Jacqueline),

Aqui Marie-Thérèse, em fotogafia e numa das muitas telas de Picasso

veja-se Modigliani e as longilíneas e carnudas imagens de Jeanne Hébuterne;

Jeanne, mourir d'aimer

veja-se Chagall e Bella,

Bella e Marc Chagal, fotografia do casal

Bella a sua tão amada primeira mulher que com ele voa, em sonhos,

Bella e Chagall, pintura de Marc Chagall

ou veja-se o exuberante Mário Soares na galeria dos Presidentes em Belém tal como Pomar o vê (e tal como eu e tanta gente também o vê)

Mário Soares por Júlio Pomar

ou o introspectivo Sampaio segundo a nossa querida Paula Rego.

Jorge Sampaio por Paula Rego

Alguém se lembra de estar a ver se o olho está exactamente à distância certa da base do nariz ou se a narina esquerda tem os milímetros exactos que tem na realidade?

E, em termos artísticos, há lá comparação com retratos que não passam de maçadoras reproduções?

[Eu é que ainda não consegui vencer esta barreira de fazer um retrato em que a figura tenha um olho na testa e a boca na ponta do nariz...Também ainda não venci o receio da não aceitação por parte do modelo que tende a querer ver-se igual a quando se vê ao espelho… Por isso, para evitar esta luta inglória, quando me atirar de novo ás telas vai ser, com certeza, na base da enxurrada de cores, estou cheia delas, tanta, tanta cor.
Fragmento de uma tela minha: cores, cores e mais cores

(Pode parecer imodéstia minha colocar-me aqui ao pé de pintores que admiro mas não é. Eu não sou pintora e eles são mais que pintores, são génios. As imagens destinam-se a ilustrar o texto, apenas isso) 


E, já agora: Be happy. Encham a vossa vida de cor, de luz, de poesia, de alegria. Be happy!

quarta-feira, junho 29, 2011

Sou da beira do mar, respiro a maresia, voo com as gaivotas

Sou da beira do rio, sou do pé da praia. Nasci, sempre vivi e trabalhei em cidades que têm um rio que desagua no Atlântico.

Praia no domingo ao cair do dia: uma beleza total, quase virtual

Talvez por isso, é de rios com alguma bravura, que procuram o mar, que têm sal, que têm cheiro de maresia, que eu gosto. Rios mansos, contemplativos, ou riachos saltitantes, não me despertam tanto interesse.

Passear nas margens dos rios e frequentar praias de oceano foi sempre uma constante na minha vida.

Este fim de semana barco de guerra faz-se ao largo, passando em frente do Padrão das Descobertas

Ver os navios que cruzam os mares e os rios é, desde sempre, um prazer de que não me canso.

Durante muito tempo andava de barco para ir para a praia ou para ir do trabalho para casa e vice-versa. O bulício de quando se entra e sai, as manobras de atracação, os salpicos na cara de quando se vem cá fora, tudo isso tem para mim um encanto especial.


Grandes navios de carga há pouco, entrando no Tejo - e, na margem, pescador 

Há alguns anos desempenhei funções que me permitiram arranjar o pretexto de querer assistir à carga e descarga de grandes navios. Tenho pena de, na altura, não ter fotografado o que vi porque, por palavras, é de difícil descrição. A descarga de grande graneleiros de 10.000 toneladas ou mais, ver cá de cima as máquinas carregadeiras no porão a parecerem brinquedos, ver os homens como formigas a limpar no porão, todos cobertos de pós, quase indistintos, é qualquer coisa que não se esquece, imagens que na minha memória se assemelham às reportagens de Sebastião Salgado.

Visitei também outro tipo de grandes navios, navios que são autênticas fábricas, com tripulação altamente especializada.

Lembro particularmente uma vez em que o comandante era russo e que me recebeu com todas as honrarias, fazendo a meu pedido, mas com todo o orgulho, uma visita guiada. Fiquei perplexa e maravilhada pela complexidade, pela dimensão destas enormes fábricas que deslizam nos mares. Depois, no fim, já na zona de convívio, sorridente, disse-me que tinha uma surpresa: que a mulher estava a bordo e gostaria de me conhecer. Contou-me que a mulher às vezes o acompanhava porque estas viagens são longas e porque assim, quer ele, quer ela, sempre atenuavam a solidão e, além disso, quando tinham tempo podiam sair, os dois, a conhecer as cidades em que atracavam (o que muitas vezes não acontecia porque devem minimizar o tempo de permanência nos portos).


Saiu, então, para a ir buscar e então é que eu fiquei mesmo perplexa. Apareceu-me uma russa de uns trinta e tal anos que parecia irreal. Tal e qual uma boneca do princípio do século passado, mas uma boneca em ponto grande. Muito branca, muito loura, com o cabelo apanhado em cima, no alto da cabeça, com um penteado artístico, onde se via uma fitinha cor de rosa, vestida com um vestido muito cintado, cortado na cintura, com uma saia muito rodada, bordado, tudo em tons de cor de rosa, com uns brinquinhos que pareciam de brincar, toda ela sorria, os lábios pintados de cor de rosa tal como as grandes unhas, nem sei descrever melhor, era mesmo como aquelas bonecas que dantes, em algumas casas, se punham em cima das camas.

Eu, perante aquela aparição, e vendo o marido, o comandante, também todo orgulhoso por ter uma boneca destas para mostrar, devo ter ficado um bom bocado de boca aberta mas depois, claro, lá me recompus e falei durante uma boa hora com a simpática senhora que me contou que passam meses sem ver nenhuma mulher, sem ter com quem conversar, que tinham ficado muito felizes quando souberam que uma mulher queria visitar o navio. Não deve ser nada fácil a vida destas pessoas que estão sempre em trânsito.

Hoje ao fim do dia, cais de Sta Apolónia, com as infraestruturas portuárias (o belo edifício da gare de caminho de ferro a azul, à esquerda)

Eu adorava aquele ambiente portuário, de estivadores, de máquinas e guindastes, de gente muito directa, muito operacional, com comandantes das mais diferentes nacionalidades. Temia aquelas escadas íngremes e altíssimas a que tinha que subir se queria ir dentro do navio mas ansiava pela adrenalina da situação.


Há pouco, ao cair do dia, pescador à linha, e Lisboa logo ali

Mas, para além desta experiência mais específica, sempre gostei de ver os pescadores de beira de cais ou de beira de praia, de estar atenta aos movimentos da extremidade da cana, perceber se o peixe está a ‘picar’, apreciar o orgulho dos pescadores quando se sentem observados no momento em que tiram o peixe da água. E gosto do cheiro dos cais, da maresia, dos limos junto aos pilares ou das rochas, dos mexilhões em cachos, do anoitecer fresco. Tal como gosto de praias com mar batido, da espuma da rebentação, da humidade do ar do mar, das cores transparentes das algas.

Praia este fim de semana

E gosto das gaivotas de longas asas que se elevam e sobrevoam os ares, elegantes, soberanas.

Cada vez mais, preciso de ver e de respirar o ar dos mares. É essencialmente de lá que vem o oxigénio de que me alimento.

E depois, para temperar, regularmente, recolho-me no campo, na terra, nas rochas, no mato, na sombra das árvores, no silêncio. No entanto, às vezes, quando o vento sopra na folhagem dos choupos, do outro lado da estrada, parece-me ouvir o mar.


[Nota: Se anda à procura de um Consultório Sentimental não se enganou: é aqui mesmo, um pouco mais abaixo, logo a seguir à Madame Lagarde]

Félicitations: Christine Lagarde, madame FMI

Uma mulher muito BCBG na alta finança mundial

Estou contente: já tinha ficado quando ela se anunciou como candidata e agora chegam as boas notícias. A partir de agora é ela que está à frente do FMI.

Espero que Christine Lagarde faça qualquer coisa por todos os países que estão na corda bamba mas, talvez egoistamente (como europeia), espero que ela faça uma leitura honesta sobre o drama da situação grega, espero que ela consiga falar loud and clear para que esta Europa consiga reencontrar o seu rumo.

Bonne chance!


[PS: Se anda à procura de um Consultório Sentimental, é um pouco mais abaixo. Desça e boa sorte: espero que encontre o que precisa]

terça-feira, junho 28, 2011

Bernardo Bairrão, o ex-futuro Secretário de Estado da Administração Interna, estará agora... desempregado? Será possível que Passos Coelho se tenha arrependido à última hora, deixando-o fora do Governo? Depois dele já ter pedido a demissão da Administração da Media Capital e do caso ter sido noticiado nos écrans da TVI?

Outra vez uma declaração de interesses: desejo que este governo seja bem sucedido pois o sucesso do governo, sobretudo nesta conjuntura, traduzir-se-á em boas notícias para o País.

Dito isto: dá para perceber a trapalhada à volta de Bernardo Bairrão? Os ministros estão em roda livre e convidaram quem quiseram para secretários de estado? Fizeram os convites e, só depois de tudo acertado, é que Passos Coelho se pronunciou? Ou ainda é pior: Passos Coelho deu luz verde e, a seguir, arrependeu-se e tirou o tapete a Miguel Macedo?

É que, se é verdade o que já corre por aí, o Miguel Macedo convidou o senhor para Secretário de Estado da Administração Interna (já agora: curioso convite), este aceitou, demitiu-se, formalizou a demissão inclusivamente junto da CMVM, o frenético Prof. Marcelo deu a novidade no écran da TVI, imagino que devem ter chovido os parabéns e, só a seguir, é que Passos Coelho percebeu que o senhor é contra a privatizaçao da RTP? Só depois deste baile todo armado é que se lembrou que ele até tinha dado uma mãozinha no eclipse de Manuela Moura Guedes?

Enquanto isto, a Administração da Media Capital agradece publicamente a colaboração de Bernardo Bairrão, já o substituíu interinamente e prepara-se para o substituir formalmente.

E o homem, desta forma, em 48 horas passa de futuro secretário de estado a desempregado... Será verdade isto?

Será que isto é castigo por ser tão olhudo?

Provavelmente não. Provavelmente isto não passa de uma historinha de mau gosto que anda a correr na net.

É que, a ser verdade, fico preocupada com a metodologia de trabalho de Passos Coelho. Até parecerá que gosta de sujeitar os outros a tremendos vexames públicos.

Ou então quem esteve mal foi Bernardo que se armou em Bernie Big Mouth, não tendo o tino suficiente para perceber que, se ia para o Governo, era mais prudente não andar a fazer declarações públicas contra uma bandeira de Passos Coelho, a privatização da RTP, nem lhe ficava bem, antes de ser empossado, andar a dar cachas ao Prof. Marcelo. Se foi isso, azarinho, tramou-se e, assim sendo, talvez perceba que ser olhudo e linguarudo ao mesmo tempo é coisa que comporta alguns riscos.

Vamos ver se hoje se percebe o que, afinal, se passou.


PS: Sugiro que siga agora para o post abaixo relativo ao Álvaro.

segunda-feira, junho 27, 2011

Álvaro, Dr. Santos Pereira, Ministro Álvaro Santos Pereira ou Alvarito? Daqui por algum tempo, como vai ser?


É um facto que em Portugal, desde tempos remotos, há a mania dos bacharéis e doutores, mestres, doutorandos e quejandos e, mesmo quem o não é, se ocupa um lugar de algum destaque nas organizações, acaba por se acostumar a um título a que não tem academicamente direito.

Doutor: um burro carregado de livros?

Por exemplo, ao longo dos anos, tenho assistido a que, se uma pessoa ocupa um cargo de administração ou direcção, é normal que gente de fora, consultores, fornecedores, etc, o tratem imediatamente por Sr. Doutor e, se a pessoa, por não ter nenhuma habilitação dita superior, esclarecer que não é doutor, logo alguém se apressa solícito, ‘Engenheiro?’ – e, ao fim de muitas correcções, a pessoa acaba por deixar ficar o doutor só para não ter que passar uma milionésima vez pela mesma conversa. Compreensível, até.


[Um colega meu, na brincadeira, tratava por doutora uma jovem toda giraça (mas não especialmente inteligente) que era engenheira e, quando ela o corrigia, ele invariavelmente emendava com ar compenetrado, ‘Desculpe, tem razão. Enfermeira, não é?’]


A mim tratam-me muitas vezes por doutora apesar de eu não ser doutorada mas, desde a altura em que comecei a dar aulas - menina e moça apenas com o 3º ano de universidade, que correspondia ao bacharelato, para meu espanto, comecei a ouvir os contínuos (profissão que presumo que agora tenha outro nome) tratarem-me por SôTôra e, quando lhes explicava que ainda não era licenciada, diziam que isso não interessava porque os alunos, independentemente da habilitação, me tratariam sempre por S'Tôra  - que me habituei ao título.

E, embora não seja elitista e picuinhas (enfim… digo eu…), devo confessar que há uma coisa que me incomoda.

Com uma certa regularidade, tenho reuniões com pessoas de outras empresas e, se há coisa que me deixa com uma imediata alergia, é quando jovens executivos que não conheço de lado nenhum - com aquele ar eficiente de quem chegou, viu e venceu apesar de ainda cheirarem a Dodot’s - começam, com a maior das familiaridades, a tratar-me apenas pelo meu nome próprio (a alergia é a mesma quando não se trata de gaiatos armados em gurus da consultoria mas sim de cavalheiros da minha idade – só que familiaridades instantâneas não são tão frequentes com gente feita).

Chamem-me antiquada, acusem-me de guardar uma grande distância, digam o que quiserem mas, por favor, pelo amor da santa, se não me conhecem de lado nenhum, não me tratem como se tivessem andado comigo na escola!

Eu, pelo meu lado, também não consigo tratar por tu ou apenas pelo nome próprio, pessoas que não sejam meus amigos pessoais ou então se esse não foi, ab initio, o tratamento usado. Se engreno numa de apelido ou Dr. é quase impossível inverter a situação.

Mas, atenção, não sou só eu...

*

Por isso, ao ouvir o jovem e bem intencionado Álvaro a dizer aos jornalistas para o tratarem apenas pelo nome próprio, fico céptica de que a coisa pegue.

O putativo coach de toda a classe política, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, já ontem, na TVI, lhe deu uma ensaboadela com aquela blague do motorista, 'Ó Álvaro, vamos para o ministério ou paramos para beber um café?'.

Alvarito já te tenho dito/que não é bonito/ andares-me a enganar/ Chora agora Alvarito, chora/ que me vou embora pr'a não mais voltar


E, a seguir a esta ensaboadela inicial, seguir-se-ão lavagens mais a sério, quiçá valentes centrifugações.

Hoje Carvalho da Silva já foi pedir o aumento do salário mínimo, os da construção civil, a propósito do túnel do Marão ter parado porque a Somague está sem dinheiro, também já pediram para falar com ele, os do Estaleiro de Viana do Castelo e os responsáveis autárquicos, ainda ele não tinha chegado ao gabinete, já o estavam a interpelar para resolver o grave problema de trezentas e tal pessoas a irem para o desemprego. E a procissão - uns a pedir pelo Trabalho, outros pela Economia, outros pelos Transportes, outros pelas Comunicações, outros pelas Obras Públicas – vai ser constante, uma peregrinação permanente.

Por isso, vamos ver durante quanto tempo o sorridente Álvaro vai incentivar as intimidades concertadas que, inocentemente, agora ainda pretende estimular.

Vamos ver se daqui a pouco tempo não está é, de semblante carregado, a exigir que o tratem por Ministro Santos Pereira, com respeitinho. 


[Declaração de interesses: É meu desejo que ele consiga fazer um bom lugar como ministro, seria bom para ele e, sobretudo, para o País.

Mas, por estas bandas, o tratamento informal não está banalizado como no Canadá ou noutros países.

É uma questão cultural, Caro Álvaro.]


PS: Se me permitem a sugestão, sigam para o post abaixo para lerem um post de um leitor meu sobre o 'Estranho Caso do Deputado Rui Tavares, tema que tanto mobiliza a blogosfera e a, portanto, a comunicação social.

O estranho caso de Rui Tavares: inocente ou vilão no romance do Bloco de Esquerda? - a opinião de um leitor de Um Jeito Manso

De novo, depois de obter a devida autorização, coloco aqui um texto que um leitor me enviou. Embora seja um tema falado e refalado na comunicação social, é um assunto a que, numa escala de interesse de 1 a 5, atribuo o valor de 1, ou seja, nenhum. E, não atribuindo valor, não me apetece falar nele. Contudo, concordo genericamente com o que o meu leitor escreveu e, assim sendo, aqui está:

"Confesso o meu indesculpável fraco conhecimento do mundo dos blogs, que me levou a não saber quem era o Rui Tavares. Só a semana passada comecei a ouvir falar desta personagem.

Rui Tavares, o homem de quem se fala

Nos jornais, na televisão, nos blogs escrevia-se e falava-se da extraordinária questão relacionada com a zanga entre o Rui Tavares e o Francisco Louçã. O Rui terá ficado ofendidíssimo com o Francisco porque este o terá corrigido e, por isso, aproveitou a oportunidade para sair do Bloco, embora digam que já estava a preparar a saída, que já tinha iniciado negociações com os Verdes no Parlamento Europeu.

Não achei que valesse a pena preocupar-me com o assunto. No entanto, no fim de semana lá “apanhei” outra vez com o Rui Tavares: foi o Pedro Mexia no “Governo Sombra”, foi o Miguel Sousa Tavares no Expresso (e concordo com o que escreveu) e até o Professor Marcelo ontem aflorou o assunto.

Foi demais. “Googlei” e lá vi cara do Rui Tavares. De facto, já tinha visto o sujeito mas, talvez porque não sou blogodependente, não me recordo de nada que este Senhor tenha dito e muito menos que tenha feito.

Aprofundando um pouco mais, verifiquei que a rapaziada dos blogs anda assanhada. Para alguns o Rui Tavares é de grande importância e a sua saída do BE põe em causa a razão que eles, bloguers, tinham para estarem ligados ao Bloco; para outros, o tipo não tem cumprido os mínimos e ainda bem que vai sair.

A minha opinião é diferente. A questão Rui Tavares só existe porque uma parte substancial da comunicação está nas mãos da rapaziada do Bloco e afins.

Esta rapaziada agora está sem rumo: levaram uma tareia nas eleições e, como se isso não fosse suficiente, como o Governo mudou, já não têm em quem bater. Uma chatice! Uma rapaziada tão ajuizada, que se tem comportado com tanta sapiência, que nunca se pretendeu afirmar pela negativa, que nunca olhou para o umbigo, está agora à deriva.

Se tiverem sorte, conseguirão encontrar no Governo, no PSD, no CDS ou no PS alguém em que zurzir, sempre com muita elevação, muitos sound bites, muita criatividade caviar-gauche.

Caso contrário, ainda correm o risco de só terem como tema para blogar as razões que deram origem à pulverização do BE. "


Pois é, que chatice para eles....

Livros que são como coelhos. E, In heaven, juntam-se Patti Smith que me vai contar do Robert Mapplethorpe, 'Look at me', Campo Baeza que pensa com as mãos e Luis Barragan, o arquitecto da luz, da cor, da vida


Pois é. Depois da longa maratona de há pouco tempo, de total reestruturação da biblioteca, de três novas estantes (incontornável IKEA), e do hercúleo esforço de catalogação (vide o post de conclusão), a desordem tende a instalar-se de novo. Em cima de algumas cadeiras e da mesa em que habitualmente escrevo, a coisa já está assim.

No entanto, enquanto o caos é gerível, sinto-me bem assim. Mesas de trabalho sem nada em cima não têm a ver comigo.

Adiante.

In heaven, sol e calor que só visto. Resolvi tirar uma fotografia aos três últimos coelhinhos que nasceram (que, como é sabido, eles, os livros, reproduzem-se como coelhos). Aqui estão sobre uma grande pedra que, aqui, pedras e flores e árvores, tudo convive na maior liberdade. Coloquei ao pé, um outro e já explico porquê.


O da esquerda está a ser uma agradável surpresa, 'Apenas miúdos', (Just Kids) da Patti Smith (ed. Quetzal) e, em devido tempo, quando o acabar, a ver se não me esqueço de falar dele. Patti Smith partilhou a arte e a vida, foi musa, amiga e testemunha de alguém cuja arte muito me impressiona e de que aqui já falei algumas vezes, Robert Mapplethorpe (poderão aceder a esses posts seleccionando o separador correspondente do lado direito), um fotógrafo tocado pela genialidade. Além disso, do que estou a ver, ela escreve muito bem.

Robert Mapplethorpe e Patti Smith



Outro dos livros é daqueles livros-objectos de que tanto gosto e que devia ir para uma vitrina, é lindo, é pequenino, capa preta, letras prateadas, 'look at me' - Autoportraits du XX.e Siècle de Pascal Bonafoux, (Hors Série découvertes Gallimard). O maravilhoso é que por dentro, todo ele se desdobra, de todas as maneiras, um papel agradabilíssimo e, claro, auto retratos de pintores que tanto admiro, numa edição inteligente e criativa - um gosto! Abro-o, reabro-o, enchantée.


Acima, exemplifiquei, desdobrando uma folha deste maravilhoso livrinho, numa das variantes de dobragem. Aqui podemos ver um auto retrato de Francis Bacon, ('je déteste mon propre visage') e uma montagem de olhares, Van Gogh, Bacon, Picasso, Frida Kahlo, etc, página que tem por legenda 'Se mirer, c'est affronter l'être et sa fonction, L'oeil étonne le voir', Paul Valéry.

O terceiro livro relaciona-se com uma outro dos meus pontos de interesse, a arquitectura. É uma cuidada edição Caleidoscópio, 'Pensar com as mãos' do arquitecto espanhol Campo Baeza.

Leio no próprio livro que Alberto Campo Baeza não tem carro, televisão, relógio, telemóvel.

Leio que na sua biblioteca há mais livros de poesia do que de arquitectura - e fico enlevada pois amar a poesia é um dos pré-requisitos que imagino para uma correcta interpretação da obra arquitectónica.

Leio que no seu atelier não há mais que três pessoas e leio que confessa que é muito feliz.

E, ao ler tudo isto, já eu própria parto feliz para a leitura do livro.

Ao longo dos curtos capítulos vamos percorrendo a sua concepção dos conceitos inerentes à arquitectura: a importância maior da luz, a linearidade, a estrutura - mas vejam bem os maravilhosos títulos que ele vai dando aos capítulos: O sopro de uma brisa suave, Da medida das ideias, Quando o plano se converte em linha, Tempus Fugit, Desenhar no ar, A própria beleza, A luz que constrói o tempo e o espaço, Pregas de luz, etc, etc.

Depois fala de alguns arquitectos que considera especiais (e orgulhosa descobri que ele fala dos irmãos Aires Mateus, de Fernando Hipólito, de Eduardo Souto de Moura, de Paulo H. Durão de que não tinha ainda ouvido falar).

Mas fala sobretudo de alguém cuja obra muito admiro, Luis Barragán, arquitecto mexicano (1902 - 1988), prémio Pritzker. Apenas conheço os seus trabalhos de um livro e da internet mas, mesmo assim, o seu trabalho arrebata-me e já pintei muitas telas inspirada nos seus trabalhos. É uma construção cheia de poesia, sem nada a mais, a síntese perfeita da forma e da luz, uma cor fulgurante, geralmente com uma combinação cromática arrojada e feliz, uma forma inspirada de capturar a luz, transformando-a em linhas de sombra, recantos de sossego, recantos de felicidade em que a luz cai a pique ou desliza pelos muros.

Por isso, o outro livro que juntei ali em cima é justamente sobre Luis Barragan, Editorial RM, S.A. de C.V., México 2001, de José Mª Bendia Julbez, Juan Palomar, Guillermo Eguiarte, Fotografias de Sebastián Saldívar e Prólogo de Álvaro Siza, que folheio e folheio, sempre encantada.  

Páginas do livro em que se vê, nesta casa acolhedora de Barragán uma pintura de um outro mexicano, o pintor Diego Rivera (que foi casado com Frida Kahlo)


In heaven, onde tudo é possível, a mulher de joelhos saíu das páginas do livro, saíu das paredes daquela casa e está aqui e abraça a cesta de lírios, tal como D. Diego Rivera um dia a viu

Sobre a caruma, livro de Barragan, aberto nas páginas cheias da vida transbordante de cor das suas construções


Confesso-vos: se eu pudesse sair por aí fazendo o que me apetece,


 Sophia de Mello Breyner Andresen - Les beaux esprits se rencontrent

('Pudesse eu não ter laços nem limites, ó vida de mil faces transbordantes, pr'a responder aos teus convites suspensos na surpresa dos instantes' - relembra-me Sophia que aqui, in heaven, tem assento permanente; onde haja um recanto à sombra, aqui está ela, com um chapéu de abas largas, parecido com o meu (ou será o meu?), livro nas mãos, palavras soltas ao vento.)

... mas, ia eu dizendo, que se pudesse, saía também por aí, construindo muros coloridos com as cores vibrantes de Barragán, recantos com escadas que pareceriam que não iam dar a lado nenhum, linhas infinitas de luz, fios de água, longos corredores de luz que conduziriam a espaços de paz.


  Tenham uma boa semana! Divirtam-se. Encham a vossa vida de cor de de luz. Be happy. Be happy.

sábado, junho 25, 2011

A actual abulia crítica da comunicação social (Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo dixit) - a opinião de um leitor do Um Jeito Manso

De um leitor de 'Um jeito manso' que costuma fazer-me chegar os seus comentários por mail, recebi o texto abaixo que aqui transcrevo depois de ter obtido o seu acordo, por merecer, de forma geral, a minha concordância. A escolha de fotografias, que obtive na net, é de minha responsabilidade.

"A abulia critica da nossa comunicação social (parafraseando José Pacheco Pereira no programa “Quadratura do Círculo” da SIC Notícias) é, seguramente, uma menos valia do nosso universo democrático. Passaram, como é costume, do 80 ao 8.

Pacheco Pereira com Lobo Xavier e António Costa com a moderação de Carlos Andrade na Quadratura do Círculo

Não há muito tempo tínhamos toda a gente da comunicação social a zurzir no Governo, no Primeiro Ministro, nos Ministros, nos Secretários de Estado, nos Assessores, quiçá até no Porteiro do Ministério das Finanças.

Hoje não há criticas a fazer, encontrámos finalmente, o Homem, talvez do leme, que quando erra (será que erra?) ultrapassa o problema de uma forma fantástica, veja-se o caso Fernando Nobre versus Assunção Esteves: o problema não é alguém ter oferecido a outrem um lugar que não depende dele, não, o Fernando é que não foi Nobre, quis 'abotoar-se' com a Presidência da AR e o 'homem do leme' ultrapassou a questão de uma forma extraordinária, manteve a palavra, deu a volta por cima - temos Homem.

Fernando Nobre e Passos Coelho na Assembleia da República no dia do duplo chumbo na eleição para Presidente da AR

Então e o Governo? Enfim, não sendo o máximo, para lá caminha. Um Ministério da Economia ingovernável? Claro que não, isso é 'são bocas' do Professor João Ferreira do Amaral. Temos na Economia um Académico que já leccionou muitas cadeiras, não é mais que suficiente para abarcar todas as áreas?

Uma Ministra da Agricultura, com um super Ministério, que não percebe patavina do assunto? Maledicência, dirá a comunicação social, a Senhora é jovem, empenhada, fará um bom lugar o que é que interessa ser-se académica. Da área de Direito... e fica com a Agricultura?...Até é muito melhor ter uma visão de fora.

À beira mar, Assunção Cristas, jovem professora de Direito, agora com um ministério que abarca muita coisa, incluindo o Mar

Incluir o Miguel Relvas no Governo. Qual é o problema? Tem algum sentido separar as águas? Então não entra pelos olhos dentro que o Partido e o Governo têm os mesmos interesses, os superiores interesses da Nação?

E que escolha mais acertada para as Finanças! Então o Sr. Ministro Vítor Gaspar conhece os meandros, foi Director do Conselho Económico(?) da UE. É um excelente curricula! Não está mais que demonstrado que os economistas aconselharam, melhor que bem, os políticos e que tivemos uma política económica na UE que permitiu a todos os Estados prosperarem? Claro que acabaram com a Indústria e com a Agricultura de alguns países, claro que isso trouxe desequilíbrios, claro que hoje pagamos, e bem caro, essas políticas macroeconómicas, mas seria possível fazer melhor? Possivelmente não, era difícil, dirá a comunicação social no seu estado actual de abulia.

E que melhor notícia do que sabermos que o nosso Primeiro viaja em económica. Assim é que é. Temos a primeira medida de controlo do défice, com estas poupanças vamos lá.

Como já chega de abulia critica, sugiro que a comunicação social faça uma reflexão sobre o papel que tem tido no nosso País. Tem sido isenta? Quando apoia este ou aquele é porquê? Que responsabilidade assume no nosso trajecto como país? Que notícias publica? Como são seleccionados os comentadores?

Mário Crespo, jornalista da SIC que divulgou no seu programa, nos tempos que precederam esta nova fase da nossa vida política, 4 dos actuais ministros

Pode ser que concluam que a comunicação social tem prestado um mau serviço ao País. No entanto, com a elevada auto-estima que caracteriza os jornalistas, iriam, com certeza, continuar a olhar para o umbigo e nunca assumiriam qualquer responsabilidade pela manipulação da opinião pública."


Nem mais.

Assunção Esteves e Ellen Degeneres, gémeas separadas à nascença?


Ellen Degeneres, a irmã gémea de Assunção Esteves, ambas brilhantes, bem dispostas, oustanding

Assunção Esteves,  a mana gémea de Ellen Degeneres que, para além das parecenças físicas, até é igual na forma de agradecer (quem costuma ver o programa da Ellen pode comprovar)

quinta-feira, junho 23, 2011

Obras de arte comestíveis - o caso de Felix González-Torres que vi no Guggenheim Bilbao

No outro dia fiz esta fotografia, uma obra de arte. A seguir, para evitar que alguém tentasse reproduzir obra tão ímpar, comi o objecto fotografado.



Estou a brincar, é claro. De facto, trata-se de uma ameixa que apanhei, coloquei sobre um muro e fotografei antes de comer.

Mas isto lembrou-me um dia, há alguns anos, eram os meus filhos ainda miúdos, especialmente o mais novo.

Fomos conhecer o Guggenheim Bilbao.

Logo à chegada à cidade, de noite, íamos de carro numa avenida e ouvimos um carro a apitar e alguém a gritar lá de dentro, na nossa direcção. Olhámos muito admirados, devo dizer que eu um bocado assustada (crianças no carro, coração do país basco, atentados, noite tardia, ruas quase vazias, ...) . O carro ultrapassou-nos e, de dentro, quase todo de fora do carro, um sujeito gritava, ‘portugués soy yo, português soy yo’ e acenava exuberantemente. Não percebemos muito bem, provavelmente era alguém a viver há muito tempo em Espanha que reparou na matrícula do nosso carro, provavelmente com uns copos a mais, não sei. 

Museu Guggenheim Bilbao

Mas no dia seguinte lá fomos, então, visitar o museu que tem uma arquitectura espectacular, muito característica da obra de Frank Gehry e que, sem dúvida, mudou a cidade. Era uma cidade escura, industrial, e passou a um destino turístico procurado por um público apreciador de arte, uma cidade viva, com um museu prateado, à beira do rio, com pétalas ou velas, com um urso de flores à porta, muita gente sempre à volta, uma local alegre.

Desde que nasceram, os meus filhos foram habituados (algumas vezes contrariados, confesso….) a andar em exposições, em museus e, portanto, já nada os espanta(va). No entanto, há coisas e coisas.

Nesse dia, lá no Guggenheim, íamos vendo as obras expostas e, de andar para andar, subíamos as escadas.

Num dos pisos, ao chegar do piso anterior, fomos dar a uma pequena sala em que estava uma vigilante. A sala aparentemente estava vazia mas num canto estava qualquer coisa que, a princípio, nem percebi o que era. Mas o meu filho percebeu e correu para lá. Corremos atrás dele. Era um monte de rebuçados brancos, embrulhados em celofane branco. Reparámos que por cima existia uma pequena placa, das que identificam as obras. De imediato, o meu marido ou eu puxámo-lo pelo braço, pois estava prestes a atirar-se à obra de arte.

Contudo, a vigilante sorridente informou que podia mesmo retirar um rebuçado, que era uma obra de arte comestível. E, portanto, os meus filhos puderam mesmo vandalizar e comer um bocado da obra de arte.

Perguntei à rapariga se a obra se extinguia e ela explicou-me que não, que ao fim do dia a obra de arte era reposta.

"Untitled" (Portrait of Dad), 1991, caramelos blancos envueltos en celofán, abastecimiento ilimitado, peso ideal 79kg, dimensiones varían con instalación

Tratava-se da obra acima referida, no fundo um amontoado de ‘Rebuçados embrulhados em celofane transparente’ da autoria feliz González-Torres, artista nascido cubano, que viveu os últimos 17 anos nos Estados Unidos (1957 - 1996) e que recebeu vários prémios e teve (e tem) a sua obra exposta nos maiores museus.

Fez obras com lâmpadas, relógios, etc, mas ficou essencialmente conhecido pelas obras à volta de rebuçados, as quais tiveram variantes, quer quanto à cor e forma, com montes de varias formas e multicores, tapetes de rebuçados (seria mais correcto designar estas obras por 'instalações'; a ideia de usar objectos comuns para elaborar obras de arte veio a ter na nossa Joana Vasconcelos uma demosntração cabal de como a criativiade transforma objectos do dia a dia em obras de arte - como é o caso das panelas de alumínio, dos talheres de plástico, dos tampões, etc . No caso da Joana, convenhamos, há, no entanto, de facto, um trabalho mais elaborado que, na obra de Felix Gonzalez-Torrres, não existe). A este divertia-o o conceito mas, sobretudo, a ideia de que os visitantes pudessem 'chupar' a sua obra.

Portanto, lá explicámos aos miúdos o conceito. No que diz respeito a arte já estavam por tudo, nem estranharam.

Contudo, mais à frente, num recanto estava um balde com uma esfregona e eles, com naturalidade e sem ironia, perguntaram se também era obra de arte. Achávamos que claro que não mas já não nos sentíamos seguros. Confirmámos: não existia nenhuma placa, mas we never know - pelo sim, pelo não, indagámos junto da vigilante. Não, alguém tinha sujado o chão e a empregada da limpeza tinha trazido o balde e ainda não o tinha retirado. Uffff.

quarta-feira, junho 22, 2011

O caso Fernando Nobre e a uma dúvida existencial sobre a razão da existência da Maçonaria e da Opus Dei no Portugal de hoje

Fiquei satisfeita com a eleição de Assunção Esteves para Presidente da Assembleia da República pois creio que é competente, acredito que vai desempenhar bem a sua função. O seu discurso foi uma coisa e tanto, uma peça que ficará na história daquela casa. Liberdade, Democracia, Justiça, Entrega, foram palavras que ela usou com mestria e com emoção e a que deu invulgar grandeza.

Felizmente acabou por se arranjar uma saída airosa para o vexame de ontem.


Ora hoje Eduardo Pitta refere a questão maçónica para enquadrar o assunto Fernando Nobre - e estas liaisons, que me causam alguma alergia, fizeram-me recordar um assunto que passo a relatar.

*

Quando eu andava a estudar, embora não fosse dada a grandes sessões de estudo e fosse fisicamente incapaz de ‘marrar’, tinhas notas relativamente altas e isso acontecia de forma consistente. Era também pessoa de convicções e, já nessa altura, tão assertiva como sou hoje (ou seja, de acordo com testes efectuados por profissionais, quase 100% assertiva).

Talvez por isso, na faculdade fui contactada, desafiada, convidada, etc, para aderir a todas as juventudes partidárias activas na época. Mas a minha cabeça sempre foi livre demais para poder comprometer-me com partidos, clubes, religiões e, reiteradamente, declinei. Por mais que tentassem aliciar-me, nunca nenhum argumento me convenceu.

Entretanto, quando estava no 3º da faculdade tive que mudar de alojamento e, enquanto andava à procura de alternativa, uma colega de curso com quem me dava medianamente, veio dizer-me que conhecia um sítio óptimo: uma professora universitária que tinha uma espécie de residência, uma moradia num local muito bom, com jardins, óptimos acessos, perto da faculdade, o melhor bairro de Lisboa. Uma maravilha.

Fui lá ver (acompanhada do meu namorado) e a dita professora estava à minha espera, já sabia algumas coisas de mim, muito simpática, tentando cativar-me. A casa era, de facto, muito boa e o preço uma agradável surpresa. Quando relatei em casa o achado, os meus pais acharam que ‘quando a esmola é grande, o pobre deve desconfiar’, e colocaram muitas reticências. Alguma coisa não batia certo, pelo que, à partida, sem mais, a decisão era negativa. Mas tanto insisti que, pelo sim, pelo não, a minha mãe lá se deslocou a Lisboa para vir avaliar, ela própria, a situação.

Lá estava, de novo, a referida dona da casa à nossa espera, muito atenciosa. Mostrou a casa de alto a baixo, tal como na vez anterior, até uma capelinha tinha (o que, de certa forma, tranquilizou a minha mãe), e uns óptimos quartos, com grandes janelas para o jardim, e uma cozinha que podíamos usar à vontade, e sala à disposição, uma localização que não podia ser melhor, podia ir a pé para a faculdade e, não menos importante, embora intrigante, um preço imbatível. A frequência, para além da professora, era constituída por umas quantas estudantes universitárias, talvez uma meia dúzia, não me lembro bem, e a minha mãe viu algumas, vieram cumprimentá-la, muito simpáticas, e a minha mãe ficou bem impressionada por ver, a meio da tarde, as raparigas em casa, na sala, a estudarem e todas muito gentis, muito bem educadas. Uma cena de filme.

Quando chegou a casa, a minha mãe conferenciou com o meu pai e depois comunicou-me: ‘Pois, sendo assim, de facto, não se vê nada de mal, parece bom demais para ser verdade mas, se é, então, está bem, podes mudar-te para lá’. E lá fui.

Havia regras, que me tinham sido comunicadas antes, do género aos dias de semana ter que se entrar até à meia-noite, o namorado não poder entrar senão para a sala e apenas até determinadas horas, coisas normais para a época.

E, de facto, eu estava ali muito melhor do que no sítio anterior. Só via vantagens.

De vez em quando diziam-me que ia lá jantar um padre amigo e convidavam-me a ficar a jantar lá ou, não querendo, a ir depois de jantar para a conversa que era giríssima, um padre desempoeirado, e um dia a conversa era sobre o aborto, outro sobre já não me lembro o quê, mas sei que a coisa era temática (o que me intrigava um pouco) mas eu declinava sempre porque, na altura, namorava intensamente e não desperdiçava um minuto que fosse, nem sequer a matutar nas coisas. Depois percebi que, afinal, o padre ia lá fazer a missa, que era habitué da casa e muito amigo da professora. Um dia veio ter comigo, que então eu é que era a tal menina fugidia, que andava desejando de me conhecer, que gostava de ter poder ter oportunidade para falar comigo. E eu sem perceber bem os sorrisos delas todas, como se fossem todos muito íntimos, como se antes o tema já tivesse sido objecto de conversa. Lembro-me que registei mas não pensei mais no assunto.

Outras vezes, iam todas passar o fim de semana a um sítio muito giro e queriam que eu fosse. Depois começaram a falar-me em retiros, em sítios lindos, e que eu ia adorar e eu, na maior inocência, perguntava se o meu namorado podia ir e, claro, não podia e eu, que então nem pensar.

Depois, aos poucos, comecei a reparar que parece que só eu é que namorava e que, a nível de vestuário, as minhas vizinhas de quartos, seguiam um padrão muito homogéneo. Saias pelo joelho, camisas ou blusas pelo pescoço. Eu concluia que era gente muito bem comportadinha, beatas, marronas, coisa assim, nada demais e, quando as descrevia, ao falar com amigos ou família, imitava-as, a vozinha singela, as blusas sem decote, descrevendo os convites que me faziam para ficar a jantar com o padre ou para ir meditar ao fim de semana. Pensava que, por coincidência, as últimas representantes de uma realidade rural do século anterior, tinham desaguado ali. Nunca me ocorreu algo mais.

Passados talvez uns dois ou três meses, não me lembro, estava eu já eu a deitar-me, ouvi tocar à campainha.

Reacção dentro da casa: nenhuma.

A campainha tocava cada vez mais insistentemente e eu não ouvia a professora, nem ninguém, a ir abrir a porta. Abri a porta do quarto, espreitei. Ninguém, silêncio. Fui bater à porta do lado. A rapariga que lá estava, abriu a porta e disse que era a A., uma colega de quaro, que estava a chegar atrasada mas que as ordens eram rigorosas, ninguém podia entrar depois da meia-noite. Eu argumentei que não se ia deixar a nossa colega no meio da rua àquela hora, quase 1 da manhã e a outra, friamente, respondeu que ordens são ordens e fechou-se no quarto.

Subi as escadas, fui ter com a professora. Estava de roupão e disse-me a mesma coisa.

Entretanto, lá fora, a outra, coitada, tocava e tocava, já quase em contínuo. Já inquieta com aquilo, eu disse à professora, ‘Se não lhe abre a porta, abro eu’. Seca, a professora respondeu-me ‘Está proibida de o fazer’. Tentei convencê-la ‘Abra-lhe a porta, peça-lhe explicações, avise-a de que não haverá segunda vez, o que quiser, mas não a deixe ficar na rua, é desumano, é absurdo’. Seca, fria, respondeu-me ‘ Já disse que ninguém lhe abre a porta, para ela aprender’ e, com uma agressividade que eu não lhe conhecia, disse-me em tom ameaçador ‘Livre-se de lhe ir abrir a porta’. E virou-me as costas.

Desci as escadas, furiosa, as outras todas fechadas nos respectivos quartos - por dentro eu ia pensando, revoltada, ‘Olhem-me estas estúpidas, tão boazinhas que são e agora não se importam de deixar a amiga na rua, de noite’ - e, como é óbvio, fui abrir a porta à minha colega.

Ela estava a chorar, agradeceu-me muito e avisou-me ‘Estás feita’. Descansei-a, ‘Ah, não estou, não, está descansada’.

Depois voltei para o quarto, fiz a mala e fui dormir.

No dia seguinte, quando me levantei já a professora tinha saído, dava aulas cedo e, além disso, a faculdade dela era do outro lado da cidade. Deixei-lhe um papel lacónico, dinheiro e as chaves e nunca mais lá pus os pés.

Decorrido algum tempo, falei no nome desse professora e alguém exclamou, ‘Essa?! Então, mas essa é a chefe das mulheres da Opus Dei em Portugal. Tem uma casa de raparigas da Opus Dei na L.’.

Fiquei passada. Não queria acreditar. E essa pessoa continuou, ‘São muito selectivos, recrutam jovens entre os melhores alunos universitários, quase que lhes fazem lavagem ao cérebro com retiros, encontros com padres, missas lá em casa, coisas do género’. Eu perplexa.

Fui confirmar com pessoas mais ou menos ligadas ao meio e assim era, toda a gente sabia, pelos vistos toda a gente menos eu.

E ainda é. Googlei antes de escrever isto e lá me aparece ainda tudo.


Opus Dei


Ou seja, fui arregimentada sem saber e, durante algum tempo, vivi sem saber numa moradia da Opus Dei - e ainda hoje me interrogo porque agiram desta forma, sem me dizerem nada, que planos é que teriam para mim.

Organizações assim, coisas meio secretas, tudo isso me causa estranheza, me causa aversão.

Opus Dei ou Maçonaria não entendo a justificação nos tempos de hoje, em sociedades livres, não entendo como se sujeitam a essas práticas e rituais, não entendo.


Vejo na net os nomes ligados à maçonaria e fico incrédula, concentram-se à volta do PS e do PSD, mas não só: António Costa (que não por acaso disse que, se fosse deputado, votava em Fernando Nobre), Emidío Rangel, Henrique Monteiro (cuja crónica no Expresso, esta semana, não por acaso, era um elogio e um apelo ao voto em a Fernando Nobre), e José Nuno Martins, António Nunes, os famosos Miguel Relvas e Isaltino Morais, João Soares, etc, etc, e custa-me a imaginá-los de avental, de cabeça tapada, em ridículos rituais.

Porquê? Alguém consegue explicar-me?

Para agirem como grupos de pressão, grupos de influência? Mas, para isso, tem que haver secretismo, rituais?

Não percebo.