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terça-feira, junho 24, 2025

Sobre o conflito entre os Anjos e a Joana Marques

 

Ando tão numa outra que me parece pura perda de tempo pôr-me a falar de temas que não me interessam. Mas a verdade é que compreendo que quem aqui me visita também já deve estar pelos cabelos com os meus bucolismos e as minhas florzinhas. 

Só que falar dos ataques de uns malucos a uns fanáticos, das retaliações de uns estupores a uns fundamentalistas, de umas ameaças de uns filhos da mãe a uns sacanas de primeira é coisa que me maça. Pá, maça-me mesmo. Mesmo que queira alinhar três palavras falta-me a inspiração para inventar motivações válidas ou reações lógicas. Tudo me parece uma soap opera ensopada em sangue, fragmentada por estilhaços, mas com a agravante de os intervenientes serem uns palhaços, uns trogloditas. Por isso, lamento mas não consigo. 

Acho que ando em modo 'férias grandes'. Quando andava no liceu, aspirava a entrar nas férias grandes em que havia sempre praia com amigos, festas de anos com slowzinhos e bolos incluídos, passeatas e risotas com fartura. E esse espírito parece que desceu em mim e me impede de me deter em temas 'pesados' ou chatos ou absurdos.

Sobre o Governo também não quero dizer nada. Ainda agora começaram, há que esperar para ver. Além disso, quero que, a bem do País, as coisas lhes corram bem. E, no que se refere à oposição, o PS tem que dar ao pedal para se voltar a aguentar em cima da bicicleta, mas há também que lhe dar tempo. Tempo. Aguardar. Não falar só por falar. 

Por isso, querendo não defraudar a paciência de quem aqui vem na esperança de me ouvir a falar de coisas mais actuais e concretas, vou falar do conflito entre uns tais Anjos e uma tal Joana Marques. 

Para começar tenho que confessar que não sou seguidora ou apreciadora nem de uns nem de outros. Do pouco que lhes conheço, a qualquer dos três, não aprecio. Nada daquilo faz o meu género. 

Mas se acho que o que eles cantam não faz mal a ninguém, quem gosta gosta, quem não gosta segue em frente, já do que ela faz não se pode dizer o mesmo.

É humor, dizem. Mas eu, ao pouco que lhe tenho ouvido nunca achei ponta de corno de piada nenhuma. Parece-me apenas uma criatura maledicente, antipática. Haverá quem ache graça a ouvir umas pessoas a troçarem de outras. Eu não acho. Pelo contrário, incomoda-me.

Quando o Ricardo Araújo Pereira põe a ridículo maus desempenhos no exercício de cargos públicos por parte de pessoas pagas por todos nós e que se revelam uns burgessos que não sabem falar, nem estar, nem fazer, não me choca. É gente incapaz cuja profissão supostamente é trabalhar em benefício da população e que, nos vídeos que ele mostra, se revelam uns bimbos que jamais, em tempo algum, deveriam estar naquelas funções. Outras vezes mostra candidatos que pisam o risco, que tropeçam, que se desviam. Mas, lá está, estão a candidatar-se a cargos públicos. Seria bom que fossem exemplares, competentes, acima de qualquer suspeita. Por isso, não me choca que sejam chamados à atenção. E se o forem de forma como ele o faz em que pouco diz, apenas os expõe e, sempre, através de vídeos públicos, também nada a dizer. Não sei se aquilo é humor ou se é crítica social ou política. Mas aceito.

Mas gozar com pessoas que estão no exercício do seu trabalho e no decurso da sua vida, por exemplo por cantarem menos bem, por se vestirem menos bem, por trabalharem de uma forma algo questionável ou seja lá por que for, isso parece-me bullying, maldade, exercício gratuito de maledicência. Forçosamente irá afectar negativamente as vítimas, irá humilhar as pessoas, envergonhá-las, prejudicá-las. Nunca gostei de assistir à troça de uns sobre os outros. Nunca. Se não consigo impedi-lo, afasto-me. 

Tenho observado que meio mundo anda a defender a pespineta Joana Marques. Alega-se que é humor ou liberdade de expressão. Não concordo nem um pouco. O que ela faz é dizer às claras aquilo que os maledicentes fazem à boca pequena, é dizer de viva voz o que tanta gente anónima despeja nas redes sociais. Mas isso não é bom pois a humilhação que inflige aos visados é ainda mais cruel, mais amplificada. 

Dito isto, acho também um disparate a reacção dos Anjos com o recurso à via judicial, com aquele pedido de indemnização. Penso que mostrarem publicamente o seu desagrado e seguirem em frente teria sido mais razoável, mais digno. Assim, o que conseguiram foi o oposto do que pretendiam: são ainda mais ridicularizados. Mais valia terem ficado quietos.

Agora penso que seria interessante que se debatesse sobre o caminho do entretenimento em Portugal. Se ouço algumas rádios, fujo a sete pés: meio mundo diz graçolas parvas, riem-se muito das parvoíces que dizem. Se calha ouvir alguns podcasts, fujo a sete pés: perguntas parvas, respostas parvas, a futilidade como o novo 'normal'. E o endeusamento que fazem desta Joana Marques é outra aberração. Como pode ter tamanho palco uma pessoa que amesquinha os outros, que é gratuitamente desagradável, que causa constrangimento e angústia às suas vítimas? Em que mundo é que aquilo é humor? Gozar com os outros, apoucá-los, é engraçado? Não acho. Acho triste.

Já é tempo de se reconhecer o mérito a quem tem alguma profundidade, a quem consegue falar de assuntos interessantes, desenvolvimentos científicos, arte, experiências sociológicas, a quem consegue falar de assuntos em que haja mérito, a quem revele saber e cultura, a quem tenha graça e delicadeza e bondade -- em vez de dar palco a parvoíces de gente parva que se acha engraçada a expor a sua vacuidade e a troçar com as fragilidades alheias.

quinta-feira, junho 12, 2025

Neste nosso tempo em que os cidadãos regrediram à subtil designação de seguidores

 

Até não há muito -- talvez até antes de haver uma concorrência desmedida entre os canais de televisão, nomeadamente os de cabo que têm que manter as emissões em contínuo e deitam a mão a tudo o que é gato-sapato, ou até ao advento das redes sociais que vieram dar a voz a tudo e a todos por mais ignorantes e estúpidos que sejam -- só era dada oportunidade de se pronunciar em público a quem reunia um mínimo de características positivas que os fizessem distinguir do comum dos mortais. Tinha que se ser gente de cultura, com alguma coisa a acrescentar, para se poder chegar a um púlpito e falar para as massas.

Agora não. Veja-se Marcelo que, num dos seus momentos de deriva populista, chamou a discursar no 10 de Junho o João Miguel Tavares. Anedótico. E tal como a Assembleia da República é agora lugar em que um bando de grunhos tem assento, também as televisões se enxameiam com gente desqualificada. Vejam-se os Big Brothers desta vida, os programas de comentário do 'social' e muitos outros. E veja-se a cambada que invade os youtubes. 

Quando os meus netos cá estão, quando se póem a ver televisão, o que eles gostam de ver são youtubers ordinários a comentarem jogos ou parvoíces, a dizerem toda a espécie de disparates. Por mais que se tente impedi-los é por isso que eles se sentem atraídos. E imagino que os tiktoks desta vida estejam também pejados de porcarias idênticas. A mim, no instagram, não me aparece disso porque o algoritmo percebe que gosto de outras coisas e não me mostra grunhices mas, fosse eu de me interessar por maledicência, populices, racismos ou outras desconformidades e, certamente, seria alimentada com milhões de coisas dessas.

Não sei como se poderá parar estas enxurradas de desinformação, de superficialidade, de ordinarice, de aberração. Faz-me lembrar aquelas praias ultra-poluídas, como algumas dos países mais pobres de África, uma desgraça sem limite, as águas carregadas de lixo, as praias inundadas de detritos de toda a espécie e feitio, as pessoas, como animais, a esgravatar no meio da porcaria. Assim a comunicação nos dias de hoje. Lixo, lixo, lixo. E meio mundo a foçar no meio dessa imundície.

As instituições democráticas acabam por soçobrar perante a força da avalancha. Veja-se o que acontece com estes grupos ultra-nacionalistas, gente com aspecto troglodita, gente que nem sabe de que fala, sem conhecimentos de história, certamente gente com alguma perturbação mental, talvez traumas de infância, talvez gente mal-amada, gente que odeia os outros, gente que parece que tem prazer em fazer mal a pessoas indefesas, gente que odeia a decência, a democracia, a cultura, a inclusão, gente incapaz de gestos de bondade, de generosidade. E, no entanto, por aí andam e, estranhamente, conseguem que haja outros tantos que os apoiem. E ouvi que os serviços secretos sabem da existência destes grupos de gente má, de gente que incita e pratica a violência, e, pelos vistos, nada faz. Ouvi que há países em que estes grupos são proibidos. E acho bem. Mas não deve ser possível controlar verdadeiramente a sua existência pois este nosso mundo dispõe de alçapões e labirintos para toda a gente que gosta de se mover no mundo das trevas. A dark web, os chats e outros corredores sombrios permitem a movimentação desta gente maldosa que, em vez de se tratar, anda a espalhar o mal.

Ouço dizer que o populismo, o racismo, a xenofobia, o ultra-nacionalismo e coisas que tais se combatem com uma informação correcta, com educação, com pedagogia. Ajudará mas é lirismo pensar que isso é suficiente. Meio mundo não frequenta a aprendizagem rigorosa, não frequenta o conhecimento, não frequenta a comunicação social séria, não frequenta o mundo dos livros, não frequenta os espaços em que as pessoas falam sobre assuntos sérios e falam com vagar. 

Por isso, por muito que se queira educar os ignorantes, a pedagogia não chega até eles: uns porque trabalham e chegam tarde e cansados a casa, outros porque se desabituaram de ponderar, outros, os mais jovens, porque a realidade das redes sociais, dos whatsapps e dos youtubes é a única que conhecem.

E, no entanto, eis que, no meio disto, surge uma mulher que, vestida de branco, com voz pausada e serena, diz palavras sábias, límpidas, radiosas, inteligentes.

No dia 10 não ouvi o discurso de Lídia Jorge mas mão amiga fez-mo chegar. E, embora esteja a ser amplamente divulgado, faço questão de tê-lo também aqui. Uma maravilha. As escolas deveriam divulgar amplamente estas palavras. As televisões deveriam passá-las de vez em quando. De alguns excertos deveriam ser feitos cartazes para espalhar por todas as terras. 

Os países escolhem datas de referência para celebrarem a sua história, contemplando memórias de batalhas, ações de independência, encontros civilizacionais, momentos importantes em torno dos quais concitam a unidade dos cidadãos e promovem o orgulho patriótico.

Mas, em Portugal, é a data da morte de um poeta que protagoniza o nosso momento cívico de unidade mais relevante.

Muito se tem discorrido sobre o significado desta nossa singularidade e, muitas vezes, é difícil explicar que não se trata de um sinal de melancolia, mas sim do seu oposto.

Há a assunção de que um poeta do século XVI nos legou uma obra tão vigorosa que acabou por ser adotada no seu conjunto como exemplo da vitalidade de um povo e que a própria biografia do seu autor se oferece como exemplo não só de um percurso português, mas se transformou em símbolo universal da nossa peregrinação prometeica sobre a terra.

A fidelidade que Camões manteve em relação à pátria, quando se encontrava em paragens remotas, alimenta a simbologia que lhe é atribuída como exemplo da proximidade que os portugueses que se encontram longe mantêm com a sua cultura de origem.

O país retribui-lhes, reconhecendo, desde há muito, que as comunidades portuguesas são o corpo essencial do nosso ser identitário.

Mas as celebrações deste ano de 2025 têm um cunho muito particular. Em primeiro lugar, porque voltam a ter lugar na cidade de Lagos. No século passado, foi cidade anfitriã em 1996.

Passados 29 anos, esta cidade do Algarve continua a ser democrática, livre, próspera.

O que mudou e o que justifica que, de novo, tenha sido escolhida para ser palco das celebrações foi a nova consciência de que Lagos passou a representar um lugar obrigatório quando se pretende avaliar as relações entre os povos ao longo dos séculos.

É sabido que Lagos, lugar de saída para a África e lugar do comércio prático, tem como símbolo complementar o Promontório de Sagres.

A escassos 40 quilómetros de distância, Sagres e Lagos representam historicamente uma dualidade contrastiva cujo papel se encontra em avaliação.

A comunicação digital que se afirmou a partir dos anos 90 permite agora uma divulgação ampla dos estudos que os arqueólogos, antropólogos e historiadores estão a realizar neste espaço geográfico designado por Terras do Infante.

Era a altura de atribuir a Lagos, de novo, o estatuto de cidade vencedora e de apoiar estas celebrações de importância ou de interesse cultural.

Mas há outro motivo para que, este ano, a celebração deste dia seja particular. Desde há dois anos que estamos a invocar o nascimento de Camões, ocorrido há 500 anos, presume-se que entre 1524 e 1525. Calcula-se que assim tenha sido, mas vale a pena refletir sobre o facto, pois, tal como não sabemos como decorreu a sua infância, nem a sua formação, também desconhecemos o local e o dia em que o poeta nasceu.

Para sermos justos sobre a sua vida inicial, apenas podemos dizer o que um certo maestro célebre disse de Beethoven: Um dia Camões nasceu e nunca mais morreu. Nunca mais morreu.

Provam-no a forma como, passados cinco séculos, tem sido revisitado ao longo destes dois últimos anos. As escolas, a academia, o mundo da edição, os vários campos das artes e das ciências humanísticas em Portugal têm dado rosto a toda uma espécie de comemoração espontânea e informal em torno do nosso poeta maior.

Novos autores têm surgido, atualizando a exegese sobre os seus poemas e o conhecimento acumulado em torno da vida de Camões.

O jovem ensaísta Carlos Maria Bobone pôs recentemente em relevo o papel decisivo que Camões desempenhou ao fixar uma língua nova à altura de um pensamento novo que resultaria definitivamente na Língua Portuguesa moderna que hoje usamos.

Demonstrou como a língua portuguesa, manobrada no seu esplendor, resultou como uma dádiva que devemos ao grande cantor do Oceano, como lhe chamou Baltasar Estaço.

Por sua vez, a biógrafa Isabel Rio Novo, numa visita recente, profusamente documentada que faz à vida de Camões, no final, não deixa de se comover com os testemunhos sobre os últimos dias do poeta, demonstrando que as histórias que correm sobre certos passos da sua vida, afinal, não são lendas, são verdades.

O receio de sermos românticos não nos deveria afastar da realidade testemunhada. E assim, a mim, não me pareceria errado que os adolescentes portugueses conhecessem o comentário que Frei José Índio redigiu na margem de um exemplar d’Os Lusíadas, presumivelmente oferecido pelo próprio autor na hora de partir. Escreveu o frade: Yo lo vi morir en un hospital en Lisboa sem tener uma sábana com que cobrisse, despues de haver navegado 5.500 léguas per mar.

Assim foi, sem um lençol. Terá sido um amigo quem lhe enviaria a sábana, já depois de morto.

Não me parece que daí se devam retirar conceitos patrióticos ou antipatrióticos. Conceitos sobre a vida humana e seu mistério, isso, talvez.

Entretanto, por contraste, sobre a obra que deixou, milhares de páginas de novo têm sido escritas, confirmando a dimensão invulgar do poeta que foi.

Hélder Macedo, um dos seus leitores mais subtis, disse recentemente numa entrevista que, se Camões tivesse continuado a viver, ninguém mais em Portugal teria sido capaz de escrever um verso. Essa hipérbole é linda.

Assim como é reconfortante saber que os professores deste país continuam a ler às crianças epigramas, redondilhas e vilancetes de Camões, como se fossem filos modernos, feitos de palavras, o que mostra que os portugueses continuam vivamente enamorados do seu poeta maior.

Mas se o patrono destas celebrações é o poeta do virtuosismo verbal e do amor conceptual, o amor maneirista, o poeta do questionamento filosófico e teológico, como é em “Sôbolos rios que vão”, e o poeta dos longos versos enfáticos sobre o heroísmo dos viajantes do mar, ao regressarmos a todos esses versos, escritos há quase 500 anos, encontramos coincidências que nos ajudam a compreender que os tempos duros que atravessamos têm conformidade com os tempos em que o próprio viveu.

Camões, tal como nós, conheceu uma época de transição, assistiu ao fim de um ciclo e, sobre a consciência dessa mudança, no conjunto das 1.102 oitavas que compõem Os Lusíadas, 22 delas contêm avisos explícitos sobre a crise que se vivia então.

Aliás, hoje é ponto assente que o poema épico encerra um paradoxo enquanto género, o paradoxo de constituir um elogio sem limites à coragem de um povo que havia resultado da criação do Império e, em sentido oposto, conter a condenação das práticas que, passados 50 anos, impediam a manutenção desse mesmo Império.

E nesse campo pode-se dizer que Os Lusíadas, poema que no fundo justifica que o dia de Portugal seja o dia de Camões, expressa corajosas verdades dirigidas ao rosto dos poderes que elogia.

É bom lembrar que, entre os séculos XVI e XVII, três dos maiores escritores europeus de sempre coincidiram no tempo apenas durante 16 anos e, no entanto, os três desenvolveram obras notáveis de resposta ao momento de viragem de que eram testemunhas.

Foram eles Shakespeare, Cervantes e Camões. De modo diferente, mas em convergência, procederam à anatomia dos dilemas humanos e, entre eles, os mecanismos universais do poder, corpus que continua válido e intacto até aos nossos dias: sobre o poder grandioso, o poder cruel, o poder tirânico, o poder temeroso e o poder laxista.

No caso de Camões, de que se queixa ele quando interrompe o poema das maravilhas da história para lembrar a mesquinha realidade que envenenava o presente de então? Queixava-se da degradação moral, mencionava “o vil interesse e sede imiga/Do dinheiro, que a tudo nos obriga”, e evocava, entre os vários aspetos da degradação, o facto de sucederem aos homens da coragem que tinham enfrentado um mar desconhecido, homens novos, venais, que só pensavam em fazer cultura. Mais do que isso, queixava-se da subversão do pensamento, queixava-se da falta de seriedade intelectual, que resultava depois, na prática, na degradação dos atos do dia a dia.

Escreve o poeta no final do canto oitavo: “Este deprava às vezes as ciências,/ Os juízos cegando e as consciências./ Este interpreta mais que sutilmente/ Os textos; este faz e desfaz leis;/ Este causa os perjúrios entre a gente/E mil vezes tiranos torna os Reis”.

Na verdade, Camões, Cervantes e Shakespeare, de modos diferentes, expuseram os meandros da dominação, envolvidos com o tempo histórico dos impérios que viveram.

Por essa altura, sobre os reis de Portugal, Espanha e Inglaterra, dizia-se que lutavam entre si pelo domínio do globo terrestre. Ou mais concretamente, dizia-se então que os três competiam para ver quem acabaria por pendurar a terra ao pescoço como se fosse um berloque.

Os três autores perceberam bem que, em dado momento, é possível que figuras enlouquecidas, emergidas do campo da psicopatologia, assaltem o poder e subvertam todas as regras da boa convivência.

Escreveu Shakespeare no ato IV do Rei Lear: “É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos”.

Enquanto isso, Cervantes criava a figura genial do alucinado Dom Quixote de La Mancha, que até hoje perdura entre nós como o nosso irmão ensandecido.

Por seu lado, Camões, no corpo d’Os Lusíadas, não falou da loucura, mas a vida haveria de lhe demonstrar que as páginas escritas por si mesmo haviam sido proféticas, em resultado dela, da loucura. O desastre de Alcácer-Quibir, ocorrido em 1578, estava assinalado numa das últimas estrofes do Canto X. Era a história, como sempre, a confirmar o pressentimento experimentado pela literatura.

No entanto, o fim do ciclo, que neste caso aqui interessa, não é mais uma transição localizada que diga apenas respeito a três reinos da Europa.

Nos dias que correm, trata-se do surgimento de um novo tempo que está a acontecer à escala global. Porque nós, agora, somos outros.

Deslocamo-nos à velocidade dos meteoros e estamos cercados de fios invisíveis que nos ligam para o espaço.

Mas alguma coisa desse outro fim de século, que se seguiu ao tempo da Renascença malograda, relaciona-se com os dias que estamos a viver. O poder demente, aliado ao triunfalismo tecnológico, faz que a cada dia, a cada manhã, ao irmos ao encontro das notícias da noite, sintamos como a terra redonda é disputada por vários pescoços em competição, como se mais uma vez se tratasse de um berloque.

E os cidadãos são apenas público, que assiste a espetáculos em ecrãs de bolso. Por alguma razão, os cidadãos hoje regrediram à subtil designação de seguidores. E os seus ídolos são fantasmas.

É contra isso e por isso que vale a pena que Portugal e as Comunidades Portuguesas usem o nome de um poeta por patrono. Por isso mesmo, também vale a pena regressar a Lagos.

Sobre estes areais, aconteceram momentos decisivos para o mundo.

No início da Idade Moderna, Lagos e Sagres representaram tanto para Portugal e para a Europa que à sua volta se constituíram mitos que perduram. O Promontório e a silhueta do Infante austero que sonhou com o achamento de ilhas e outros descobrimentos, como parte de uma guerra santa antiga, e tudo realizou a poder de persistência férrea e sagacidade empresarial, transformou-se numa figura de referência como criador de futuros. À sua figura anda associado um sonho que se realizou e depois se entornou pela terra inteira e a lenda coloca-o a meditar em Sagres.

Numa referência um tanto imprecisa, mas que permite a sua evocação, Sophia escreveu: “Ali vimos a veemência do visível/ o aparecer total exposto inteiro/ e aquilo que nem sequer ousáramos sonhar/ era o verdadeiro”.

Esta ideia de que, na mente do Infante, se processou uma epifania, anda-lhe associada enquanto mentor de uma equipa mais ou menos informal que teve a capacidade de motivar e dirigir. Sagres passou, assim, para a história e para a mitologia como lugar simbólico de uma estratégia que mudaria o mundo.

Mas existe uma outra perspetiva, como é sabido, e hoje em dia o discurso público que prevalece é, sem dúvida, sobre o pecado dos Descobrimentos e não sobre a dimensão da sua grandeza transformadora.

É verdade que a deslocação coletiva que permitiu estabelecer a ligação por mar entre os vários continentes e o encontro entre povos obedeceu a uma estratégia de submissão e rapto, cujo inventário é um dos temas dolorosos de discussão na atualidade.

É preciso sempre sublinhar, para não se deturpar a realidade, que a escravatura é um processo de dominação cruel, tão antigo quanto a humanidade.

O que sempre se verificou foi diversidade de procedimentos e diferentes graus de intensidade.

E é indesmentível que os portugueses estiveram envolvidos num novo processo de escravização longo e doloroso.

Lagos, precisamente, oferece às populações atuais, a par do lado mágico dos Descobrimentos, também a imagem do seu lado trágico.

Falo com o sentido justo da reposição da verdade e do remorso pelo facto de que se ter inaugurado o tráfico negreiro intercontinental em larga escala, como polos de abastecimento nas costas de África, e assim se ter oferecido um novo modelo de exploração de seres humanos que iria ser replicado e generalizado por outros países europeus até ao final do século XIX.

Lagos expõe a memória desse remorso. Mostra como, num dia de agosto de calor tórrido de 1444, desembarcaram aqui 235 indivíduos raptados nas costas da Mauritânia e como foram repartidos e por quem.

Alguém que, muito prezamos, encontrava-se em cima de um cavalo e aceitou o seu quinhão de 46 cabeças. Esse cavaleiro era nem mais nem menos do que o próprio Infante D. Henrique.

Lagos não se furta a expor essa verdade histórica.

Lagos também mostra o local onde depois levas sucessivas iriam ser mercadejados os escravos. E mais recentemente relata-se como eram atirados ao lixo quando morriam sem um pano a envolver os corpos. Até agora foram retirados desse monturo de Lagos os restos mortais de 158 indivíduos de etnia Banta.

Lagos mostra esse passado ao mundo para que nunca mais se repita. Talvez por isso estejamos aqui, no dia de hoje.

Aliás, a UNESCO criou a Rota do Escravo e inscreveu Lagos na Rota da Escravatura, para que saibamos como os seres humanos procedem uns com os outros, mesmo quando se fundamentam em religiões fundadas sob os princípios do amor e sob a lei dos direitos humanos.

Lagos mostra esse filme e faz-se parente de quem escreveu na porta de um lugar de extermínio moderno o pedido solene: Homens não se matem uns aos outros.

É verdade que só conhecemos o que sucedeu naquele dia 8 de agosto de 1444 porque o cronista do infante Dom Henrique o narrou. Eanes Gomes de Zurara não conseguiu evitar um sentimento de compaixão e comentou, de forma comovida, como a chegada e a partilha dos escravos era cruel. Felizmente que dispomos dessa página da “Crónica dos Feitos de Guiné” para termos a certeza de que havia quem não achasse justo semelhante degradação e o dissesse.

Aliás, sabemos que sempre houve quem repudiasse por completo a prática e o teorizasse.

O que significa que Lagos, a cidade dos sonhos do Infante de que Sagres é a metáfora, passados todos estes séculos, promove a consciência sobre o que somos capazes de fazer uns aos outros. Esta tornou-se, pois, uma cidade contra a indiferença.

É uma luta nossa, contemporânea.

Em Lagos, hoje em dia, está presente de outro modo a mensagem do cartoon de Simon Kneebone, datado de 2014, que tem corrido mundo.

A cena é nossa contemporânea. Passa-se no mar. Num navio enorme, aparelhado com armas defensivas, no alto da torre, está um tripulante que avista ao longe uma barca frágil, rasa, carregada de migrantes.

O tripulante da grande embarcação pergunta: de onde vêm vocês? Da lancha, apinhada, alguém responde: vimos da terra.

Sugiro que os jovens portugueses, descendentes de cavadores braçais, marujos, marinheiros, netos de emigrantes que partiram descalços à procura de trabalho, imprimam este cartoon nas camisas quando vão ao mar.

Consta que em pleno século XVII, 10% da população portuguesa teria origem africana.

Essa população não nos tinha invadido. Os portugueses os tinham trazido arrastados até aqui. E nos miscigenámos.

O que significa que por aqui ninguém tem sangue puro. A falácia da ascendência única não tem correspondência com a realidade. Cada um de nós é uma soma.

Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou. Filhos do pirata e do que foi roubado. Mistura daquele que punia até à morte e do misericordioso que lhe limpava as feridas.

A consciência dessa aventura antropológica talvez mitigue a fúria revisionista que nos assalta pelos extremos nos dias de hoje, um pouco por toda a parte.

Agora que percebemos que estamos no fim de um ciclo e que um outro se está a desenhar, e a incógnita existencial sobre o futuro próximo, ainda desconhecido, nos interpela a cada manhã que acordamos sem sabermos como irá ser o dia seguinte.

A pergunta é esta: quando ficarem em causa os fundamentos institucionais, científicos, éticos, políticos e os pilares de relação de inteligência homem-máquina, entrarem num novo paradigma, que lugar ocuparemos nós como seres humanos? O que passará a ser um humano?

Comecei por dizer que Camões nasceu e nunca mais morreu.

Regresso à sua obra para procurar entender que conceito tinha a poeta sobre o que era um ser humano. Sobre si mesmo, toda a sua obra o revela como vítima da perseguição de todas as potestades conjugadas. A sua obra lírica é uma resposta a esse abandono essencial.

Em conformidade com essa mesma ideia, ao terminar o canto I d’Os Lusíadas, Camões define o ser humano como um ente perseguido pelos elementos: “Onde pode acolher-se um fraco humano,/ Onde terá segura a curta vida/ Que não se arme, e se indigne o Céu sereno/ Contra um bicho da terra tão pequeno”.

Nestes versos, se reconhece o conceito renascentista, o da grande solidão do ser humano e a sua luta estóica contra, centrada na confiança em si mesmo.

Mas, na prática, essa atitude representava uma orfandade orgulhosa que facilmente a fortuna não reconhecia. Curiosamente, no final da vida, o corpo nu de Camões só teve um lençol, o oferecido, a separá-lo da terra. Igual à sorte do seu corpo, essa sorte não difere daquela que mereceram os corpos dos escravos aqui em Lagos.

Mas entretanto, no século XIX, o direito à proteção beneficiada pelo Estado começou a emergir. Criaram-se documentos essenciais tendo em vista o respeito pelos cidadãos. Depois das duas guerras mundiais do século XX, foi redigida e aprovada a Carta dos Direitos Humanos e, durante algumas décadas, foi tentado implantá-los como código de referência um pouco por todo o mundo. Só que ultimamente regride-se a cada dia que passa.

O conceito de representatividade respeitável da figura do Chefe de Estado, oriundo do povo grego, princípio que sustentou a trama purificadora das tragédias clássicas, a que se juntou depois o princípio da exemplaridade colhida dos Evangelhos, essa conduta que fazia com que o rei devesse ser o mais digno entre os dignos, está a ser subvertida.

A cultura digital subverteu a regra da exemplaridade. O escolhido passou a ser o menos exemplar, o menos preparado, o menos moderado, o que mais ofende.

Um Chefe de Estado de uma grande potência, durante um comício, pôde dizer: adoro-vos, adoro os pouco instruídos. E os pouco instruídos aplaudiram.

Pergunto, pois, qual é o conceito hoje em dia de ser humano? Como proteger esse valor que até há pouco funcionava e não funciona mais?

Hoje, dia de Portugal, de Camões e das comunidades, não será legítimo perguntar, sem querer ofender quem quer que seja, perguntar como manteremos a noção de ser humano respeitável, livre, digno, merecedor de ter acesso à verdade dos factos e à expressão da sua liberdade de consciência?

Nós, portugueses, não somos ricos. Somos pobres e injustos. Mas, ainda assim, derrubámos uma longuíssima ditadura e terminámos com a opressão que mantínhamos sobre diversos povos e com eles estabelecemos novas alianças e criámos uma comunidade de países de língua portuguesa. E fomos capazes de instaurar uma democracia e aderir a uma união de países livres e prósperos que desejam a paz.

Assim sendo, por certo que ainda não temos as respostas, mas, perante as incógnitas que nos assaltam, sabemos que temos a força.

Leio Camões, aquele que nunca mais morreu, e comovo-me com o seu destino, porque se alguma coisa tenho em comum com ele, que foi génio, e eu não sou, é a certeza de que partilho da sua ideia, de que um ser humano é um ser de resistência e de combate. É só preciso determinar a causa certa.

Muito obrigada.

 

[Discurso de Lídia Jorge. Lagos, 10.Junho.2025] 

domingo, maio 25, 2025

Modo de pausa

 


Depois de ter esperneado com o resultado das eleições, ter espremido os neurónios tentando pôr em equação o ensarilhamento em que estamos metidos, depois de ter lido mil opiniões e ouvido cinquenta mil sapientes veredictos, o que tenho a dizer é o mesmo que sempre fiz em situações de berbicacho: bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

Enquanto muitos dos meus colegas adoravam enfronhar-se em cansativos meas culpas ou em intermináveis sessões de lições aprendidas, eu sempre fui mais de me reunir rapidamente com quem tinha alguma coisa de inteligente a dizer (opiniões de burros ou de papagaios dispenso), tirar meia dúzia de conclusões, com essas conclusões e mais o que há pela frente traçar um caminho e... bora lá antes que se faça tarde.

Portanto, por mim já chega de andar a tentar a pisar e a repisar sobre o mesmo assunto.

É certo que continuo a achar que o Montenegro é um chico-esperto e que, nos 11 meses em que governou, não fez nada de jeito -- e o que pareceu melhorzinho foi a continuação do que vinha do anterior governo ou a distribuição de ma$$a, pois tinha folga (herdada) e sabia que as eleições estavam ao virar da esquina. Mas, enquanto a Spinunviva ou outras argoladas do género não o derrubarem, só espero é que faça aquilo para que foi eleito.

Quanto ao PS, sempre disse que achava que o Pedro Nuno Santos não era a pessoa certa para suceder a António Costa. O PS pela mão de Pedro Nuno Santos quase me levou a não votar no PS. Pedro Nuno Santos foi um erro de casting, como os resultados eleitorais mais do que demonstraram. 

Na altura, pareceu-me que José Luís Carneiro seria a pessoa certa. Mas, na altura, o Chega ainda gatinhava. Agora, os do Chega já andam em duas patas e já convenceram milhão e tal de pessoas que são os melhores para governar o País. Orwell cheirou-os a léguas (a eles e a todos os outros que têm feito o mesmo percurso). Não sei se, para a presente circunstância, José Luís Carneiro tem o carisma, o punch e a visão para levantar o PS e, ao mesmo tempo, para atirar o Chega ao tapete. Não estou a querer dizer que acho que não. Estou apenas a dizer o que disse, que não sei. Não o conheço suficientemente bem. Mas espero que sim. Espero bem que sim.

Face a este panorama, se eu fosse o Marcelo o que faria, antes de mais, em paralelo com as conversas oficiais com os partidos e off the record, seria chamar os directores de informação dos diferentes meios de comunicação social para os desafiar a fazerem um pacto (de regime) para que parem de andar atrás do Ventura. O Chega é o Ventura. E o Ventura é um demagogo, sem ética, sem vergonha. Mas é também um excelente comunicador. Criativo e bom comunicador. Consegue lançar ossos para a praça pública a toda a hora, mobilizando a agenda dos media. Só que os canais de televisão -- ou de rádio ou os jornais -- não são cães para irem atrás de qualquer osso, pois não? Se a Comunicação Social deixar de dar palco ao Ventura, o Chega esvazia-se. Provavelmente deveria ser a ERC a ter um papel pedagógico junto da Comunicação Social. Mas a ideia que tenho é que a ERC não risca, não serve para nada. Portanto, penso que deve ser o Marcelo (que tem muitas culpas no cartório em toda a instabilidade que atravessamos) a atravessar-se.

Identicamente, alguém deveria andar em cima das redes sociais dos partidos, em especial do Ventura e do Chega. Contas falsas devem ser denunciadas. Incitamentos ao ódio ou insultos devem ser denunciados. Há mecanismos legais para lidar com tudo. Não deve haver complacência.

Tirando isso, penso que, com toda a humildade, deve tentar validar-se se as percepções de tanta gente estão erradas ou se, pelo contrário, são legítimas. 

Dou alguns exemplos:

Como são atribuídos os subsídios? Como é que isso é auditado para verificar se não há abusos? Há gente que não faz nenhum e que vive, ao após ano, à pála de subsídios?

Há mesmo milhares e milhares de imigrantes que não trabalham e que recebem subsídios? 

Há mecanismos para acolher e integrar os imigrantes, em especial os que não falam português? 

E, pelo que se tem visto em algumas reportagens, os abusos que se têm detectado no SNS são altamente lesivos das contas públicas e, também pelo que tem visto, os processos administrativos, para além de permitirem toda a espécie de abusos, são manuais, precários e não há auditorias. Será que isto acontece generalizadamente? 

Tenho lido que em Portugal há mais médicos por habitante do que na maioria dos outros países. E, no entanto, há muitos milhares de pessoas sem médicos de família, é preciso esperar muitos meses por uma consulta banal (e sobre as de especialidade acho que ainda é pior). Parece que há sempre falta de dinheiro. E, no entanto, na volta o que há é dinheiro a mais, esbanjamento, aproveitamento, muita ausência de gestão, muito regabofe. Tenho defendido que a gestão de hospitais deve ser entregue a gestores profissionais. Não a médicos, não a gentinha dos partidos. Hospitais que gerem orçamentos de milhões têm que ser entregues a gestores competentes e profissionais. Numa altura em que a Saúde está tão mal, com Urgências fechadas, com tantos atrasos, se entregassem a gestão a profissionais não apenas se poupariam muitos milhões como os serviços melhorariam rapidamente. Se as pessoas começarem a ver 'saneamento' de gastos abusivos e melhoria no atendimento com certeza o paleio populista será esvaziado.

Quanto à habitação, também é preciso arranjar soluções urgentes: aproveitem edifícios públicos, adaptem-nos, alojem o máximo de pessoas. Rapidamente. Com assertividade. Com pouco paleio. E favoreça-se e apoie-se o ressurgimento de cooperativas de habitação. Apareçam com soluções concretas, rápidas, bem articuladas, bem acompanhadas, bem divulgadas. Esvazie-se o populismo.

Já disse e repito-me: é tempo de juntar esforços contra o populismo. E, enquanto a legislatura for avançando, o PS terá tempo para se reorganizar. Ou haverá tempo para aparecer um novo partido (caso o PS não consiga livrar-se do anquilosamento aparelhista, não consiga regenerar-se assimilando com inteligência o ar do tempo).

Mas, dito isto, agora vou continuar na mesma onda em que tenho estado nestes últimos dias: a ler, a curtir, regando, cozinhando, caminhando, estando em família, na boa. Agora nem tenho escrito. Tem-me apetecido descansar, estar em modo de pausa.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

domingo, março 23, 2025

Será que as sondagens mentem tanto como o Montenegro?
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde quinta-feira que temos o regabofe instalado na comunicação social. Como foi publicada uma sondagem em que a AD tinha 20% das intenções de voto, o PS 15% e o conjunto da esquerda 3%, a maioria dos comentadores e algumas televisões (claro que a SIC foi a mais entusiástica) não se calaram a tecerem loas à governação do Montenegro, concluindo que Portugal são uns Estados Unidos em miniatura e que, tal como o MAGA em relação ao Trump, a malta se está nas tintas para os "enviesamentos" (para ser meigo) do Montenegro.

Mas vale a pena analisar a sondagem com mais profundidade e rigor do que foi feito propositada ou involuntariamente (quiçá por falta de conhecimento) por alguns dos jornalistas e comentadores. 

Segundo  a ficha técnica da sondagem, o universo da amostra é 802 pessoas (que correspondem aos escassos 15% que responderam às questões o que, já de si, mereceria uma ponderação). Analisemos, então, os números, segundo a informação publicitada.

  • Na AD afirmaram ir votar 160 pessoas, 
  • 120 pessoas afirmaram votar no PS
  • 72 pessoas têm intenção de votar no Chega 
  • na IL temos 32 pessoas 
  • e, em cada um dos partidos de esquerda, menos mal, lá houve uns 8 que têm intenção de votar ou no PC ou no Livre ou no BE. 

Não parecem quantidades de respostas impressionantes para que tanto alarido tenha sido feito.

Aliás, na mesma sondagem,os dados mais interessantes talvez até tenham sido estes:

  • 313 pessoas responderam que ainda não tinham decidido 
  • e 417 pessoas responderam que os esclarecimentos do Montenegro são insuficientes.

Portanto, as conclusões -- admitindo que com um número de respostas tão pequeno podemos considerar os resultados válidos --  são:

  • temos mais indecisos do que o conjunto de intenções de voto nos dois maiores partidos, PDS e PS
  • e mais pessoas do que o total de pessoas que afirmou terem intenções de votar em qualquer dos partidos responderam que pretendem saber mais sobre o Luís e a sua empresa (Spinunviva). 

Ou seja, afinal, as "historietas" do Luís não passaram à história.  

Apresentar os dados desta forma é bastante diferente do que tem sido alardeado pelos órgãos de comunicação social. Seria mais honesto e mais ético apresentar os números como eles são (honi soit qui mal y pense).

Nota: o total das percentagens não dá 100% pelo que pode haver uma questão de casas decimais e/ou de intenções de votos em pequenos partidos aqui não mencionados ou, mesmo, imprecisões nos dados divulgados. 

Já agora, e não querendo aborrecer o Luís, pergunto:

  • Não parece esquisito que, a ser verdade o que tem sido noticiado e não desmentido, o valor do metro quadrado de construção declarado por ele para a luxuosa casa de Espinho -- que até elevador tem --, tenha sido inferior ao preço médio da construção em Espinho? 
  • O valor declarado estará relacionado com alguns subsídios? Ou terá também a ver com alguma 'optimização fiscal'? 
  • Não parece esquisito que uma empresa que se dedicava a atividades relacionadas com o RGPD, só 18 meses depois de iniciar a atividade tenha cumprido os requisitos legais nesta área? 
  • Não parece esquisito que não estejam reduzidos a escrito os contratos relacionados com as avenças da Spinunviva? 
  • Não parece esquisito que alguém que pormenorizou o número e tipo de árvores que tinha em cada terreno não se tenha lembrado das relações comerciais da empresa de que era proprietário? 
  • Não parece esquisito que o advogado Luís não soubesse que a passagem das quotas para a mulher o mantinha como proprietário da Spinunviva?
  • Ou que não podia unir andares com diferentes proprietários?
  • E que os pedidos de licenciamento não podem se apresentados trinta dias depois do início das obras?~
  • ... 

E finalmente, mais uma cereja no topo do bolo. A célebre Inês Patrícia afirmou numa entrevista que  a Spinunviva se auto geria. Até fiquei comovido: recordou-me o PREC e as empresas em autogestão. E das duas uma: ou estamos perante perigosos revolucionários ou querem enganar-nos. Só faltava mais esta pérola! Não parece esquisito... é, no mínimo, muito esquisito!

  • Questão adicional: não seria mau, para sabermos se também não será esquisito, conhecermos quais as despesas contabilizadas na Spinunviva. Terão sido contabilizadas despesas não decorrentes da estrita atividade da empresa? Estando  a empresa em "autogestão", não terão sido indevidamente consideradas admissíveis? Senhores Jornalistas temos e devemos saber!

E uma sugestão aos Senhores Jornalistas: leiam 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins. Talvez vos seja útil.

segunda-feira, março 17, 2025

Alô, alô, TVI! Até quando vão continuar a ter o espaço do Paulo Portas, supostamente um comentador isento, e que, mais uma vez, se manifesta como um cheerleader da AD.
E os Senhores da ERC vão aceitar esta situação? Um adepto fervoroso de um partido e de uma coligação eleitoral pode apresentar-se ao domingo, em canal aberto e em horário nobre, como se fosse um comentador independente?

 

Quando fala de política internacional, Paulo Portas até não está mal. Mas Paulo Portas tem aquele seu lado habilidoso, aquele lado de quem gosta de jogar com as palavras -- ele saiu do Independente mas o Independente não saiu dele --, gosta de lançar farpas contra quem não gosta (agora é o PS e o seu líder tal como antes era o Cavaco e os seus ministros), gosta de usar a verve para baralhar, escamotear, deturpar. E, claro, agora a favor do PSD/AD.

Já sabemos que ex-irrevogável Paulo Portas é maleável nas suas convicções. Aquilo que pensa e diz não é exactamente aqui que pensa e diz.

Tudo bem. Cada um é como cada qual e quem gostar que o compre.

Só que, supostamente, a TVI está a comprar-lhe uma opinião isenta -- e não é isso que Paulo Portas está a entregar.

Por isso, daqui até às eleições o programa de Paulo Portas deveria ser suspenso.

E, se a TVI o não fizer, a ERC deveria recomendá-lo fortemente.

domingo, março 09, 2025

Alô, alô, senhor ministro Pinto Luz: não faça o número gago do agarrem-me senão eu bato-te. Fica ridículo.
Se, como diz, "O PSD não quer eleições, o primeiro-ministro não quer eleições e os portugueses não querem eleições", porque é que o seu chefe entregou na AR uma moção de censura?
Já pensou que o melhor para o País seria o PSD livrar-se do Montenegro? Ora puxe lá um bocadinho pela cabeça.

 

A narrativa que o PSD arranjou para tentar fazer-nos uma lavagem ao cérebro aí está no terreno, a toda a força. Tudo o que é papagaio anda a propagandear, com a ajuda da comunicação social, que a culpa de tudo é do PS.

Eu só espero que, maioritariamente, os portugueses não sejam tão acéfalos como estes papagaios sem vergonha na cara e mostrem, veementemente, que não engolem tudo o que lhes dão a comer. E que mandem o Montenegro -- que depois de se ter escondido atrás da mulher e dos filhos, agora anda a esconder-se atrás destes ministrecos -- de volta para Espinho para poder fazer fretes à vontade à Solverde, à gasolineira do pai do candidato à Camara de Braga, por sinal, marido da célebre Inês Patrícia, e a outros clientes do género.

Alguém devia fazer ver a esta gentinha que andar a poluir o ar que respiramos não é uma boa estratégia.

É pena que as vozes inteligentes sejam tão poucas e tão pouco escutadas. Pena, pena.É que, de uma coisa, não subsistam dúvidas. Como muito bem diz C.: "Por mais piruetas que as agências de comunicação façam, é esse rosto de chico-esperto que  vai ser impresso nos cartazes."

E qual o papel dos jornalistas? Transcreverem ipsis verbis a lenga-lenga engendrada para enganar os pacóvios ou exercer um mínimo de contraditório? Não sabem o que é exercer o contraditório? E são descerebrados a ponto de não serem capazes de desmontar retóricas enganosas?

Muito do que é o populismo ou votos dados a quem só anda cá para enganar o Zé Pagode deve-se a esta Comunicação Social que vai atrás de todos os ossos que lhe atiram.

De facto a estupidez é um mal generalizado e, pior, para o qual ainda não se descobriu o antídoto. Caraças.

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[E, se estiverem para aí virados, queiram, por favor continuar a descer pois há mais aqui, onde se fala da longa manus e do alter ego, do Montenegro -- como tão bem Vital Moreira escreveu]

domingo, novembro 03, 2024

O que anda Ana Paula Martins, Ministra da Saúde, a fazer com as Administrações dos Hospitais do SNS?
É tudo legal? Alguém sabe se o supremo interesse do País está a ser tido em consideração?
Pergunto. Apenas pergunto.

 

Tenho ouvido com perplexidade e apreensão que agora uma, depois outra, as administrações dos hospitais públicos estão a ser varridas, tudo corrido. 

Um dos casos foi notícia no outro dia, mas muito en passant. No verão, depois da contestação que tinha havido em Almada e no Seixal com a demissão, por parte da Ministra, da administração do Hospital Garcia de Orta, ouvi que já havia substituto. Para meu espanto, ouvi agora que o administrador indigitado afinal tinha desistido e que a anterior administração tinha recusado apresentar a demissão (não seria de saber ao certo o que está a passar-se?). E ouvi que a Ministra já tinha escolhido outro, tendo agora a sua opção recaído num outro, dizia o jornalista que 'filiado no PSD'. 

E, ao que parece e confirmado pela própria Ana Paula Martins, a onda de 'saneamentos' não se fica por aí. Se calhar, e isto já sou eu a dizer, para lá pôr mais PSDs.

E o que eu gostava de saber é se tudo isto está a obedecer a todos os critérios legais, quer nas demissões quer nas contratações.

Gerir um hospital como o Garcia de Orta mais os vários Centros de Saúde abrangidos é como gerir uma grande empresa. Li que o Hospital tem cerca de 2.900 funcionários. Se somarmos a isso os indirectos que lá estão através de prestadores de serviço, se calhar chegamos ao dobro. Uma coisa em grande. A gestão de pessoal de uma coisa desta dimensão deve ser do mais difícil que há. 

Os potenciais 'clientes', li também, são 350.000 e só isso também inspira respeito.

A ser verdade o relatório que vi, o Orçamento anual de funcionamento é da ordem dos 200 milhões de euros. 

Provavelmente, como este vários outros.

Gerir uma realidade assim requer um gestor competente e exterior. Isto já corresponde a uma grande empresa. Não é uma chafarica que possa ser gerida por curiosos, com amadorismo.

Os médicos pensam que gerir um hospital é coisa para um médico. Mas isso é muito errado pois os médicos podem e devem estar nas áreas clínicas (bloco, ambulatório, internamento, etc.). Mas não a gerir as finanças, as compras, a área jurídica, a de auditoria, a área de manutenção, etc. Isso é matéria para especialistas das áreas (financeiros, advogados, engenheiros, informáticos, etc.)

Por isso, para saberem lidar com esta realidade complexa e saberem geri-la bem -- e não deixar os doentes sem médicos e não infectar os doentes nas cirurgias e ter equipas escaladas de forma planeada e ter os investimentos programados e bem executados e ter a informática a funcionar de forma eficiente e segura, e ter os contratos bem executados e controlados e para evitar que haja roturas de tesouraria e etc, os administradores têm que ser gente criteriosamente escolhida. 

Ou seja, admito que haja regras para o preenchimento dos lugares de gestão nos Hospitais, em especial os que têm este grau de exigência: devem ter experiência, competências, etc, Mas alguém está a verificar isto? Os jornalistas, as oposições, os deputados, sei lá..., alguém está a controlar minimamente o que anda a passar-se?

Ou toda a gente já está a aceitar, na boa, que, por provável má gestão, esta gente que a ministra Ana Paula anda a escolher para gerir as unidades do SNS vá ainda enterrar ainda mais o que todos deveríamos exigir que fosse gerido profissionalmente, com rigor, com extrema qualidade? Um volume brutal dos nosso impostos (que é dinheiro nosso) vai para a Saúde e só por isso já devia haver uma observação atenta, sistemática, pormenorizada sobre o que os governantes fazem com ele. Mas sobretudo, os 'clientes' dos hospitais somos nós, nós os que talvez um dia precisemos de cuidados médicos, quem sabe para nos salvarem a vida, nós os que precisamos que lá haja médicos competentes, que talvez precisemos de exames médicos em máquinas que alguém tem que saber manusear e que têm que ser cuidadosamente mantidas, nós os que talvez precisemos de instrumentos que têm que estar devidamente esterilizados, nós que queremos que as instalações estejam limpas, desinfectadas.

E, note-se, não estou a apontar o dedo em particular a esta ou àquela das escolhas da Ministra: estou apenas a alertar em abstracto, de forma geral. Mas sentir-me-ia mais tranquila se soubesse que as oposições e a comunicação social estão atentas.

sexta-feira, outubro 18, 2024

No outro dia, o Montenegro passeou no parque com Madame Avillez.
Ontem foi o Sarmento que certamente foi levado ao colo pelo José Gomes Ferreira.
Claro que não vimos: seria duplo enjoo.

 

E agora, na SIC, para comentar o que o Pedro Nuno Santos vai anunciar está uma fontinha de Belém, Miss Ângela Silva, e o eterno putativo ministro das finanças laranja, José Gomes Ferreira.

A SIC feita cão a andar à volta do próprio rabo.

NB: as minúsculas onde seria suposto ver-se maiúsculas não é por acaso).

quarta-feira, outubro 09, 2024

Parece que saem de debaixo das pedras.
Tudo o que é comentador apoiante do PSD ou da AD aparece, à mão cheia, a encharcar a opinião pública de argumentos contra o PS. Uma jaca.

 

Andam a desencantá-los a todos. Muda-se de canal e lá estão eles. Um enjoo. Parece que querem fazer uma lavagem ao cérebro do pessoal. Não há pachorra.

E eu disse que isto é uma jaca mas não, é bem pior. 

E explico porquê. Para começar, devo dizer o seguinte: sou altamente favorável a experimentar coisas novas. Por exemplo, ao contrário do meu marido que, quando vai ao supermercado, se dirige directamente às prateleiras onde está aquilo de que precisa e traz a marca ou a qualidade da coisa que já conhece (despachando-se em três tempos), eu sou o oposto. Gosto de olhar para ver o que há, vou espreitar o que não conheço, fico com vontade de experimentar. Claro que demoro um pouco mais...

No outro dia vi umas latas com umas coisas amarelas, num belo tom dourado, um luminoso amarelo torrado. Dizia 'Jaca'. Nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Pesquisei num instante e vi que era uma fruta. Como podia alimentar-me só de fruta (fresca e seca), nem hesitei.

Pois, pois. Não sei se já experimentaram...

Também devo dizer que nos últimos dias já traguei com menos dificuldade. Claro que o meu marido se ficou pela primeira dentada (e acho que só não a cuspiu por boa educação). Eu, como sou estóica, apesar do sacrifício, consegui, dia após dia, dar conta das bichas. 

Aquilo tem um sabor inqualificável. Nem sei dizer com o que se parece a nível de sabor. Mesmo que aqui quisesse dizer, não saberia. Só mesmo provando.

Fui agora ver imagens e percebo que o que comi foram as bagas que estão no interior do fruto propriamente dito, ou seja são aquelas coisas que estão no prato.


Portanto, eu dizia que aqueles comentadores que pululam por tudo o que é canto e esquina da televisão são uma jaca (leia-se: intragáveis) mas corrijo: são piores pois eu ainda fui experimentar porque não sabia ao que ia. Com estes comentadeiros psds e cds, reciclados, regurgitados, é pior. A gente já os conhece. Portanto, como é óbvio, evita-os. Zapping com eles. Caixote do lixo.

Prefiro ver o documentário sobre a Coco Chanel. Ah pois é, bebé.

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E sigam, se estiverem para isso, para o post abaixo. Não refiro a big rosa ao peito da Madame Avillez mas afloro o resto. Afloro, salvo seja.

sábado, outubro 05, 2024

Então como é que é? O cowboy sempre vai casar com o cavalo?
-- A palavra ao meu marido --

 

Na quinta-feira assistimos a mais um episódio da novela do orçamento, cujo guião é da autoria do comentador Marcelo. Segundo os outros comentadores deste reality show, parece que a coisa se irá compor e que vamos ter um final feliz. Segundo terminologia de antanho, finalmente o cowboy irá casar com o cavalo. O bom da fita (o Montenegro claro, quem havia de ser para os comentadores do costume?) vence o mau (o Pedro Nuno, quem havia de ser para os nossos comentadores do costume?), que no final até acaba por ter um gesto de simpatia e atira uma corda ao bom da fita para ele poder continuar a fazer o que manifestamente não sabe, que é governar.

Sendo verdade que em termos de comunicação, o Luís deu cinco a zero ao Pedro, não partilho da opinião que houve, até agora, uma vitória folgada do Luís. É certo que o que se consegue transmitir é importante, e aí o Luís venceu, mas também não é menos certo que recuou numa das medidas bandeira do governo e deu um passo atrás -- provavelmente para tentar depois dar dois passos à frente (teoria que já foi muito do agrado do Durão Barrosos) -- no caso do IRC.

Quem definiu a estratégia de comunicação do PS e pensou que  a Alexandra Leitão era quem devia transmiti-la melhor fora que, nesse dia, tivesse ido à praia tomar um banho de água gelada para refrescar as ideias. Um pessoa que diz em vinte cinco palavras o que podia dizer em cinco não é, naturalmente, alguém que pode transmitir com eficácia uma ideia. 

E o Pedro Nuno também tem muito que aprender em termos de comunicação, assim, não vai lá. Enredar-se nas questões e fazer quase tantos comentários sobre a aprovação do orçamento como o Marcelo, também não foi boa ideia. Vi, por exemplo, o Francisco César  falar sobre o assunto e deu cinco  a zero ao Pedro Nuno e à Alexandra.

Na minha opinião a coisa devia ter sido feita de forma mais simples. O Montenegro que  apresentasse o orçamento e, até lá, o PS não falava no assunto concentrando-se nos problemas do País. Será que, por exemplo, ter havido dezenas de grávidas que tiveram os filhos nas ambulâncias não deveria merecer mais atenção do PS? Mas não. Deixou-se enredar na teia montada pelo PR, pela AD e pela comunicação social e tem muito mais dificuldade em descalçar a bota. Deveria ter aguardado pela apresentação do orçamento, pronunciar-se e apresentar alternativas.

O Montenegro só agora deve ter percebido que o IRS Jovem era um burrice que não acabava e que tinha que pôr de lado esta "bandeira" que lhe traria fenomenais enxaquecas. Mas quer os comentadores queiram quer não, e aos comentadores exige-se capacidade de análise, andar em campanha eleitoral e no governo  a endeusar uma medida que se deixa cair na primeira oportunidade não é seguramente uma vitória, é uma derrota porque revela que não se pensa no que se propõe nem se cumpre o que se promete. 

Já agora, à laia de aparte, cuidado Montenegro, que, ontem, o Abel "qualquer coisa", salvo erro diretor do Observador, comentador da CNN e grande contribuinte para as notícias que desacreditavam o governo do António Costa, já começou a dizer que afinal o Montenegro estava  a fazer o mesmo que o governo do PS. 

Já agora talvez o governo pudesse começar a governar para todos perceberem ao que vem. Governar é tomar medidas e não apenas passar cheques.

quarta-feira, setembro 11, 2024

Irineu Teixeira, Mário Carneiro, Rosa de Oliveira Pinto -- o que têm em comum?

 

Nunca tive muita paciência para pessoas histriónicas, muito menos para narcisistas. 

Aprecio a contenção, a civilidade, a capacidade de escuta. Aprecio a inteligência e a perspicácia quando usadas com um propósito que não o da auto-exibição.

Muitos dos jornalistas que pululam nos nossos canais pertencem sobretudo ao primeiro grupo: não prestam atenção aos entrevistados, estão ali com ar castigador, parece que querem ajustar contas com os convidados, parece que querem apanhá-los em falso, não os deixam falar, interrompem-nos a torto e a direito. Muitas vezes apresentam-se de má catadura ou, então, com ar irónico, quase mal educados. Cansam. Cansam-me muito.

E quem diz jornalistas, diz também entrevistados: há os que gostam de se armar em espertos, exibindo a cada passo da conversa que bebem do fino, que têm acesso a inside information, que são muito bons.

Depois há uma minoria de jornalistas ou convidados tranquilos, seguros, atentos, bem educados, frequentemente com ar distendido, sereno. Sorriem muitas vezes enquanto falam, inspiram confiança, sabem manter uma conversação calma, apetece ouvi-los. 

Qualquer dos três referidos em epígrafe é assim. 

Depois do pressing das redes sociais e da concorrência entre canais em que os gestores acham que o que 'dá canal' é ser agressivo, tentar 'entalar' os entrevistados, estimular os conflitos entre os comentadores, haverá de chegar ao ponto de equilíbrio em que se perceberá que o que retém os espectadores é proporcionar espaços em que se aprenda alguma coisa, em que se deixem as pessoas falar, em que haja respeito, boa educação, em que se consiga falar de qualquer tema com amabilidade e tempo.

Poderia incluir também o Vítor Gonçalves, que também sabe ouvir e ser cordato. Se calhar há outros mas, assim de repente, não estou bem a ver.

quinta-feira, julho 04, 2024

Now: o 'Optimista', 'Sem hipocrisia'...

 

Por razões que não vêm ao caso, a abertura do novo canal Now passou-nos um bocado ao lado. Não vêm ao caso mas posso referi-los: futebol em barda, estadias assíduas no campo (sem cabo), outras coisas em que pensar.

Por isso, só no outro dia apanhámos, e percebemos depois que era repetição do que tinha passado antes, se calhar na véspera à noite, o 'Otimista' com António Costa e Pedro Mourinho que, do que percebi, teriam convidado o Almirante Gouveia e Melo. Ficámos os dois a ver, interessadíssimos. E já recomendei ao meu neto mais velho que visse. E recomendo-vos a vós também caso não tenham visto. Muito, muito, muito interessante. De facto, temos valências e saberes no País que, atolados na lama e anestesiados pela espuma dos dias lançadas pelos media viciados em maledicência, nos passam completamente ao lado. Não foi só a surpresa ao descobrir o muito e incrível que se faz na Marinha, foi também a surpresa de alguns temas que me deixaram a pensar (nomeadamente os que se referem com a nossa soberania, nomeadamente no mar). Muito interessante mesmo.

Esta noite apanhei Rui Rio, também com Pedro Mourinho e com dois médicos, Manuel Pinto Coelho e, creio, Ana Miranda, na rubrica que tenho ideia que se chama 'Sem hipocrisia'. E, também aqui, gostei de ver. Também não vi de início mas passaram ainda um vídeo com a nutricionista Conceição Calhau de quem tenho um livro bastante interessante. Gostei imenso da postura do Rui Rio. Programa interessante, muito diferente do que é habitual.

E ontem apanhei, e percebi que já foi perto do fim, o Luís Paixão Martins com a Judite de Sousa. Como sempre, gostei do LPM mas, já no que se refere à Judite de Sousa, fiquei um bocado desconcertada. Apesar de ser pessoa experientíssima no jornalismo, parecia nervosa e não sei se estava com uma pastilha elástica na boca ou se tinha uma prótese solta pois não parava de deglutir em seco ou de ajeitar a boca. Ou, se não é isso, não será que não está com baton e gloss a mais e os lábios colam-se e dificultam-lhe a agilidade bucal...? Não sei. Fiquei um bocado solidária com a pilha de nervos em que ela estava e acabei por nem prestar bem atenção ao que disse.

Para terminar devo ainda confessar que, quando soube deste canal da propriedade do saco de lixo que é Correio da Manhã que já desfez tanta gente, julgando, condenando e apedrejando na praça pública ao arrepio dos mais elementares direitos obrigatórios e imprescindíveis num Estado de Direito, fiquei mais do que de pé atrás. Na verdade, com os dois pés atrás. E ainda estou.

Mas isto pode querer dizer que, na volta, o que vai começar a dar dinheiro é a decência e que as pessoas (leia-se, os espectadores) se agoniaram de tanta lixeira a céu aberto e agora vão passar a procurar a honestidade, a dignidade. Depois de serem valores arrastados pela lama, às tantas, vão agora passar a ser o novo hit. E, com o faro comercial que os donos do Correio da Manhã e do Now já demonstraram ter, quem sabe se não estão apenas a dar lugar ao que vai passar a ser o 'novo normal', o que vai passar a 'dar'.

Portanto, a acompanhar...

sexta-feira, junho 28, 2024

António Costa no Conselho Europeu. Salve.
Num patamar cá em baixo, muito em baixo, muitos jornalistas e comentadores-minions das televisões portuguesas.
Como antídoto contra a mediocridade de grande parte da comunicação social, a poesia de Manoel de Barros

 

Estou contente com a eleição de António Costa para a Presidência do Conselho Europeu. Penso que a sua inteligência, a sua capacidade de trabalho, a sua energia, a sua boa atitude, a sua determinação e a sua visão serão muito úteis na gestão das suas novas funções. Estou em crer que vai dinamizar e recentrar as atribuições e as responsabilidades do Conselho Europeu.

Mas com tanto comentário em todo o lado a toda a hora nas televisões, maioritariamente com observações entre o ressabiado, o invejoso e o cínico por parte de gentinha que dá ideia que é contratada apenas pela sua mediocridade, já não consigo dizer muito mais. Tem sido uma overdose. Uma pessoa foge e, para onde quer que fuja, lá estão as vizinhas na má-língua. Dá ideia que quem contrata comentadores quer lá ter gentinha maledicente, parva, gentinha que se dá ares de importante, de superior, e que parece que está ali apenas para menorizar quem tem dois dedos de testa.  Claro que aqui e ali lá aparece alguém decente. Mas é uma minoria e, lamento, não justificam o sacrifício da estucha que é ouvir os outros.

Além do mais, levei a segunda dose da vacina contra a pneumonia e estou com o braço muito inchado, encarnado, quente, ultra dorido. Estou com gelo mas, sinceramente, estou bastante incomodada. É que não é apenas no lugar da picada: vai até ao cotovelo. Um desconforto grande. Nem consigo mexer o braço. Caraças. Levei a vacina à hora de almoço de quarta-feira e à noite até estive febril. Quando me deitei, até batia o dente. Um disparate. Agora febre não tenho mas mal mexo o braço. Dói-me, está inchado, quente. A enfermeira avisou que isto podia acontecer mas como avisam sempre e, até agora (vacina contra a gripe,  contra a covid), nunca tal tinha acontecido, nem pensei nisso. Afinal vai lá, vai... Portanto, tenho andado assim e, portanto, não consigo inspiração e disposição para mais que isto.

Agora o que me sabe bem é ouvir palavras humildes, genuínas, bondosas. Poesia de Manoel de Barros.

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Maria Bethânia lê Manoel de Barros - Ruína


Carolina Muait | Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo | Manoel de Barros


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Boa sorte a António Costa

Dias felizes a todos

quarta-feira, junho 19, 2024

O Ministério Publico continua com o bullying
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde há muito que digo -- e já várias vezes aqui o escrevi -- que quem causa mais problemas ao País, que gera uma enorme instabilidade e potencia o crescimento da extrema direita são o PR, o Ministério Público e os órgãos de comunicação social. Felizmente já ouço alguns comentadores a partilharem total ou parcialmente esta tese. 

Nos últimos tempos, mais uma vez, estamos perante uma situação absolutamente nojenta que resulta da disponibilização cirúrgica de informação sobre os processos aos órgãos de comunicação social que, sem qualquer pudor, noticiam o que interesses obscuros pretendem que se noticie nesta altura. 

Naturalmente que me refiro às buscas que foram efetuadas dois dias antes das eleições (azar não conseguiram os objetivos que pretendiam) e às notícias, que nada tendo a ver com António Costa, aparecem sempre anunciadas como se tivessem, envolvendo o seu nome, e isto quando se discutem os lugares da Europa. 

E que não venham alguns pretensos jornalistas e vários comentadores televisivos dizer que são apenas coincidências. Só quem não quer ver, e o pior cego é o que não quer ver, ou não tem dois dedos de testa é que pode acreditar que isto são acasos e coincidências. Não são. Acasos e coincidências são situações que ocorrem ocasionalmente e estas situações são uma prática corrente. 

A reportagem da TVI, que mostra a estante, a secretária, os envelopes ou o dinheiro encontrado na busca ao gabinete de Escária mete nojo e não acrescenta absolutamente nada. No dia a seguir vêm a CNN e o Expresso com mais "coincidências". Isto cheira pior que uma lixeira. Já basta de tanta impunidade. 

Já não é só a agenda política, muito evidente, e os exacerbados ódios de estimação do Ministério Público, nem o desavergonhado conluio com parte significativa da comunicação social: é também o atropelo dos mais elementares direitos dos cidadãos, é o desrespeito pelo mais elementar comportamento cívico, é um atentado ao direito de qualquer cidadão ao respeito e ao seu bom nome, é o abuso reiterado do poder para achincalhar as vítimas na praça pública.

Como é possível que estes tipos continuem, em total impunidade, a fazer o que querem sem terem que prestar contas ou justificar-se? Não são escrutinados? Não são chamados à razão? Não são punidos quando violam a lei?

Já basta! 

O Prof. Marcelo que, provavelmente assolado pelo complexo de culpa e para tentar ver-se livre do António Costa, tanto tem, aparentemente, pugnado para que ele tenha um lugar na Europa, não acha "maquiavélico" o que está a acontecer? 

E mais uma vez não diz nada sobre o que de facto é importante? 

Depois de tantas asneiras, Sr. Presidente, faça alguma coisa de que se possa orgulhar e que os portugueses aplaudam. Acabe com este regabofe. 

terça-feira, maio 28, 2024

Sobre a putativa borla fiscal que os cromos das Finanças da AD (com o Montenegro pela trela) querem dar a quem tem menos que 35 anos, aqui estão mais umas singelas observações

 

Para não sei quantos milhões de contribuintes (sejam eles trabalhadores no activo ou pensionistas) os 'artistas' da AD, afinal, têm apenas trezentos mil euros de alívio fiscal para oferecer.

Contudo, ficámos a semana passada a saber, para um pequeno grupo, os cerca de quatrocentos mil que têm até 35 anos, os totós das Finanças da AD têm, imagine-se!, mil milhões de euros de alívio fiscal.

Coisa mais iníqua e estúpida não pode haver.

Supostamente é para atrair e reter jovens até aos 35 anos. 

Mas, pergunto eu, passa pela cabeça de alguém que uma pessoa com trinta e tal anos e a ganhar bem no estrangeiro, muda a sua vida para Portugal, com o transtorno que isso provoca, para, passado um ou dois anos (quando fizer 36 anos), sofrer um agravamento fiscal de 30%? Os totós das Finanças não percebem que os ordenados em Portugal são, em média, mais baixos do que em vários outros países? Portanto, os jovens, segundo os totós das Finanças da AD, vêm para Portugal ganhar menos porque vão ter uma borla fiscal... E quando fizerem 36 anos? É que a borla fiscal nos ordenados da ordem dos 5.000€ (valor que, em certos países da Europa não são nada por aí além), só em IRS, é da ordem dos 30%. Portanto, quando fizerem 36 anos, azarinho, vão ser alvo do mesmo esbulho fiscal que os que têm mais que 36.

É que a medida e toda estúpida, toda. De uma ponta a outra. Os totós das Finanças da AD não percebem que o devem fazer é baixar globalmente todos os impostos? 

No Expresso, cingem-se ao absurdo de que a borla, só em IRS (ou seja, não contando com a borla, que também terão, em IMT e Imposto de Selo quando comprarem casa), pode chegar aos 19.000 €/ano (Jovens mais “ricos” podem poupar até 19 mil euros por ano no IRS).

Descontos no IRS não discriminam: salário milionário ou baixo, todos os jovens beneficiam. Quem está no último escalão de IRS enfrenta a taxa marginal máxima de 48% mas beneficia dos descontos nos escalões inferiores. Desportistas, ‘influencers’, consultores fiscais, advogados, engenheiros, jornalistas, pilotos, todos estão são abrangidos pelo alívio proposto pelo Governo aos jovens (...)

É chocante, não é? Já o tinha abordado aqui e aqui  (post escritos na sequência deste outro).

Claro que é chocante. Mas é estúpida por mais razões do que apenas essa. É estúpida e iníqua até porque a política fiscal não deve desonerar uns por sobrecarga de outros. Quando há cidadãos a pagar acima de 40% de IRS (podendo chegar aos 48%) e não há 'folga orçamental' para descer para uma percentagem menos onerosa mas há para descer para outros, é porque os primeiros estão a financiar os segundos.

E é estúpida porque não vai resolver o problema do País. Não vai resolver um único problema do País. Para reter jovens ou para atrair jovens qualificados é preciso que os salários subam, é preciso que (todos) os impostos baixem, é preciso que haja mais creches gratuitas ou a baixo custo, é preciso que haja mais médicos de família, é preciso que haja horários mais flexíveis para quem tem filhos pequenos.

Além disso, segundo fiquei hoje a saber o Governo PS já tinha medidas para fixar jovens, uma das quais bastante inteligente.

Mais de 158 mil jovens recém-formados já se candidataram ao prémio salarial de valorização das qualificações, que se traduz no pagamento de um apoio entre os 697 e os 1500 euros anuais a quem fica a trabalhar em Portugal.

Será que os totós da AD sabem desta medida? Se calhar não.

Só espero, e espero mesmo veementemente, que a oposição decente se una e em peso não deixe passar esta barracada da borla fiscal.

Enfim, uma desgraça. Depois do totó-mor andar a clamar contra as contas que encontrou, a falar em caos e colapso (mostrando que, das duas uma, ou não percebe nada da área que tutela ou não tem vergonha na cara e mente com quantos dentes tem), agora esqueceu-se disso e adoptou a política da perna-aberta. Quem quiser alguma coisinha, tem dele tudo o que quiser. Ele dá até mais do que pedem. Dá sem fazer contas. Agora parece estar numa de 'quem vier atrás que feche a porta'.

Claro que grande parte da comunicação social e das comentadeiras de serviço (de todos os sexos) ou não tem capacidade para perceber as coisas ou está ali para fazer o frete e não denuncia isto com todas as letras. Portanto, contra toda a racionalidade e lógica, continuo a ouvir elogiar o lindo serviço que este governo tem andado a fazer. Isto quando na prática pouco tem feito e o que tem tentado fazer é mais m... do que outra coisa. 

Pardon my french.

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Marcelo & Companhia - ou entra mosca ou sai asneira -
[De novo, a palavra ao meu marido]

 

O PR, que seguramente já estava em profundo sofrimento por não aparecer amiúde nas TVs, falou e brindou-nos com mais uma pérola. 

Relativamente a mais um caso de agressão com tinta perpetrado por um jovem, resolveu pronunciar-se e dizer asneiras como já tinha acontecido em protestos anteriores idênticos. Um PR com sentido de Estado e bom senso teria dito que, numa democracia, por mais justas que sejam as causas, não se podem defender as causas praticando crimes e que os culpados devem ser punidos de acordo com a lei. Mas não. O Prof. Marcelo disse que não valia a pena continuarem a atirar tinta porque já não causa impacto, porque já não é eficaz. E disse mesmo mais, que da primeira vez tinha causado impacto, da segunda também mas depois que a coisa se banalizou e já ninguém liga. Acho que este tipo de declarações do Prof. Marcelo são graves para a democracia e espero que pelo menos alguns comentadores lhe "batam" com força. No seguimento do que, há uns dias, disseram vários médicos num programa na RTP2 sobre o sono, o facto do Prof. Marcelo pouco dormir estará a afetar-lhe as capacidades cognitivas. Temo o pior nos próximos capítulos.

Outro assunto: vi ontem uma parte das intervenções do José Gomes Ferreira e do Gaspar Macedo (julgo que é este o nome do puto que participou num painel com a Joana Amaral Dias e o Pedro Costa na CNN). Ambos (o JGF e GM) revelaram bem o que é, neste momento, a direita em Portugal: cheia de  ódio, revanchista, desrespeitadora de quem tem opiniões diferentes e desejosa de vingança. Quem pensa votar na AD devia ter também em conta esta forma de a direita e seus arautos televisivos se comportarem. Felizmente, os poucos comentadores de esquerda que ainda são convidados pelas televisões têm um comportamento diferente  e cordato. 

Tanto o José Gomes Ferreira (que é tudo menos jornalista) e o puto interviram sempre de forma colérica, não dando hipótese aos outros intervenientes de falarem e vociferando quanto a tudo e contra todos desde que não fossem exatamente da mesma opinião que eles. O Ferreira até conseguiu dizer que  a maior subida de impostos em Portugal foi a subida do IVA feita pelo PS de 21 para 23%. É uma afirmação tão estúpida que deixou os outros intervenientes de boca aberta  e a "pivot", coitadinha, preferiu passar para um discurso da campanha eleitoral. Quanto ao puto que destila ódio a tudo que não seja direita pura e dura e que não dá "uma para a caixa", qual terá sido o critério seguido pela CNN para o contratar? Será o número de seguidores nas redes socias? Se for o número de seguidores mais vale contratarem "malta" do Big Brother para comentarem a campanha eleitoral  que, mesmo eles, são capazes de dizer coisas mais acertadas do que o Gasparzinho e não indisporem tanto os espetadores. Sugiro também que a SIC substitua o Ferreira por alguém do "Era uma vez na quinta" que terá certamente maior adesão à realidade e não dirá tantas pantominices.

Também o Pedro Bello Moraes, quando participa nos painéis, deveria, pelo menos, fingir que está ali como moderador isento, e não como fanático a favor da AD. É que, sistematicamente, toma as dores da coligação sempre que alguém critica, mesmo que ao de leve, o Montenegro ou afins. Cansa. Incomoda. 

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Ser do contra
- A palavra ao meu marido -

 

O pessoal que afirma ir votar no Chega aponta dois motivos principais: "é contra isto tudo" e "isto está cada vez pior". E o mais grave é que estes dois argumentos tanto são apontados por quem não tem um baixíssimo nível de educação como por quem frequenta graus elevados de ensino e/ou é licenciado. Eu sei que um grau universitário não é sinónimo de formação, numa perspetiva de educação e conhecimento, mas, pelo menos, deveria ser suficiente para permitir distinguir  a verdade da mentira  e o razoável do impossível.

Os dois motivos apontadas para votarem no Chega resultam do consumo constante e quase exclusivo da informação partilhada pelas redes sociais que transmitem até à exaustão notícias falsas "plantadas" por quem tem interesse em promover ideias populistas, demagógicas e xenófobas.  Mas resultam também da promoção permanente pelas  televisões do "isto está tudo mal e pior que nunca". E, de facto, é mentira. Se os órgãos de comunicação social se preocupassem em fazer análises corretas dos indicadores de Portugal, constatariam que, ao contrário do que propagam, o País está muito melhor do que há 10 ou 20 anos. Mas, parece que o objetivo dos jornalistas e dos comentadores, sabe-se lá porquê, é apoucar-nos como Povo e como País. 

Mesmo quando se fala em corrupção, os relatórios internacionais situam-nos mais ou menos no meio dos Países da Europa e não como "reis" da corrupção como se quer fazer crer. Países com regimes autocráticos como a Hungria são, no referido relatório, classificados como muito mais corruptos do que nós. Algum órgão de comunicação social relevou esta comparação? 

As ações e intervenções do Prof. Marcelo também contribuíram significativamente para o "isto está cada vez pior". Esteve sempre pronto para, explicita ou sub-repticiamente, dar argumentos que fortaleceram este sentimento de que o Governo faz sobretudo coisas mal feitas pelo que isto está "cada vez pior". E, no entanto, crescemos 2,3% em 2023 o que nos compara muito bem com o resto da Europa. Ontem, nos noticiários que vi, a relevância que deram a esta notícia foi zero, embora, este crescimento seja muito relevante.

Mais dois pontos que gostaria de referir e que posso enquadrar neste tema. 

  • Os "profs" que, sempre que há um governo do PS, protestam que nem uns danados (recordo-me que, no tempo da troika, quando tiveram os cortes nem abriram a boca) faltam mais de dois milhões de dias por ano. E os sindicatos, aparentemente sempre tão preocupados com  a qualidade do ensino, não comentam? Ninguém fez mais para acabar com a escola pública do que os sindicatos dos professores e o seu guru Mário Nogueira. O que fizeram também foi um contributo para o "isto está cada vez pior". 

  • Os arguidos da Madeira foram detidos há uma semana e ontem ainda não tinham sido ouvidos. É mau de mais! A Justiça é de fato uma área que funciona mal e em que é preciso fazer alterações. Mas não são o tipo de alterações que os populistas querem. Curiosamente (ou não) nem sequer ouvimos o Prof. Marcelo, sempre tão interveniente, a falar nisso.