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sexta-feira, setembro 12, 2025

O palerma dos hambúrgueres, a última sondagem, o brutal ataque à democracia a que se assiste nos Estados Unidos... e etc.

 

Depois de ter escrito o post de ontem sobre os atentados à racionalidade, à justiça, à ética, ao decoro, à verdade (e a tudo o mais que queiram juntar) por parte de muitos militantes do Chega, chegou a notícia de que um ex-dirigente do Chega quer pagar para evitar julgamento por prostituição infantil. Ou seja, quando se julga que é impossível piorar, piora mesmo. 

Depois veio o momento caricato do Ventura -- naquele seu tom indignado, superior --, a vir divulgar que o Chega tinha votado contra a ida de Marcelo ao Festival dos Hambúrgueres, até porque, diz ele, é inadmissível que os impostos dos portugueses sirvam para pagar tamanho disparate. Como já foi amplamente parodiado, confundiu a Festa dos Cidadão com um festival de hambúrgueres. 60 carneiros sentados no nosso Parlamento e que estão a ser pagos com o dinheiro dos nossos impostos votaram com as patas, sem saberem o que estavam a votar.

Tendo sido ridicularizado por todo o lado, o que fez Ventura? Pediu desculpa? Não, senhor. Disse que se tinha enganado mas que a culpa tinha sido do Marcelo por andar sempre a viajar... e atirou com um número absurdo de viagens, dez vezes superior à realidade. Porque diz tantas mentiras? Porque faz tantas acusações disparatadas? Má fé, impreparação, desapego da verdade? Seja o que for, é mau demais.

Mas se a reputação do Ventura e da escumalha que se juntou a ele no Chega deveriam merecer o mais frontal e inequívoco repúdio de toda a população, não entregando um único voto a tal agremiação de marginais, mentirosos, incompetentes, mal-formados... o que se verifica é que uma parte significativa da população votante é igual ou pior a eles pois, segundo a última sondagem, aponta-se para o Chega a liderar as intenções de voto, caso houvesse agora novas legislativas. 

Pasmo com isto. Como é possível? As pessoas estão parvas? Ou, pior que isso, são parvas?

Penso que é tempo de se encarar a realidade: para evitar o descalabro (como o que está a acontecer nos Estados Unidos, um descalabro aterrador), há que entender, por dentro, as razões de tanta gente se rever neste culto, no culto Ventura. Provavelmente há que perceber que maioritariamente é gente que não lê jornais (muito menos livros, claro), que não ouve notícias, que apenas consome o lixo veiculado pelas contas das redes sociais do Chega, gente muito ignorante a quem não vale a pena tentar convencer através de factos, de números ou de gráficos pois, com certeza, nem a tabuada sabe, muito menos sabe interpretar gráficos, gente sem bases morais ou culturais, gente que se sente integrada no meio de um partido de meliantes.

Tudo isto preocupa-me demais.

As redes sociais, no meu caso, o Instagram, tem tido um lado positivo: traz-me o acesso à opinião de muitos senadores e congressistas americanos, de muitos jornalistas, de governadores, de gente da Justiça (alguns dos quais varridos pelo Trump), e o que ouço e vejo é aterrador, como se, num par de meses, todos os checks and balances, tal com os freios e o sistema de emergência do Elevador da Glória, tivessem deixado de servir para o que quer que fosse. Dá ideia que se partiu ou desprendeu o cabo da democracia e, inesperadamente, toda a sociedade americana se vê virada do avesso. 

O impensável passou a ser o quotidiano. A ignorância, a incompetência, o revanchismo, as perseguições gratuitas, a prepotência, a rudeza, a malvadez, a subserviência, tudo o que enoja, tudo isso é o que agora impera. 

E tudo isto perante a incapacidade de reacção dos democratas. Parece que estão anestesiados, sem reação. Aliás, para dizer verdade, nem sei quem é o mais poderoso dos democratas: ainda será Biden? Aquele senhor da Câmara dos Representantes? o líder dos democratas no Senado? A Kamala ainda mexe? O que se passa para estarem tão entorpecidos? Parece que apenas Gavin Newsom estrebucha. Mas não é suficiente. Perante os tremendos riscos há que haver uma força que se levante e defenda a liberdade, a democracia, a ética, a moral.

Mas não há.

E à medida que vou lendo, que vou ouvindo, que vou cruzando informação, mais aterrada fico. Sou radicalmente contra teorias da conspiração. Nada disso faz minimamente o meu género. Sou pela objectividade, não pelas suposições infundadas, pelo diz que diz. Só que, nestes domínios, em especial quando há muita patifaria, muito narcisismo, muita psicopatia e muito poder envolvidos, há um mundo paralelo, subterrâneo, do qual apenas nos vamos apercebendo à medida que alguém repara numa ponta solta, outro alguém a agarra e a puxa, outro se esgueira para ver de onde vem... E, portanto, a única coisa que, em concreto, sei é que, nos Estados Unidos, pouco ou nada sei sobre os mais recentes escândalos, atentados, suicídios, homicídios com contornos políticos. Volta e meia dou por mim a querer estabelecer ligações, relações causais. Mas detenho-me. Não sei o suficiente sobre o que se passa para poder, sequer, raciocinar.

Neste tema do jovem que foi assassinado, Charlie Kirk -- alguém que pregava a favor da violência, do porte de armas, alguém que defendia que era aceitável que todos os anos morressem pessoas assassinadas pois isso justificaria o tema da permissão do uso generalizado das armas, alguém abertamente xenófobo, racista, misógino, alguém que mobilizava fortemente a camada jovem do movimento MAGA, mas que, apesar disso, obviamente merecia viver --, estou em crer, a partir do que tenho lido e ouvido, ao constatar que há quem formule algumas dúvidas sobre alguns factos anómalos que envolvem todo o crime, que muito do que não se sabe talvez possa ser mais importante do que o que se sabe. E essa nebulosa que agora parece envolver tantas coisas naquele imenso país ainda torna tudo mais assustador.

Por isso, por tudo o que se vai sabendo sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos (já para não falar de casos mais antigos como a Rússia), penso que deveríamos excomungar todo o populismo, todos os que dividem para reinar, todos os que instilam ódio na sociedade, todos os que não respeitam escrupulosamente a democracia, a liberdade, o respeito pela lei e pelas instituições democráticas. A dúvida é: mas como fazê-lo de forma eficaz? 

Aceitam-se sugestões.

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Nota

Claro que leio todos os vossos comentários, claro que os agradeço, os comentários enriquecem o blog, muitos leitores se calhar têm mais curiosidade em ler os comentários do que o que eu ou o meu marido escrevemos. Mas tenho andado com pouco tempo. E continuo a ter este hábito peregrino de só escrever no blog às quinhentas da noite o que faz com que, quando acabo, esteja com sono. Por exemplo, agora que já passa, e bem, da uma e meia da manhã, ainda quero ver os mails (... e já perdi a conta aos que também não agradeço e a que não respondo...) e ainda quero ir espreitar uma notícia cujo título me intrigou. Por isso, mais uma vez não vou responder ou agradecer os comentários. Por isso, peço as minhas desculpas.

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, setembro 11, 2025

Algum psicólogo forense por aí que trace o perfil dos meliantes que se agremiam no Chega?

 

Hoje soube-se de um que roubava combustível ao INEM. Imagine-se: roubava gasóleo das ambulâncias. No outro dia soube-se de um apanhado em flagrante a atear fogos. Outro, um caso digno de filme cómico, apanhado a roubar malas nos aeroportos, guardando-as no gabinete da Assembleia da República e depois vendendo os pertences dessas malas num site de roupa usada no qual usava o seu nome e ano de nascimento como nickname. Outro agride árbitros em jogos infantis. E receio que seja delírio meu mas tenho ideia de que já houve um que roubava caixas de esmolas, outro que usava armas sem ter licença para isso, não sei até se não havia um ligado a tráfico de drogas ou coisa que o valha. Não continuo pois receio que seja a minha imaginação ou a minha memória a atraiçoar-me. 

E estou a elencar isto apenas porque me espanto e me sinto intrigada: o que leva estes marginais a juntarem-se a um partido que prega a moralidade e que exige mão pesada nas penas justamente contra os crimes que eles cometem?

Não é estranho? Não há qualquer coisa de psicopata nisto?

E ainda outra dúvida: o que leva os votantes no Chega a votar num partido em que já se descobriu que tantos dos seus militantes (incluindo deputados) têm problemas com a Justiça? Não é estranho? Se quem vota no Chega é gente que preza a lei e a ordem como é possível que se identifiquem com um partido destes?

Será que vamos ter que aceitar que há mais gente do que pensamos que não bate bem da bola?

sábado, agosto 16, 2025

Ainda a propósito do Relvas e não só:
É o destino, “for the time being"

 

A propósito do testo que escrevi ontem sobre o Bannon tugolaranja, Relvas, por aí andar a dar as tácticas a Montenegro (respaldado por Passos? ou a abrir caminho a Passos?), permito-me puxar para aqui, para o corpo principal do blog, um comentário bastante interessante.

[Mas, antes, um apontamento. Pouco tempo depois do Relvas ter deixado de ser ministro, e lembremo-nos que saiu pela porta pequena, foi almoçar, num restaurante ali à beira rio, para as bandas de Belém, com um empresário e com um outro artista, familiar (para não dizer familiar muito próximo) de um ex-primeiro ministro. Esse empresário contou-me depois que estavam a almoçar na esplanada e que algumas pessoas que passavam reconheceram-no, olhando parece que com um certo ar trocista, e que ele sorria, na maior. E uns jovens, de longe, gritaram 'Vai estudar ó Relvas'. E ele, sorridente, como se nada fosse. Perguntei: 'Mas, no fundo, deve ficar sentido, não...?'. Resposta desse empresário: 'Acha?! Estava, isso sim, a ver se me 'vendia' umas ideias... Pessoas como o Relvas, gente de esquemas, estão é sempre a ver se estabelecem ligações, se fazem pontes para negócios, coisas assim.']

Mas, então, aqui está o texto do Leitor a quem muito agradeço.

Relvas já tem alguém (Victor Sereno) da sua máxima confiança no aparelho de Estado, precisamente num alto e sensível cargo – o SIRP Serviço de Informações da República Portuguesa, um dos vetores das nossas “Secretas”). O “Dr.” Relvas (assumindo que terá entretanto concluído o tal curso que não possuía) foi buscá-lo (VS) ao MNE, onde já revelava sordidez, ou seja, estavam bem um para o outro – e ambos arrogantes qb.

Quanto ao Tribunal Constitucional, tal como é (ou foi concebido) não deveria existir. Isto porque um Tribunal não deve ter juízes nomeados, ou escolhidos, por razões políticas, como sucede, desde a sua criação. Só nos EUA, que não é um país democrático segundo os “standards” do Conselho da Europa (por causa do seu sistema judicial, cujos magistrados – juízes e procuradores – são nomeados e escolhidos por pertencerem ou aos Partido Republicano, ou Democrata, bem como o seu sistema eleitoral, aquele tal Colégio Eleitoral, onde não é facultado o voto directo) é que os magistrados são escolhidos pela sua simpatia ou filiação partidária.

Inclinava-me para, em vez de termos um Tribunal Constitucional, optássemos por uma Secção Constitucional no Supremos Tribunal de Justiça, com magistrados peritos em Direito Constitucional, a fim de dirimir as questões de carácter constitucional. Como não sucede assim, teremos em breve uns tantos trogloditas de extrema-direita sentados no Palácio Raton a decidir questões sensíveis de constitucionalidade, sabendo bem o quão desprezam esta Constituição. Afinal de contas, o Chega conseguiu eleger 60 energúmeros para a AR, sendo que um deles, Diogo Pacheco de Amorim, antigo bombista do MDLP, fascista/salazarista assumido, que desdenha a Democracia que o 25 de Abril nos devolveu, após 48 anos de Ditadura, é hoje um dos Vice-Presidentes da AR.

Mas, atenção, se hoje estamos onde estamos, com uma maioria de Direita radical (AD+Chega+IL), deve-se ao mau desempenho da Esquerda, em particular do PS, que não se soube assumir como alternativa ao trafulha do Montenegro e ao Chega (os restantes Partidos de Esquerda não existem, praticamente e alguns, BE, e PCP deverão desaparecer em próximas eleições).

Voltando a Relvas, faz o papel que bem sabe e sempre soube fazer, que é o de desgastar a oposição à esquerda do PSD. Um traste político, sem valores e princípios políticos. E teremos esta gente (AD+ Chega, com a mãozinha da IL) pelo menos nos próximos 2 anos, se não forem mais. É o destino, “for the time being”.

sábado, julho 26, 2025

Marcelo, até que enfim
-- A palavra ao meu marido --

 

Finalmente, depois de andar a aparar o governo do Montenegro desde o início, o Marcelo deu um ar da sua graça e confirmou que o governo do dito não respeita a Constituição, não respeita as crianças, não respeita os mais elementares valores comuns às pessoas de bem, segue a agenda do Chega e só tem o objetivo de cavalgar a onda para ganhar votos, não olhando a meios para justificar o objetivo. 

Finalmente, o Marcelo esteve bem. Confirma-se também que o Montenegro mentiu. O "não é não" passou a "sim, sim". 

Aliás, após o Montenegro dizer que não tinha acordo com Chega veio o ministro da presidência dizer que o acordo existe. Um deles mentiu e dá-se um doce a quem adivinhar qual foi. 

Temos assim,  a coligação ADEGA (na feliz designação que alguém criou e que o Daniel Oliveira referiu no Eixo do Mal) formada pelo AD e pelo Chega. Pelo exemplo da lei dos estrangeiros, não sabem o que fazem e não respeitam nem as pessoas nem as leis. 

Ao que "chegou" o PSD!

quinta-feira, julho 24, 2025

Dicionário made in silly season

 

Futilidade: sondagens sobre as Presidenciais quando ainda não se conhecem todos os candidatos e quando os portugueses ainda estão muito longe de se ralarem com tal coisa.

Cábulas de primeira: deputados do Chega que, de cada vez que abrem a boca, revelam que não sabem do que falam

Cábula de segunda: Luís Montenegro que vai para a Assembleia da República armado em bom, em erudito, a citar Sophia de Mello Breyner, quando, afinal, a frase referida era da autoria de José Saramago. Ou o tipo que lhe escreveu o texto quis divertir-se à sua custa, colocando-lhe uma casca de banana debaixo dos pés, ou foi outro cábula que nem se lembrou de confirmar o que escreveu. Seja como for, ele próprio, o Luís, deveria ter tido a lucidez de confirmar o que ia dizer para evitar fazer um papelinho mais do que triste

Cábulas de terceira: alguns dos comentadores deste blog que aparecem aqui não para referirem factos concretos ou para rebaterem, factualmente, o que aqui se diz, se limitam a 'mandar' bocas ou, mais calinamente ainda, vêm revelar que têm uma bizarra fixação em Sócrates. 

Incompetente em expoente máximo: Ana Paula Martins. Não há dia em que as notícias não nos deixem estupefactos com as cavalices que se passam sob a égide de Madame Aparelhista

Ridícula: a defesa atotozada dos Anjos que não se calam com a cena do acne. Agora entregaram fotografias que atestam a borbulhagem

Embuste: quando eu trabalhava, sempre que havia actualização das tabelas de retenção de IRS, o que o Departamento de Recursos Humanos fazia era 'carregar' essas tabelas na aplicação informática de processamento de salários e escrever a data a partir da qual a nova tabela vigorava. Se a tabela fosse carregada em Agosto mas com incidência a Janeiro, automaticamente a partir de Agosto apareceria já a nova taxa de IRS e, nessa altura, o sistema calculava retroactivamente o IRS que deveria ser retido, devolvendo o que tinha sido retido a mais. Não havia ciência oculta. O valor retroactivo resultava de uma conta simples: o valor a mais em cada mês vezes o número de meses. Acontece que nada disto acontece com o Ministério das Finanças agora faz: o valor devolvido em Agosto e Setembro é muito superior ao valor resultante daquele referido cálculo. Verifica-se que a partir de Outubro (ordenados a pagar no fim de Outubro, ie, depois das eleições) a diferença no imposto retido é cagagesimal, alcagoitas. Mas o que vão devolver em Agosto e Setembro (antes da data das eleições) são valores simpáticos. Se isto não é manipular as pessoas ou comprar votos, que venham todas as virgens rasgar as vestes e me expliquem qual a lógica matemática desta jogada. 

Escapista: Marcelo Rebelo de Sousa, o palrador-mor, o omnipresente e ubíquo  Presidente que, depois de ter feito a vida negra a António Costa, com bocas encapsuladas e bocas directas ou indirectas, usando-se a si próprio ou usando a so-called fonte de Belém, e de ter feito o possível e o impossível para correr com o PS e para pôr o PSD no governo, agora, haja o que houver, remete-se ao silêncio. Não é apenas que se tenha tornado discreto, é mais que isso, praticamente desapareceu, emudeceu, empalideceu, quase se tornou um fantasma.

quarta-feira, julho 23, 2025

Rita Matias, Catarina Furtado, os tachos e as ignorâncias. Já para não falar em Ana Paula Martins que diz que anda a aprender com as mortes devidas a atrasos do INEM.
O populismo é isto
-- Uma vez mais, a palavra ao meu marido --

 

No seguimento de uma entrevista a propósito das demolições de Loures a Rita Matias, uma das caras da moda dos populistas do Chega,  Catarina Furtado -- que sempre me pareceu uma pessoa sensata, que defende os valores comuns às pessoas que respeitam e têm preocupações com o próximo -- fez-lhe uma referência crítica nas redes sociais, alegando a ignorância demonstrada por Rita Matias ao falar de uma realidade que desconhece. 

A Rita Matias, moça fina, danada, publicou um vídeo de resposta -- vídeo esse em que parece ir a guiar e, simultaneamente, a gravar o vídeo (o que, a ser verdade, terá sido um perigo para quem se cruzasse com ela, já que não desviou o olhar do ecrã do telemóvel). O vídeo revela bem o que são os populistas de extrema direita. Afirma que se o Chega for governo, não demorará a despedir, da RTP, aqueles de que não gostam: "estes tachos e tachinhos na RTP são para acabar e o problema deles é que sabem que o Chega, quando chegar ao Governo, vai mesmos atrás destes tachos incompreensíveis". 

A Rita Matias revela também saber o ordenado da Catarina Furtado, o que é muito curioso para quem dias antes, também numa entrevista, disse que desconhecia o valor do RSI porque, segundo ela, não pertence à comissão de Economia do Chega. Típico dos populistas: não sabem do que falam, falam do que não sabem, mentem e criam bodes expiatórios para enganar os incautos. Nesse vídeo, Rita Matias insurge-se ainda com o facto de serem os contribuintes a pagar o que designa por 'tacho' de Catarina Furtado. Parece ignorar que quem lhe paga o ordenado a ela, para cometer atentados à democracia, para, a todo o momento, revelar ignorância e cobardia, usando o nome de crianças, são também os contribuintes. (Já agora, espero que o organismo que deve fazer respeitar o RGPD a faça pagar uma multa significativa pela indecente revelação do nome das crianças)

E é, com este panorama, que Montenegro, para se tentar safar, resolve dizer que o Chega se tornou num partido responsável. É a normalização da extrema direita num vale-tudo para se manterem no poder e ganharem votos. Onde já vai o "não é não"... Assim se vê o valor da palavra do líder do PSD.

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Voltando ao tema da Saúde. Conheceu-se hoje mais um relatório do IGAS que responsabiliza o atraso na prestação de cuidados médicos durante a greve do INEM por mais uma ocorrência trágica, no caso em Bragança. Soube-se também que os técnicos que são contratados para o INEM, após serem contratados, têm que frequentar cursos de formação e, se não concluírem os cursos com sucesso, ficam em casa a receber o ordenado sem fazerem nada (julgava que era impossível uma barracada pior que a barracada do concurso dos helicópteros -- afinal não é). 

Portanto, contratam-se as pessoas, pelos vistos sem critério, para noticiarem que já preencheram os quadros -- e depois logo se vê se têm conhecimentos e capacidades para desempenharem as funções. Inacreditável! 

E a ministra não se demite (diz que anda a aprender com as mortes), o presidente do INEM não se demite, o Montenegro faz de conta que não é nada com ele... e o Marcelo assobia para o lado. 

Mas que falta de vergonha!

segunda-feira, julho 21, 2025

Os problemas com a saúde e os truques do costume
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Já aqui escrevi várias vezes que o Governo falhou na resolução dos principais problemas do país. 

  • A situação na habitação piorou com o maior aumento do custo das casas na Europa, 
  • houve muito mais fogos e mais área ardida, 
  • o número de alunos sem aulas é monstruoso,
  • e a situação na saúde é trágica. 

Por exemplo, as notícias do jornal da TVI das 20 horas de ontem sobre a saúde são reveladoras de quão trágica é a situação nas vários subsistemas da saúde. 

  • O INEM, que conseguiu juntar aos problemas conhecidos a barraca do concurso dos helicópteros, 
  • as urgências fechadas, 
  • o passa culpas entre o ministério e o INEM após ser divulgado um relatório do IGAS, 
  • as reivindicações dos bombeiros, 
  • os médicos que, em vez de fazerem horas extras, preferem trabalhar como tarefeiros como resultado da política de pagamentos definida pela ministra, 
  • os médicos que "confundem" a atividade pública com os seus interesses privados, 
  • as dezenas de crianças que nasceram em ambulâncias, 
  • a falta de operacionalidade efetiva dos helicópteros da FAP, 
  • ... 

Com todos estes problemas, o que faz o Governo? 

Avança com a notícia que vai criar uma unidade para combater a fraude na saúde. 

É a estratégia do costume, lançar para a agenda mediática um assunto que desvie a atenção dos problemas principais que entalam o governo. Criar um organismo com competências em termos da investigação idênticas ao MP e à PJ parece-me uma duplicação que onera os contribuintes. Só teria sentido se houvesse manifesta incompetência dos organismos que atualmente se ocupam deste tipo de investigações. Sendo certo que os principais problemas na saúde não são as fraudes, cai sempre bem junto de determinado tipo de eleitorado apontar a fraude como a razão dos problemas. 

O Chega teve sucesso e o PSD quer trilhar o mesmo caminho. 

Na minha opinião -- e falando estritamente das notícias que têm vindo a público sobre os ganhos milionários dos médicos --, o problema está na legislação em vigor que permite criar empresas em nome individual para prestar serviços com uma redução significativa de impostos, e ainda nos aumentos dos valores definidos pela ministra para pagamentos aos tarefeiros e os valores pagos pelos atos médicos efetuados em horário não laboral. 

Aliás, o próprio diretor executivo do SNS falou da "normalidade" de pagamentos estratosféricos aos médicos por atos clínicos extra. Como é sabido, para este governo vale tudo. O que é preciso é ganhar votos. 

Não bastava seguirem a agenda do Chega -- agora também decidiram pagar um complemento aos reformados dias antes das eleições. 

Não é de admirar, sabendo-se do caso Spinunviva.

quarta-feira, julho 09, 2025

Atir Sai­tam e Érdna Arutnev

 

Estes poderiam ser Atir Sai­tam e Érdna Arutnev quando andavam na escola infantil


Poderia dizer que, pelo que dizem e fazem, Atir Sai­tam e Érdna Arutnev demonstram que não gostam de Portugal, não têm nada a ver com a cultura portuguesa, não respeitam os valores portugueses. Poderia ir até mais longe e dizer que, por tudo isso, nem mereceriam ser portugueses.

Poderia também dizer que, ainda por cima, não estão solidários com os problemas dos portugueses, nomeadamente com o grave problema demográfico da baixa natalidade e do envelhecimento da população. Ou poderia inferir que, talvez por não quererem saber dos problemas de sustentabilidade da Segurança Social, não se informam e não percebem que, para tentar minimamente equilibrar a situação, o melhor mesmo é que venham muitos imigrantes, de preferência em idade laboral, de preferência em idade reprodutiva e que, idealmente, se fixem em Portugal com as crianças pequenas e que estas cá estudem e, mais tarde, por cá se estabeleçam, trabalhem e formem famílias. Mas Atir Sai­tam e Érdna Arutnev, talvez porque não gostam de Portugal, como tantas vezes o têm demonstrado, talvez porque não respeitam a dignidade dos portugueses, como amiúde o demonstram, não querem saber dos problemas dos portugueses.

Claro que se eu fosse básica, imediatista, populista, por tudo o que eles têm dito e feito, pela forma desrespeitadora como têm ofendido os portugueses, como têm desrespeitado a democracia, até poderia sugerir que se lhes fossem retirados direitos inerentes à cidadania portuguesa. Mas não vou fazê-lo.

Quero apenas lembrar-lhes que, até para estarem protegidos contra outros iguais a eles, têm que agradecer a quem lhes deu nomes que se escrevem assim, Atir Sai­tam e Érdna Arutnev, e não pela ordem inversa, senão ainda teriam mais motivos para se envergonharem. 

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A propósito dos novos 'imigrantes' da Assembleia da República que, não respeitando os hábitos e a cultura vigentes, estão a subverter o espírito civilizado e democrático que ali deveria imperar, permito-me recomendar a leitura de A grande substituição

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A imagem foi obtida através da Sora (IA), a quem pedi uma imagem que retratasse as duas tristes figuras quando eram pequenas mas com um aspecto que remetesse para o aspecto das crianças que eles tanto parecem temer, situando-as numa escola.

sábado, julho 05, 2025

Um mau governo
-- A palavra ao meu marido --

 

O Montenegro foi a primeira vez para o governo porque prometeu resolver os principais problemas do país e saiu reforçado na segunda eleição porque os portugueses terão ficado minimamente contentes com o que fez, muito provavelmente porque não eram fãs do Pedro Nuno Santos e porque a acefalia ainda não era um mal generalizado que pudesse dar o primeiro lugar ao Ventura. 

Os principais problemas do país apontados pelo Montenegro, bandeiras da campanha eleitoral e sobre os quais zurzia o PS, eram a saúde, a habitação, a educação, os incêndios. Para seguir a agenda do Ventura também levantou os pseudo problemas nacionais da segurança e da imigração. 

Ao fim de um ano e tal de governo, conseguiu o governo Montenegro resolver minimamente estes problemas? 

Não, não conseguiram! 

Senão, vejamos. 

O que está a passar-se na saúde -- cujos problemas Montenegro anunciou, antes de formar o seu primeiro governo, que seriam resolvidos em 60 dias --, é uma tragédia, a situação piora todos os dias e os resultados da política deste governo são assustadores em todos os aspectos. Com as tragédias que tem acontecido, como é possível que a ministra e o Montenegro não tenham um pingo de vergonha e a ministra não se demita ou não seja demitida? 

E, para variar, o Marcelo, sempre tão interventivo noutras ocasiões, agora mantem-se de bico calado. Que vergonha. A incapacidade do ministério chega ao ridículo de contratarem para o INEM uma empresa para fazer o transporte de doentes de helicóptero que não tem helicópteros nem pilotos. Inimaginável. Ninguém se demite nem é demitido? Pior é impossível. 

Depois de tudo o que aconteceu na saúde no último ano, a ministra continua. Diz que não se demite porque quer resolver os problemas, mas de facto só os agravou. Não se demite porque, como parece e muita gente o afirma, o objetivo não é resolver os problemas da saúde: é privatizar a saúde e o resto é paisagem. Como é  possível que os interesses dos lobbies da saúde se oponham aos interesses dos portugueses?

Relativamente à habitação, o governo conseguiu, com as medidas que tomou, aumentar de forma absolutamente insuportável o preço das casas. É certo que os jovens ricos, ou os pais por eles, compraram mais casas à conta das medidas do governo. Mas resolver o problema da habitação não é ajudar os que têm mais dinheiro. É exatamente o contrário. É criar condições para que quem tem menos rendimentos consiga ter uma habitação condigna. Exatamente o contrário do que foi feito pelo governo. 

Na educação iam resolver o problema de haver alunos que não tinham professores pelo menos a uma disciplina. O brilhante resultado foi haver 1,4 milhões de estudantes que não tiveram professores pelo menos a uma disciplina. Mais um "sucesso" do governo. 

Relativamente aos fogos, a área ardida triplicou. Obviamente mais um problema que não foi resolvido.

Relativamente à segurança, como era um pseudoproblema, nada foi feito e daí não veio mal ao país. 

A política do Governo não tem nada a ver com os reais problemas da imigração (a sua integração, terem habitação, educação para os filhos, saúde, etc). O objetivo é ultrapassar o Chega, se possível pela direita, e ganhar votos. Lamentável. 

Para atirar poeira para os olhos da malta e os jornais não falarem naquilo que não interessa ao governo lembraram-se de propor uma nova lei da nacionalidade que ainda por cima parece que é inconstitucional e que não era sequer tema. Aprenderam com o Trump. 

Em resumo, não resolveram nenhum dos problemas importantes que se propunham resolver. Mandaram a ética e os valores para as urtigas e criaram novos problemas e clivagens na sociedade. Infelizmente, parece ser disto que a maltinha gosta. A esperança em melhores dias já não é grande. O populismo através das redes sociais está a criar uma massa amorfa que não questiona e que não pensa, apostando no perceptível e esquecendo o essencial. 

É o que temos.

domingo, junho 22, 2025

O MP, a PJ e os perigos para a democracia
-- A palavra ao meu marido --

 

A semana passada a PJ fez uma operação com o objetivo de desmantelar um grupo neonazi que atuava em Portugal. Curiosamente, só o fez depois de vermos reportagens jornalísticas sobre o grupo e de elementos do grupo terem agredido pacatos cidadãos que apenas faziam aquilo que conscientemente entendiam fazer sem qualquer prejuízo para a sociedade. 

Tenho sempre alguma dificuldade em entender a razão de as polícias não investigarem o que realmente é perigoso para a sociedade e para a democracia e andarem a reboque da comunicação social nestes assuntos. 

Soube-se, entretanto, que o grupo neonazi tinha militantes que pertenciam à polícia, à GNR e às Forças Armadas e que planeava acabar com o governo socialista por meio de uma ação violenta no parlamento. 

Enquanto se desenvolviam estas ações organizativas, criminosas e verdadeiramente perigosas para a democracia, o MP estava preocupado com os jantares do Galamba e com mais uma série de putativas parvoíces. É de " louvar" a perspicácia dos  magistrados que, por manifesta falta de qualidade ou por, porventura, terem agendas escondidas, em vez de investigarem assuntos verdadeiramente importantes, se ocupavam de menoridades inconsequentes. 

Não consta que durante quatro anos tenham feito oitenta e tal mil escutas telefónicas ao polícia que chefiava o grupo. Esqueceram-se ou não era prioritário? 

Também é curioso que a polícia e as forças armadas não consigam garantir que o respetivo pessoal cumpre os mínimos democráticos. 

Já agora não quero deixar de referir que a votação no Chega deu, em minha opinião, um forte contributo para estes grupos saírem do covil e aparecerem em público a defender ideologias intoleráveis, contra os mais elementares direitos dos cidadãos. Também se deve agradecer ao José Pedro Aguiar Branco o trabalhinho que fez como presidente da AR ao permitir que o Chega denegrisse o Parlamento durante toda a legislatura. Assim, se criam percepções que tornam as instituições alvos fáceis para quem quer destruir a democracia e se potencia o voto nas forças anti sistema. 

"Parabéns" José Pedro. Ou será que ainda é possível emendar a mão? Aguarda-se para ver o seu comportamento nesta legislatura.

Caminhamos numa direção muito perigosa e corremos o risco de em pouco tempo desbaratarmos o que levou muitos anos a conquistar. Os EUA, com o Trump, são um exemplo acabado deste retrocesso. Se não tivermos pessoas preocupadas e pressionantes e políticos à altura, isto não vai acabar bem. 

Infelizmente, do que se tem visto parece que a malta que agora governa está mais preocupada em seguir a agenda do Chega do que seguir um caminho escorreito. Tempos desafiantes.

domingo, maio 25, 2025

Modo de pausa

 


Depois de ter esperneado com o resultado das eleições, ter espremido os neurónios tentando pôr em equação o ensarilhamento em que estamos metidos, depois de ter lido mil opiniões e ouvido cinquenta mil sapientes veredictos, o que tenho a dizer é o mesmo que sempre fiz em situações de berbicacho: bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

Enquanto muitos dos meus colegas adoravam enfronhar-se em cansativos meas culpas ou em intermináveis sessões de lições aprendidas, eu sempre fui mais de me reunir rapidamente com quem tinha alguma coisa de inteligente a dizer (opiniões de burros ou de papagaios dispenso), tirar meia dúzia de conclusões, com essas conclusões e mais o que há pela frente traçar um caminho e... bora lá antes que se faça tarde.

Portanto, por mim já chega de andar a tentar a pisar e a repisar sobre o mesmo assunto.

É certo que continuo a achar que o Montenegro é um chico-esperto e que, nos 11 meses em que governou, não fez nada de jeito -- e o que pareceu melhorzinho foi a continuação do que vinha do anterior governo ou a distribuição de ma$$a, pois tinha folga (herdada) e sabia que as eleições estavam ao virar da esquina. Mas, enquanto a Spinunviva ou outras argoladas do género não o derrubarem, só espero é que faça aquilo para que foi eleito.

Quanto ao PS, sempre disse que achava que o Pedro Nuno Santos não era a pessoa certa para suceder a António Costa. O PS pela mão de Pedro Nuno Santos quase me levou a não votar no PS. Pedro Nuno Santos foi um erro de casting, como os resultados eleitorais mais do que demonstraram. 

Na altura, pareceu-me que José Luís Carneiro seria a pessoa certa. Mas, na altura, o Chega ainda gatinhava. Agora, os do Chega já andam em duas patas e já convenceram milhão e tal de pessoas que são os melhores para governar o País. Orwell cheirou-os a léguas (a eles e a todos os outros que têm feito o mesmo percurso). Não sei se, para a presente circunstância, José Luís Carneiro tem o carisma, o punch e a visão para levantar o PS e, ao mesmo tempo, para atirar o Chega ao tapete. Não estou a querer dizer que acho que não. Estou apenas a dizer o que disse, que não sei. Não o conheço suficientemente bem. Mas espero que sim. Espero bem que sim.

Face a este panorama, se eu fosse o Marcelo o que faria, antes de mais, em paralelo com as conversas oficiais com os partidos e off the record, seria chamar os directores de informação dos diferentes meios de comunicação social para os desafiar a fazerem um pacto (de regime) para que parem de andar atrás do Ventura. O Chega é o Ventura. E o Ventura é um demagogo, sem ética, sem vergonha. Mas é também um excelente comunicador. Criativo e bom comunicador. Consegue lançar ossos para a praça pública a toda a hora, mobilizando a agenda dos media. Só que os canais de televisão -- ou de rádio ou os jornais -- não são cães para irem atrás de qualquer osso, pois não? Se a Comunicação Social deixar de dar palco ao Ventura, o Chega esvazia-se. Provavelmente deveria ser a ERC a ter um papel pedagógico junto da Comunicação Social. Mas a ideia que tenho é que a ERC não risca, não serve para nada. Portanto, penso que deve ser o Marcelo (que tem muitas culpas no cartório em toda a instabilidade que atravessamos) a atravessar-se.

Identicamente, alguém deveria andar em cima das redes sociais dos partidos, em especial do Ventura e do Chega. Contas falsas devem ser denunciadas. Incitamentos ao ódio ou insultos devem ser denunciados. Há mecanismos legais para lidar com tudo. Não deve haver complacência.

Tirando isso, penso que, com toda a humildade, deve tentar validar-se se as percepções de tanta gente estão erradas ou se, pelo contrário, são legítimas. 

Dou alguns exemplos:

Como são atribuídos os subsídios? Como é que isso é auditado para verificar se não há abusos? Há gente que não faz nenhum e que vive, ao após ano, à pála de subsídios?

Há mesmo milhares e milhares de imigrantes que não trabalham e que recebem subsídios? 

Há mecanismos para acolher e integrar os imigrantes, em especial os que não falam português? 

E, pelo que se tem visto em algumas reportagens, os abusos que se têm detectado no SNS são altamente lesivos das contas públicas e, também pelo que tem visto, os processos administrativos, para além de permitirem toda a espécie de abusos, são manuais, precários e não há auditorias. Será que isto acontece generalizadamente? 

Tenho lido que em Portugal há mais médicos por habitante do que na maioria dos outros países. E, no entanto, há muitos milhares de pessoas sem médicos de família, é preciso esperar muitos meses por uma consulta banal (e sobre as de especialidade acho que ainda é pior). Parece que há sempre falta de dinheiro. E, no entanto, na volta o que há é dinheiro a mais, esbanjamento, aproveitamento, muita ausência de gestão, muito regabofe. Tenho defendido que a gestão de hospitais deve ser entregue a gestores profissionais. Não a médicos, não a gentinha dos partidos. Hospitais que gerem orçamentos de milhões têm que ser entregues a gestores competentes e profissionais. Numa altura em que a Saúde está tão mal, com Urgências fechadas, com tantos atrasos, se entregassem a gestão a profissionais não apenas se poupariam muitos milhões como os serviços melhorariam rapidamente. Se as pessoas começarem a ver 'saneamento' de gastos abusivos e melhoria no atendimento com certeza o paleio populista será esvaziado.

Quanto à habitação, também é preciso arranjar soluções urgentes: aproveitem edifícios públicos, adaptem-nos, alojem o máximo de pessoas. Rapidamente. Com assertividade. Com pouco paleio. E favoreça-se e apoie-se o ressurgimento de cooperativas de habitação. Apareçam com soluções concretas, rápidas, bem articuladas, bem acompanhadas, bem divulgadas. Esvazie-se o populismo.

Já disse e repito-me: é tempo de juntar esforços contra o populismo. E, enquanto a legislatura for avançando, o PS terá tempo para se reorganizar. Ou haverá tempo para aparecer um novo partido (caso o PS não consiga livrar-se do anquilosamento aparelhista, não consiga regenerar-se assimilando com inteligência o ar do tempo).

Mas, dito isto, agora vou continuar na mesma onda em que tenho estado nestes últimos dias: a ler, a curtir, regando, cozinhando, caminhando, estando em família, na boa. Agora nem tenho escrito. Tem-me apetecido descansar, estar em modo de pausa.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sexta-feira, maio 23, 2025

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício

 

Dia de intervalo, de pausa, de descanso, de folga. Hoje não quero dissertar, pensar, reflectir, equacionar. Zero, por favor. 

Durante o dia quase não conversámos sobre o que se passou pois não gostamos de falar sobre percepções que não temos como fundamentar. Pelo contrário,  somos racionais, tendemos a ser analíticos, frequentemente assentamos os nossos raciocínios em números. Ora, no caso vertente, tudo o que aconteceu desafia a lógica, a razão, a objectividade. 

Ouvi, há pouco, no Eixo do Mal, o Luís Pedro Nunes dizer que em Rabo de Peixe, terra em que mais gente usufrui de subsídios de subsistência, ganhou o Chega, partido que faz campanha contra os subsídios. Ou seja, os subsidiados votaram em quer acabar-lhes com os subsídios.

E li que em pequenas aldeias em que grande parte da população emigrou, que estão meio desertificadas e sem mão de obra local e que sobrevivem graças aos imigrantes, votaram contra o Chega porque não gostam de imigrantes. Se calhar, preferiam viver em terras desertas, solitárias, sem trabalho, só com velhos à espera da morte. 

E o meu marido viu uma reportagem, numa vila piscatória, em que um homem dizia que, se não fossem os imigrantes, não arranjava gente para poder sair com os barcos e, ao mesmo tempo, que tinha votado no Chega porque estava farto dos imigrantes. Ouve-se isto e só podemos concluir que, para pessoas assim, a lógica é uma batata.

Portanto, num tal quadro de irracionalidade, mais vale pendurar os neurónios ao sol, a ver se arejam, se se vitaminam, e, ao mesmo tempo, dar tréguas ao que sobra da minha inteligência.

No entanto, deixem que junte ainda uma informação. No outro dia, a minha filha dizia que muita gente só tem contacto com a 'informação' -- e vamos pôr aspas e mais aspas a embrulhar a 'informação --, através das redes sociais. E, enquanto falávamos, disse: 'Deixa cá ver como é a presença deles no Instagram'. E lá está: branco é, a galinha o pôs. É que os números falam por si. André Ventura está em todas, gera conteúdo, dá tração ao algoritmo, e, como resultado, tem 581.000 seguidores. Os outros estão a milhas. Por exemplo, Luís Montenegro tem apenas 59.900 seguidores. Pedro Nuno Santos ainda menos, 40.500 seguidores. 

Uma investigação, creio que da CNN, que contratou uma empresa israelita especialista nestas coisas, divulgou que no X, ex-Twitter, cerca de 50 % das contas que promovem o Chega e minam com comentários negativos o PS e o PSD são falsas. Mas, entre falsidades e verdades, o que se pode concluir é que se as televisões andam permanentemente com o Ventura ao colo, nas redes sociais são as vozes dos apoiantes do Chega, sejam eles verdadeiros ou falsos, que se fazem ouvir. E quem não aparece esquece. 

Mas, retomando a minha trégua, antes que os meus fusíveis se queimem todos a tentar encontrar uma solução para isto, hoje resolvi que era holiday. Tenho esperança que, depois da borrasca, venha a bonança e é com essa esperança (uma esperança abstracta e congénita) que vou ter que me alimentar.

E, nesse comprimento de onda, viro-me para as leituras. Como sempre, navego em águas marginais. 

Só o que é diferente satisfaz a minha necessidade de alimento intelectual ou estético. O meu prazer na leitura é encontrar o que me deixe a pensar, o que me divirta ou me enterneça, o que me faça pensar: 'olha, está bem visto', o que me interrompa porque está tão bem escrito que me apeteça fazer uma vénia.

Agora são estes:

Uma última pergunta - Entrevistas com Mário Cesariny (organização, introdução e notas de Laura Mateus Fonseca com um belo prefácio de Bernardo Pinto de Almeida)

A longa estrada de areias - Pier Paolo Pasolini

Hojoki - reflexões da minha cabana - Kamo No Chomei

Tenho constatado, no Instagram (where else?), que há muitos clubes de leituras. Vejo que as pessoas se juntam para comentar o que leem. Mas o que vejo é que comentam livros banais. E, de certa forma, compreendo-as. É que estes livros que estou a ler, por exemplo, seriam diminuídos se um conjunto de pessoas se pusesse a dizer banalidades sobre eles. Mesmo que não fossem banalidades... É que são livros para a gente ler com vagar, apreciar, quando muito ler uns trechos para outra pessoa ouvir também. Mas é para a gente sentir prazer com eles. Só isso. Não é para explicar, descodificar, perceber. Não, não.   

Enfim. Que sei eu? Se calhar sou eu que sou atípica, bissexta, escalena, um número primo, uma letra de um abecedário ainda por desenhar. 

Termino transcrevendo uns versos de Pastelaria, do Cesariny

(...)

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

(...)

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mas vou ainda catrapiscar melhor para depois repiscar um pouco mais (talvez até abusivamente, não é...?), deixando agora apenas o que me dá jeito:

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício

Que afinal o que importa é não ter medo

Que afinal o que importa é rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta

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 E hoje o que me apetece ouvir (e ver) é isto:

Bruce Springsteen - Dancing In the Dark


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Boa sexta-feira

quinta-feira, maio 22, 2025

Um reborn de nome André

 

Desde que, há três meses, comecei a frequentar o Instagram todo um mundo desconhecido se abriu frente aos meus olhos inocentes. Vejo e ouço coisas que me deixam perplexa. Antes das redes sociais apenas quem tinha algo de relevante a dizer era chamado a opinar em público. Era a quem detinha o poder editorial que incumbia a responsabilidade de identificar os melhores e levá-los ao púlpito maior, televisão, rádios, jornais ou revistas. Com as redes sociais, qualquer um -- qualquer zé-ninguém, qualquer maria-vai-com-as-outras, qualquer burro encartado, qualquer tarado, psicopata, narcisista, marginal, ignorante & ordinário, qualquer gentinha sem noção -- tem o púlpito à sua disposição e canal aberto para o mundo. E qualquer um, tendo a sorte de ter audiência, consegue viralizar, monetizar a sua 'mensagem', catequisar. Influenciar. É o tempo dos influencers. Dos políticos influencers. E qualquer um pode ser influencer. 

Tenho a sorte de o algoritmo ter percebido mais ou menos os meus gostos e, por isso, há o lado bom de me ser dado a conhecer o que muitos escritores, editores, pintores, escultores, galeristas, jornalistas, pessoas de bom gosto têm a dizer ou a mostrar. Mas, certamente porque me detenho a ver, também me aparecem cabeleireiros, maquilhadores, cozinheiros, nutricionistas. Muitos brasileiros.

E, no meio, por vezes, não sei a que propósito, coisas estranhas que não percebo se são paródia ou mera parvoíce e que não me fazem parar. Mas tão frequentemente me têm aparecido que agora prestei atenção. Sendo eu novata nas redes sociais (ie, no Instagram) se calhar estou a achar estranho o que, para quem anda há anos pelo facebook, instagram ou tik tok, já deve ser banal. Mas, ainda assim vou falar de um fenómeno que desconhecia e que está a deixar-me perplexa.

E estou a falar em concreto de uma coisa que dá pelo nome de reborn. Bebé reborn. Eu via mulheres com uns bebés meio estranhos ao colo. Depois, prestando atenção, percebi que eram bonecos. Mas as mulheres andam com eles ao colo como se fossem bebés de verdade, levam-nos a passear, fazem festas de anos. Inclusivamente vi uma a chorar, revoltada, porque tinha ido com o reborn ao médico e o médico tinha-se recusado a atendê-lo. E depois vi que já havia várias pessoas a fazer vídeos a discutir se sim ou não e até uma advogada a aconselhar os médicos a quem apareçam 'mães' de reborns, dizendo como devem agir.

E eu, perante tudo isto, fico como se levasse uma pancada na cabeça. Como é que é possível?!

Fui ao chatgpt confirmar o fenómeno, ver se esta maluquice existe mesmo.

Transcrevo o que escreveu:

Um bebé reborn é uma boneca feita com extremo realismo para se assemelhar a um recém-nascido ou a um bebê de poucos meses de vida. Esses bonecos são criados a partir de kits de vinil ou silicone, que são moldados, pintados e montados manualmente por artistas — conhecidos como "reborners" — que dedicam várias horas (às vezes dias) a cada peça. Os detalhes vão desde a coloração da pele com veias visíveis, até o enraizamento fio a fio dos cabelos e a aplicação de peso interno para que o boneco tenha o peso e o toque de um bebê real.

A origem desse movimento remonta à década de 1990 nos Estados Unidos, com raízes na comunidade de colecionadores de bonecas. Desde então, a prática se expandiu significativamente, ganhando popularidade em diversos países da Europa e da América Latina, especialmente no Brasil, onde há feiras, cursos e lojas especializadas nesse tipo de arte. Além do público colecionador, os bebés reborn atraem também pessoas que os utilizam por razões emocionais ou terapêuticas — como mães que perderam filhos, pessoas com depressão, ou idosos com Alzheimer, para quem a interação com esses bonecos pode trazer conforto. 

O alcance dessa tendência vai além do simples colecionismo. A popularidade dos vídeos nas redes sociais — especialmente no YouTube, TikTok e Instagram — ampliou o interesse pelo universo reborn. Muitos criadores de conteúdo compartilham rotinas de "cuidados" com seus bonecos como se fossem bebês reais, atraindo tanto críticas quanto admiração. A indústria se profissionalizou: há artistas renomados internacionalmente, bonecos que podem custar milhares de dólares e até certificações de autenticidade.

Ainda que para alguns a prática pareça excêntrica ou até inquietante, para outros ela representa uma forma legítima de expressão artística, uma válvula emocional ou mesmo uma ferramenta terapêutica. Isso mostra que os bebés reborn são mais que uma moda passageira; eles fazem parte de um fenômeno social multifacetado que une arte, afeto e mercado.

Há influenciadoras que fazem parte de uma comunidade crescente que utiliza os bebês reborn não apenas como objetos de coleção, mas como parte de experiências emocionais e artísticas. Seja por motivos terapêuticos, expressão artística ou simples afeto, elas compartilham suas jornadas com autenticidade, atraindo tanto admiração quanto debates sobre os limites dessa prática.

Ou seja, o que vi foram pessoas não colecionadoras de bonecas realistas, nem idosos ou doentes com Alzheimer, mas mulheres que, por algum distúrbio ou sei lá porquê, agem como se fossem mães de verdade dos bonecos e criam páginas nas redes sociais para partilhar as suas experiências com aqueles 'filhos', mostram o quartinho dos bebés, os brinquedos deles, os cuidados que requerem, etc.

Em condições normais, eu diria que uma mulher que trata um boneco como se fosse um filho de verdade e se aliena a ponto de se esquecer que aquilo é um ser inanimado e não um ser vivo, é alguém que precisa de ser tratado. 

E, no entanto, não. Expõem-se, têm centenas de milhares de seguidores, formam uma comunidade, reivindicam, reclamam direitos.

E tudo como se fosse normal. E parece que ninguém acha isto doentio, sinistro, distópico.

Perante situações destas, eu penso: como se dialoga com pessoas assim, que acreditam no mundo paralelo em que se posicionam? Que conversa racional é possível ter com pessoas assim?

Sinceramente não sei. E isto inquieta-me.

Não quero fazer extrapolações abusivas mas quanta gente perturbada deste ou doutro tipo --, ou pessoas que acreditam que a terra não é redonda, ou que, sendo imigrantes, acreditam que quando um político se atira aos imigrantes não está a ameaçá-los a eles mas a outros e, portanto, o apoiam, ou pessoas que pouco têm mas que o maior medo que têm é que os que ainda têm menos venham roubar-lhes alguma coisa ou que se insurgem contra os desgraçados miseráveis que recebem uns trocos para sobreviver --, constitui o público alvo dos populistas? Quantas destas pessoas, tão distantes da realidade concreta, tão facilmente manipuláveis, votam nos populistas só porque sim, só porque os populistas dizem 'a verdade' ou prometem 'abanar isto tudo'?

E como podem os políticos decentes, que falam a verdade, com base em factos, em estatística, em dados históricos, reais, fundamentados, interagir com estas pessoas? Não sei. São línguas diferentes, comprimentos de onda diferentes. 

Claro que a análise que se pode fazer à população que vota em partidos populistas não é una. Uma análise a fazer tem que ser multifactorial. Uns votam porque são fascistas e estavam à espera de quem viesse resgatar o antes do 25 de Abril, outros são levados pelo que as igrejas evangélicas, maná, do 7º dia ou outras recomendam, outros são bolsonaristas e, aqui deslocados, seguem a cópia, outros acreditavam nos amanhãs que cantam do comunismo e agora viraram para uma realidade mais actual, outros não vão além do mundo dicotómico dos bons e dos maus e votam no que diz que vai atrás dos maus, outros são ex-combatentes, ainda com feridas a sangrar da guerra e votam em quem diz que é preciso não esquecer os ex-combatentes, outros votam em quem se ajoelha, tem crucifixos no bolso e fala pondo as mãos como se estivesse em prece, outros votam porque não gostam da cor dos imigrantes que agora aparecem lá na rua, outros votam porque acreditam que aquela pessoa que assim lhes fala ao coração é sincera e se preocupa de verdade. 

E isto é complicado porque se é fácil levar pessoas assim a seguir um líder carismático que parece falar para cada um (mesmo, de facto, nada dizendo de concreto), muito difícil é levá-los a perceber que fazem mal em escolher serem 'conduzidos' por um populista que nada mais faz do que alimentar-se da sua ignorância, do seu medo, do seu distanciamento da realidade.

Pessoas assim mais depressa aceitam dar o seu voto a um político reborn, fake, do que a um político sério, decente.

E isso é um perigo. Ou, sendo eu uma optimista, um desafio. 

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Para que tenham maior visibilidade, transcrevo alguns comentários que eu e o meu marido temos recebido e que muito agradecemos. Não transcrevo um dos comentários, excelente, pois vejo que é uma transcrição e não consegui identificar ao autor original para aqui atribuir os créditos. Mas transcrevo outros. Não todos, para isto não ficar ainda mais extenso do que já está.

O SÍNDROME DE ESTOCOLMO

(Amar o agressor)

As eleições legislativas de 2025 trouxeram uma clarividência sombria: uma parte significativa da população votou contra os seus próprios interesses, com uma convicção que está paredes meias com a cegueira. Dá pena!

Mal informados e mal formados ainda acreditam no coelhinho da páscoa ou no "4 pastorinho" ou numa qualquer igreja maná ou outras, totalmente alienados politicamente.

É o velho ditado a ganhar nova vida - o povo descalço continua a votar em quem lhe roubou os sapatos.

E desta vez ainda lhe bate palmas!

.....

JAMAIS CONFUNDAM O POVO, com os inimigos do povo. Nunca caiam na tentação de ODIAR O POVO. Amilcar Cabral

A política é o meio através do qual homens sem principio dirigem homens sem memória. Voltaire

Uma nação que tem medo de deixar seu povo julgar a verdade e a falsidade em um mercado aberto é uma nação que tem medo de seu povo. – John F. Kennedy

A maioria dos males que o homem infligiu ao homem veio do facto de as pessoas se sentirem bastante certas de algo que, na verdade, era falso. BERTRAND RUSSEL

O servo ideal de um governo totalitário não é o nazista convicto ou o comunista convicto, mas pessoas para quem a distinção entre facto e ficção e entre verdadeiro e falso não existem mais. – Hannah Arendt

Esta mascarada enorme-com que o mundo nos aldraba-dura enquanto o povo dorme-quando ele acordar acaba . Antonio Aleixo

quarta-feira, maio 21, 2025

Ainda as eleições
-- A palavra ao meu marido

 

O grande problema dos partidos tradicionais, nomeadamente, de esquerda é que não entenderam as mudanças do eleitorado. Para uma maioria significativa dos eleitores -- e o caso dos mais jovens é paradigmático --, a esquerda e a direita não significam nada e estão-se absolutamente nas tintas para os valores aceites pela comunidade nas últimas décadas. 

O que interessa é o que aparece nas redes sociais. Não interessa se a informação que lhes é apresentada corresponde à realidade ou é mentira. Apenas procuram notícias que correspondam às suas aspirações, que sejam muito sucintas, sensacionais e facilmente compreensíveis e sobretudo disponibilizadas pelos seus gurus nas redes sociais.  Notícias que digam mal do "inimigo" seja ele qual for,  geralmente aquele que dá mais jeito ao "guru" de estimação naquele momento: imigrantes, ciganos, políticos...

O que é preciso é que existam inimigos que permitam mobilizar a massa anónima para que os gurus possam atingir os seus fins. 

A esquerda não percebeu a mudança. Não conseguiu denunciar os embustes, utilizando a nova forma de comunicar, nem apresentar objetivos agregadores que correspondam às aspirações dos que têm mais dificuldades e que lhes permitam perspectivar a célebre mudança por que tanto anseiam, seja ela o que for no imaginário de cada um deles. 

Os dirigentes do PSD, a começar pelo Montenegro, que tem uma enorme tendência para se esquecer dos aspectos éticos e que, nalguns casos parece que estão em cima de uma linha muito ténue entre o que é ou não admissível em democracia adaptaram-se melhor e transmitiram uma mensagem mais fácil de perceber para os que não estão para se chatear com essa maçada de ter que perceber os factos e tirar conclusões. 

Mas, atenção, a subida do Chega também resulta de outros factores como aqui escrevi na noite das eleições. Como é possível que os vários canais noticiosos tenham estado horas e horas a falar do Ventura, nomeadamente, horas a filmarem as traseiras do carro da frente quando ele era transportado para o hospital. O Bernardo Ferrão veio justificar-se dizendo que era notícia. Que notícia? Estavam à espera que o Ventura se atirasse da ambulância em andamento para darem em direto? 

Diversos analistas confirmam que, no período eleitoral, os media  ampliaram e deram grande relevo aos assuntos favoráveis ao Chega: segurança, imigrantes, corrupção, promovendo assim esta gentinha. Tenham um pouco de clarividência e reflictam no papel que tiveram na ascensão meteórica do Chega nos últimos anos. Se forem jornalistas sérios não ficarão certamente orgulhosos do papel que desempenharam. 

Também o Marcelo devia reflectir na forma como atuou e contribuiu para que a possibilidade de que, quando sair de Presidente, o líder de oposição possa vir a ser o Ventura já não seja uma abjecta ficção. Foi, como disse o Júdice, o pior presidente dos últimos cinquenta anos. 

Os dirigentes do PSD, que para salvarem o Montenegro e os seus lugares, não se importaram de provocar eleições e trazer os temas preferidos do Chega para o debate, sejam eles relevantes ou não, também deram para o mesmo peditório. 

A contínua intromissão do MP na política, fazendo passar a ideia de que os políticos  são, por natureza, corruptos, chegando ao extremo de fazer cair um governo com maioria absoluta, cozinharam um caldo pastoso que o Chega  aproveitou para fazer passar as ideias que mais lhe convinham. 

É verdade, o mundo mudou e o Ventura é um líder carismático que faz muito bem o seu trabalho, mas teve ajudas de monta para chegar onde está e, implícita ou explicitamente, a comunicação social, o Marcelo, o MP e o Montenegro ajudaram um bom bocado. A esquerda, por inépcia, também contribuiu.

Hoje li a notícia de que o Chega quer proibir a atuação do Nininho Vaz Maia na Azambuja e, apesar de envolver o comunicado num palavreado pretensamente tradicionalista, a verdade é que os motivos são absurdos e não é difícil perceber que, por trás, há uma motivação racista. É a tentativa de voltar à censura que acabou há cinquenta anos e é perigosamente parecido com o que se passou na década de trinta do século passado nos regimes fascistas. Parece-me tão grave que, antes que esta prática se expanda e o revanchismo e a arrogância anti-democrática comecem a fazer caminho, o Presidente devia ter uma palavra pública de repúdio. 

terça-feira, maio 20, 2025

Reflexões na ressaca

 

Isto não está fácil, confesso. Não me apetece escrever. No domingo à noite deitei-me tarde, atordoada. Os resultados das eleições viraram-me do avesso. Eram seis da manhã e ainda não dormia. Já o dia clareava e eu sem sono. Depois acordei às oito e picos e parecia-me que já não tinha sono. Forcei-me a dormir mais um pouco. Mas pouco mais. Íamos ao ginásio e depois ainda tínhamos várias coisas a fazer. Ou seja, mal dormi.

Por isso, de tarde, lá para as cinco, deitei-me ao sol, na espreguiçadeira, e adormeci. Não muito pois as nuvens passavam a vida a cobrir o sol e ficava frio. 

Há pouco, estávamos a ouvir o Paixão Martins, adormeci de novo. Micro-adormecimentos mas o suficiente para não ter conseguido acompanhar com seguimento.

Ainda não recuperei do entorpecimento, do estupor catatónico em que, interiorente, fiquei.

Do que me chega, há pessoas bem na vida, instaladas, umas que ainda guardam ressentimentos do 25 de Abril e que votam no Chega pois acham que o Ventura vai ajustar contas com esse passado. Outras, quadros em boas empresas, querem simplesmente rebentar com 'isto tudo'. Se calhar, pessoas mal sucedidas na sua vida pessoal (mas isto já sou eu a dizer). Quando pergunto a quem conhece essas pessoas o que é que, na verdade, elas acham que o Ventura pode fazer por elas, a resposta é que isso não é questão que se ponha. Não pensam tão longe, limitam-se a querer rebentar com as coisas. O que vem a seguir é tema que não lhes ocupa o pensamento. Outro caso, nos antípodas, um conhecido que não estudou muito, que começou a trabalhar, trabalho pouco qualificado, faz uns 'ganchos' ao fim de semana para compor o ordenado. Vota no Chega porque diz que os 'outros' não fazem nada por ele, acredita que o Ventura é capaz de fazer. Pergunto: mas fazer o quê, em concreto? A resposta é a mesma: o pensamento dele não vai até esse ponto.

No outro dia, vi na televisão uma dessas que vive certamente numa realidade pobre, suburbana, mas que deve sentir que vive numa realidade alternativa ao viver permanentemente nas redes sociais. Percebe-se que, certamente, tem como ídolos algumas conhecidas influencers. Usava várias vezes a expressão: 'quero tudo a que tenho direito'. Ao ver as influencers andarem pelos hotéis, pelos ginásios, institutos de beleza e restaurantes, sonha, certamente, atingir esse patamar. Pela conversa, acredito que vote Chega. Deve ser daquelas que acha que o Ventura diz tudo o que tem a dizer, não tem medo de nada, tentam calá-lo mas ele não se fica. Ou seja, veem-no como um líder que merece ser seguido. Claro que se lhe perguntarem o que é que o Ventura pode fazer por ela, não saberá dizer. Isso já é uma segunda derivada e o raciocínio não vai tão longe. Se lhe perguntarem também em que é que os 'poderosos e corruptos' de que o Ventura tanto fala a prejudicam, claro que também não saberá o que dizer. 

O Ventura navega nestas águas turvas da ignorância, do ressabiamento, da ilusão. Em bom rigor, de concreto ele não promete nada. Aliás, de concreto, ele não diz nada. Limita-se a apresentar-se como um líder, o que está aqui para salvar os descontentes, o enviado de Deus, o que vai vingar os que se sentem prejudicados. As pessoas acreditam nele sem precisarem de provas, tal como acreditam em Deus sem precisarem de provas ou tal como, antes, acreditavam no PCP sem cuidarem de saber em que país é que aquele modelo comunista funcionava. As pessoas que votam no Chega, em larga maioria, fazem-no por uma questão de crendice, de fezada.

Numa reportagem de há pouco tempo, um pastor evangélico, no Seixal, um que aluga quartos num armazém sem condições, dizia que recomendava o voto no Chega. Os iguais reconhecem-se.

Porque é que nestes subúrbios há tantas igrejas maná, evangélicas, do sétimo dia e coisas assim? O que é que aqueles pastores fazem pelas pessoas? Nada. Ficam-lhes com o dinheiro e prometem coisas, umas divinas, outras estratosféricas. E as pessoas acreditam, gostam.

Não sei como se combate isto. As pessoas com ética, com sentido de responsabilidade, honestas, não recorrem à mentira, às promessas vãs, não se prestam ao papel de fazerem vídeos estúpidos, manipulados ou falsos, apelando à vingança ou  difundindo mensagens xenófobas ou racistas, nem usam a ignorância das pessoas para explorarem as suas emoções, os seus medos, os seus anseios. Ou seja, as pessoas decentes não são capazes de usar as mesmas 'armas' que os populistas. No fundo, o terreno está livre para que os do Chega, os das igrejas alternativas ou outros movimentos do género, possam ocupá-lo e aproveitar a crendice, a ingenuidade ou os ressabiamentos de quem ali se sente entre iguais.

Como se explica a uns e a outros, ao milhão e trezentos mil que votaram no Chega, que o que está a ser feito no País é isto e aquilo, que há contas e orçamentos, que, no caso dos que ganham menos, não pagam impostos e podem usufruir de tudo (hospitais, escolas, policiamento nas ruas, etc.) sem pagarem nada. ou que há um défice demográfico no País e os imigrantes são necessários, úteis e deveriam ser recebidos de braços abertos? 

Como falar com pessoas que não querem ouvir coisas 'complicadas', cujo tempo de atenção se esgota com uma frase de cinco palavras, que não querem saber da ética dos líderes que adoram? Que apenas querem imaginar um eldorado em que elas serão tratadas como princesas com tudo a que têm direito e eles serão machos, viris, ricos, com grandes carrões?

Aqui, em França, na Alemanha, em Itália, nos Estados Unidos... agora ou há cem anos... como se combate o populismo? 

Acresce a isso, a circunstância presente, ubíqua, desregulada: como se combate o efeito nefasto das redes sociais?

Não sei.

Ou será que nem vale a pena matar a cabeça a tentar matar a charada? Será que é esquecer esta franja que sempre votará irracionalmente? Ou não? Será que deve é haver um pacto entre a comunicação social para não dar cobertura aos populistas? Ou quem está no Governo deve, simplesmente, focar-se em resolver problemas concretos e divulgar eficazmente a sua resolução? Ou não é bem isso e o melhor mesmo é ser-se capaz de criar uma utopia -- mas uma utopia realizável -- e deixar que as pessoas que precisam de acreditar em miragens tenham algo com que sonhar... e depois concretizar esses sonhos?

Em paralelo, enquanto se pega pelos cornos (ou de cernelha) o populismo, tentando impedir que cheguem mesmo ao topo, há que construir uma alternativa. Vi na TVI uma caracterização do eleitorado do Livre e da Iniciativa Liberal: um alinhamento entre escalões etários (gente mais jovem do que nos outros partidos) e formação académica (largamente com formação superior). Reforçou a minha convicção de que o futuro passa por aqui. Tivesse eu menos uns quantos anos e era bem capaz de fazer de tudo para explorar as convergências entre eles e tentar arranjar uma plataforma que fosse o motor de um movimento progressista, dinâmico, arejado, que atraísse mais gente, que gerasse iniciativas agregadoras, que avançasse com propostas de melhoria nos diversos sectores da sociedade, que mobilizasse mais gente para participar na construção de novas propostas de acção.

Enfim. Ando para aqui às voltas, preocupada com o mundo cada vez mais estúpido, disfuncional e distópico em que vivemos.

Vou ver se durmo melhor esta noite. E vou ver se, durante o dia, me entretenho mais a olhar e a fotografar as florzinhas que estão por todo o lado. Estão viçosas, lindas, os campos estão cobertos, felizes da vida como se a os temas da política lhes passassem totalmente ao lado.

segunda-feira, maio 19, 2025

E agora...?
Agora é tempo para o pragmatismo

 

Depois de ouvir o discurso revanchista de Ventura, copiando o estilo ameaçador de Trump, depois de ver a esperada renúncia de Pedro Nuno Santos e ao ver o discurso de Montenegro que falou como se tivesse tido a maioria absoluta, fico com a sensação que o caldinho pode estar seriamente armado. Contudo o País tem que ser posto em primeiro lugar. Há prioridades que devem ser postas em cima da mesa e, uma vez identificadas, ir em frente e agir em conformidade.

1 - O País não pode correr o risco de estarmos sempre dependentes dos ajustes de contas, das ameaças, das provocações do Chega

2 - Ou seja, tudo deve ser feito para que o Ventura não tenha a última palavra. E essa preocupação tem que estar sempre presente.

3 - O País deve ser governado com inteligência, assertividade, com visão estratégica, tendo em conta os riscos internacionais e os riscos internos. Se o governo que vai nascer não conseguir bons resultados, nas próximas eleições o Ventura conseguirá melhores resultados e, se agora foi o PS que levou uma banhada, nas próximas eleições pode ser a AD a levá-la. E aí será o País, no seu todo, que estará nas mãos do Ventura (tal como os Estados Unidos estão nas mãos do Trump). E aí, adeus minhas encomendas.

4 - Há muitas reservas em relação ao 'centrão' e há certamente muita gente do PS que jamais vai querer dar uma 'mão' à AD. Percebo tudo isso. Mas as circunstâncias são o que são. Não vale a pena ir buscar exemplos do passado para provar os danos dos abraços de urso ou os malefícios do pântano dos centrões. Tudo isso pode ser verdade. Melhor, tudo isso foi verdade. Não tenho dúvidas. Mas, neste momento, o circo está a arder e é nesse cenário que devemos situar-nos. Chegámos aqui e é aqui que devemos situar-nos. 

5 - Ou seja, face aos riscos e face às circunstâncias, neste momento penso que o mais inteligente será barrar o caminho à influência crescente do Chega. Para isso, penso que o mais racional será o PS estabelecer um entendimento com a AD no sentido de criar condições para entregar à população resultados rápidos, palpáveis, demonstráveis. Têm que ser encontradas soluções rápidas (em gestão, chamamos quick wins, pequenos ganhos que fazem ganhar a adesão das pessoas) nas áreas problemáticas que geram mais descontentamento junto da população e sobre as quais o Chega cavalga. Ainda hoje o meu filho dizia que têm que se encontrar soluções rápidas nas áreas da Saúde, da Educação, da Habitação e da Segurança Social. Concordo. Encontrem-se soluções rápidas, sem dogmas. Se o mais rápido for, aqui e ali, fazer acordos com privados, que se façam. Não se diabolizem os privados. Como se vê pelo resultado das eleições, a maioria da população já não está nem aí. Seja-se pragmático: desde que os contratos sejam regulamentados, não há drama. Encontrem-se soluções: consultas e cirurgias rápidas, mais escolas, mais creches, residências para idosos e clínicas para doentes que precisam de reabilitação ou de cuidados paliativos, casas públicas, financiamento a cooperativas de habitação, etc. Seja-se criativo. Seja-se rápido.

6 - Pode dizer-se que, se o PS der a mão ao Governo AD, isso vai desvirtuar a sua linha ideológica. Talvez, sim. E dar a mão a Montenegro, um fulano que é um chico-esperto, chateia. Pois chateia. A mim chateia-me como nem imaginam. Detesto chico-espertices, habilidades no limiar da legitimidade, manhosices. Detesto. Mas o País tem que estar acima disso. E, de resto, seja como for, o PS tem mesmo que mudar. Por isso, não tem muito a perder em 'vergar-se' para ajudar a AD a governar bem - pelo contrário, o País reconhecerá o sacrifício, se for a bem do País. 

7 - Em paralelo, vejo espaço para um grande partido e era bom que esse partido fosse o PS, pois tem uma base matricial na formação da democracia em Portugal e tem grandes democratas no seu historial. Mas, se não for o PS, paciência. Já o disse, faz falta em Portugal um partido que aponte no sentido das democracias do norte da Europa, um partido civilizado, culto, moderno, desenvolvido, inspirador, mobilizador. Se o PSD não fosse um partido que tem enraizada uma matriz de videirinhos, de patos-bravos, de chico-espertos, poderia evoluir para um partido como o que antevejo. Mas a sua matriz não o deixará evoluir. O PSD tem a 'filosofia' dos esquemas, dos interesses, dos jobs for the boys metastizada em toda a sua rede de concelhias e distritais (e, se calhar, o PS também) pelo que duvido que consiga alguma vez desempoeirar-se. Por isso, antevejo que, mais dia menos dia, teremos um novo partido a adquirir pujança e a fazer uma frente eficaz ao populismo. Mas isso leva tempo. Enquanto essa alternativa não nasce e não se impõe, a prioridade -- e volto ao tema das prioridades - tem que ser travar o Chega. Por isso, para concluir, para mim, neste momento, pondo em primeiro lugar o bem do País, acho que tudo (tudo, tudo) deve ser feito para reduzir a base de apoio do Chega -- e, para tal, é preciso entregar bons resultados à população no que é determinante, ou seja, é preciso governar bem.

8 - Há um outro aspecto: qual o papel da Comunicação Social? Vai continuar a querer competir com as redes sociais? Vão continuar a andar com o Ventura ao colo? Vão continuar a alimentar a maledicência, o desgraçadismo, a levar misérias e crimes aos programas generalistas de dia, assim alimentando a ideia da insegurança de que o Chega se alimenta? Marcelo, que é um dos grandes culpados pela situação em que estamos, faria bem em chamar os responsáveis das televisões e apelar ao sentido de responsabilidade no sentido de preservar a democracia do nosso País.

9 - Há ainda o Ministério Público que tem actuado como um contrapoder, deveria também ser chamado à responsabilidade. Andar a queimar políticos, deixando-os a serem derretidos em lume brando ao longo de anos, é do pior para a democracia. O populismo alimenta-se da ideia da corrupção generalizada, o populismo diz que 'isto é uma bandalheira'. E o MP não pode ajudar a essa festa. Marcelo deveria também ter uma acção nesse sentido.

10 - Termino, repetindo-me: penso que é tempo de todos, todos, todos -- todos os que amamos a democracia -- nos unirmos para que o País e a democracia sobrevivam à chaga populista que está a alastrar perigosamente. 

Os resultados eleitorais
-- A palavra ao meu marido --

 

Os resultados eleitorais de hoje são chocantes. 

O Ventura teve 25 por cento dos votos. Embora seja difícil entender como é possível que tanta gente vote no Chega é para mim óbvio que as redes sociais, o bota abaixo, a incapacidade de análise, a vontade de acreditar só no que interessa foram preponderantes na escolha que fizeram. Também a frustração por não terem atingido os padrões das redes sociais e as reais dificuldades que enfrentam no dia a dia terão contribuído para esta votação. 

Mas, mesmo assim, como é possível votar num tipo que sai do hospital cheio de pensos com ar de criança mimada, que só diz mentiras e cujo partido é ele e só ele? 

Por mais que tente listar razões, continuo sempre a ficar pasmado com a estúpida opção que um quarto dos votantes fez. 

Mas é preciso recordar que chegámos aqui também porque, durante vários anos, o Marcelo andou a desestabilizar o País, o MP fez cair o governo e o Montenegro preferiu ir para eleições do que dar o lugar a outro. 

O Marcelo, o MP e o Montenegro são também relevantes na posição alcançada pelo Chega. E a Comunicação Social também não é isenta de responsabilidades pois tem andado com o Ventura ao colo. Veja-se a vergonha do outro dia, quando estiveram a dar, em direto, o percurso do Ventura para o hospital. 

Nesta altura de crise, Portugal podia ainda estar a ser governado por um governo eleito por maioria absoluta e, assim, ter melhores condições para enfrentar os problemas. 

Hoje, os laranjas podem estar satisfeitos por terem ganho, mas, com o novo impulso do Chega, ainda lhes vai ser mais difícil governar. 

A esquerda perdeu em toda a linha. A derrota do PS é um desastre. A esquerda tem que aprender que a união faz a força e que os verdadeiros objetivos são, como diz o Sérgio Godinho, a habitação, a saúde e a educação, a segurança social. Transmitam uma mensagem de esperança sobre a resolução destas questões -- e sobretudo resolvam-nas quando forem poder --, e conseguirão voltar a ter preponderância na política portuguesa. 

Caso contrário, vão acabar numa posição residual e a extrema direita -- em coligação ou não com a direita -- vai ser poder por muito tempo. 

Tenhamos esperança que as coisas mudem.

sexta-feira, maio 16, 2025

Sobre os chiliques do Ventura, sobre uma conhecida que me apareceu uns anos mais nova e sobre uma japonesa que tem saudades de algumas coisas de Portugal

 

Presumo que, nesta sexta-feira, o meu grupo de amigos apareça com piadas diversas sobre mais um chilique do Ventura. Pode até acontecer que os que são médicos lancem suposições, umas mais benévolas, outras nem tanto. O Ricardo Araújo Pereira já deu o mote, gozando à cara podre e, no Eixo do Mal, o Pedro Marques Lopes falava em gases e a Clara Ferreira Alves falava em histeria ou em paroxismo.

Entretanto, já me chegou o que um médico meu conhecido (super experiente e sempre certeiro nos seus diagnósticos) pensa ser a causa mais provável da maleita do Ventura. Mas ele acha isso com base no que viu e ouviu na Comunicação Social e em explicações que alguns colegas foram avançando. Ou seja, não conhece os resultados dos exames para além do que é público (isto é, que não há nada de cardíaco e que não teve que ficar em observação). Por isso, seria imprudente da minha parte partilhar essa opinião até porque poderia ser lesiva da imagem do Ventura e não que me importe com a imagem do Ventura mas porque gosto de ser justa e objectiva. 

Contudo, seja isso que o meu conhecido acha, sejam ataques de pânico, crises agudas de ansiedade, refluxo, gases ou o que for, talvez não seja mau que se retire (da política, de preferência) e faça uma cura. Descanse, pense na vida, se calhar ingresse, de novo, num seminário. O País só terá a ganhar com isso. Como se viu, na ausência de Ventura, o Chega mostra o que é: um saco cheio de coisa nenhuma.

Tirando o acontecimento do duplo chilique do Ventura, posso dizer que nos encontrámos com um casal que não víamos há três anos. Eu quase não a reconhecia: mais nova, mais bonita. Fiquei tão admirada que me saiu: 'Está tão diferente... Fez alguma coisa?'. Ela parece ter ficado admirada e disse que não. Mas alguma coisa foi. Ou está um pouco mais gordinha e o rosto ficou mais 'preenchido' ou estava maquilhada segundo todas aquelas boas práticas em que se escondem as rugas, se disfarçam as rugas e a flacidez ou usou botox. Mas fiquei francamente admirada. Estava a conversar com ela e a tentar perceber o que se passava ali. Até a forma como estava vestida me surpreendeu: arrojada, moderna, impactante. Ele estava normal, praticamente igual. Às vezes, quando menos esperamos, somos surpreendidos.

Mas, enfim, nada de mais.

Importante é que estamos mais perto das eleições e continuo desconfortavelmente hesitante. Esta gente não me inspira. Não vejo rasgo, não vejo visão estratégica e determinação. 

Em contrapartida, ao ver o gasolineiro de Braga e as respostas que deu à CNN, fiquei francamente incomodada: é, então, aquele o principal cliente do Montenegro...? Senhores... E fiquei sem dúvidas: se Montenegro continuar a pairar pela nossa vida política, é mesmo relevante que haja uma CPI. 

Mas, ainda assim, o nosso País, para além de lindo, é um lugar muito bom para se viver. Que o diga Mako, a jovem japonesa que, depois de ter estado a viver em Portugal, regressou ao país natal e sentiu falta de algumas coisas a que se tinha habituado por cá.

Things I MISS the most about Portugal when I'm back in Japan.

Uma boa sexta-feira

Be happy