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domingo, junho 22, 2025

O MP, a PJ e os perigos para a democracia
-- A palavra ao meu marido --

 

A semana passada a PJ fez uma operação com o objetivo de desmantelar um grupo neonazi que atuava em Portugal. Curiosamente, só o fez depois de vermos reportagens jornalísticas sobre o grupo e de elementos do grupo terem agredido pacatos cidadãos que apenas faziam aquilo que conscientemente entendiam fazer sem qualquer prejuízo para a sociedade. 

Tenho sempre alguma dificuldade em entender a razão de as polícias não investigarem o que realmente é perigoso para a sociedade e para a democracia e andarem a reboque da comunicação social nestes assuntos. 

Soube-se, entretanto, que o grupo neonazi tinha militantes que pertenciam à polícia, à GNR e às Forças Armadas e que planeava acabar com o governo socialista por meio de uma ação violenta no parlamento. 

Enquanto se desenvolviam estas ações organizativas, criminosas e verdadeiramente perigosas para a democracia, o MP estava preocupado com os jantares do Galamba e com mais uma série de putativas parvoíces. É de " louvar" a perspicácia dos  magistrados que, por manifesta falta de qualidade ou por, porventura, terem agendas escondidas, em vez de investigarem assuntos verdadeiramente importantes, se ocupavam de menoridades inconsequentes. 

Não consta que durante quatro anos tenham feito oitenta e tal mil escutas telefónicas ao polícia que chefiava o grupo. Esqueceram-se ou não era prioritário? 

Também é curioso que a polícia e as forças armadas não consigam garantir que o respetivo pessoal cumpre os mínimos democráticos. 

Já agora não quero deixar de referir que a votação no Chega deu, em minha opinião, um forte contributo para estes grupos saírem do covil e aparecerem em público a defender ideologias intoleráveis, contra os mais elementares direitos dos cidadãos. Também se deve agradecer ao José Pedro Aguiar Branco o trabalhinho que fez como presidente da AR ao permitir que o Chega denegrisse o Parlamento durante toda a legislatura. Assim, se criam percepções que tornam as instituições alvos fáceis para quem quer destruir a democracia e se potencia o voto nas forças anti sistema. 

"Parabéns" José Pedro. Ou será que ainda é possível emendar a mão? Aguarda-se para ver o seu comportamento nesta legislatura.

Caminhamos numa direção muito perigosa e corremos o risco de em pouco tempo desbaratarmos o que levou muitos anos a conquistar. Os EUA, com o Trump, são um exemplo acabado deste retrocesso. Se não tivermos pessoas preocupadas e pressionantes e políticos à altura, isto não vai acabar bem. 

Infelizmente, do que se tem visto parece que a malta que agora governa está mais preocupada em seguir a agenda do Chega do que seguir um caminho escorreito. Tempos desafiantes.

sexta-feira, outubro 25, 2024

Marcelo, o big Chief das Forças Armadas, não diz nada depois do pseudo-ministro Rangel, num dos seus bem conhecidos ataques de histeria, ter destratado o chefe do Estado-Maior da Força Aérea?
Não vai andar por aí a mandar recados e dizer que é preciso cortar os ramos mortos das árvores?
Depois de ter feito a cama ao Galamba (que a única coisa de que é acusado é de ser um bom Ministro e ter defendido os interesses do País), agora vai ficar calado perante as diversas maçãs podres que há no cesto do Governo do Mentenegro?
Pergunto.

 

As pessoas desclassificam-se quando se mostram não isentas, não objectivas, tendenciosas, manipuladoras (estou a aprender com o Lentão, enunciando palavras sinónimas ou afins para parecer que se referem a muitas coisas).

Como muito bem diz o nosso Presidente Marcelo, o mundo gira a grande velocidade e tudo ganha grandes proporções muito rapidamente, tão rapidamente quanto os mesmos factos caem no esquecimento e perdem relevância. Mas eu, como sou antiga e ainda não me deixei contaminar pelas sôfregas redes sociais, não me esqueço muito facilmente. E não me esqueço, nem perdoo, a vergonhosa campanha que Marcelo fez contra João Galamba. 

Contudo, como, ao mesmo tempo, sou optimista e ingénua, ainda espero que Marcelo venha retratar-se em público, pedir desculpa pelo que fez e condenar a forma indecorosa como Galamba viu a casa revistada, bem como pedir desculpa pela pouca vergonha de o terem escutado ao longo de quatro anos. Poderá dizer que não foi por ordem dele ou que não sabia. Não colhe. Marcelo mete-se em tudo, tenta influenciar todos. Se faz campanhas públicas para apear ministros (e um primeiro-ministro), bem pode fazê-lo quando o cumprimento dos mais elementares princípios do Estado de Direito estão em causa. Apearam o pobre Galamba, humilharam-no, condenaram-no na praça pública. 

Mas não foi só Galamba a ser crucificado por Marcelo. O que fez com a Ministra Constança Urbano de Sousa foi identicamente imoral, desumano e indesculpável. E também ainda não ouvi a Marcelo uma palavra de pedido de desculpas públicas.

E agora em que há ministros do seu Governo (sim, seu) a portarem-se vergonhosamente, ministros incompetentes, mentirosos e mal educados, não diz nada?

Nem no absurdo, caricato e estapafúrdio caso do Rangel vai deixar passar? Vai deixar que essa criatura (a ser verdade o que se lê em notícias não desmentidas) chame burros e camelos aos militares e diga que só fazem merda? Vai deixar que desacate e destrate altas patentes em frente a subordinados?

Não pode.

sábado, outubro 19, 2024

Ministro Paulo Rangel grita ofensas a general
-- Como agora se diz, é o 'Paulo Rangel a ser o Paulo Rangel

 

Ao fazer pesquisas google no telemóvel, aparecem-me notícias. Acredito que isto resulta de alguma parametrização ou ausência dela que fiz no telemóvel, mas, como não me incomoda, não tirei ainda isso a limpo. 

E, provavelmente porque clico mais numas que noutras, o algoritmo vai aferindo o meu grau de curiosidade e o que mais a desperta e vai refinando o cardápio que coloca à minha disposição.

Hoje, a notícia que me aparecia à cabeça era a que usei em epígrafe e que tem como subtítulo o seguinte: 

Cartaxo Alves, chefe da força aérea, fez Rangel saber que não era local e momento para discutir.

Abri, pois, a notícia (que constava do Correio da Manhã). Admito que, ainda assim*, seja credível tanto mais que conhecemos bem os desmandos e os arroubos da criatura que Montenegro, vá lá a gente perceber porquê, achou por bem levar a ministro dos Negócios Estrangeiros (e, volto a dizer, abstenho-me de aqui invocar a possível razão, baseada no que um amigo, antigo ministro mas de outra área, dizia ser o nome, na gíria, do ministério ao qual Rangel pelos vistos anda a arranjar problemas). 

Reza assim a dita notícia:

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, "destratou de forma ofensiva e aos gritos" o chefe da Força Aérea, general Cartaxo Alves, no dia 4 de outubro, em Figo Maduro, na chegada do voo de repatriamento de portugueses do Líbano.

A notícia foi avançada pelo ‘Tal&Qual’ e confirmada ontem ao CM por fontes que presenciaram a situação constrangedora: militares, polícias e elementos da AIMA. O ministro estava descontente com uma questão protocolar à sua chegada e "atacou o general de uma forma desequilibrada". (...)

Pensei: Ora cá está, 'o Rangel a ser Rangel'. Ou: 'pode alguém ser quem não é?'

Pode o dito, de vez em quando, fazer um esforço para ser levado a sério mas conhecemo-lo, o pé puxa-o, e muito, para o chinelo. Deve ter sido o que aconteceu. Desceu do tacão e armou peixeirada. Deve ter sido lindo. Gostava de ver o General Cartaxo Alves a tentar pô-lo em sentido enquanto, certamente, tinha era vontade de lhe aplicar um calduço.

Uma vergonha.

[* - Ainda agora, ao falar com o meu filho e ao tecer um comentário no qual mostrei algum receio por uma certa situação, ele ficou espantado e, meio incrédulo, perguntou se eu andava a ler o Correio da Manhã. E, quando eu lhe disse que às vezes sim, cedendo à tentação despertada pelo algoritmo, ficou apreensivo, incomodado, disse que eu tinha que vencer o algoritmo pois, segundo ele, ler o Correio da Manhã estupidifica. E estava verdadeiramente incomodado, às tantas já imaginando a mãe feita totó, assustada com tudo e a dizer mal de tudo, julgando que o mundo é o antro de desgraças que o Correio da Manhã pinta. Sosseguei-o: ainda não estou assim. Estou reformada mas ainda não formatada pelos alarmismos do CM. Mas, no caso em concreto que aqui hoje me trouxe, não sei se os outros jornais, ditos de referência, noticiaram o disentérico destempero do nosso despenteado desministro Rangel.]

quarta-feira, maio 01, 2024

Estes gajos não têm jeito para serem ministros
-- A palavra ao meu marido --

 

Manifestamente os tipos que estão a governar-nos não sabem o que é ser ministros. Comecemos pelo Luís. Para além de desdizer o que afirmou e reafirmou sobre os impostos na campanha eleitoral ouvi-o dizer, com a maior ruralidade, na sessão de apresentação do júnior Bugalho “que está mesmo  a gostar de governar” como se governar fosse uma espécie de play station que se joga quando dá gozo e se põe para o lado quando já não temos paciência. E quando o Luís deixar de gostar de governar, pira-se? Se assim for, espero que se farte depressa. Mas, entretanto, vai fazendo umas diabruras e contradizendo-se em cada frase. Então não é que para  justificar o saneamento da Provedora da Santa Casa, após dizer que não estávamos perante um caso de saneamento, referiu. para justificar a exoneração, “que é normal que quem não está politicamente alinhado com a política do governo seja exonerado”...?  Não restarão dúvidas que as palavras ditas pelo Luís são a definição de saneamento. E nem falo na deselegância da forma. É até quase inédita a forma abrutalhada e pouco civilizada como estão a agir. 

E já vão dois: primeiro, o diretor executivo do SNS, que não foi corrido directamente mas, inequivocamente, levado a isso, e, agora a Provedora da Santa Casa. 

O Nuno Melo, apoiado pela MAI, veio dizer que o castigo a aplicar aos jovens delinquentes era “metê-los” na tropa. Esta “tirada” é uma falta de respeito e um desprestigio para a instituição militar e nem consigo entender como pode ser dita pelo Ministro da Defesa. Espero que os militares mostrem o seu desagrado como, aliás, já começaram a fazer. 

Mas existem outras duas dimensões que vale a pena relevar: 

  • Primeiro, esta ideia, completamente reprovável, é estupidamente próxima do que aconteceu na Rússia para recrutarem soldados para a guerra da Ucrânia, o que naturalmente nenhum País civilizado gostaria de  copiar.  

  • Em segundo lugar, é bafienta e recorda o que acontecia no Estado Novo. Muitos jovens estudantes portugueses que andavam nas faculdades antes do 25 de Abril, porque protestavam contra o regime. eram incorporados compulsivamente e mandados combater nas colónias e, assim, eram castigados. E estes Ministros conseguiram ter esta ideia na semana em que se comemorou o 25 de Abril e centenas e centenas de milhares de pessoas vieram para a rua festejar a Liberdade, a Democracia e gritar “fascismo nunca mais”. Lastimável!

Finalmente, vamos ao inqualificável Hugo Soares que, apesar de não ser ministro, merece, pelos piores motivos, uma referência. Não sei se o PR pensa que ele também é rural mas eu penso é que ele mal educado e arruaceiro. Tem sentido e é razoável um líder parlamentar que, “para inglês ver”, de vez em quando fala em diálogo, chamar “histéricos” aos deputados do PS? É este o clima que o PSD quer criar ou estão a “trabalhar” para serem corridos porque pensam que em novas eleições conquistam mais votos? Não sei, mas acho que acima de tudo esta direita não é educada, na verdadeira acepção do termo, não sabe estar, é arrogante e arruaceira. 

sexta-feira, novembro 12, 2021

Tiro ao Cravinho
É nisto que a Comunicação Social e os Cocós, Ranhetas e Facadas do PCP&BE&PSD&CDS reunidos andam entretidos
Tudo doido.
E isto já para não falar do boquirroto e seus cãezinhos amestrados que dão um espectaculozinho deprimente até dizer Chega....

 

Eu hoje estou que estou. Já corri demais. Agora estou aqui sem pachorrinha para coisíssima nenhuma. Ligo a tv e só vejo truanice. Mas truanice da grossa. Inferno. Parece que as pessoas andam todas desfocadas. A mosca passa à esquerda e dão com o mata-mosca à direita. O rato passeia no muro em cima e eles põem a ratoeira no muro em baixo. O sapato direito vai para o pé esquerdo, a meia vai por cima do sapato. Tudo assim. Tudo ao lado. 

O Rangel, esse conhecido boquirroto, diz que não vai dizer mal do seu partenaire mas, todo boquinhas e olhinhos a pretenderem dar jeito de inteligente engraçado, só faz é troçar e desprezar o Rio. E o Rio, que diz que só vai dizer mal do Costa, mal abre a boca é para dizer a rir que o boquirroto não está minimamente preparado para o que diz que quer ser. 

E o Alberto João, correligionário da parelha, tonitrua dizendo que os maçons e os laparistas andam atrás e a empurrar o instável boquirroto que -- diz ele -- mais não faz do que mostrar o quanto gosta de brincar aos partidos. 

E logo saltam os rangelistas amestrados, ex-laparistas amestrados, para baboseirar em uníssono. E a comunicação social -- em vez de se entreter com esta stand-up que tem muito para dar, pândega da melhor --, não senhor, faz é espera ao Marcelo, ao Costa e ao Cravinho para saber quem é que disse o quê a quem. Estes jornalistas, quando estão ranhosos, em vez de limparem o nariz devem limpar é o rabo. Todos trocados. E sempre à procura é de porcaria. 

Perante a escandaleira a coberto das missões das FA que foi denunciada e investigada sem uma só fuga de informação, os nossos media não querem saber quem roubou, quem traficou, quem foram os influencers, se traziam as pedras e os metais no bolso e a droga na dobra das calças, nem quem fechou os olhos a quê, nem como é que as tropas todas juntas, sempre tão reivindicativas dos seus poderes, autonomias e status, não perceberam que andavam a ser correio de traficância de alto gabarito. Não senhor. Nem querem sequer perceber qual o meandro raciocinal do presidente para dizer que isto tudo só dá é prestígio à tropa. Não. Não senhor. Trocadésimos comme toujours, tudo quer é saber se há crise entre o Costa e o Marcelo ou se o Cravinho é que devia ir para a rua. Não interessa que o Cravinho queira pôr ordem na mesa ou que seja gente decente, competente e séria à prova de bala. Ná, na, ni, na, nó. Não, senhor. Na lógica destes avençados, se é decente ainda mais depressa deve ser abatido.

A comunicação social e os seus comentadores amestrados só correm para onde alguém atira o osso. E geralmente a coisa dá-se num lado e o osso é atirado na direcção oposta. E nem cuidam de saber da credibilidade de quem atira o osso: se é um vesgo ou um marreta, se é um boquirroto ou  um chicão, se é um relvas ou joker, se um aldrabão avençado ou um merdoso qualquer (pardon my french). Não. Não há tempo ou inteligência para isso. O osso vai para ali e é para ali que a comunicação social e os comentadores amestrados vão a correr, de dente arreganhado.

Não sei se pelas redações, à força de tanto cão a ladrar a toda a hora e à força de tão instruídos para causarem baderna a ver se aumentam o share, já está tudo maluco ou se maluca estou eu ainda a perder tempo com tanta palhaçada. Caracitas e gaitolas para isto tudo, é o que tenho a dizer.


Loucos by Porta dos Fundos


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E queiram descer não propriamente para bingo mas até onde se fala do candidato que fala pelos cotovelos mas que, imagine-se!, não distingue um carapau de uma sardinha

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E, tirando isso, aboborinha.

E uma happy friday com tudo em cima, tudo a bombar.

(E vamos lá mas é voltar a ter muita atenção a uma máscara bem posta. Valeu? Não queremos cá nenhuma 5º vaga, façam lá o favor)


terça-feira, novembro 09, 2021

Uma miríade de buscas e detenções das Forças Armadas.
Se calhar tinham combinado não entrarem em pânico.
Mas...

 

Havia aquilo das messes. As coisas na realidade só custavam custavam X mas eles compravam por X+g. As Forças Armadas pagavam X+g aos fornecedores. E o g, g de gorjeta, era transferido pelos fornecedores para aqueles que assim negociavam. Ou seja, as Forças Armadas, ou seja, todos os pagam impostos, estavam a pagar para alguns receberem umas gorjetas. Consta que chorudas gorjetas. Ouvi falar em milhões. E quem lhe chama gorjeta, chama gratificação. Ou comissão. Ou fee. Não sei se isso já foi apurado ou se ainda anda enleado nas malhas da Justiça.

Houve também aquilo das armas. Falava-se em roubo e comercialização de armas. A barraca maior aconteceu em Tancos. Não terá sido a única barraca mas foi a mais cabeluda. Mais do que barraca, foi uma barraquinha. Uma historieta marada. Coisa de gatunagem miúda à mistura com alguma mais graúda e tudo condimentado com guerra de bairros, alfama contra mouraria, judite-tropa ou judite-civil. Ou whatever. Uma cambada de malucos e de marados que nunca deixou que se percebesse bem quem era quem na máfia das armas. Claro que ainda anda tudo enleado nas malhas da Justiça.

A nossa Justiça é daquelas badalhocas que já perderam a vergonha na cara, que falam demais, que têm uma língua comprida e venenosa difamando meio mundo e que, dentro de portas, guardam sacos cheios de restos de linhas e de lãs, tudo emaranhado, onde mesmo que se encontre uma ponta e se puxe, não se consegue tirar tão presa estás nos outros fios.

Pois bem. Desta vez parece que a coisa fia mais fino. Coisa digna da Place Vendôme: ouro e diamantes. Não sei se, pelo meio, havia umas e outras para cheirar ou se era sobretudo ouro e diamantes. E eu disse parece pois nestas molhadas em que é tudo ao molho e fé em deus com o Super-Judge Alex à mistura a gente nunca sabe se é mais um dos mega delírios que ele gosta de apadrinhar ou se, pela primeira vez, dali vai sair algum rato. Centenas de agentes, vários suspeitos, vários detidos. Diz o nosso impagável Marcelo que esta investigação só os prestigia. Coisas lá dele. Eu, por acaso, preferia umas Forças Armadas impolutas mas, lá está, inocências cá minhas. 

Seja como for, nada de dramas: tal como uma passarinha não faz a primavera também uma fiada de diamantes não ensanguenta todos os Comandos. Para além disso, claro que todos são inocentes até prova em contrário. 

Mas, a ser verdade que há fumo porque houve fogo e a ser verdade que agiam conluiados, com o espírito de fraternidade que costuma uni-los, cá para mim devem ter combinado uma estratégia das valentes: caso cheire a cocó no beco, nada de pânico.

Mas, com tantas centenas de agentes à solta nas ruas e a farejarem casa a casa... sempre gostava de ter visto como reagiram os ditos militares e ex-militares.

Não é por nada mas só espero que tenham reagido melhor que estes aqui abaixo. A menos que tiritar de pânico também seja coisa que prestigie a tropa. 


E até já

domingo, setembro 29, 2019

O espanto do meu marido perante o silêncio de Marcelo, Comandante Supremo das Forças Armadas, face à forma como a acusação do Ministério Público expõe as Forças Armadas.
E o que a minha mãe diz do Caso de Tancos, do Rui Rio e da Cristas.





O dia foi preenchido. De manhã tratámos de coisas cá em casa, depois fomos ao Leroy comprar parafusos e buchas, goma autocolante para fixar quadros pequenos sem ter que furar a parede e umas ripas de madeira para o meu marido tentar desempenar uma tela de um metro por oitenta cuja armação tem vindo a retorcer-se.

A seguir fomos levar algumas compras aos meus pais e, dali, seguimos para almoçar fora com a minha mãe. Umas belas sardinhas assadas. Depois fomos passear com ela à beira-mar e estava-se bem, calozinho bom, um sol ameno, uma aragem suave. Fotografei os veleiros e o mar e só não estivemos mais tempo, não por ela -- que está para as curvas -- mas porque o trabalho que nos esperava ainda era bastante. 

Depois de irmos pô-la a casa, fomos ao supermercado e foi mais um daqueles valentes carregos. Ao regressarmos, enquanto o meu marido foi aos seus afazeres, fui logo tratar do jantar que era trabalhoso pois deu-me para ter prato de peixe e prato de carne e, logo a seguir, chegariam todos (todos menos o mais crescido que foi passar a noite a casa de um colega da escola; não te esqueças que já é um pré-adolescente, avisa-me a minha filha quando me vê triste por não o ter cá também). E assim foi: chegaram, como sempre fizeram aquela festa quando se encontraram, conversámos, os pequenos brincaram alegre e ruidosamente, e etc. Depois jantámos e, a seguir, os dois rapazinhos mais crescidos foram brincar às lutas e, pouco tempo depois, regressaram ambos à cozinha e, directamente da travessa, desataram a comer os restos como se não houvesse amanhã e, claro, como se não tivessem acabado de jantar meia hora antes.


Mas, recapitulando, almoçámos com a minha mãe. No restaurante, a televisão estava ligada e a dar o noticiário. Quando apareceu o Rui Rio, a minha mãe quase tapou os olhos, virando a cara com ar enjoado, 'Já não tenho paciência. Olha aquele papagaiozinho. É mesmo um papagaiozinho. Um parvalhão. Não consigo ouvi-lo. Quando aparece, mudo logo de canal, vou ver aquele programa dos dois irmãos que restauram casas. É como aquela regateira da Cristas. Outra parvalhona. Já não consigo ter paciência.' Rimo-nos com a veemência dela. 

Quis saber a opinião dela sobre O Caso: 'Então, mãe, e aquilo de Tancos?'. Responde ela, igualmente enjoada: 'Uma pouca-vergonha. Nesta altura é que se saíram com aquilo. Não descansam enquanto não derem cabo do PS. Uma autêntica pouca-vergonha'. 

Contei-lhe aquilo de os ladrões terem transportados as muitas caixas das munições em carrinhos de mão e contei que a vedação é longe do quartel, que deve ter sido giro os ladrões a roubarem caixas pesadíssimas em carrinhos de mão, para trás e para a frente, vários percursos com o carrinho de mão. Ela desatou-se a rir.

O meu marido voltou à conversa que tínhamos tido no carro: 'A mim o que mais me intriga é o Marcelo não falar. Fala sobre tudo e sobre nada e perante uma coisa destas, uma acusação que põe a ridículo a PJM e a malta do quartel e as hierarquias das Forças Armadas de que ele é o Comandante Supremo das Forças Armadas... e não diz nada? E se o Chefe da Casa Militar de Belém foi informado, ele não foi? E não diz nada? Deixa que as Forças Armadas sejam todas postas em cheque e não tem nada a dizer? Acho isso tudo muito curioso...'. A minha mãe, que geralmente está de acordo com o genro, disse: 'Pois é... Tem razão. Mas, se calhar, como disse que não é o papagaio, agora quer mostrar que sabe estar calado. Mas tem razão, é curioso. Mas a mim o que me chateia mais é isto ter saído em cima das eleições. Uma pouca vergonha'.


Confirmei: 'Vai votar, certo...?'. É que, volta e meia, especialmente quando há coisas destas que a deixam incomodada, parece que desalenta, fica a achar que já não tem paciência para 'tanta porcaria', perde a vontade, quase tenho que lhe pedir encarecidamente que não se abstenha. Se, em cima disso, está de chuva ou frio (o que não é o caso de dia 6, que até vai estar calor), então, ainda mais perde a vontade. Nessas alturas, ofereço-me para a levar mas não quer, diz que a escola é perto, que não é preciso. E já cheguei a apanhá-la hesitante em quem votar. Penso que tem oscilado entre o PS, se calhar algumas vezes PCP, se calhar alguma vez o BE e, cá para mim, também já votou alguma vez no PSD (mas isso, pouco assumidamente, quase como se tivesse sido um mau passo). Mas desta vez respondeu convictamente: 'Claro que sim!'.

E eu, sendo indiscreta: 'E pode saber-se em quem?'. A resposta foi imediata: 'No PS'.

Fiquei contente.

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E garanto-vos que o que escrevi é rigorosamente verdade, não estou a pôr palavras minhas na boca da minha mãe ou do meu marido. Aliás, ele está aqui ao meu lado e não me deixa mentir.

Embora concorde com ambos, as minhas palavras são estas:

Tancos: factos, dúvidas e conclusões. E muitas perplexidades.


sábado, setembro 28, 2019

Tancos: factos, dúvidas e conclusões. E muitas perplexidades.



Primeiro facto: supostamente uma ou várias pessoas assaltaram Tancos e, segundo ouvi, roubaram várias caixas de munições, no total pesando toneladas, transportando-as em carrinhos de mão até ao veículo que as levou dali para fora não sei de uma vezada ou em mais. 

Dúvidas
  • Por que razão a investigação não avançou logo e não impediu o roubo quando um dos envolvidos na preparação do roubo se chibou com um mês de antecedência à PJ? Note-se: á mesma PJ que agora, no fim, aparece como a boa da fita, depois de, en passant, ter desacreditado a PJ Militar e mais uns quantos. Não atinjo.
  • Não há câmaras, não há rondas, não há nada naquele quartel que impeça que tal coisa, a ter ocorrido, se faça assim, às claras? Não atinjo.
  • Os oficiais, sargentos e cabos que lá estavam não deram por nada? Estavam a dormir? é normal, isto? Não atinjo. 
  • Por que raio de carga de água foram os ladrões roubar munições maioritariamente obsoletas?  Não atinjo. É que não atinjo mesmo.
  • Por que raio de carga de água os ladrões, supostamente, queriam vender munições obsoletas à ETA quando a ETA há que séculos que foi desactivada? Ainda menos atinjo.

Segundo facto: aparentemente pouco tempo depois, soube-se quem tinha estado envolvido no roubo e  alguns meses depois o material apareceu.

Dúvidas:
  • Porque não acusaram quem tinham de acusar e, pelas vias normais, não recuperaram o material roubado? Também não atinjo.
  • Porque é que, enquanto andavam uns, os militares, a investigar e, supostamente, a conseguir a recuperação do material roubado, andavam outros, os civis, a investigar os que que estavam a investigar? Não se atinge, parece brincadeira.
  • Porque é que os homens em geral e alguns em particular são tão infantis e têm um orgulhozinho tão besta e pueril que os leva a pelarem-se por brincar aos polícias e aos ladrões até serem velhos? Não dá para atingir.
  • Como é que, mesmo numa situação que ganhou imediatamente contornos mediáticos, os militares da PJ Militar acreditaram que iam conseguir recuperar aquele maravilhoso conjunto de tretas roubadas e ficar bem na fotografia, não desconfiando que os da PJ Civil estavam de olho e fariam de tudo para lhes fazer a folha? Dá para atingir? Não me parece. Aliás, parece improvável demais para poder ser levada a sério.
  • Porque é que os militares, mesmo perante uma situação tão absurda (porque todo aquele suposto roubo, a ter acontecido, é absurdo, cómico até), se mantiveram naquele espírito de 'defender os seus', contra tudo e contra todos, não percebendo que iam encrencar toda a gente, desde o pobre coitado do ministro Azeredo até ao Marcelo que é o Chefe Supremo das Forças Armadas? Não atinjo. Alguém atinge? Eu não.
  • Com base em quê é que alguém, no meio desta paródia, andou a 'escutar' e a ler 'sms' ministros e deputados? Não se atinge, parece coisa descabelada demais para ser verdade.
  • Que raio de ladrões são aqueles que não apenas roubam material obsoleto para tentar vender a uma organização desactivada como, quando devolvem o material, devolvem material a mais? A mais?! E como é que tinham esse material a mais? Já tinham roubado antes? Ou...? Ou tudo isto não passa de outra coisa qualquer? Não atinjo, não atinjo mesmo.

Conclusões

1ª - Há muita coisa bacoca e ridícula nesta história. Muita. Demais. Tudo isto me cheira a macacada. Aliás, estou certa que isto ainda vai dar um filme de gargalhada pegada. E, se querem que vos diga, ainda não estou certa de que tenha havido qualquer roubo de verdade. Não descarto a hipótese de que isto tudo de que se anda a falar não seja simplesmente um amontoado de invenções ridículas. Não me parece descabido que tenham começado por engendrar uma desculpa esfarrapada para uma qualquer irregularidade e que, para lhe darem substância, se tenham posto a engendrar cenas parvas atrás de cenas parvas e que, tendo o enredo descambado, lhe tenham perdido o controlo dando no que deu. E que, agora que tudo isto assumiu tamanhas proporções, já não tenham lata de vir a terreiro dizer que pedem muita desculpa por andar a causar tanto sururu porque a única coisa que aconteceu foi que, para justificarem não terem o inventário em dia, resolveram fingir que tinham sido assaltados... Ou isso ou outra parvoíce do mesmo obsoleto calibre. Quem sabe não foi uma rasteira montada para encalacrar alguém, coisa que era para ser mais discreta, e que, às tantas, escalou até onde escalou sem que se lhe pudesse pôr travão...?

2ª - Quanto ao ministro Azeredo, coitado, deixem o pobre homem em paz. É um homem decente e honrado que, sem saber como, se viu metido neste jogo de faz de conta, de meias palavras, de pactos de silêncio. Devem ter-lhe dito qualquer coisa como: 'Não se preocupe que está tudo a ser tratado e não podemos entrar em pormenores mas, tranquilo, vamos resolver tudo e isso é que é preciso e tudo o que há a fazer vai ser feito'. E o inocente Azeredo deve ter acreditado que a investigação estava a decorrer na normalidade, sem perceber que tudo aquilo era uma armação. E, cá para mim, sem ter percebido que, de uma ponta a outra, toda esta história não deve passar de uma armação. Embora, pelo menos no princípio, ele tenha suspeitado pois chegou a dizer: '... no limite pode até não ter havido roubo...'. Pois.

3ª - Toda esta pangalhada em volta disto -- com o palerma do Rio (repito e  com todas as letras: p-a-l-e-r-m-a), a cínica da Catarina e a destrambelhada Cristas a condenarem o ministro Azeredo na praça pública, a crucificarem o António Costa (que nada tem a ver com isto*) e a enxovalharem a campanha eleitoral, transformando a comédia delirante que é o 'caso Tancos' num lodaçal onde querem soterrar o Governo e o PS -- é uma estupidez pegada. Um atentado à nossa inteligência.

4ª - Quanto ao momento escolhido para lançar a acusação nem vale a pena dizer nada. É a estocada final em toda esta palhaçada. Sabendo-se a confusão que isto ia causar em plena campanha eleitoral foi mesmo agora que teve que ser. O pilar da Justiça está corroído e não venham dizer-me que isso não é um risco para a Democracia.


[*Coloquei ali um asterisco porque não sei se o Governo tem poder para mandar pôr a tropa fandanga** que estava colocada em Tancos e/ou a brigada de investigadores, todos em formatura aí num qualquer lugar de passagem para a gente que passa se poder rir deles à cara podre.  Ou a eles ou o Rio, a Catarina e a Cristas, esses três tristes da vida airada, encostados a uma parede para a gente lhes pôr orelhas de burro e ter pena deles.  É que, se tem poder para isso e ainda não o exerceu, está mal.

** E coloquei agora dois asteriscos na frase acima porque se calhar é injusto falar de todos por igual quando aquilo pode ter sido obra de apenas uns dois ou três]

Whatever...

Que entre mas é a tropa dos meus amigos Monty Python


Pim-pam-pum.

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Adendas

Chegam-me por mail dois alertas:

1º - Rui Rio no início da semana, antes de ser divulgada a telenovela chunga que é esta acusação, terá dito (aos microfones da TSF?) que estaria para dentro de poucos dias o conhecimento de mais uma encenação de António Costa. Na altura terá soado misterioso, quase a lembrar o 3º mistério de Fátima. Agora, que se sabe a que é que ele se referia, parece legítimo que se pergunte: 
Rui Rio teve acesso a segredos de justiça? Ele que até os jornalistas punha de cana? O que é que ele sabia? Sim, o que é que ele sabia? E, sim, se ele sabia, como é que sabia? 
E o afã dele, ele que dias antes tinha condenado os julgamentos em praça pública, em vir tentar enlamear António Costa parece agora ainda mais suspeito. 

2º - Enviaram-me também por mail link para um artigo de Carlos de Matos Gomes (militar, investigador de história contemporânea, escritor com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz) intitulado Tancos e as Operações de Falsa Bandeira


Transcrevo apenas o final do artigo:
Os beneficiários desta acusação Tancos, são a PJ e o MP, que reforçam o seu poder como corpos determinantes das políticas do Estado. Poderes fáticos. É um dado. Os grandes prejudicados são os poderes eleitos pelos cidadãos, o governo saído de uma assembleia e um presidente eleito por voto direto. É ainda atingida a instituição armada, aquela que representa a última autoridade do soberano, as forças armadas.
Tecnicamente e sem subterfúgios: chama-se a isto um golpe. Para defesa da democracia e do Estado de Direito, em minha opinião, este golpe e os seus autores têm de ser enfrentados e desmascarados, com todos os riscos que isso comporta.
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E isto para dizer que a procissão ainda vai no adro e que o primeiro milho é para os pardais.

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sexta-feira, setembro 27, 2019

Eu também sabia


E como eu sabia e fui apanhada numa sms a dizer que sabia, agora façam favor de também me considerar arguida.

Mais: se eu sabia, o meu marido, das duas uma, ou sabia e é grave porque não disse que sabia ou, se não sabia, ainda é mais grave porque assim até podemos especular sobre que mais se tem passado que ele não saiba.

E outra: o papagaio-mor também sabia. 

E digo mais: cá para mim foi o meu marido que, para não suspeitarem que sabia, lançou a suspeita sobre o papagaio-mor. 

E tudo isto é muito grave.

E ainda outra: no outro dia, quando a minha prima me enviou uma sms a dar os parabéns, eu agradeci e disse-lhe que sabia e que estava toda contente. E isto é também muito grave porque, se a minha prima sabia, devia ter dito. E isto é gravíssimo porque não se pode brincar desta maneira. Cá para mim, ela também deve ser imediatamente chamada.

E é bom que vá tudo dentro, tudo, o meu marido, a minha prima, eu e toda a gente que sabia. Isto é uma vergonha. Não pode ser. Tudo dentro. 

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E aqui chegada, aposto que o Rui Rio só não está também já aos pontapés na minha cabeça porque felizmente tem perna curta e não consegue chegar até aqui. Consta que, a esta hora, está ao espelho a rir-se para si próprio (e isto porque, como não é só a perna que é curta, é também o neurónio, ainda não percebeu que deveria era estar a rir-se de si próprio). 


E a Assunção Cristas só não está aos saltos em cima do meu cadáver por duas razões: primeira, porque ainda estou viva e, segunda, porque anda muito ocupada a dar saltos em cima da sua peixeira-sombra.


E a Catarina só não está a espetar facas nas minhas costas também por uma de duas razões: primeira, porque teria que crescer um bocadinho mais (a nível de pontaria, quero eu dizer; e, já agora, também de carácter) e, segunda, anda muito ocupada a espetar alfinetes no boneco do Costa.

E outra coisa: muitos dos meus Leitores, aqueles que facilmente vão na canção de qualquer bandido, já devem estar a fazer coro com o Rio, a Cristas e a Martins. Sabia! Sabia! Grave! Sabia ela e os outros todos! Muito grave! Isto tem que ter consequèncias! Mas outros, os mais prudentes, devem estar a coçar na cabeça e a dizer: Caraças. Mas estamos a falar de quê? O que é que a UJM afinal sabia?

E, aí, eu, que não gosto de polémicas mixurucas, esclareço: eu sabia que estava mais magra. Não sabia exactamente quanto mas que estava toda orgulhosa lá isso estava.

E sabia ainda outra coisa. Mas não posso dizer. Sou maluca mas não sou parva.

segunda-feira, novembro 05, 2018

Esperem lá: O "Casados à primeira vista" afinal é um reality show?
[Mais valia era porem um microfone e uma câmara atrás da malta que gira em torno de Tancos para a ver se a gente percebe quem é que anda a mentir neste filme]


Bem. Se vos contasse o meu dia não acreditavam. Se amanhã me conseguir mexer só vos digo que é milagre. Uma coisa do além.

São quase onze horas e agora é que acabei de jantar. 

Claro que já tratei da lida doméstica. O problema é que a lida doméstica começou tarde e más horas. 

Uma loucura. Ao telefone agora com a minha filha, ouvi das boas, que somos malucos. Se calhar, somos. 

Como estávamos no estado em que estávamos e como tinha roupa para lavar, roupa para arrumar, sopa e arroz de carne para fazer, pagamentos a fazer e unhas a pintar, achámos que o melhor era mandarmos vir uma piza. Mandámos. Com a chuva e provavelmente com muita procura, chegou hora e meia depois do pedido. Já meio fria mas boa e, além disso, tanta a fomeca, que marchou que nem ginjas.

Mas isto para dizer que, ao sentar-me agora aqui na minha sala (que está como nova!), liguei a televisão e dei com uma cegada, gente mal disposta, meninas birrentas, um pobre de óculos que, penso que na lua de mel, até chorou tal foi o destrato a que a briguenta da mulher o sujeitou, psicólogos ou sei lá quem a darem música aos casais... e fiquei a perceber que afinal aquilo dos casamentos não é one time shot. Não tinha percebido: pensei que o objectivo era uma equipa polivalente descobrir o par certo entre os candidatos e que a coisa se extinguia com o casamento ou, no máximo, que talvez houvesse algum ponto de situação ao fim de algum tempo. Mas não: dá ideia que as câmaras andam sempre atrás deles, gravam as conversas, uma coisa invasiva. Um reality show.

Uma coisa estranha. Já achava extraordinário -- mas não censurável, aliás, até curioso -- que as pessoas escolhessem este método para arranjarem parceiro mas agora acho um bocado estranho que aceitem sujeitar-se a uma coisa como esta. Uma pessoa expor-se desta forma, expor a sua intimidade, as suas inseguranças...? Que coisa tão, tão estranha.

Por vezes, tantas e tantas são as situações em que me sinto fora deste mundo, que até tenho que me esforçar para não ficar a pensar que tenho alguma pancada.

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Sobre Tancos não consigo dizer nada a não ser que tanta tramóia num milieu que devia estar reservado a gente séria também me deixa a pensar que tudo aquilo é tão estranho que, na volta, eu é que não tenho QI que chegue para compreender que forrobodó é aquele. Não seria de também transformarem aquela cena num reality show para a gente acompanhar em directo as traições, as aldrabices, os conluios, as ratices, as fofocas, as rasteiras, as facadas nas costas?

Ó Professor Marcelo, Presidente, pense lá nisso. Mande distribuir microfones e ponha a malta dos Big Brothers desta vida a seguir os GNR de Loulé ou do Vale da Gatinha, a PJ, a PJM, o SIS, os sargentos, capitães, generais e tutti quanti, a ver se conseguimos perceber alguma coisa desta história mal contada. Pode ser?

domingo, setembro 30, 2018

Húbris
-- A casa da Santa Joana, o segredo de justiça, o coronel encenador e outras particularidades das mais finas instituições da Tugolândia


hú·bris  (grego húbris,- eos, excesso, ardor excessivo, impetuosidade, violência, ultraje)  -- 
Orgulho excessivo., arrogância, insolência, soberba

Húbris. Com a costumeira ironia assim foi denominado o caso do pretenso roubo de armas de Tancos.

Só que, espanto dos espantos, o primeiro acto desta farsa -- este de que agora se fala e que já colocou em prisão preventiva o Coronel Luís Vieira, Director da Polícia Judiciária Militar, e mais uns quantos -- não se refere ao roubo de armas mas ao seu aparecimento. Ninguém, neste caso, pode queixar-se de déjà-vu.

E, uma vez mais, apesar de estarmos no estertor do reinado da Santa Mana -- Joana de seu nome prório e Marques Vidal de nome da famíla -- mantêm-se bem vivos os traços dominantes que têm marcado os últimos anos da Justiça em Portugal: os envolvidos antes de serem culpados já o são. Sabemos nomes, percursos profissionais, onde nasceram, como são. Quando chamados a depor, sabemos o que dizem pois, acto contínuo, já os jornais e televisões o anunciam: confessou ter encenado, confessou arrependimento, confessou isto, aquilo e o outro. Mais: os jornais gabam-se, referindo o processo a que tiveram acesso.
Segredo de Justiça...? Está bem, está, isso também já era. Os secretos meandros onde se investiga parecem ser, afinal, os promíscuos quartos da Casa da Mana Joana, esse aparente albergue espanhol onde, pelos vistos, magistrados e demais pessoal convivem em feliz concubinato com jornalistas, 'fontes' e outro tipo de gente 'geralmente bem informada'.
E, segredo de justiça violado, sem delongas, logo nos aparece o usual enxame de avençados da pedrada, pagos a peso de outro para irem para a praça pública arrancar pedras da calçada e arremessá-las contra os que, justa ou injustamente, se vêem a contas com a justiça. É um festim. Políticos, personalidades públicas de toda e espécie e feitio, rogeiros, jornalistas, coronéis, sargentos, no activo ou na reserva, tudo minha gente salta para o palco e pimbas, pedrada que até ferve na cabeça dos suspeitos ou arguidos que, de imediato, vêem o seu bom nome enlameado talvez para toda a vida, 

Dito isto.

Ter milhares de pessoas a entreterem o tempo fazendo exercício e gerindo-se a si próprios para um just in case, facilmente pode degenerar num facilitismo e numa impune permissividade. Parece mais ou menos óbvio. Claro que tem que haver Forças Armadas e claro que as nossas, porque, felizmente, vivemos tempos de paz cá para as nossas bandas, têm tido meritórias acções na defesa das populações noutras mais perigosas paragens. Mas, tirando esses louváveis casos, o dia a dia daquela gente é, mais ou menos, o que acima disse. Dão aulas, fazem instrução, fazem treinos, fazem provas reais, outros fazem a comida, outras tratam das compras, outros das infraestruturas, outros dão formação. Não o digo com ironia ou buscando o efeito fácil. Um país deve ter forças armadas bem preparadas e isso está fora de questão. O que pode ser equacionado é a sua dimensão e a sua actividade.

Seja como for, face à natureza das suas funções em tempo de paz, há que ter em atenção que, subjacente à actividade diária, há um expectável dolce fare niente que pode conduzir a uma ociosidade e, paredes meias, à impunidade. Para prevenir actos indevidos, haverá que auditar de perto os comportamentos.

Como já referi no outro dia, o sentimento um pouco generalizado de que, por aquelas bandas, há muito quem 'coma por debaixo da mesa', assenta no conhecimento um pouco disseminado por entre os que lidam, enquanto fornecedores, com essa realidade. Quantas vezes se ouvia dizer: comem todos, é de alto abaixo. E isto referia-se aos que compravam comida, material de economato e fardamento, equipamentos electrónicos, equipamentos militares e equipamentos e serviços de toda a natureza.

E, de vez quando, lá vem o mesmo: as armas desaparecem dali (como das esquadras, como de camionetas em andamento) e nunca se dá por ela ou, se se dá, rapidamente o caso é esquecido. Desaparecem metralhadoras, pistolas, granadas, munições. Desaparecem sem deixar rasto. Mesmo que sejam quantidades que não podem ser levadas num bolso. 

Mas desta vez a coisa teve aparato, a lista de material roubado era digna de filme cómico, as notícias eram estapafúrdias. Falava-se num buraco na rede, falava-se em camião TIR. O Expresso, o grande badalo das fake news, explicou como tinha sido, tudo descrito ao pormenor. Balelas. Como tantas outras vezes com o Expresso, tudo balelas,

Contudo, desde o início, Vasco Lourenço  tinha uma outra teoria e não se eximiu a explicá-la: quem, indo sair de funções, tinha que deixar o inventário ao próximo, deve ter ficado perante uma inequação difícil de explicar -- as armas contabilizadas eram muito superiores às armas, de facto, existentes -- e, para se limpar,  provavelmente resolveu inventar que tinha havido um roubo.

Como o volume era de tal monta e como a repercussão mediática foi grande -- com o Marcelo, honra lhe seja feita, a andar em cima -- a investigação teve que ganhar forma. Só que a investigação provavelmente não ia mostrar coisa boa. Então, como as notícias divulgam, alguém teve a ideia brilhante de repescar as armas em falta (ou outras  -- que, pelos vistos, o ladrão ou receptador não tinha lá grande gestão de stocks) fazê-las levar para um pinhal e dizer que...  upsss, milagre, apareceram... Para transportar tanta caixa, era preciso meios de transporte e pronto, lá arregimentaram uns artistas, por sinal uns GNRs de Loulé e, por sinal, amigos do ladrão, que fizeram o favor  de as transportar e depois dizer que as tinham encontrado. Claro que volto a não perceber a inequação: tanto caixote que só podia caber num camião TIR cabe agora numa carrinha mercedes...? Não se percebe. Mas, na volta, também não é para perceber. O que parece é que, no meio de tantoa brincalhotice, levaram caixas a mais, provavelmente de subtrações anteriores.  E tudo articulado com a PJM que achou que esta era a oportunidade para brilhar, não deixando que fossem outros a descobrir a farsa ou, pior, a meter o bedelho e ainda descobrir outras ligações perigosas.

Falta de inteligência, parolice ou, lá está, excesso de confiança, húbris. No meio desta artolice, a rivalidade entre gangs: gnr, judiciária militar, judiciária civil, polícia. Tudo gente armada que se acha importante e dona do poder.

A ser isto verdade. Não nos esqueçamos: a ser isto verdade.

Um director de uma polícia judiciária preso é obra. Os jornais a dizerem que ele já confessou a encenação, a ser verdade, é obra, Mas estarmos a saber de tudo isto, sem contraditório, sem sabermos a versão deles, também é obra.

Portanto, por toda a esta rocambolesca macacada, acho que é mesmo caso para perguntarmos: quem nos guarda dos Guardas? Quem nos protege da Justiça?

quinta-feira, setembro 27, 2018

Cinco palhaçadas no país do ressuscitado ex-Cavaco, o ditoso amigo da Santa Mana Joana


Palhaçada Número 1


A guerriúncula de alecrim e manjerona que o franzino João Ribas resolveu desencadear é daquelas coisas que mostra bem a superficialidade que por aí vai. 

Nem o dito tem arcaboiço para o fuzuê que armou nem a opereta tem pernas para andar fora das paróquias avançado-justicialistas das redes sociais. 
Sem saberem do que estavam a falar, só porque a dita criatura teve um fricote, logo as beatas encaloradas rasgaram as vestes defendendo que as penetrações anais, por mais violentas e escabrosas que fossem  -- onde vale tudo até um braço enfiado até ao cotovelo -- são do mais educativo para as criancinhas. No entanto, note-se que, se quiserem dar um banho de perversidade às crianças, podem fazê-lo. As obras estão lá, apenas desaconselhadas a menores de dezoito a menos que acompanhados por adultos que se responsabilizem. Estão em sala aberta ao público e tudo feito conforme acontece em todo o lado em que há obras deste calibre. Mais: tudo organizado sob coordenação e com a aquiescência do curador -- nada mais, nada menos que, justamente, o mesmo pseudo fogoso libertário. 
Entretanto, com a administração em peso a negar tudo o que ele diz e a exigir que apresente provas, o dito Ribas levanta voo de fininho e começa a falar de intangíveis, estados de alma, coisas imateriais que o aborrecem nos dias em que acorda com o rabo virado para a lua. Entrada de leão, saída de sendeiro. 

Portanto, por mim, dou o assunto por encerrado.

Mas sugiro que alguém lhe ofereça um lápis (e respectivo apara-lápis) para escrever os seus desabafos. E se continuar com aquele ar de bebé chorão, pois que algum dos seus admiradores lhe ofereça uma chucha.



Palhaçada Número 2

A outra guerriúncula de alguidar e garrafão foi a greve dos taxistas. Acamparam na Av. da Liberdade e no Porto e em Faro sem que a população tivesse notado grande diferença. Uma coisa sem ponta por onde se lhe pegue. Uma greve supostamente faz-se como forma de protesto contra a entidade patronal. Ora, no caso, maioritariamente a entidade patronal são os próprios. Claro que os Uber desta vida esfregaram as mãos de contentes: freguesia redobrada nestes dias. Os senhores taxistas e mais um fiada de mulheres que pareciam as majorettes da primeira fila e que toda a gente acha que não são taxistas, afinal lutavam contra o governo. Claro que foi para o lado que o governo melhor dormiu. Acresce que a legislação aprovada até parece exigir condições mais restritivas às plataformas concorrentes do que aos taxistas. Como resultado de todo este aparato, resolveram desmobilizar. E porquê? Depois do valente não de António Costa, para espanto geral consideram que a sua causa foi atendida. Pois bem. Quais caniches que ladram, ladram e depois voltam para a casota, de rabo entre as pernas, assim os taxistas. Dizem que os deputados do PS disseram que iam ver se a definição dos contingentes pode passar para as autarquias. Cá para mim, é, para eles, o maior disparate. Agora, deixa de haver um decisor para haver centenas. Portanto, se isto for avante, estão bem governados. Mas, enfim, devem ter percebido a palhaçada que era a greve e, para não perderem a face, inventaram esta vitória. Há classes profissionais que tendem a desaparecer se não souberem perceber o ar do tempo -- e esta é uma delas.


Palhaçada Número Três

A cena de Tancos é, na verdade, mais do que uma palhaçada: é um circo completo.

Escuso de dizer que, desde o primeiro dia, achei que não era possível que aquilo fosse roubo na base de one time shot. Tinha que ser coisa feita devagarinho. Depois aquele aparecimento... Coisa na base do Luís de Matos. E ter aparecido uma caixa a mais. Devolveram o que tinham no armazém, deste lote e doutros. Uma macacada.

Se um dia forem ouvir malta que em tempos vendeu material para as forças armadas e que agora já não tem nada a perder se se desbroncar são bem capazes de ter algumas surpresas. Quem queria vender, já sabia que tinha que untar as mãos a este, àquele e ao outro. Mas quem ia denunciar? Queriam era vender. E isto digo eu sem saber nada de concreto porque nunca vendi nada para militares. Mas ouvia-se por aí muitas histórias destas. Tenho até ideia que, na altura do grande ministro da Defesa Paulo Portas, se falava muito em luvas de vários tamanhos (as maiores das quais do tamanho dos saudosos submarinos).

Seria até interessante que a Santa Mana Joana, que nunca quis saber de nada disso, na hora da despedida, explicasse porquê, porque nunca quis saber de nada disso.
Não são todos os militares que gostam de brincar às escondidas, ao lencinho queimado ou aos doces ou travessuras. Claro que não. Tenho um bem graduado na família e acho que posso pôr as mãos no fogo por ele. 
Mas com uma coisa destas, em Tancos, tudo a ter que se passar às claras, com muita gente a saber, esquisito foi precisarem de um ano para descobrirem alguma coisa. Um verdadeiro circo de Fellini.


Palhaçada Número Quatro

Ouvi ontem, com pasmo, que deveria ser aberto inquérito para se perceber porque é que Manuel Pinho não foi revistado quando chegou ao DCIAP. Apurei a atenção. A jornalista, com ar enfático, quase insinuou suspeições. Dizia que era importante ter apurado se ele não traria provas consigo. Pasmei com muitos pontos de explicação na mente. Mas que almas tresloucadas acham provável que Manuel Pinho se apresentasse no DCIAP com provas escondidas nas cuecas, quiçá extractos das contas offshores enfiados em bolotas transportadas no estômago? A inteligência desta gente da comunicação social está, de forma geral, abaixo da inteligência das minhocas (sem desprimor para as minhocas, claro). Só me admirei por não ter logo visto nos blogs ditos de referência que todos nós, cidadãos de primeira, deveríamos, a todo o momento, sempre que nos cruzássemos com o dito Pinho enfiar-lhe um braço no rabo para tentarmos descobrir provas.
Quais provas? As provas. Quais provas? As provas. Quais provas? As provas. Quais provas? As provas. Quais provas? As provas. Quais provas? As provas.


Palhaçada Número Cinco

E eis que, quando estou a preparar-me para pôr o ponto final neste post, me aparece uma múmia ressabiada na televisão. Com a célebre gosma a querer assomar-lhe aos cantos da boca, olhos vingativos, e dicção martelada como quem declama uns versos fajutas, Cavaco saíu à cena para louvar a Santa Mana Joana, santinha muito da devoção de cavaquistas que, por algum motivo que só eles saberão, se sentiam muito protegidos com ela ali. Acha estranho, muito estranho, talvez a coisa mais estranha desde que a so called ge-rin-gon-ça foi dada à luz para seu grande susto. Presumo que agora volte para a paz da sua varanda* no Possolo na companhia da sua Dona Cavaca.

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Errata, conforme comentário abaixo: onde se lê varanda, deve ler-se marquise

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E venham mais para a gente se divertir.

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PS: Hoje há passeio no Ginjal. Convido-vos a darem uma saltada até lá.

sexta-feira, setembro 21, 2018

Exército


Não desfazendo, claro. E nem todos serão iguais. Na Venezuela ou na Coreia há-de ser um bocado diferente do que é em Portugal. Mas não sei, sou toda paisana, não sei nada disto.

Mas, então, o que é um exército? Ambrose Bierce esclarece.
Uma classe de pessoas improdutivas que, para defenderem a sua nação de uma invasão, devoram tudo aquilo que o inimigo possa querer.
Obs: Claro que isto não tem nada a ver com o putativo saco azul de Tancos pois o nosso Ambrósio sabia lá das barraquinhas que armam nos nossos quartéis.

quarta-feira, julho 12, 2017

As teses de Vasco Lourenço sobre o roubo de Tancos e a sua opinião sobre Miguel Sousa Tavares e sobre os jornalistas em geral.
E, de passagem, a opinião do meu marido sobre os conhecimentos de segurança de Pedro Mexia.
E a minha opinião sobre toda a espécie de papagaios pimpões que se alaparam ao comentário profissional e dali não saem, apesar de já não os podermos ver ou ouvir


No outro dia, íamos de carro e, ao fazer zapping radiofónico, o Pedro Mexia. Falava do roubo de Tancos e opinava em tom convicto dizendo coisas que, com aquele seu ar de rapaz culto e sensato, quase pareciam fazer sentido. Mas tive dúvidas que fizessem. Eram basicamente lugares comuns enroupados pelo seu tom conservador e moralista a que, o tempo excessivo como opinador, já dá um sabor a ranço populista. Logo o meu marido deitou a mão à rádio e mudou de canal, vociferando: 'Mas o que é que este gajo sabe de segurança, pá...? O que é que ele sabe de guardar uma instalação militar?! Falam sobre tudo e acabam a só dizer m..'.


Dei-lhe razão. Muito sinceramente já não consigo ouvir aquelas três araras, semana após semana, a disfarçar a sua ignorância ou futilidade com ironia bacoca, com um humor já usado e relho, com tiradas que tentam arremedar alguma cultura mas que mais parecem coisa de pipoca metida a besta. João Miguel Tavares, Pedro Mexia ou Ricardo Araújo Pereira não passam hoje, para mim, de três papagaios que repetem as mesmas larachas seja qual for o tema.


Outro que eu até gostava de ouvir, o Pedro Adão e Silva, tanto se desunha a opinar -- na televisão a toda a hora sobre actualidade, mas também sobre futebol, sobre música, e também na rádio, nos jornais -- que já enchi. Já chega. Uma picareta falante que, mal lhe dão o mote, desata a produzir opiniões como uma juke box. Não dá. Ou o Pedro Marques Lopes. Outro que tal: repetitivo, banal, saco de vento.


Não costumo ouvir o Miguel Sousa Tavares. Se calhar fala antes de nós, cá em casa, ligarmos a televisão. Como também não compro o Expresso, não o leio. Portanto, não faço ideia do que é que ele anda por aí a dizer.

Mas hoje, na SIC, vi Vasco Lourenço com o Pedro Mourinho e a sua partenaire de quem não sei o nome. E gostei de ver o eterno Capitão de Abril. Nem sempre gosto mas, desta vez, falando de temas que conhece, acho que Vasco Lourenço falou bem.


Disse ele aquilo que a mim me parece óbvio: dificilmente tanto material se rouba num único dia sem que ninguém dê por nada. Um roubo destes não é compaginável com a cena infantil do buraco na vedação, um larápio a fugir com uma granada em cada bolso e uns cartuchos nas mãos. Diz ele que, dada a quantidade do material em falta e não havendo arrombamentos ou violência, não se poderá falar em roubo ou assalto. Melhor chamar-lhe desaparecimento.

E diz Vasco Lourenço que, para ele, ou aquilo foi material roubado ao longo dos tempos e pelo qual ninguém deu (ou fechou os olhos) ou é material usado em treinos ou coisa assim e de que nunca ninguém deu baixa. Diz ele que seria interessante saber se não iria acontecer alguma passagem de testemunho no comando e que tivessem que ser passados os inventários. Diz ele que admite como possível que, estando o inventário de tal forma errado, algum furto teve que ser simulado para disfarçar a gravidade de tamanha incúria. É uma hipótese, diz ele. Outra, mais na linha da teoria da conspiração, é que tivessem engendrado esta macacada para ver se deitam abaixo o governo. Esta, a mim, parece-me um bocado too much. Mas, enfim, há malucos para tudo. Mas, está ele convicto, alguma coisa nesta base foi -- roubo é que não.

E que os responsáveis por isto foram os militares. Frisou: os militares.

O Pedro Mourinho e, ainda mais, a sua comadre de balcão, nem ouviam, só queiram saber se a culpa era do governo. Vasco Lourenço lá fez o enquadramento e lá referiu a responsabilidade política pelas linhas estratégicas do papel das Forças Armadas mas deixando claro o inegável: a responsabilidade por assegurar a segurança das instalações militares é dos militares. Ponto.


Só mais para o fim é que aqueles dois aéreos, fixados que estavam em arrancar a Vasco Lourenço que a culpa era do ministro, lá conseguiram captar o que ele dizia. E ele continuava dizendo que grande parte da responsabilidade na baderna que se armou, enchendo os canais de gente que não sabe nada do que fala, era da comunicação social, de vocês, dizia ele. E referiu o caso de Miguel Sousa Tavares que, segundo o próprio terá dito, nem cá estava e que nada sabe de Forças Armadas mas que, nem por isso, deixou de opinar, só dizendo disparates. Acredito. Miguel Sousa Tavares é outro dos que opina sobre futebol, sobre política, sobre fiscalidade, sobre touradas, sobre incêndios e, de passagem, sobre caça, sobre sentinelas e quartéis. 
E isto degrada a opinião, degrada a inteligência. É como a pornografia que, ao que dizem, queima os neurónios de quem a consome. Esta alarvidade de comentários a eito, dando a palavra a toda a espécie de catatuas, pseudos qualquer-coisa e marionetas para todos os gostos, mina a presciência colectiva. Não se aguenta, digo-vos eu. É que não há quem saiba tudo sobre tudo, por muito oleada que seja a prosa, por muito bem colocada que seja a voz, por muito telegénica que seja a sua presença.
E é isto. Repito-me, sei, mas entendam como um desabafo: não suporto que a toda a hora, sobre qualquer assunto, ad nauseam, as televisões (e as rádios e os jornais) estejam sempre cheias de caga-lumes, de palermas, de papagaios, de gente que vive de opinar, não tendo qualquer rebuço em falar sobre qualquer tema que lhes seja colocado à frente da boca mesmo que não faça a mínima sobre o assunto. 

O meu marido fez tropa durante dois anos e tal. Oficial de Marinha. Numa altura em que já ninguém fazia tropa, recrutaram-no a ele. Não é entendido na matéria mas tem mais experiência das regras nas instalações militares do que meio mundinho de pimpões que por aí anda a falar, sem um mínimo de conhecimentos e sem dois dedos de testa. E, ainda assim, e apesar de ser culto, experiente, de ser sensato e inteligente, de ter uma voz agradável e de ter uma presença bastante simpática, não se sentiria apto a ser opinador a granel. Mas qualquer puto, qualquer descarado, qualquer vendedor de banha-da-cobra, qualquer parvo aceita ser convidado para falar sobre qualquer tema a qualquer hora.

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Uma palavra agora para falar de um senhor que penso ser o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Artur Pina Monteiro. Na conferência de imprensa com António Costa e com o ministro Azeredo Lopes e outros senhores, disse o General Artur que o material roubado (ou parte do material) pouco mais é que obsoleto e que o seu valor não passa de 34.000 euros. Estando eu de fora, diria que também ele está a dizer meia-verdade, a verdade conveniente. Cá para mim, e nada mais é que um feeling,  aquele será o valor líquido daquele material. Sendo material adquirido há vários anos, por valor bem superior a isso, já estará quase totalmente amortizado e, portanto, terá uma valor remanescente baixo. Contudo, esse estará longe de ser o valor da reposição. Digo eu. Mas, enfim, quando se fala para o grande público, sabendo-se o quão relapsa é a comunicação social e quão débeis são as mentalidades de grande parte dos opinadores e avençados, qualquer coisa se pode dizer que ninguém questionará. De qualquer maneira, o que parece é que o fantástico aparato bélico que pareceu estar associado ao material roubado está longe de corresponder à verdade e, mais uma vez, o empolamento ficar-se-á a dever a um fenómeno frequente no micro-clima português: tudo se exponencia quando os pafiosos se juntam, nas suas motivações, aos jornalistas.


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Conclusão: concordo com Vasco Lourenço quando ele diz que esta é uma história mal contada. Provavelmente uma encenação. E digo: se anda o País inteiro enrolado e preocupado com uma história macaca que não passa de uma encenação para limpar culpas de alguém ainda mais sinistro é todo este mundinho mediático em que tudo se exponencia de forma descabelada. Tal como referi quando há uns dias aqui escrevi, penso que há que saber se o que desapareceu saíu na altura em que houve a divulgação do caso ou se aquilo lá é tipo bar aberto e dá para ir tirando aos bocadinhos, ou se, em vez disso, vão usando nos treinos e depois deixa para lá, podes levar para casa, mano, é um recuerdo que pode valer bom dinheiro. Tal como haverá que saber se aquilo saíu em camiões conduzidos por ladrões ou foi saindo às pinguinhas em porta-bagagens (ou mesmo em camiões da tropa...?). Ou o quê. Mas é coisa séria, para investigar a sério. Não é lume mediático para audiências. Não pode ser. Senão acabamos todos consumidos no fogo da estupidez.

E ainda mais desconfortável fico quando se vai sabendo que roubos de armamento, cá pelo burgo, é coisa frequente e que ninguém liga muito para isso. Nem os jornalistas. Até porque os jornalistas só salivam com o osso acabado de atirar: a demissão deste, a demissão daquele, a ministra que chorou e a gente não quer cá gente com sentimentos (por exemplo, os nervos que as lágrimas da ministra Constança Urbano de Sousa causaram à misógina Clara Ferreira Alves...). 


Finalmente: no calor da notícia pedi a demissão do ministro. O meu marido não concordou. A responsabilidade é de toda a linha de comando ligada à guarda do paiol e do quartel, dizia ele. O que é que esses gajos lá estão a fazer? Não é a guardar aquilo...? Se não é, então é o quê? Achas que é o ministro que sabe de quantas em quantas horas fazem rondas ou se há um buraco na vedação? - perguntava ele, irritado.

Seja. Contudo, para mim, tudo isto tem uma responsabilidade política e esta, num caso destes, deve ser assumida. Aliás Azeredo Lopes já a assumiu. É que não pode ficar a ideia que isto é uma rebaldaria, em que desaparece material que dá para encher dois camiões TIR e ninguém dá por nada. Seja um roubo one time shot ou um desaparecimento às pinguinhas, sejam mísseis de última geração ou sejam granadas de há dez anos, tanto faz. Material de guerra tem que estar guardado, à prova de bala. Não é responsabilidade do ministro andar a contar cartuxos mas tem que saber se há inventário permanente e auditorias, se há vigilância e alarmística, se os guardas estão guardados. Etc.


[E espera-se isso sobre os militares a propósito deste filme do roubo de material de Tancos, tal como se espera que alguém se sinta politicamente responsável por zelar por que não haja esquadras pejadas por polícias racistas e torturadores, ou por zelar que os tribunais não estejam infestados por juízes laxistas e abusadores, ou por zelar que a Procuradoria não esteja minada por gente que não se sente responsável por respeitar os cidadãos ou por ser lesta a agir em defesa dos interesses superiores do país. Espera-se isso, mesmo. Eu, pelo menos, espero]

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E um dia feliz a todos quantos por aqui passam.

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