Foi um choque.
Era uma escrita visceral. Alguém escrevia como a gente pensa e sente mas não diz. Lia aquelas palavras sem conseguir compreender como era possível uma escrita assim. Era tudo muito íntimo, muito drástico, muito cru e, ao mesmo tempo, muito vital. E muito espiritual.
Não sei o que diz dela quem sabe o que diz quando se fala de um escritor como Clarice. Não sei, pois, sei se estou a ser correcta no que digo. Posso estar a ser parcial, imprecisa, a ver apenas uma ínfima parte do que há para ver, posso estar a exprimir-me mal. Mas, sinceramente, não sei como melhor dizer o que acho da escrita desta escritora que situo acima do comum dos mortais. Dá ideia que levita, que a banalidade do mundo não a interessa, que ignora a superficialidade, que paira num outro mundo, tão ausente depois de morta do que era quando viva.
Para se gostar dela tem que se ter o coração e a mente disponíveis. Tem que se ter vivido. Tem que se ter conhecido qualquer coisa do mundo. Tem que se ter tempo para a acolher.
Gostava de a ter conhecido. Gostava de ter podido estar na sua presença, conversar com ela. Gostava tanto.
Por isso, gosto de ler e ouvir sobre ela. A palavra a quem a conheceu: alguns que encontrei. Espero que gostem. E, para quem ainda não leu nada dela, espero que fiquem com vontade de ler.
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