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sábado, junho 28, 2025

Uma terra muito rara

 

Celebro os acasos, celebro a boa sorte das inexplicáveis coincidências, celebro a felicidade do que acontece apenas porque sim. 

A terra, este pontinho azul que voga no infinito, nascido por milagre, que, por milagre, se mantém a flutuar em harmonia, sem se despenhar, sem explodir, sem se desintegrar, continua a ser o nosso chão, o nosso céu, o nosso sustento e amparo. Sem sabermos como nem porquê nem para quê temos o dia e a noite, temos as estações do ano, temos o quem e o frio, o seco e o molhado, o sólido, o líquido, o vaporoso e o tule e o insondável, o feio e o belo, o dizível e o indizível. E digo que não sabemos mas talvez alguém saiba, talvez os físicos, certamente os matemáticos, muito provavelmente os mais loucos poetas tenham as fórmulas, as demonstrações científicas e as outras, as feitas de palavras que cantam, que voam, que se escondem. 

De todas as poeiras invisíveis que se escondem por entre as ondas também invisíveis que transportam palavras e imagens agradeço às que habitam o meu corpo e as árvores e as flores que me rodeiam.

Tudo parece impossível de mais para ser verdade. E, no entanto, damos tudo por adquirido. Não agradecemos a perfeição, a harmonia, a beleza, a raridade.

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The Rare Earth Hypothesis: What Is It? | Aliens: The Big Think | BBC Earth Science


A hipótese das Terras Raras sugere que há algo de especial na Terra – mas o que é?


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De 'Aliens: The Big Think' (2016)

A caça aos alienígenas começou! Após uma distinta carreira em cosmologia, o Professor Martin Rees, astrónomo real, assumiu a procura de extraterrestres. Procurar alienígenas já não é ficção científica - é uma questão que está a envolver algumas das mentes mais brilhantes da ciência. À medida que o nosso conhecimento do universo aumenta, aproximamo-nos das respostas. Muitos cientistas acreditam agora que vivemos numa galáxia com mil milhões de planetas semelhantes à Terra, muitos dos quais podem estar repletos de vida. Mas que tipo de vida? Evoluiu alguma coisa para seres com os quais podemos comunicar? Este filme entra na mente dos cientistas que consideram uma das perguntas mais emocionantes e profundas que podemos fazer - estamos sozinhos no universo? O Professor Rees acredita que podemos ter a nossa ideia de como é um alienígena completamente errada. Se ele estiver certo, não são extraterrestres orgânicos que devemos procurar, são máquinas.

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Dias felizes

quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.

quinta-feira, setembro 07, 2023

Relato de um dia todo ele coisas simples. Para compensar, sou forçada a trazer aqui a 'Equação de Deus'...

 

O meu marido quis arrancar a hera que tinha trepado por duas paredes e que eu adorava ver. Tentou convencer-me, mostrando que é uma bicha invasiva (ele não disse isto assim, claro), alegando que vai para os algerozes, que atrai animais. Com o coração já sentindo o peso das decisões fatais, observei com atenção e acabei por concordar. Ele cortou mas ela continuou agarrada, teve que ser puxada. Tem patinhas com ventosas. Agarra-se à vida com vigor. Tive muita pena. Gosto de ver as paredes cobertas por hera. Aliás gosto de ver a natureza em toda a sua pujança.

Mas reconheço que a natureza, quando não impedida, absorve, devora, tudo. Há que tentar manê-la controlada. 

Também foram cortados viçosos e ousados rebentos ladrões das buganvílias. 

E é certo: há ratos a devorarem as romãs. De longe parecem inteiras, penduradas, a criar açúcar nos ramos. De perto, pode ver-se que algum animal lhes abriu um buraco e se banqueteou com os sumarentos bagos. Sinto-me revoltada. Não é tanto pensar que anda por ali um ou mais ratos pois até li que é um animal limpo, inteligente e que dão óptimos animais de estimação, é mais por pensar que, a continuar a este ritmo, não terei romãs para comer.

Não queremos pôr veneno e custa-me pensar em ratoeiras pois gostava era de os afugentar sem ter que lhes fazer mal. Mas não sabemos como fazer isso.

A árvore das limas, que se chama limeira mas que, por algum motivo que desconheço, não me dá jeito chamar assim, está tão carregada que vergou uma pernada. No outro dia, ao chegarmos a casa nem percebemos bem, parecia que a árvore estava caída no chão. Depois é que percebemos que era apenas uma pernada, a maior. O meu marido foi à horta buscar um tronco com um V na ponta e os dois conseguimos levantar o grande ramo carregado e ampará-lo por aquele tronco.

E fiz sopa de legumes, que já não fazia desde antes do verão. Soube-me mesmo bem. 

Fiz ainda outras coisas mas não vou estar para aqui a maçar-vos mais com estas minudências.

Por isso, vou antes partilhar um vídeo de que gostei. Espero que também gostem.

Physics’ greatest mystery: Michio Kaku explains the God Equation | Big Think

"It's no exaggeration to say that the greatest minds of the entire human race have made proposals for this grand final theory of everything," says theoretical physicist Michio Kaku. 

This theory, also known as the God Equation, would unify all the basic concepts of physics into one. According to Kaku, the best, most "mathematically consistent" candidate so far is string theory, but there are objections.
"The biggest objection is you can't test it," Kaku explains, "but we're getting closer and closer."

[ Dr. Michio Kaku is the co-founder of string field theory, and is one of the most widely recognized scientists in the world today.]


Desejo-vos um belo dia
Saúde. Alegria. Paz.

terça-feira, setembro 05, 2023

Método científico para melhorar os orgasmos

 

Sob influência deste outono, influência esta condimentada com a doçura própria de um sweet september, estou como se estivesse de regresso às aulas ou, vá, ao trabalho. Ora, rentrée que é rentrée, tem que ter o seu quinhão de inesperado, de picante e de abertura às novidades e à ciência.

Portanto, estando antes aqui tentada a debruçar-me sobre o nosso ultra-ubíquo Marcelo que, qual mega-mago, a toda a hora tira pombinhas, écharpes e cartas da manga, ou, quiçá, até falar sobre o previsível e descartável Montenegro ou sobre a virulência de algumas figuras do so called mundo vip (ou jet set ou whatever) nas redes sociais ou, até, divagar sobre as nobres e pacíficas intenções do grande amigo do PCP, o grande democrata Kim Jong-Un, que vai visitar o não menos amigo e não menos democrata e pacifista Putin, eis que, numa reviravolta mental, me apetece mudar a agulha. 

E, assim sendo, uma vez que as nossas televisões e social media inerentes não se preocupam com a intensidade e duração dos orgasmos, eis-me aqui a pensar em todos os que me lêem e a divulgar úteis ensinamentos. 

Está tudo bem explicadinho. 

Os vídeos estão traduzidos para português pelo que não há desculpa, não venham cá dizer que têm o inglês enferrujado. 

[Não digo que não tenham nada enferrujado, digo é que não é a língua (a inglesa, leia-se). Ou melhor, o ouvido].

How to have "real" orgasms | Emily Nagoski

The best orgasms come when you learn how to unlock a sexual “flow state.” Emily Nagoski, a sex educator, shares a meditation to help you get started. 

When you see an orgasm depicted in TV, film, or even porn, you can be virtually certain it was faked. This can feed misconceptions about there being a “correct” way to orgasm. In reality, orgasms are complex phenomena that can result from a wide range of stimuli, and they are orchestrated primarily by the brain, not only the genitals. 

Sex educator Emily Nagoski emphasizes the importance of familiarizing yourself with the full spectrum of pleasurable and arousing experiences, not just orgasms. Shifting focus from orgasms to overall pleasure can alleviate pressure, potentially leading to improved sexual experiences and, paradoxically, better orgasms.

E, para que não se pense que a Emily não passa de uma qualquer castiça que resolve vir para aqui dar palpites, informo que:´

About Emily Nagoski: 

Emily Nagoski is the award-winning author of the New York Times bestselling Come As You Are and The Come As You Are Workbook, and coauthor, with her sister, Amelia, of New York Times bestseller Burnout: The Secret to Unlocking the Stress Cycle. She earned an M.S. in counseling and a Ph.D. in health behavior, both from Indiana University, with clinical and research training at the Kinsey Institute. Now she combines sex education and stress education to teach women to live with confidence and joy inside their bodies. She lives in Massachusetts with two dogs, a cat, and a cartoonist.


sexta-feira, junho 30, 2023

Como ser mais feliz em 5 passos sem truques esquisitos

 

Hoje estava a dar-me para falar de felicidade. Acontece que o meu marido me disse que vai escrever uma coisa e, por isso, arrepio caminho e limito-me a pouco mais fazer do que partilhar convosco um vídeo interessante. Não sou estudiosa sobre a matéria mas, numa perspectiva meramente pessoal, concordo com o que Laurie Santos aqui diz.

Tenho para mim, isto é, na minha ignorância, que isto de se ser feliz tem também muito a ver com a carga genética. Deve haver quem tenha propensão para ser feliz, independentemente das circunstâncias, tal como quem a tenha para a infelicidade, também independentemente das circunstâncias.

Mas, independentemente disso, há também algumas regras que devem ser atendidas em especial para quem isso não seja intuitivo ou óbvio.

São coisas simples e muito eficazes.

Observa-se muito em grandes organizações que, perante as mesmas circunstâncias profissionais, há quem tenha reacções diametralmente opostas.

Vou dar um exemplo. Consoante os resultados e o atingimento dos objectivos anteriormente fixados, era costume haver atribuição de bónus. Para mim, receber um bónus sempre foi uma coisa boa. Fosse quanto fosse. 

Contudo, para muitos dos meus colegas, era um momento de stress. Ou achavam que era menos do que estavam à espera ou proporcionalmente não era tão bom quanto os de outros colegas ou sei lá.

Pois eu nunca tinha quaisquer expectativas. Por isso, tudo o que viesse à rede era peixe.

Depois não fazia ideia nem queria saber o que é que os outros tinham recebido. E, note-se, pelas minhas funções, tinha acesso a saber tudo o que cada um recebia. E, no entanto, nunca -- e nunca é mesmo nunca -- fui ver. E não fui ver porque não tinha qualquer curiosidade. Além disso, sabia que, se visse, iria ficar incomodada pois iria ver coisas que não perceberia ou não concordaria. Ora sempre quis estar feliz. Nunca procurei situações que tivessem algum potencial de me aborrecerem sem que eu tivesse qualquer contrapartida positiva para isso.

As comparações são geralmente uma fonte de chatice, especialmente para quem se acha sempre em défice de qualquer coisa. Para pessoas que acham sempre que deviam ter mais do que têm (seja dinheiro, atenção, amor, roupas, beleza, etc), a comparação com os outros só serve para acumular frustrações.

Depois há aquilo da pessoa se comprazer na maledicência e na vitimização, achar que tudo lhe acontece, que aos outros as flores crescem depressa, aos outros saem-lhes os maridos apaixonados, aos outros aparecem sempre oportunidades para grandes viagens ou para ir a belos restaurantes, que a quem menos merece é que tudo de bom acontece. Ser assim é corrosivo para o próprio. 

Se nos abstrairmos desse maneira de ver as coisas e nos sentirmos agradecidos por podermos andar ao sol sem haver risco de sermos atingidos por um míssil ou se podemos comer normalmente sem termos que ser alimentados por sonda nasogástrica ou se temos casa e dinheiro para viver condignamente, vamos andar sempre leves e felizes.

Ou se em vez de passarmos os dias inteiros a ver, nas redes sociais, o que fazem os nossos amigos ou familiares, nos juntarmos com eles e conversarmos despretensiosamente, despreocupadamente, também vai ser bem melhor.

O vídeo não tem legendas em português mas como a dicção de Laurie é perfeita e como acredito que muitos de vós não tenham dificuldade, partilho na mesma.

How to be happier in 5 steps with zero weird tricks | Laurie Santos

Às vezes, é muito difícil ser feliz. E há uma razão para isso: o cérebro humano não é programado para a felicidade. Por quê? Porque a felicidade não é essencial para a sobrevivência. Para piorar a situação, a nossa mente pode enganar-nos quando se trata de felicidade, levando-nos a perseguir coisas que não nos farão felizes a longo prazo.

Para resolver isso, a professora de psicologia de Yale, Laurie Santos, recomenda um conjunto de práticas, apelidadas de “religações”. Essas práticas incluem priorizarmos a conexão social, sermos orientado para o outro, focarmo-nos na gratidão e nas bênçãos e incorporarmos exercícios na nossa rotina diária.

Ao entendermos as armadilhas comuns de nosso pensamento e adotarmos novos comportamentos, podemos alcançar a verdadeira felicidade e fazê-la durar. Para Laurie Santos, a felicidade não é apenas um estado; é uma prática contínua.


E já volto com o texto do meu marido

Até já

segunda-feira, agosto 15, 2022

40.000 anos de música

 

Há muitas matérias que escapam ao meu conhecimento. Não consigo guardar memória, não consigo assimilar: ou seja, não dou uma para a caixa. Para meu desgosto, a música é uma delas.

Desde os meus quatro anos em que, debalde, tentaram ensinar-me a tocar piano até ao que, nos anos sequentes, foram tentando ensinar-me, o que sobra é apenas aquilo com que nasci: gostar de ouvir música.

Ter ouvido para identificar compositores, peças, maestros, intérpretes é qualquer coisa que vai para além das minhas capacidades. Só nos casos mais óbvios é que identifico alguma coisa. 

O meu marido, por exemplo, consegue fixar as letras. Do Zeca Afonso deve saber tudo, de a a z, música e letra. Mas mesmo do Fausto ou de outros. Eu zero. Dá ideia que os meus neurónios são selectivos. E digo selectivos para não dizer preguiçosos. Do que se refere a música pouco ou nada retêm. 

Gosto do Tom Waits, Bastante. Mas sei dizer o nome de alguma canção que prefira? Nada. Gosto do Nick Cave. Mas alguma canção.em especial..? Está bem, está. Sei o nome de algumas da Melody Gardot e é um pau. 

Como é que diariamente consigo escolher uma música para aqui colocar, ocorrendo-me o que me parece corresponder ao texto ou à disposição com que estou, é daqueles mistérios que me parece insondável. Parece que o motor de busca é uma extensão de mim e a partir de um nome ou de uma palavra chego lá. Talvez seja aquela sorte que tantas vezes parece guiar os ignorantes.

Mas o vídeo aqui abaixo parece-me bastante interessante.

40,000 years of music explained in 8 minutes | Michael Spitzer

The history of music from bone flutes to Beyoncé.

The evolution of music over millennia is tied to human civilization. For example, hunter-gatherers, who were very mobile, had to have small, light instruments to carry with them. Once we settled into bigger cities, larger instruments could be built.

Today, music is as accessible as running water. But if you were born in Beethoven's time, you would be lucky to hear two symphonies in your lifetime.


domingo, julho 10, 2022

Cérebro meu, cérebro meu, como garantir que, até ao fim, serei sempre eu?

 



De novo um dia muito preenchido. Entre o programa de festas da manhã e o da tarde, tempo para fazer peixe cozido para o almoço (maruca com batata, feijão verde e ovo, temperado com azeite e sumo de limão). Acabámos de almoçar à três e tal e, como a companhia da tarde não chegaria antes das quatro e meia e eu estava que não podia, deitei-me no sofá e liguei a netflix. Para dizer a verdade nem sei se cheguei a começar a ver alguma coisa. Tenho a vaga ideia que sim mas não faço a mínima sobre o que foi. Acordei estremunhada quando eles chegaram. Devo ter dormido uma hora ou quase. Estava mesmo cansada.

O que me vale é que durmo um niquinho e acordo fresca. Mas estes niquinhos não chegam. Sinto que estou a precisar de descansar e o aborrecido é que não estou a ver maneira de consegui-lo nos próximos tempos. Precisava de poder dormir de manhã até o corpo querer, sem despertadores, sem ter que me preocupar com o que tenho que fazer a seguir. E precisava que isto pudesse acontecer durante vários dias seguidos. Precisava também  de dormir a sesta todos os dias durante vários dias. Claro que também era bom que conseguisse passar a deitar-me mais cedo. Só que este bocado, à noite, é o meu tempo, o bocado em que estou sozinha, sem ter mais nada que fazer senão o que me apetece. 

Outro que está como eu é o dog. Com este calor só lhe apetece descansar à fresca e ou somos nós que saímos e o levamos ou é a animação que vem até nós. Acresce que o cão da casa ao lado o tira totalmente do sério. Aliás, o cão não faz quase nada. Mas existe e é carismático e isso perturba a existência do nosso cabeludo. Corre, salta e ladra freneticamente durante tempos e tempos. Não consegue descansar de dia e, chega a esta hora, e deixa-se cair, completamente desfeito.

Mas a tarde foi boa, a companhia animada. E deu até à noite. Estivemos na rua até talvez às dez. Depois de um caloraço durante o dia, pôs-se muito bom para a noite, uma temperatura agradável, uma levíssima aragem a refrescar o ambiente. As luzinhas solares são o máximo, criam uma onda acolhedora. Para além disso, são fotogénicas. Hei-de fotografá-las para vos mostrar. 

Uma noite de verão assim é uma maravilha. Infelizmente sabemos que se há casos em que as aparências iludem este é um deles. 

As temperaturas anormais e persistentemente altas como corolário de um ano demasiado seco mostram o que serão os calores cada vez maiores e mais frequentes, os riscos cada vez mais intensos de incêndios difíceis de controlar e o devastador problema da falta de água. Ou acordamos seriamente para a necessidade de puxar pela cabeça, da ciência dar as mãos à tecnologia e de arregaçar as mangas ou o país tornar-se-á um lugar não apenas perigoso como francamente inóspito para algumas espécies, nomeadamente para a humana. 

Mas, enfim, adiante.

Na sexta, o meu filho não perdeu os Metallica e, neste sábado, foi a minha filha que me falou no imperdível concerto dos Da Weasel. E disse-me que se podia acompanhar na rtp. Desconhecia. E, por isso, quando chegámos à sala, foi na rtp 1 que nos sintonizámos. Já ia adiantado mas, até ao fim, não despegámos. Muito bom. Fabulosa energia.

Pasmo com a incrível multidão que ali esteve, unida, em comunhão, vibrando com o potente som e a muito boa vibe daqueles matulões da margem sul. E estão melhores, muito melhores. Ganharam uma outra dimensão. 

Agora, enquanto escrevo, actuam os Two Door Cinema Club. Nunca tinha ouvido. Estou a gostar. Estou a escrever e a dançarinhar ao mesmo tempo. No recinto mantém-se uma multidão.

Dá ideia que a malta se marimbou de vez para a covid, se marimbou para distanciamentos e para a vida em suspenso. A malta quer é curtir, quer é viver em liberdade. A vida é uma coisa extraordinária.

Há pouco, enquanto a Filomena Cautela enchia chouriços com uns bacanos, dei uma volta pelo youtube. E vi este que aqui partilho e que, lamentavelmente, não tem legendas em português.

Explica o que é a doença de Alzeihmer e, de certa forma, como tentar preveni-la. Nada de novo: fazer exercício, ter uma boa alimentação, em especial na base da dieta mediterrânica, conviver, evitar o stress prolongado, aprender coisas novas e... dormir o suficiente. Pode não trazer novidades espampanantes mas é claro e bem sistematizado. Recomendo-o.

Lembro-me da minha avó paterna. Para o fim, de vez em quando tinha alguma perturbação que a fazia ter comportamentos algo estranhos, deixando-nos desconfortáveis, sem sabermos como deveríamos agir. O meu avô fazia por ignorar. Eu tentava relativizar. O meu pai não. Reagia como se ela estivesse normal, zangava-se. Lembro-me de uma vez estarmos em casa dos meus pais e de ela e o meu avô lá estarem também a almoçar. Ela queria ir, a seguir, a casa do seu outro filho, o meu tio, e estava preocupada que se fizesse tarde. E, então, por mais do que uma vez, levantou-se da mesa com a intenção de se ir embora. O meu pai irritava-se, que estivesse a almoçar sossegada, onde é que ia?, todos à mesa e ela naquele disparate, o irmão sabia que ela lá ia, não ia sair, ela que tivesse calma. Ela não respondia mas estava ansiosa. Sentava-se, comia mais alguma coisa e, de seguida, voltava a levantar-se e a dirigir-se para a porta. Aquilo fez-me muita impressão. Fez-me também muita impressão ver como o meu avô assistia com aparente indiferença mas não era indiferença, era impotência. Em vão, tentava que aquilo nos parecesse normal ou irrelevante. Muito triste.

Outra vez perdeu completamente o conhecimento. Partiu uma perna, foi operada. A seguir apanhou uma pneumonia. Esteve muito mal. O hospital fez-lhe também mal. De alguma confusão inicial passou para a total ausência de tino. Não dizia coisa com coisa nem conhecia ninguém. Os médicos diziam que era normal as pessoas ficarem confundidas em situações assim. Não era aconselhável que tivesse muitas visitas pois ainda mais baralhada ficava mas os meus pais disseram que não sabiam como é que a situação ia evoluir pelo que era melhor eu ir lá. Não conhecia ninguém. Mas mal me viu, reconheceu-me: 'Olha a minha menina, a minha querida', disse o meu nome e abraçou-me e beijou-me muito. Estava quente, febril. Foi uma sensação estranha pois comigo falava normalmente e com as outras pessoas era o vazio. Não sei se teve Alzeihmer ou um outro tipo de demência ou se era fruto de AITs que na altura não sabíamos que tinha, só o soubemos quando teve um AVC que viria a ser fatal.

Com o meu pai foi diferente. Foi o AVC que lhe varreu o cérebro e o deixou com sérias limitações. Estava lúcido e com excelente memória mas foi perdendo a audição, depois a visão. Depois ficou acamado. E muito medicado. De vez em quando passava por períodos muito complicados. Até que se acertasse com a dosagem era, por vezes, um calvário. Chegou a perguntar se já tinha morrido. Nem sabia se estava vivo. Muito complicados esses períodos. Quando ficava lúcido, pedia para o deixarmos morrer. Muito difícil. Por isso, para o fim quase só dormia e a comunicação era quase nula. Também quase não falava, estava com sonda gástrica e com oxigénio em permanência. Se calhar, para ele foi melhor não assistir lúcido ao inevitável desenlace.

Talvez por estes dois casos próximos, a falta de lucidez, a dependência e o declínio que acompanham as limitações mentais assustam-me bastante. E gosto de me informar.

Espero que também achem útil.

5 ways to build an Alzheimer’s-resistant brain | Lisa Genova

Only 2% of Alzheimer’s is 100% genetic. The rest is up to your daily habits.

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Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, outubro 16, 2021

Os broches estão outra vez na moda?
O Rangel é o homem de que Portugal precisa?
Porque é que tantas pessoas têm empregos da treta?

 


Começo a escrever quando ainda é sexta-feira. Ora as sextas-feiras produzem um certo efeito em mim. Não é tanto o espírito desorbitado das black fridays mas mais o desenfreado de thank's god it's friday

Dantes, às sextas à noite, ia às vezes dançar até às quinhentas ou, mais recentemente, jantar e passear na praia. 

Agora, apesar de ter mudado substancialmente os meus hábitos, chego ao fim do meu dia de trabalho à sexta feira e apetece-me chutar a bola para bem longe, para o alto, desatar a correr, atirar-me de mergulho, furar as ondas, voar -- coisas assim.

Claro que agora só o faço com palavras e, portanto, onde vos parece uma sucessão de palavras iguais a tantas outras usadas ao longo da semana peço a vossa generosidade para acreditar que, sob elas, se esconde a minha vontade de sacudir a plumagem, de uivar na noite, de rastejar como um tigre azul, de açoitar a monotonia dos dias e saudar a noite que chega.

Para hoje não tenho, pois, tema arrumado. Trago antes três perguntas, qual delas a mais profunda. Nada têm umas a ver com outras e haverá até quem não ache de bom gosto misturar no mesmo post o Rangel, broches e ocupações da treta. Mas numa sexta a derrapar para sábado poderá exigir-se mais a uma pobre de espírito como eu?

Primeira pergunta: 

É verdade que os broches estão outra vez na moda?

Eu diria que nunca de lá saíram mas, já se sabe, cada um é como cada qual e, além do mais, gostos não se discutem. 

Uma vez, ia num autocarro apinhado a caminho da escola onde dava aulas. Ia com a minha amiga Fátima, também professora e alentejana dos quatro costados, voz desempoeirada e bem colocada. Íamos na conversa, daquelas conversas que não se recomendam muito menos a duas professoras rodeadas de testemunhas. E, então, sai-se ela com esta: 'É como os broches. Nunca ninguém os faz mas a verdade é que eles aparecem feitos'. Até hoje não me esqueço. Desatei a rir e tenho a certeza que todos os que nos rodeavam fizeram o mesmo. Ou, então, não. Se calhar ficaram escandalizados perante tal declaração. Devo ainda ter dito para ela falar mais baixo, coisa que nela não deve ter produzido efeito algum. 

Eu sempre gostei deles, dos broches. Houve alturas em que preferia os bem aparatosos. Ultimamente já mais comedida, ia na coisa em clássico. Também já estive virada para as obras de autor, coisa artística mesmo.

Mas depois a simplificação nos hábitos levaram-me a optar pela discrição, coisa que mal se desse por ela.

Pois bem. Qual o meu espanto quando agora leio que os broches voltaram a estar na moda. E já não se fala em broches mas em neobroches. Gosto. Neobroches parece-me daquelas de que não apenas podemos encher a boca (a falar deles) como os poderemos ostentar orgulhosamente (na lapela). Sou dada a novidades e quanto mais inesperadas melhor. Versatiles, ces néobroches viennent corser les blazers féminins et masculins. É que nisto, como em tudo o mais nesta vida, há que não haver discriminação de género. Broches são broches são broches, seja para homem seja para mulher. 

(Artigo completo para poder conferirLa broche de grand-mère fait-elle son grand retour mode ?)

Segunda pergunta: 

Rangel está a chegar-se à frente no PSD porque acha que o país pode vir a querê-lo como Primeiro-Ministro?

Eu diria que só se os portugueses estivessem todos com os copos quando fossem votar nas legislativas. Ora não acredito. Impossível que uns quantos milhões de portugueses se apresentassem a votar com uma valente piela. 

Claro que há os burros de nascença que não se importam de votar na primeira galinha que lhes apareça à frente. Depois há os que já estão bem aviados de demência e não sabem a quantas andam, botando a cruz onde calha (e algumas lá lhe calhariam). E há, claro, concedo, os que votam depois de almoço e vão para a mesa de voto sem se lembrarem bem do que querem nesta vida nem conseguirem ver bem o que corresponde a cada quadrado. Portanto, alguns votos o Rangel talvez conseguisse ter se algum dia se apresentasse a votos nas legislativas. Mas mesmo levado ao colo pelo Expresso e demais comunicação social, com o Relvas a mudar-lhe as fraldas, com o láparo (agora em versão neo-taliban) a dar-lhe o comer à boca, com a múmia paralítica a sair da tumba para o benzer, e mesmo somando os burros, os dementes e os embriagados, ainda assim acho que o Rangel não conseguiria ter mais votos dos que o meu neto que é sub-delegado de turma teve. Até porque uma coisa é certa. Se há coisa de que o país não precisa é de um vulgar trauliteiro, de um histérico encartado, de um totó armado em fracturante, de uma irrelevante figura que melhor estaria num livro do Eça do que na vida política real.

Terceira pergunta: 

Porque é que tantas pessoas têm trabalhos da treta?

O tema agora apenas é apropriado a uma sexta-feira pois o que aqui se defende é coisa das boas. Mas é coisa séria e para levar a sério. Trabalhar apenas no que se gosta e apenas o estritamente necessário -- é o tema. Por exemplo, nos serviços, reduzir o horário semanal a um máximo de vinte horas (acho que esta não é aqui dita no vídeo, esta sou eu a dizer). Anular as tretas, as tarefas inúteis. Organizarmo-nos para que sobre sempre tempo para a vida pessoal, para o lazer. Não é possível em todas as áreas. Sempre que é necessária mão de obra especializada e escassa, não é possível. Mas então que esses sejam bem pagos por terem que trabalhar o dobro dos outros.

Claro que não é tão simples assim e claro que, para lá se chegar, há muito a planear, muito a ajustar. Mas, quando se quer uma coisa, geralmente basta trabalhar para isso.

Mas o melhor é ver  vídeo. Para quem prefere ler, transcrevo:

Our society is fixated on working. Some of us work 80 hours per week at jobs that don’t fulfill us simply for work's sake. Expert anthropologists, such as James Suzman, even go as far as to say that many of the jobs we work could be considered "bullshit jobs" - a complex job that is not entirely needed in the workforce. These jobs are created and executed because our culture, and lifestyle, are organized around the 8-hour workday. 

So why do we work "bullshit jobs?" Many economists would say it is to fix the problem of scarcity. But what many do not know is that in our society, we passed the scarcity threshold in 1980, and most everyone has their basic needs met. So much so that more food goes into our landfills than goes into our stomachs. If scarcity is no longer an issue, why are we still working over 40 hours per week? It's because people have a humane instinct to work and be productive. 

If the 40-hour workweek is no longer serving our society, could we be approaching a new economic utopia? Suzman thinks so. In the present day, especially since the COVID-19 pandemic, many workers are turning away from unfulfilling jobs and diving headfirst into their hobbies - cooking, writing, painting, and creating. If we keep on this path, our entire economic system is bound to change, making for a richer world where everyone does the work they want to be doing. 


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Desejo-vos um belo sábado