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quarta-feira, junho 03, 2015

Augusto Santos Silva na TVI 24 e Francisco Seixas da Costa na RTP 2. E, de raspão e em contraponto, O piqueno polegar também conhecido por pequeno Bruxo de Fafe, a Senhora Cristas e o Paulinho, o Larápio das farófias e a sua biografia, o super-Alex, o pai da criança e outros. E, dito isto, e sem saber se em Portugal ainda há alguma coisa que seja dos portugueses, tenho que ir para a Porta dos Fundos.


Este é o meu 4º post desta noite. Os três que se seguem usam matéria que recebi de Leitor a quem agradeço e a que, depois, acrescentei o meu tempero pessoal.
Quem por aqui me veja assim, toda produtiva e eficiente, não poderá imaginar como, a esta hora do dia, nem posso já ouvir falar de tais palavras. Mas, enfim.
Ando numa fase que não dá para explicar e de que nem gosto de falar para não azucrinar a cabeça a quem gostava de ter trabalho e não tem (e, que fique claro, não me estou a queixar pois tenho é que dar graças por ter trabalho; razões de queixa têm todos quantos gostariam de trabalhar e não encontram onde).

Mas, pela fase que atravesso, não sei de notícias, não sei de nada e, aqui chegada, nem paciência tenho para me ir pôr a ler notícias pífias que envolvem criaturas pífias. E de tal forma tenho a cabeça feita em água que, no carro, só consigo ouvir a Antena 2 e, vá lá, vá lá, de vez em quando a Smooth FM.
No entanto, enquanto escrevo estou a ouvir o Augusto Santos Silva na TVI com o Paulo Magalhães. Dá gosto ouvir gente inteligente. Irónico, truculento, arguto, Augusto Santo Silva é daquelas pessoas que dão gosto ouvir. Não as poupa, dispara certeiramente e, se necessário for, a seguir esboça um sorrisinho de quem está mais do que pronto para outra.
Hoje, ao vê-lo a disparar, num só movimento, contra Cavaco, Governo, e Carlos Costa só me fez lembrar o Jake de Silverado



Queria aqui colocar
aqui uma fotografia
de Seixas da Costa
mais desconstruída mas não encontrei.
Tive eu que lhe dar um toque,
warholiando um pouco as cores.


Também, há bocado, enquanto jantava, tínhamos a televisão ligada na copa e ouvi outra pessoa que tem um raciocínio e uma linguagem crystal clear: Francisco Seixas da Costa. 


No que ele diz tudo faz sentido, tudo se compreende. Além do mais, estando eu em sintonia com o que diz, ainda maior prazer tenho em ouvir uma pessoa assim. 


Tomara que leve a sua intervenção cívica um pouco além e o tenhamos como ministro dos Negócios Estrangeiros no próximo governo.



....


Mas, ia eu dizendo, portanto, que tenho vivido uns dias repletos que nem ovos, meio fora do mundo do dia a dia e das tricas partidárias.

Também não tenho ouvido comentadores, papagaios avençados e outras aves de fraca plumagem. E, portanto, posso estar para aqui descansada e, entretanto, os chineses já terem comprado o Novo Banco e levado o Banco de Portugal com o titubeante Costa e o esperto Varela lá dentro como bónus, ou algum brasileiro já comprou a TAP e levou o super bock Pires de Lima de brinde, ou, sei lá, alguns russos, às tantas, já compraram o Metro e a Carris e levaram o Museu dos Coches e o Palácio de Belém (com o Cavaco, a Maria e um casal de cagarras lá dentro) de bónus. Não me parece nada improvável, nada mesmo.

Não sei também se algum dos pimpolhos da Senhora Cristas já tomou o CDS de assalto e se, a esta hora, o Paulinho das Feiras, destituído, já está algures a vender sorvetes na neve ou, até, se o Láparo não estará numa banquinha da Feira do Livro a autografar a sua biografia ou até, sei lá, a vender farófias nalguma caravana na mesma Feira do Livro. Tudo me parece provável.

Nem sei se o senhor com ar de ciclista reformado que comprou a PT como quem compra uma sapataria de rua, agora que já acabou com o nome da empresa (e quantos rios de dinheiro se esbanjaram, nos good old days, em nome do goodwill da marca PT...), já encontrou alguém para presidente da empresa ou se aquilo já nem de presidente precisa. Ou se está é à espera que a tropa fandanga do desgoverno vá à vida nas eleições e aproveite algum deles, o Sérgio Monteiro por exemplo. É bem capaz de ser isso, às tantas já está a apalavrar algum. Não me parece improvável.

E eu aqui nisto, completamente out, sem fazer a mínima de coisa nenhuma. Sei lá até se o país já foi anexado por alguma organização secreta, aquela que anda a vigiar o super-judge Alex.

Eu sei lá, sei lá (quem é o pai da criança).


Adiante.

Como no sábado também não vi o Piqueno Polegar Show com o pequeno Bruxo de Fafe, não ouvi nem os seus ladinos comentários sobre o sucedido transactamente nem as suas previsões larocas para esta semana. Estou aqui, portanto, completamente, mas completamente, às escuras. 

Por isso, não podendo eu falar sobre nada do que está a dar, vou pregar para outra freguesia. Tenho que ir.

E vou bem acompanhada, com os meus amigos da Porta dos Fundos (e não liguem à cena, que não tem a ver com nada -- já ontem vos disse que ando numa de nada a ver com nada e, quanto mais nada a ver com nada, melhor eu me sinto.)

Ora bem.

O texto de apresentação do vídeo 'Tenho que ir' reza assim:

Vale tudo para garantir uma transa. Quem nunca mentiu sobre quem somos, achou graça em coisas chatas, fingiu que assiste novela ou que curte Jorge Vercilo? O problema é que depois da gozada vem aquele momento de clareza e sobriedade, e você se toca que aquela pessoa já tá com a conchinha armada do seu lado.



...

Se me permitem a sugestão, não deixem de ir deslizando por aí abaixo porque há para todos os gostos.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.

E boa sorte, saúde e alegria para todos.

...

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Duarte e Leonor (as coisas começam a complicar-se)





Dia de reunião de Direcção. Manel à presidência, o Dr. Lampião de um lado, Leonor do outro e todos os restantes à volta da grande mesa oval.

Os dados da empresa são apresentados, as vendas, os custos, as margens, a evolução dos projectos, elementos relativos a recursos humanos, a assuntos jurídicos e fiscais. Cada um se vai pronunciado sobre a sua área, a reunião vai avançando.


Quando chega a vez de Duarte, que está anormalmente mal humorado, as coisas começam a complicar-se. Engana-se, faz afirmações que não consegue sustentar, desculpa-se sem fundamentação, não consegue explicar porque continua aquém dos objectivos e tudo debaixo de um nervosismo que chega a incomodar. Quando o presidente o confronta e lhe pede que tente conduzir os assuntos de outra forma, com uma inesperada agressividade responde que só se receber ordens por escrito. Os outros entreolham-se, o clima não costuma ser este, as coisas andam complicadas, toda a gente o compreende, mas Duarte parece não se esforçar, ou não se empenhar suficientemente. Parece que há ali qualquer coisa que não anda a bater muito certo.

Quando diz aquilo de querer ordens por escrito, faz ao mesmo tempo um gesto brusco, como que com vontade de se levantar. Nessa altura, toda a gente em silêncio, Manel diz secamente, Duarte, se não estás bem mais vale que saias da sala.

Duarte levanta-se precipitadamente quase fazendo cair a cadeira e sai, batendo com a porta.

Leonor troca olhares de espanto com Afonso e com o Dr. Lampião. Qualquer coisa se está a passar.

A reunião prossegue sem que ninguém comente o que se passou. Dir-se-ia que nada de incomum aconteceu, todos aparentam a serenidade usual.

Quando a reunião está prestes a terminar, abre-se a porta e eis que Duarte está de volta, sorridente, bem disposto, aquela alegria esfuziante tão sua característica, ainda com o sobretudo, cachecol e óculos de sol, despenteado, percebe-se que deve ter ido dar uma volta. Manel pergunta-lhe, Então, já esfriaste as ideias? 

Duarte riu, bem disposto como se estivesse a entrar de novo e viesse para a paródia, Peace and love. Dei vinte voltas ao quarteirão e, com o griso que está lá fora, esfriei logo a cabeça. Estava na esperança que já tivessem acabado para desandarmos daqui e nos irmos atirar ao bacalhau da ordem.

Manel manteve-se sereno, Estamos quase.

Até a reunião acabar, Duarte mexeu-se na cadeira, puxou as meias bem até aos joelhos, fez desenhos, meteu-se com os colegas do lado, bebeu água como se não houvesse amanhã, piscou vezes sem conta o olho a Leonor. 

Afonso disse, Este gajo tem bicho carpinteiro. Manel riu-se na direcção de Duarte, Eras hiperactivo em criança se bem me lembro, certo? 
- Hiperactivo e precoce. Lembras-te da prima Zezinha?
Manel sorriu, Está calado e presta atenção senão terei que te convidar outra vez a ires dar outra curva.

Quando a reunião acabou e iam a pé para o restaurante, Leonor ia conversando com o seu amigo Dr. Lampião, como ela lhe chamava. Viu bem aquele despropósito, Leonor?

Estranho, não foi? As coisas não andam bem com ele. Será que está com algum problema? Primeiro num nervosismo que até contagiava, a seguir entra numa euforia disparatada. E os resultados na área dele andam péssimos e, sinceramente, ainda não consegui perceber bem porquê.
- O Manel tem uma paciência ilimitada com ele.
São primos, é natural que tente não arranjar problemas. É o mal de ter família próxima nas equipas. Ainda por cima o Duarte parece que anda nem sei bem como dizer, desorbitado ou lá o que é.

Estavam eles nisto, aparece o Duarte por trás, põe-se entre os dois, um braço por cima dos ombros de cada um, todo brincalhão, Então os pombinhos…? E dirigindo-se ao colega mais velho, Um dia ainda vou dizer à Maria Alice deste seu affair aqui com a nossa brasa.

Leonor, nem reagiu habituada que está a brincadeiras deste tipo, mas perguntou, Mas então, Duarte, que diabo foi aquele desacerto ao princípio? Passou-se ou quê? E era lá caso para isso? Não percebi.

Duarte riu-se, TPM, Leonor, TPM. Não dizem que toda a gente tem os dois sexos? Pois bem, eu tenho o meu lado de gaja muito activo nestes dias, fico com uma neura que não lhe digo nada. 

E afastou-se a rir para se ir meter com outro. Leonor chamou-o, Espere. Daqui a nada vou ter consigo.

Duarte riu-se, Com certeza. Vou estar à sua espera. Para não darmos nas vistas, desta vez pode ser naquele hotel da Praça de Espanha?

Leonor sorriu e respondeu, Não me confunda com a sua namorada. ... Praça de Espanha, então? É lá que se encontram? … Mas agora a sério, depois de almoço vou lá ter ao seu gabinete.

Simulando desilusão, ele respondeu, Pronto, se não quer ir ter ao hotel, recebo-a nos meus aposentos. Mas vou ter a lareira acesa para estarmos mais confortáveis, pode ser? E lá foi, rindo, fazendo-lhe adeus, e a meter-se com toda a gente.

Leonor fez-lhe também adeus na brincadeira. E tranquilizou-se. Bem disposto como Duarte estava, a coisa iria, certamente, ficar resolvida.

O almoço foi a boa disposição de sempre. Ninguém abordou, nem sequer ao de leve, o destempero matinal de Duarte.

Entre Leonor e Afonso não transpareceu mais intimidade do que entre quaisquer outros. Manel também não demonstrou qualquer acinte em relação a Duarte e este também não mostrou nem sombra de constrangimento pelo sucedido. O normal, portanto: gente civilizada é assim.

Depois de almoço, tal como combinado, Leonor dirigiu-se ao gabinete de Duarte. Estava ao telefone, todo divertido, contando piadas, rindo. Fez sinal a Leonor para se sentar na mesa de reuniões.

Quando acabou o telefonema, Leonor perguntou, Então, Duarte, é hoje?

Ele sentou-se à sua frente, sério, ar de quem se ia confessar.

Não vai acreditar, Leonor, mas não tive tempo. Não queira saber, aqui, como sabe, é um stress, só chatices, só reuniões, almoços, jantares, um pincel, e em casa, ou é a minha sogra com achaques, ou é a minha mulher que já nem dorme à espera dos telefonemas da mãe, ou são os miúdos, um que chega às tantas da manhã e se balda às aulas, outro que tem treino nem sei onde, ela que muda de namorado como de toilette, ou se põem a discutir uns com os outros e todos com a mãe, uma tourada. Tive lá eu tempo de tratar daquilo… Ora! E não tem mais nada com que se preocupar? Mas também qual é a pressa, Leonor? Já agora gostava de perceber.

Leonor levantou-se, Qual é a pressa? Eu não quero acreditar, Duarte! Está a gozar comigo? Sabe o que é que começo a achar? Que a coisa é séria. E, se é séria, não vai ser ao meu nível que se vai resolver.

Duarte pegou nos papéis que estavam à sua frente e afastou-os com violência. A ameaçar-me? Tem graça isto: a Leonor a ameaçar-me! Ao que chegámos…!

Leonor manteve-se imperturbável. Isto está a arrastar-se para além do razoável. Tenho vindo a dar o tempo que tem pedido mas acho que já passou tudo o que é normal. Não dá, Duarte. O que se passa? 
- Não passa nada, caraças!
Caraças?! 
- Sim, Leonor, caraças. Vá para o caraças!, e já aos gritos.
Mas você está doido… Está com algum problema, Duarte?
- Não me chateie. Não tenho problema nenhum. Ou melhor: tenho um problema sim. Chama-se Leonor. Olhe, ponha-se mas é  fora do meu gabinete.
Leonor saíu, tentando conter o nervosismo. Alguma coisa se estava a passar com Duarte, agora já não tinha dúvidas. Que situação. E agora?

Quando foi ter com o seu amigo para trocar impressões, já ele tinha saído. A Secretária disse, Já lá foi de férias, todo contente por ir rever o neto. Leonor sorriu mas pensou na falta que ele lhe ia fazer com os seus preciosos conselhos - conselhos sempre short and sharp mas infalíveis.

Leonor estava francamente preocupada, sem saber o que fazer. Sem querer contar a ninguém, não parava de pensar, um pouco atordoada, Que situação... Caraças!


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  • Este episódio vem na sequência de um outro, um bocado lá mais abaixo, intitulado 'Leonor, a mulher' que, por sua vez, já era sequência de outros. 
(De vez em quando dá-me para escrever em directo, sem rede, estes folhetins blogosféricos. Cada maluco com a sua maluquice.) 

  • A música lá em cima é Katie Cruel interpretada por Agnes Obel  

  • Permito-me informar que, já aqui abaixo, poderão ler, ouvir e ver um interessante testemunho sobre a perigosidade da austeridade. É Mark Blyth e podem crer que ele sabe do que fala.
  • E, como se não bastasse, muito gostaria ainda de vos convidar a irem de passeio até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje, para além da boa música e vozes africanas, tenho as palavras voadoras sem tecto, sem chão, sem dono, de E. M. de Melo e Castro e o que eu gostei de andar de balouço com ele nem vos conto.

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E, por hoje, por aqui me fico. 
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma semana muito boa a começar já por esta segunda feira. 
Apesar de fria e de ser segunda feira, um dia sempre ingrato, pode ser boa - porque não?

quinta-feira, novembro 28, 2013

Leonor, Duarte e Afonso.





Duarte, que é Duarte Maria, transborda de energia. Onde chega espalha charme, alegria, distribui piropos às mulheres, dá palmadas nas costas dos homens, diz piadas, senta-se à secretária e roda-se na cadeira, pede café, pede telefonemas, chama colaboradores ao gabinete, responde a mails e, pelo meio, ainda consegue enviar sms picantes à namorada.

Escusado será dizer que as mulheres se derretem com ele. A idade nele é um luxo que veste com a mesma elegância com que veste fatos feitos por medida, camisas com monograma, sobretudos que lhe caem como a um modelo Armani.

A manhã foi passada no frenesim habitual, a Secretária numa azáfama. As outras invejam-na. Não há por ali quem tenha melhor chefe que ela. Ele repara no que ela traz vestido (e o que ela se produz…), repara no corte de cabelo, repara se a pintura ficou um tom acima ou abaixo (Olhe que o cabelo mais claro a torna parecida com aquela daquela série, e toda ela se enleva; ou, Sim senhor, mais morena… e nem sei se não lhe fica melhor…, e ela sente-se aliviada porque aquela cor não deveria ter ficado tão acentuada), elogia-lhe os sapatos, detendo-se a olhar para as pernas e ela até acha graça a tanto descaramento, desfaz-se em mesuras de cada vez que lhe pede mais um café, pergunta-lhe pelo filho, pergunta-lhe pela mãe e tudo no meio de telefonemas e outras conversas.

De cada vez que ele, apressado, passada longa, atravessa o open space o mulherio estremece. E à sua passagem fica um rasto de perfume e sedução.

As picardias entre Duarte e Leonor são conhecidas. Dir-se-ia que há ali uma relação de amor-ódio que os anos não resolvem. Profissionalmente têm desentendimentos e discussões que ficam para a história da empresa. Ela acha-o superficial, gabarolas, gosta de armar show off, diz-lhe a ele próprio que ele se acha melhor do que aquilo que é. Ele diz-lhe que ela é intolerante, germânica, militarista, insuportável. Ela gosta de tudo bem explicado, gosta de avaliar planos antes de avançar, gosta de cumprir ao milímetro os planos e não tem paciência para as ligeirezas e imaturidades dele - isso é um facto.

No entanto, é reconhecido que se admiram mutuamente e que, até, se estimam. Mas, vá lá saber-se porquê, de vez em quando fazem faísca de uma maneira que os outros até se afastam. Deixá-los, dizem os outros, que se entendam.

De tarde, Leonor avançou para o gabinete dele. A Secretária apareceu para saber se queria um chá, Leonor disse que sim, de camomila. A Secretária disse, O doutor foi só ali, não deve demorar. 

Leonor percebeu que teria ido à casa de banho. Tinha-o visto a chegar de almoço.

Pouco tempo depois chegou ele, todo gingão, todo na animação do costume. Desatou-se a rir. Ela riu também, Qual a piada?

Mandaram-me uma coisa por mail e estava a lembrar-me: como noticiariam hoje os nossos media a história do Capuchinho. 
- Como era?
Não me lembro de tudo. Mas, ao dizer isto, já se ria como um perdido. Leonor também já se ria.
- Vá, diga lá…
Por exemplo: o Correio da Manhã diria ‘Governo envolvido no escândalo do Lobo’ e, ao dizer isto, ria-se à gargalhada. 

A revista Maria diria ‘Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama’ e já chorava a rir, e só de o ver a rir assim, também já ela se ria de gosto. Com muito esforço, ele continuou, Ou a Bola, ‘Lobo Mau será reforço de inverno na Luz’

Entretanto a Secretária chegou com o chá para Leonor e um café para Duarte e interrompeu a galhofa.

Duarte, entretanto assoava-se. A Secretária disse, O doutor continua com alergia…’. Duarte explicou, Não, estou bem, é de me ter estado a rir.

Quando a Secretária saíu e ele se voltou a sentar à mesa, Leonor disse-lhe, E sobre aquilo de ontem?

Duarte, de repente entre o nervoso e o agitado, Já disse que é um mal entendido qualquer. Não me lembro bem o que terá sido mas dê-me tempo que eu explico tudo. Não vale a pena dramatizar uma coisa que é uma porcaria sem importância nenhuma. Não sabe como tem sido a minha vida? Road shows, reuniões e mais reuniões, um dia cá, outro noutro sítio… 

Leonor mostrou boa cara, Não estou a dramatizar. Se alguém dramatizou a coisa, não fui eu, pois não? Um ataque de histeria ou o que foi aquilo e eu é que dramatizo? Ora, poupe-me. Resumindo: vai explicar ou resolver ou o que for, certo? Até quando? Até amanhã?

Duarte, ar aborrecido, Até amanhã? Está a brincar comigo ou o quê? Até amanhã? E fica você agora aqui a aturar os chatos que aí vêm? Ou vai você com eles à noite ao Eleven? Poupe-me você. Para a semana a coisa está esclarecida e até lá deixe-me trabalhar em paz que é aquilo de que preciso.

Leonor levantou-se e com uma voz muito calma respondeu. Na segunda feira venho aqui ter consigo e fechamos o assunto.

Passado um bocado, depois de ter feito um breve ponto de situação com os colaboradores mais directos, Leonor voltou para o gabinete.

Pouco tempo depois entrou Afonso. Esteve com o Duarte, não esteve?

Leonor respondeu, Bolas. Temos controlo operário, ou quê? 
- É, não operário mas da NSA, e dizendo isto, riu-se e fez adeus para o tecto como se por ali estivessem a ser filmados, espiados.  Mas, depois, continuou. Olhe, ele falou-lhe em alguma coisa do que se passou?
De que é que está a falar?, perguntou Leonor e via-se que tentava disfarçar a curiosidade.
- Hoje de manhã, estava eu no gabinete do Manel, ligou-lhe aquele japonês que cá esteve a semana passada e parece que disse qualquer coisa do Duarte que deixou o Manel em polvorosa. 
Sim? O que foi?
- Não sei, não me contou, mas ficou para morrer. O Duarte a si não tocou no assunto?
Não. Estava na maior das boas disposições.
- Ah, isso anda ele sempre. Aliás demais para o meu gosto.
Não seja implicativo. Olhe, mais logo vem comigo?
- Mas vai? Mesmo? Tem a certeza disso?
Claro!
- Claro...!? Não sei se é assim tão claro. Com um frio destes, ir andar para a beira do rio à noite não sei se é boa ideia.
Eu vou. Você se quiser venha, se não, tudo bem. E agora vá-se embora que tenho que trabalhar.


*

> Para os new comers: este episódio vem no seguimento do de ontem, intitulado, 'Leonor em toda a sua nudez' que, por sua vez, já era seguimento de outro.

> A música é Another Brick in the Wall dos Pink Floyd (vejam vocês bem do que eu me fui lembrar)

> Informo também que, fresquinhos, fornada do dia, há mais 3 posts por aí abaixo e são para todos os gostos (digo eu).

> Muito gostaria ainda de vos convidar a visitarem-me no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde hoje Benjamin Schmid tem uma nova excelente interpretação no violino e José Agostinho Baptista me leva a percorrer corredores vazios cujo chão está repleto de pétalas secas de uma certa rosa.


Nota: Estou perdida, completamente perdida de sono, não vou rever o que escrevi mas aviso já que pode muito bem estar carregadinho de gralhas de toda a espécie. Relevem, está bem? Amanhã ao fim da tarde logo tentarei rever.

*

E pronto, c'est ça. Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela quinta feira.